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Indagar sobre como as empresas, órgão regulador, tecnólogos e o sindicato identificam as principais características do tecnólogo foi ponto chave para tentar compreender o processo de construção da identidade do tecnólogo no âmbito da pesquisa. As considerações partiram das percepções de uma população de pesquisa variada, que fora questionada sobre quais as características gerais do tecnólogo. Esta indagação buscou conhecer os conceitos preliminares a respeito do tecnólogo, para que então fosse possível iniciar o processo de compreensão como se desenha a identidade deste profissional nos estratos da pesquisa.

8.1.1 Quem é o tecnólogo?

Para se ter uma análise comparativa mais estruturada entre as respostas obtidas e o que está sendo proposto em relação à definição sobre o tecnólogo, tomou-se como referência a definição sobre a identidade da profissão proposta pela Cartilha do Tecnólogo5:

Tecnólogos são profissionais com o domínio operacional de um determinado fazer, compreensão global do processo produtivo, com a apreensão do saber tecnológico, valorização da cultura do trabalho e a mobilização dos valores necessários à tomada de decisões. Este profissional está capacitado a desenvolver de forma plena e inovadora, atividades em um determinado setor produtivo, com formação específica e base científica para a aplicação, desenvolvimento, pesquisa e inovação tecnológica, agregada à capacidade empreendedora (Associação Nacional dos Tecnólogos, 2010.p.17).

A partir das impressões das empresas a respeito das principais características dos tecnólogos, foi adotado o objetivo de identificar conceitos preliminares a respeito desse profissional no mercado de trabalho. Dentre as falas dos entrevistados, sobressaem algumas impressões que denotam um nível de desconhecimento significativo sobre o que caracteriza o tecnólogo, descrito desde as seguintes impressões:

“Com uma definição clara do que é um tecnólogo, eu vi pouca gente [...] , então a sensação que eu tenho é que isso não foi, pelo menos nesse ramo industrial onde estou, e até onde eu conheço, eu não consigo ver essa figura muito bem definida, é algo mais do que um técnico, mas não é um engenheiro”

Entrevistado 1

As respostas evidenciaram que a maior dificuldade das empresas é justamente em relação ao entendimento de quem é esse sujeito e qual o seu diferencial profissional, sobretudo em relação aos profissionais de nível técnico. De modo geral, os entrevistados declaravam dificuldade em caracterizar o tecnólogo fosse em relação à estrutura acadêmica, em relação às outras formações .

Outras falas denotam o entendimento de que é um curso com maior aprofundamento no domínio dos conhecimentos tecnológicos, além de ser um curso de menor duração, o que possivelmente explica o entendimento de que este curso muita vezes se confunde com a formação de cunho técnico. Algumas empresas consideram que o tecnólogo é um técnico que

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A Cartilha Nacional do Tecnólogo tenciona tornar-se marco referencial no desenvolvimento da identidade do tecnólogo, foi elaborada de forma conjunta através de um Grupo de trabalho constituído pela Secretaria de Educação Tecnológica - Setec /MEC, profissionais das Rede Federal, do “Sistema S”, da Associação Nacional de Tecnólogos e do Confea/Crea.

tem uma capacidade analítica maior, assim como maior capacidade de solução de problemas, ou seja, ele traz um senso crítico diferenciado em relação aos processos produtivos.

Entretanto, as empresas, de modo geral, relataram que não “enxergavam” e logicamente os profissionais egressos desses cursos também encontram resistência para serem reconhecidos como portadores de diploma do ensino superior, como observado na fala do entrevistado 6.

“[...]aqui na empresa é um intermediário entre o curso de nível médio e o superior, é um curso médio, mas vamos dizer... mais capacitado, com alguns conhecimentos que você não teria como exigir de um pessoa que faz só um curso médio.”

Entrevistado 6

Algumas respostas a este questionamento permitem supor que o mercado de trabalho ainda desconhece o que seja o tecnólogo. Nesta pesquisa, pelo menos 45% das respostas apresentaram este status, evidenciando que a maioria das empresas pesquisadas não enxerga o tecnólogo como profissional de nível superior, suas características ainda estão fortemente vinculadas ao ensino técnico profissionalizante.

Embora algumas empresas observem um aspecto positivo, que são características próprias ao tecnólogo, tais como capacidade de análise mais elaborada, conhecimentos mais específicos e aprofundados, de modo geral, nota-se que ainda há uma forte tendência em associá-lo a uma perspectiva profissional para atuação como técnico, excluindo sua formação acadêmica. Nesse aspecto, a questão relativa à formação como elemento de grande valor para construção da identidade profissional parece ser um tanto obscuro e não exerce influência no conhecimento a respeito do perfil dos egressos dos CSTs.

Todos estes fatores possivelmente são causados pela dificuldade das empresas em discernir sobre o campo de atribuições desse profissional. E a razão possivelmente está na forte associação do tecnólogo ao perfil do técnico de nível superior atribuído pela legislação que vigorou na década de 70.

Outra observação bastante interessante foi a vinculação do tecnólogo à condição de profissional experiente e egresso de um curso de curta duração, o que de fato equivale a uma das características do tecnólogo. Nota-se que 27% das empresas expressaram essa ideia:

“É aquela pessoa que já tem uma experiência na área mas que ainda não tem uma formação superior e volta pra faculdade para complementar, pra ter uma graduação, uma formação superior já usando como base a experiência profissional” Entrevistado 7

Observou-se ainda que algumas empresas, cerca de 27%, descreveram o tecnólogo de uma forma um pouco mais próxima ao proposto pela cartilha do tecnólogo. Ao indagar a outros atores da pesquisa, sendo eles o sindicato dos tecnólogos e o Crea sobre as características do tecnólogo, as respostas demonstram uma forma bastante prática e objetiva na identificação das características desse profissional:

“Um profissional especifico, que atua de maneira pontual, não é um generalista e sabe fazer bem feito aquilo que é especifico em determinada área.”

Entrevistado 12 “Um profissional de nível superior plenamente capaz de atuar em todos os campos e áreas de conhecimento da sua formação especifica.”

Entrevistado 13

Ao concluir este item, pode-se perceber que, dentre as empresas pesquisadas, não há uma percepção homogênea sobre as características do tecnólogo. Por outro lado, um aspecto relevante foi a identificação de que o tecnólogo é um profissional com saberes específicos com maior domínio tecnológico e capacidade de análise.

Um fator que merece especial destaque é a dissociação entre a identidade descrita pela cartilha do tecnólogo e as falas da maioria das empresas pesquisadas, neste caso representando o mercado de trabalho. Esse fato revela uma incongruência entre o perfil profissional proposto para o tecnólogo e suas reais oportunidades de atuação profissional.

8.2 ASPECTOS LEGISLATIVOS DA FORMAÇÃO E ATUAÇÃO PROFISSIONAL:

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