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De acordo com as respostas obtidas sobre o aspecto legislação da formação e atuação profissional do tecnólogo. O Crea sinaliza que atua na fiscalização e consultas a respeito do exercício das profissões a ele vinculadas, tem na função de fiscalização do exercício profissional, o objetivo de identificar a equivalência entre a atividade a ser exercida por determinado profissional e a atividade de lei, ou seja, trata-se de atividade determinada pelos conselhos e sua legislação. O Crea é o órgão fiscalizador do sistema e busca atender às legislações, resoluções e decisões normativas que determinadas pelo Confea.

Neste trabalho, o Crea foi uma instância pesquisada com o objetivo de verificar sua influência na construção da identidade do tecnólogo e atuação no mercado de trabalho sob a

perspectiva de uma representação capaz de fiscalizar a atuação desse profissional e assim garantir que sua atuação esteja em conformidade com a sua formação profissional.

Ao ser indagada sobra essa influência da sua atuação na construção da identidade profissional do tecnólogo, a resposta obtida declara que o foco é a ação fiscalizadora e consultiva, especialmente, quando ocorre demandas por parte das empresas a respeito do profissional do tecnólogo. No entendimento do entrevistado do Crea, ocorre da sua parte um papel fomentador para a construção da identidade do tecnólogo ainda que, de modo indireto, a valorização do profissional e das profissões vinculadas ao Crea, ocorre a partir do exercício da sua ação de fiscalização e consultas realizadas em atendimento às demandas das empresas.

“[...] o papel do Crea na valorização dessa identidade é justamente esclarecer para o próprio profissional o que é que ele pode e o que é que ele não pode fazer. O Crea não tem um papel direto na formação de nenhum profissional da área de abrangência, apenas orientamos e fiscalizamos as atividades quando alguém nos procura sobre alguma dúvida sobre quem pode exercer a atividade, e sobre as regulamentações de cada função para cada profissional, a gente diz o que o técnico, o tecnólogo e o engenheiro pode fazer, então, o profissional e a empresa que quer contratar alguém vai escolher o que quiser.”

Crea- Entrevistado 12

Ao indagar ao representante do Sindtecnoba a respeito das questões mais comuns trazidas pelos tecnólogos o que envolve também aspectos da legislação aplicada à formação e à atuação profissional, foi informado que grande parte trata do desconhecimento por parte do mercado de trabalho a respeito do reconhecimento do tecnólogo como profissional de nível superior, ou o veto à sua participação em concursos públicos, apesar da lei ser clara e reconhecê-lo como portador de diploma de graduação. Isso, no entendimento do sindicato, representa uma questão de discriminação profissional demonstrando o descumprimento da lei que reconhece o tecnólogo como profissional de nível superior e especifica suas atribuições. Neste aspecto, apresenta-se a fala de uma empresa que pode traduzir com clareza e reforçar a ideia do preconceito existente, conforme sinalizado por uma das empresas entrevistadas;

“As vezes eu penso até se não teria que ser trocado este nome de tecnólogo, por ter a raiz de técnico no nome isso é muito forte e tem a questão do preconceito...”

O representante do Crea foi indagado a respeito da exclusão do tecnólogo em processos seletivos. A resposta obtida declarou que provavelmente exista o desconhecimento do mercado para a recepção de um novo nível de formação profissional e seja necessário atualizar as descrições dos cargos das empresas públicas de modo que contemplem a formação do tecnólogo. Um paradoxo pode ser observado em relação a essa questão, pois há um incentivo do Governo Federal à oferta de cursos tecnológicos, inclusive no âmbito dos institutos federais de educação, logo torna-se evidente a revisão das ocupações dentro dos órgãos públicos para que possa acolher esse profissional. Caso contrário, as ações de exclusão dos tecnólogos em cargos públicos permanecerão, contribuindo para as dificuldades de inserção deste profissional no mercado e no fortalecimento de sua identidade profissional.

“[...] Então elas (as empresas) solicitam os engenheiros porque naquelas atividades, na descrição de uma cargo tenha atividades de tecnólogo e de engenheiro ao mesmo tempo, e solicitam técnicos porque pode ser que tenha atividade de técnicos e tecnólogos naquela cargo. E historicamente elas não pensaram nesse profissional tecnólogo separadamente, e já estão acostumadas com o que tá descrito.”

Entrevistado 12 - Crea

O representante do Crea foi questionado a respeito dos avanços no aspecto legislativo para a atuação do tecnólogo e como a atual legislação delimita as funções e atividades dos profissionais, especialmente dos tecnólogos. Ele esclarece que existem as resoluções estabelecidas pelo Confea que determinam as atividades do tecnólogo assim como a resolução 313/75, que determina em seus artigos 3º e 4º, as atividades dos tecnólogos de forma objetiva. Depois dela, chegou a resolução 1010 de cunho mais generalista que abrange técnicos, tecnólogos e os engenheiros e estabelece o campo de atuação para cada um destes profissionais.

Recentemente foi criada uma resolução sobre a Anotação de Responsabilidade Técnica (ART). Essa notação diz respeito àquilo que o profissional assina, ou seja, está diretamente ligada às suas atribuições. Segundo o representante do Crea, o profissional preocupa-se em reconhecer o que pode assinar tecnicamente, pois muitas vezes o mercado reconhece e valoriza o profissional primeiramente por sua assinatura técnica e posteriormente pela competência profissional. No caso dos tecnólogos, o fato de não lhes ser permitida a assinatura em projetos parece influenciar na sua aproximação dos profissionais de formação técnica.

A existência da lei não é suficiente para garantir ao tecnólogo sua inserção no mercado de modo articulado com sua formação superior, portanto, torna-se necessário realizar ações de disseminação dessas leis e torná-las mais conhecidas.

“Dentro do sistema Confea/ Crea, a legislação é clara e, pelo menos por agora, não vai modificar, o que pode ser feito é uma divulgação ainda maior, um processo de fazer a legislação mais conhecida, para que, tantos os profissionais, quanto os órgãos, as instituições de ensino e as empresas tenham conhecimento sobre quem eles podem estar contratando, e quem é o profissional tecnólogo.”

Entrevistado 12- Crea

A legislação reconhecidamente exerce um papel de grande influência na construção das identidades profissionais. Neste caso, a interseção necessária entre formação e emprego mediada pela legislação não ocorre. Foi observado que, apesar de existirem leis responsáveis por determinar as atribuições do tecnólogo, ainda há o desconhecimento das atribuições deste profissional no mercado de trabalho e na esfera das empresas públicas.

A própria resistência em incluir os tecnólogos nos editais evidencia essa questão, o que não deixa de representar um paradoxo, pois, se o governo incentiva a criação de cursos tecnológicos, inclusive ampliando significativamente a rede de Institutos Federais de Educação, como é possível que não parta do próprio governo o incentivo para incluir o tecnólogo nos editais para concursos públicos. É de extrema importância a valorização das identidades “de ofício”, segundo Dubar (2005), através do reconhecimento, tanto pelos poderes públicos (Estado) quanto pela população (clientes) adquirindo visibilidade sobre a profissão.

Outra etapa da abordagem a respeito da mesma questão, junto ao Sindicato, buscou identificar quais os tratamentos dados às questões trazidas pelos tecnólogos, na perspectiva do uso da legislação enquanto instrumento de valorização e defesa da identidade profissional. Interessante observar na resposta que, logo de início, o sindicato busca entrar em contato com a entidade em questão para identificar se trata de um problema gerado pelo desconhecimento a respeito da identidade profissional do tecnólogo e então adotar medidas de disseminação dos conhecimentos a respeito de quem é este profissional.

Em relação às empresas públicas, as medidas mais comuns são as ações civis públicas para que não sejam lançados editais sem a presença do tecnólogo; para esta ação ocorre a busca pelo suporte da lei que esclarece a respeito da formação e atribuições profissionais do tecnólogo.

“[...] numa determinada época, após uma serie de queixas de tecnólogos, nós então pegamos uma carta de apresentação do que é o curso em questão e entregamos em diversas empresas de RH de Salvador para explicar o que é o curso.”

Entrevistado 13- Sindicato

As respostas obtidas, a exemplo da citação acima, evidenciam, mais uma vez, a hipótese inicial dessa pesquisa sobre o desconhecimento pelo mercado de trabalho, sobre quem é o tecnólogo e do aspecto legislativo dessa profissão, contribui para as dificuldades dos tecnólogos em inserir-se no mercado de trabalho.

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