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Dentre os questionamentos levantados junto às empresas, percebeu-se que a educação superior tecnológica é um fato pouco conhecido e ainda envolto em muitas dúvidas em relação à identidade profissional do tecnólogo. Para tentar avaliar mais profundamente esta percepção, as empresas foram questionadas sobre contribuições para construção do perfil profissional do tecnólogo. As respostas apontaram que 100% das empresas pesquisadas declararam que a aproximação entre as instituições de formação acadêmica e o mundo do trabalho poderia ser extremamente proveitoso para ambos os lados. Primeiramente, porque as empresas conheceriam o perfil do tecnólogo, suas competências profissionais e poderiam vê- lo atuar com mais clareza e precisão no mundo do trabalho, ou seja, precisam conhecer a identidade deste profissional.

Para as faculdades, seria possível atender às demandas do mundo do trabalho através de uma formação que, além dos conteúdos tecnológicos, seja também capaz de desenvolver o raciocínio científico, inovador e interdisciplinar, de modo a superar o aspecto pontual da tecnologia, excluindo assim a possibilidade de tornar o tecnólogo um aplicador de conhecimentos tecnológicos. Para isso, torna-se necessário associar conhecimentos científicos à realidade, construção de raciocínio epistemológico e o posicionamento crítico analítico. Essa é possivelmente uma possibilidade de evitar que o conhecimento adquirido, em determinado curso, torne-se obsoleto bem como o diploma adquirido.

Algumas empresas questionam se as faculdades estão de fato atentas às demandas reais antes de oferecer os cursos, observando que, muitas vezes, o foco pode estar mais

voltado para a realização de novas matrículas do que no espaço que os egressos desses cursos poderão potencialmente ocupar no mercado de trabalho.

A aproximação entre a formação profissional e o mundo do trabalho coloca-se não só possível, como também necessária e desejada pelas empresas. Algumas declaram que as IES têm uma função importantíssima que é a formação das pessoas que trabalharão na empresa, e essa, por sua vez, vai representar o mercado. Ressaltam que não adianta formar o tecnólogo caso não se conheça as possibilidades de atuação desse profissional, se não há conhecimento sobre sua identidade profissional e não se sabe como, nem onde alocá-lo na empresa.

“[...] poderia ter um trabalho muito forte das instituições de ensino com as empresas, no sentido de desmistificar, de dar o conhecimento do que é realmente este curso, se ele é nível superior? Por que ele é assim considerado? Então até onde vai o curso tecnológico? Onde ele situa a pessoa profissionalmente? Isso é importante saber até para podermos conseguir, dentro dos processos de reconhecimento de RH saber onde posicionar este profissional. Porque ele tá ali no meio do caminho, ainda é um curso sem identidade.”

Entrevistado 9

Para minimizar este quadro, algumas empresas sinalizaram com a possibilidade de colocar-se como espaço alternativo para contribuir na formação do tecnólogo abrindo espaço na indústria local a fim de que as faculdades mandem seus egressos para realizarem estágio, seus professores para realizar atividades de pesquisa, entre outras possibilidades. A condição precípua para isso será o estreitamento entre empresas e IES.

Esta ação possivelmente resultará em conhecimento das empresas a respeito da identidade profissional do tecnólogo, através do conhecimento e entendimento das suas características específicas, observando os valores que podem ser agregados a partir da sua inserção no contexto produtivo.

“Eu acho que tinha que discutir e entender melhor o porque que se criou esse curso e qual era a intenção no mercado de trabalho, qual era a necessidade de ter um tecnólogo, se eu tenho já técnicos , eu tenho engenheiros, tenho carreiras tradicionais, qual era a necessidade quando se criou esse perfil de tecnólogo? O que é que isso pretendia atender no mercado? Eu não vejo que o mercado tinha essa necessidade de uma formação diferente, tanto é, que as empresas não se adaptaram a isso aí, quem sabe as empresas não estão enxergando.”

Entrevistado 10

As falas dos representantes das empresas demonstram que há uma grande carência de informações a respeito da identidade profissional do tecnólogo. Outro ponto de grande

relevância foi a disposição das empresas em conhecer o tecnólogo, em colocar-se, também, como agente de formação e futuramente poder absorvê-lo dentro de perspectivas da sua formação acadêmica. Dessa forma, pode ocorrer um movimento de mudança nos padrões de percepção e valorização dos títulos universitários pelos profissionais que os recebem tanto quanto pelas empresas que os contratam.

“[...] CST pode ser um grande caminho, as empresas não enxergarem esse espaço em sua estrutura para oferecer a esse profissional, isso é muito preocupante, não se tem a cultura de olhar para esse tipo de curso, é isso que poderia ser despertado. Como é que eu cuido do tecnólogo aqui na empresa para que ele tenha um papel respeitado? Para que não seja confundido com um técnico ou com um engenheiro? Qual a legislação que determina suas atribuições? Porque isso para identidade do profissional é muito forte, o profissional precisa ser visto e reconhecido por sua formação.”

Entrevistado 5

Ao observar que também é necessário para a construção da identidade profissional uma interface entre formação e aspectos legislativos, o representante do Crea foi indagado a respeito da conciliação entre as atribuições do tecnólogo propostas pelas Faculdades e as determinações do Crea. A resposta indica que essa questão ainda é marcada por conflitos.

“É uma situação interessante e ao mesmo tempo conflituosa, a gente tem as resoluções que tratam das atribuições para o cenário, então sugiro que a IES ao pensar no curso leve em consideração as resoluções que tratam das atribuições profissionais. Não adianta a IES sonhar com um cara que vai fazer determinada coisa quando não tem nada a ver com as atribuições que de fato pela legislação ele terá que executar, então vai ser uma situação muito difícil, além de criar uma fantasia na cabeça do aluno e de muitos egressos tecnólogos.”

Entrevistado 12 - Crea

O representante do Crea observa o crescimento dos cursos de tecnólogos, como um fator positivo, desde que seja possível absorver a quantidade crescente de tecnólogos pelo mercado de trabalho;

“Para o CREA é ótimo, são mais profissionais que estão chegando do ponto de vista do sistema, o que deixa a gente implicar é justamente essa relação de profissionais e empresas, muitas vezes as empresas (pública ou privada)já tem os seus planos de cargos cristalizados e ainda não fizeram uma revisão disso para que esse volume de tecnólogos colocados no mercado sejam inseridos nas empresas, por isso é que eu acho que tem tecnólogos atuando na área de técnicos. [...] “

O representante do sindicato apresentou interessantes observações em relação à equação entre a oferta de trabalho para o tecnólogo e o grande número de egressos no mercado de trabalho, acrescentou as seguintes possibilidades;

“Primeiramente seria a apresentação do curso ao mercado, divulgar o curso, divulgar o que vem a ser o tecnólogo, qual a finalidade, quais as áreas de trabalho, o que ele pode desenvolver. O segundo ponto seria a própria parceria das instituições de ensino com as empresas, buscando estágio, outra ação, seria a própria colocação do profissional após a formação e além disso e a própria desmistificação entre o tecnólogo e as profissões tradicionais .”

Entrevistado 13-Siindtecno

É provável que essa interface resulte no reforço à identidade profissional do tecnólogo pela contribuição para uma visão mais concreta das atribuições desses profissionais e das formas eficazes de atuação no mercado conforme demandas e valorização do sujeito e sua capacidade científica de atuação em uma realidade cada vez mais dinâmica, complexa e abstrata.

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