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Como se viu, anteriormente, neste estudo, o conhecimento não só determina a inovação tecnológica e o crescimento econômico, mas está tornando-se, também, atividade chave da economia e a principal causa da mudança ocupacional, gerando novos perfis de trabalhadores, novos postos de trabalho e a necessidade permanente de uma formação continuada junto a estes, para que atendam a essas mudanças tão imperativas quanto

frequentes nas empresas, sobretudo nos processos de produção.. Nessa perspectiva, o mundo do trabalho reestrutura-se aceleradamente, buscando atender às demandas do mercado, empreende novos modus operandi no processo produtivo por meio das inovações científico- tecnológicas, da acumulação flexível e de novos modos de gerenciamento da organização do trabalho.

Além dos efeitos da globalização, das profundas transformações na organização do trabalho, um fato de grande importância diz respeito à formação do trabalhador que se vê envolvido no estreitamento entre trabalho, interação e saber. As inovações tecnológicas requerem do trabalhador uma capacidade cada vez maior de adaptabilidade, para que possa superar conceitos e construir outros, a valorização de atitudes para a aprendizagem e a aplicação de novos conhecimentos tecnológicos ao sistema produtivo.

De fato, as mudanças nas bases dos sistemas produtivos têm implicado em alterações significativas nas regras e condições de acesso à tecnologia, nas relações entre os componentes intelectuais e manuais do trabalho, na dinâmica de decomposição e segmentação do trabalho, na estrutura ocupacional com o surgimento de um maior número de especialidades, na valorização de determinadas categorias sócioprofissionais e culturais em detrimento de outras, nas relações profissionais, na divisão corporativa do conhecimento, na dinâmica da expansão do mercado da educação, na estrutura da formação profissional.

As exigências, para que o trabalhador seja capaz de adaptar-se às transformações tecnológicas e organizacionais de modo imediato, requer uma base de conhecimentos científicos e tecnológicos com foco específico no processo produtivo, oportunizando a aplicação imediata dos conhecimentos construídos. A formação superior tecnológica, por sua vez, prevê a associação entre prática e teoria como diferencial do perfil profissional do tecnólogo, cuja formação proposta se encontra praticamente “embutida” em contextos reais de trabalho, buscando associar o conhecimento científico à prática profissional.

Malglaive (2003) pronuncia-se a respeito de formação e saberes profissionais, entre a teoria e a prática, contribuindo decisivamente para a divulgação da formação por alternância que se traduz no uso de dispositivos que aliam a formação prática à formação teórica. Este autor considera que, na formação de engenheiros através da alternância, há uma preocupação para além do título, onde o foco supera a primazia de saberes profissionais baseados em conhecimentos teóricos fundamentais e indispensáveis. Nos saberes profissionais, o problema é o conhecimento que não está no arcabouço teórico e, segundo Malglaive (2003), é difícil de ser definido, entretanto ele mesmo utiliza definição própria , chamada de saberes da ação e a dificuldade que se coloca parte da ausência destes saberes em livros.

O saber da ação é definido por Malglaive (2003) como aquele que permite contornar os efeitos indesejáveis na condução de processos de trabalho. Este saber coloca-se antecipadamente aos aspectos aleatórios do processo, atua sobre o real que pode não ser perfeito ou desejável, mas que se coloca como fato concreto no dia a dia do mundo do trabalho. Dessa forma, cabe uma análise sobre uma proposta de formação que dê conta de preparar o trabalhador para atuar no contexto concreto do mundo do trabalho. Nesses casos, o princípio básico a ser observado é a proposição dessa atividade real tornando-a, também, formadora do sujeito.

No que diz respeito à formação do tecnólogo, que apresenta como característica de grande relevância a relação entre teoria e prática, os projetos de cursos tecnológicos devem propor formação capaz de associar a teoria à prática, subsidiada por conhecimentos científicos e tecnológicos em atendimento às necessidades de construção de novos saberes e para aformação do sujeito que deve possuir autonomia, vasto elenco de competências tecnológicas, comportamentais e de gestão. Também define e afirma Zakon; Nascimento e; Szanjberg, (2003), que ser o Tecnólogo corresponde a uma profissão de nível superior amparada na tecnologia, por contraste com outras que são amparadas na ciência.

Buscando construir identidades especificas entre os cursos superiores de tecnologia, tem-se insistido na importância do critério da maior densidade tecnológica, como um importante diferencial e uma característica que seria intrínseca a esse tipo de graduação que vem obtendo crescimento expressivo nos últimos anos, configurando-se como um “nicho” promissor ao viés mercadológico do ensino superior privado.

O ponto central dessa questão refere-se à formação do trabalhador que, além da formação para o mundo do trabalho, deverá ter respeitada sua essência como ser cognoscente, dotado de cultura própria, expectativas e possibilidades.

Em resumo, o perfil que se espera desses profissionais destaca: a) foco na inovação tecnológica;

b) competências de aplicação, desenvolvimento e difusão de tecnologias e capacidade para gerir processos tecnológicos e produção de bens e serviços.

Para que essa modalidade de ensino cumpra o papel de formar mão de obra específica a determinados setores, a estrutura de oferta de cursos deve-se basear na demanda do mercado de trabalho regional.

Na análise das demandas que reforçaram o surgimento dos cursos superiores de tecnologia, é preciso considerar que a geração de conhecimentos e a capacidade tecnológica são as ferramentas fundamentais para a concorrência entre empresas, organização de todos os

tipos e, por fim, países. Castells, (2003) esclarece que historiadores econômicos demonstram o papel fundamental desempenhado pela tecnologia no crescimento da economia, via aumento da produtividade, durante toda a história e especialmente na era industrial. A hipótese do papel decisivo da tecnologia como fonte de produtividade nas economias avançadas, também, parece conseguir abranger a maior parte da experiência passada de crescimento econômico, permeando diferentes tradições intelectuais em teoria econômica.

Segundo Deluiz (2004), a desterritorialização dos mercados produtivos e de consumo, sua crescente integração, a multiplicidade e multiplicação de produtos e de serviços, a tendência à conglomeração das empresas, a mudança nas formas de concorrência e a cooperação na indústria com base em alianças estratégicas entre empresas e em amplas redes de subcontratação, a busca de estratégias de elevação da competitividade industrial, através da intensificação do uso das tecnologias informacionais e de novas formas de gestão do trabalho são alguns dos elementos de sinalização das transformações estruturais que configuram a globalização econômica e apontam a necessidade de reconfigurar o perfil do trabalhador por meio de estratégias para renovação/reestruturação do conhecimento para o trabalho.

Além do treinamento operacional destinado à preparação de trabalhadores para a execução de tarefas simples e rotineiras, a incorporação de inovações tecnológicas pelo processo produtivo e as modificações na organização do processo de trabalho e nas relações profissionais teriam passado, portanto, a requerer a revisão das classificações profissionais e dos programas de formação visando a proporcionar uma qualificação profissional superior para atividades de maior complexidade, constantemente redefinido em face aos avanços da ciência e tecnologia e, assim, configuram-se os cursos superiores de tecnologia.

A revolução das tecnologias da informação, na década de 90, transformou o processo de trabalho, introduzindo novas formas de divisão técnica e social do trabalho. Alguns analistas como Coriat (1994) declaram que novas formas de organização do trabalho assim como novas ocupações e perfis profissionais têm surgido a título de adequação às inovações tecnológicas. Dessa forma, é possível compreender a retomada dos cursos tecnológicos a partir da década de 90

[...] a introdução de novas tecnologias e novas formas de organização do trabalho tem dado lugar ao surgimento de novas figuras de trabalhador: o operário fabricante, o tecnólogo e o administrador (ou gestor). Essas figuras representam modelos de trabalhadores polivalentes, que têm maior conhecimento do processo e do produto: o operário fabricante tem, por característica, sua polivalência para o conjunto de tarefas da oficina, é o que mescla tarefas de trabalho direto e indireto com um conjunto de máquinas. Entende o que faz porque lhe explicaram e aprende manipulando conjuntos de tarefas cada vez mais complexos; o trabalhador tecnólogo não só pode

fazer o anterior, mas, além disso, tem capacidade de realizar diagnósticos e otimizar o rendimento das máquinas por meio de melhorias simples, ruas que podem ser importantes, e, finalmente, o trabalhador administrador, que tem capacidade técnica e também de cálculo econômico implícito, ou às vezes explícito, que significa tarefas de gestão econômica. (GENOVEZ, 2000, p.50)

Segundo Castells (2003), há uma tradição antiga nas pesquisas sociológicas e organizacionais sobre a relação entre tecnologia e trabalho. Compreende-se que a tecnologia em si não é a causa dos procedimentos observados no mundo do trabalho, pois há de se considerar decisões administrativas, sistemas de relações industriais, ambientes culturais e institucionais e políticas governamentais como fontes básicas das práticas de trabalho e da organização da produção. Dessa forma, o impacto da tecnologia só pode ser entendido em uma complexa interação no bojo de um sistema social abrangendo todos esses elementos, refletidos na ação de reestruturação do mundo do trabalho.

O efeito do processo de reestruturação capitalista deixou marcas decisivas nas formas e nos resultados da introdução das tecnologias da informação no processo de trabalho. Os meios e formas dessa reestruturação também foram diversos, dependendo da capacidade tecnológica, cultura, política e tradições ligadas ao trabalho em cada país. Sendo assim, Castells (2003) convida a uma análise a respeito do padrão de trabalho emergente dos trabalhadores e da organização do trabalho que caracterizam a nova sociedade informacional, e deu origem a “uma nova classe trabalhadora” enfocada na capacidade de gerenciar e operar tecnologia avançada, ocasionando o surgimento de um modelo pós-fordista no processo de trabalho, com base na união de flexibilidade e integração em um novo modelo de relações entre produção e consumo, muito mais complexo e dinâmico.

Um dos resultados desse modelo é o surgimento da automação, que só se completou com o desenvolvimento da tecnologia da informação, aumentando enormemente a importância dos recursos do cérebro humano no processo de trabalho, o que oportunizaria o surgimento de novas propostas de formação do trabalhador, agora muito mais dirigidas ao atendimento da complexidade e abstração requeridas nos processos produtivos.

Os efeitos dessas transformações tecnológicas sobre a formação do trabalhador, especificamente no Brasil, resultou na retomada da oferta de cursos superiores de tecnologia, interrompido na década de 80. Cunha (2003) declara que os jovens que pretendiam inserção profissional imediata e não podiam arcar com os ônus de um ensino que lhes ocupasse todo o dia, sobretudo aqueles que tinham origem social e econômica mais modesta, encontraram nos CSTs um caminho que lhes permitisse adquirir formação superior e entrada mais rápida no

mercado de trabalho. Diante dessa situação, já se notava iniciativas de algumas instituições públicas e privadas, no sentido de transformarem seus cursos técnicos em cursos superiores de duração reduzida – os cursos para tecnólogos, como os dos centros federais de educação tecnológica.

Cunha (2003) na década de 90, em seu artigo sobre o estado da arte da reforma da educação técnico profissional na América Latina, declara que a orientação do Bird para o sistema educacional, baseada numa concepção “econocêntrica”, ter-se-ia expressado por três vetores nas mudanças observadas da educação técnico-profissional na América Latina: descentralização, setorização e privatização. Em acréscimo a essas tendências, Wilson (2003) assinala a “diferenciação para cima” da educação técnico-profissional na América Latina, desde o nível secundário até o pós-secundário para técnicos e tecnólogos. Ele aponta, ainda, que essas mudanças todas teriam sido determinadas pela globalização da economia, com o consequente abandono das políticas protecionistas e a abertura dos mercados nacionais a uma competição internacional cada vez mais acirrada.

Para enfrentar a competição, num mercado progressivamente globalizado, os governos dos países latino-americanos, decidiram, entre outras providências, modificar os modos como qualificam sua força de trabalho, em especial, para a indústria e os serviços, que, por sua vez, passam a utilizar tecnologias mais sofisticadas, exigentes de trabalhadores formados por qualificações e/ou competências.

A análise sobre os fatores que desencadearam a retomada dos cursos superiores tecnológicos, a partir da década de 90, retoma as discussões entre as constantes mudanças no mundo do trabalho e as adequações que a educação deve promover para preservar um nível de conhecimento que mantenha a balança da oferta e demanda em relativo equilíbrio. Nos últimos anos no Brasil, a política educacional incentivou a expansão de cursos superiores através de investimentos e alterações nos mecanismos regulatórios, isso porque acreditava-se que esta medida fosse eficaz para o crescimento do país.

Neste sentido, compreende-se que os cursos superiores de tecnologia, no contexto educacional e de qualificação profissional, ressurgem com a proposta de tornar-se uma formação profissional superior, capaz de atender às inovações tecnológicas em contexto produtivo de modo rápido e eficiente. Daí o estabelecimento de certos critérios para composição de cursos tecnológicos cuja formação está fortemente associada à prática, deve ser realizada em tempo inferior aos cursos de bacharelado e com forte teor tecnológico, voltados para atendimento específico. Uma Preocupação, em face a estes critérios, encontra respaldo no viés mercantilista do ensino superior privado.

3.10 A EXPANSÃO DO ENSINO SUPERIOR: rumo à verdadeira sociedade do

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