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Posição do tecnólogo no contexto produtivo e a natureza das suas atividades

8.3 A ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO TECNÓLOGO NO CONTEXTO PRODUTIVO.

8.3.7 Posição do tecnólogo no contexto produtivo e a natureza das suas atividades

Para compreensão sobre a posição do tecnólogo, em contexto produtivo, foi necessário investigar a natureza das ocupações que desempenhavam e das posições ocupadas. Os tecnólogos foram questionados a respeito da sua atuação profissional, conforme quadro a seguir:

Tabela 7- Atuação profissional do tecnólogo

RESPOSTAS QUANTIDADE %

Técnico 11 44

Tecnólogo 7 28

Outros (consultor, gestor...) 7 28

TOTAL 25 100%

Fonte: próprio autor, 2011

Analisando os dados, é perceptível que os tecnólogos estão atuando, em sua maioria, (44% dos pesquisados) em cargos como técnicos de nível médio. Observando esses dados, podemos afirmar que a absorção do tecnólogo pelo mercado de trabalho está muito vinculada à perspectiva de formação técnica, isto é, não há praticamente nenhuma correspondência entre a formação de graduação e o cargo ocupado. Ou seja, eles não têm oportunidade de executar atividades exclusivamente atribuídas ao tecnólogo, conforme as definições do Confea, levando a concluir pela falta de reconhecimento do mercado sobre este profissional com formação acadêmica. Os questionários cujas respostas foram incluídas na categoria “outros” é curiosamente composto por tecnólogos com formação em engenharia, ainda que incompleta em alguns casos.

De acordo com as informações coletadas junto ao sindicato, mais uma vez, torna-se expressa a vinculação, na prática profissional do tecnólogo, em nível de funções técnicas, como observado na fala do entrevistado:

“No geral, são contratados como técnico [...] na área de engenharia os tecnólogos são um pouco mais reconhecidos, mas na maioria dos casos são contratados como técnico. Existem exceções, pois eu, quando atuava como tecnólogo, fui contratado como engenheiro de processo numa fábrica de automóveis, e depois em outra empresa, como analista técnico que eles enquadravam como nível superior.”

Entrevistado 13- Sindtecno

Outro fato que merece especial atenção trata da ação do Crea como responsável pelos registros e fiscalização do exercício profissional e sua atuação nos casos em que o tecnólogo atua como técnico.

“[...] Quando somos questionados, principalmente em licitações, dizemos que o tecnólogo só pode concorrer a cargo de técnico se ele tiver o titulo de técnico, porque normalmente as licitações falam de títulos e não das atribuições. Agora, se as resoluções falam de atribuições e o tecnólogo quiser atuar como técnico... , ele é livre para aceitar ou não, vai que ele não arranjou emprego como tecnólogo e também está com dificuldade e aí se dispôs a isso.” Entrevistado 12 - Crea

Interessante observar que, na resposta do entrevistado do Crea, nota-se uma preponderância do mercado sobre o aspecto legislativo deixando ao tecnólogo a opção por aceitar desenvolver funções aquém da sua formação. Isso denota a pressão do desconhecimento do mercado sobre esse profissional e a desconstrução da ideia de que a formação está relacionada à aquisição de emprego.

Tabela 8- Formação tecnológica e avanço na carreira

RESPOSTAS QUANTIDADE %

Não 20 80

Sim 5 20

TOTAL 25 100

Fonte: próprio autor, 2011

Na análise desta tabela, é possível perceber que 80% dos tecnólogos acreditam que os avanços obtidos em suas funções nas empresas não se devem à formação como tecnólogo. As possibilidades para estes indicadores podem estar atreladas à valorização de saberes tácitos, participação em programas de qualificação profissional e até mesmo o desempenho diferenciado desenvolvido a partir dos conhecimentos profissionais como tecnólogo. Entretanto, como já foi dito, grande parte das empresas não possuem o cargo de tecnólogo e esta identidade profissional ainda não está construída o que possivelmente explica a falta de ligação entre promoções de cargos e funções e a formação superior tecnológica.

As empresas foram questionadas sobre o reconhecimento do tecnólogo como egresso de curso acadêmico. As respostas indicaram que 91% das empresas declararam que os tecnólogos atuavam como técnicos de nível médio, apenas uma empresa informou que tinha tecnólogos atuando como profissionais de nível superior. Importante ressaltar que nessa empresa os tecnólogos compreendidos como profissionais de nível superior atuavam na área de Tecnologia da Informação, área notoriamente promissora para o reconhecimento dos cursos superiores de tecnologia.

As empresas ainda não observaram se este experiente profissional já inserido na empresa, ao conquistar o diploma de nível superior, pode agregar valor à sua prática profissional a partir do domínio e execução de um elenco de novos conhecimentos, sobretudo científicos, e mais específicos à sua área de atuação.

As respostas parecem indicar que este diploma não é de fato tão valioso quanto um diploma de curso de bacharel, servirá apenas para atualizar alguns conhecimentos e possivelmente contribuir para movimentação de cargo e cumprimento de exigências do plano

de cargos e salários das empresas. Nota-se que o curso superior tecnológico surge como uma formação de pequeno valor e fortemente associado às funções meramente técnicas.

O nível salarial foi outro item questionado e os resultados apontaram que 36% das empresas afirmam que o tecnólogo recebe remuneração em torno de 6 a 10 salários mínimos que é a remuneração para os profissionais de nível técnico, 36% respondeu que não tinha como precisar o valor da remuneração recebida pelos tecnólogos, e 18% afirma os tecnólogos na empresa recebem entre 3 e 6 salários mínimos. A Resolução nº 397/95, em seu Art 5º, estabelece que os diplomados pelos cursos regulares superiores com duração menor que menos de 04 anos, receberão salário mínimo mensal de 05 (cinco) vezes o Salário Mínimo comum, vigente no País.

Vale ressaltar que, como os tecnólogos encontrados nessa pesquisa não atuavam como tal, mas na perspectiva de técnicos de nível médio, fica impossível estabelecer um controle por parte do Crea sobre os valores pagos a estes profissionais.

Para analisar a questão sobre a identidade profissional do tecnólogo, é imprescindível avaliar sua atuação no contexto produtivo, indagando a respeito da correspondência entre aquilo que esperava vir a fazer quando concluiu a formação como tecnólogo e as atividades que desempenha atualmente. Por esse motivo, nesta pesquisa, foi perguntado sobre a relação entre o aprendido e o executado.

Tabela 9- Expectativas de atuação profissional em relação à formação profissional

RESPOSTAS QUANTIDADE % Sim, parcialmente 12 48 Não 5 20 Quase nada 3 12 Sim, totalmente 5 20 TOTAL 25 100

Fonte: próprio autor, 2011

Os dados observados revelam que 48% dos entrevistados consideram que o trabalho realizado atualmente corresponde parcialmente ao que esperava fazer quando concluiu seu curso e 20% considera que as atividades que executa atualmente não estão relacionadas ao que esperava fazer quando concluiu o curso. Essa constatação leva a crer que há uma disparidade entre o que o tecnólogo está cursando e aquilo que a realidade lhe tem mostrado. Pode ser que a proposta do curso não esteja em consonância com o que o mercado espera ou ainda conhece sobre o que seja o tecnólogo.

Tabela 10 - Compatibilidade entre funções exercidas e formação tecnológica. RESPOSTAS QUANTIDADE % Sim, parcialmente 11 44 Sim, totalmente 10 40 Quase nada 3 12 Não 1 4 TOTAL 25 100

Fonte: próprio autor, 2011

Ao analisar os dados, é interessante perceber que as funções executadas pelos tecnólogos estão parcial ou totalmente compatíveis com a sua formação acadêmica, o que leva a crer que há um espaço no contexto produtivo onde os saberes do tecnólogo podem ser ainda mais valorizados e melhor aproveitados mediante a execução de tarefas complexas geralmente relacionadas aos processos tecnológicos.

Uma interpretação mais cautelosa, no entanto, sugere que há um paradoxo entre a demanda do mundo do trabalho por profissionais com formação baseada em tecnologia, associada a um equilíbrio entre a teoria e a prática. Por outro lado, a restrição do mercado de trabalho local não absorve estes profissionais como tecnólogos apesar da longa existência de cursos superiores de tecnologia no Brasil.

A complexidade relacionada a esta questão se dá por meio do reconhecimento de que o tecnólogo apresenta conhecimentos compatíveis com as funções que lhe são atribuídas, ao mesmo tempo em que ainda não há uma proposição de tarefas que lhe permita extrapolar o nível técnico de conhecimento, e assim, dar lugar à sua capacidade de inovação, pesquisa, gestão e desenvolvimento de soluções e projetos inovadores.

Mais uma vez cabe indagar sobre o estudo de demandas relacionadas a essa formação profissional e o campo real de formação e atuação do tecnólogo.

9. O TECNÓLOGO NO MERCADO DE TRABALHO LOCAL: posição atual e perspectivas

O trabalho está no centro do processo de construção e reconstrução das formas identitárias, é nele e por ele que os indivíduos, nas sociedades salariais, adquirem o reconhecimento financeiro e simbólico da sua atividade. Apropriar-se, também, do seu trabalho, conferir-lhe um “sentido”, isto é, dar-lhe uma significação subjetiva e uma direção objetiva, propicia aos indivíduos ascenderem à autonomia e à cidadania (DUBAR, 2005).

Ao considerar que a identidade profissional torna-se reconhecida a partir da atuação do profissional, além da forma como o sujeito percebe a qualidade e as possibilidades de sua atuação profissional, percebe-se que a maioria das respostas a esta questão traduzem a impressão e a vivência dos tecnólogos no mercado de trabalho local, cuja configuração impede o exercício da autonomia profissional e a construção da identidade enquanto tecnólogo de fato, excluindo-se o “sentido” objetivo de sua formação.

Tabela 11- Percepções do tecnólogo sobre o mercado de trabalho.

RESPOSTAS QUANTIDADE %

Na maioria das empresas, desenvolve funções como técnico 13 22,4 Não é um profissional reconhecido como sendo de nível

superior 13 22,4

Ainda está em processo de reconhecimento pelo mercado de

trabalho 9 15,5

Não ocupa cargos como tecnólogo 9 15,5

Será reconhecido como profissional de referência no futuro 5 8,6 É um profissional diferenciado pela especificidade do

conhecimento 5 8,6

Outros (1) 3

5,2

TOTAL 58 100,0

Fonte: próprio autor,2011

(1): “O mercado não respeita o tecnólogo”

“Em minha área de TI não existe dificuldade para colocação no mercado, basta ter conhecimento.” “Na área de TI vejo com boa aceitação”

Para análise deste quadro, é importante ressaltar que a questão formulada aos 25 tecnólogos participantes desta pesquisa permitiu múltiplas respostas. Dessa forma, os percentuais alcançados neste quadro foram analisados em relação ao número total de respostas obtidas: 58 opções marcadas.

A maioria das respostas indica que os tecnólogos percebem que a situação dele está longe daquela idealizada pelos mecanismos de incentivo à formação superior tecnológica.

Declararam que, em sua maioria, não se sentem reconhecidos como profissionais de nível superior e por ocuparem funções aquém da sua formação acadêmica. Percebem, também, que ainda não foi possível contextualizar plenamente os saberes academicamente construídos.

Os motivos já foram expressos nas declarações das empresas integrantes desta pesquisa, agora resta desenvolver pesquisas que possam apresentar os diferenciais tecnológicos e científicos desse profissional em sua atividade prática.

O sindicato posiciona-se a respeito dessa questão da seguinte maneira:

“Eu vejo com boa perspectiva, pois os cursos estão aumentando na Bahia, acredito que os profissionais irão se organizar e os cursos serão mais reconhecidos ampliando o mercado de trabalho. Mas hoje a situação é um pouco complicada, muitos profissionais assim como eu, são formados em tecnologia mas acabam fazendo outros cursos de graduação nos mais variados setores, para poder serem absorvidos pelo mercado. Poucos tecnólogos fazem uma pós-graduação. Muitos tecnólogos desistem da carreira como tal, após saber toda a burocracia e o não reconhecimento imediato destes cursos pelo mercado.”

Entrevistado 13

O CREA expressou a seguinte opinião a respeito do tecnólogo no mercado de trabalho:

“Hoje ainda não é favorável, até acredito que nas micro pequenas e até médias empresas eu vejo mais perspectivas do que nas grandes, pq ele tem uma possibilidade maior de adequar o objeto de trabalho dele e muitos deles às vezes são donos dessas micro e pequenas empresas[...]eles vão buscar o tecnológico porque é mais rápido e então ficam sendo os responsáveis por sua própria empresa.”

Entrevistado 12

As respostas revelam o entendimento de que atributos como especialista, curso de menor duração, maior foco em determinada área não são suficientes para atribuir identidade ao tecnólogo. Os saberes profissionais precisam de espaço para colocarem-se e apresentar um diferencial consistente no contexto produtivo, assegurando ao tecnólogo sua colocação entre o técnico e o engenheiro. Além disso, a cultura bacharelesca é outro impeditivo para que o tecnólogo seja reconhecido como profissional de nível superior, isso indica que será necessário uma ação consistente por parte dos órgãos governamentais para que a sociedade possa absorver a natureza e especificidade deste curso.

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