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Há cerca de três séculos, existiam apenas as escolas religiosas e a aprendizagem controlada pelas corporações de ofício. As escolas acadêmicas formais originaram-se nas religiões que necessitavam de um clero bem educado, no caso dos protestantes, porque queriam ver os seus seguidores lendo a bíblia. Progressivamente, estas se tornaram escolas de elites, mas sua ênfase na religião e na filosofia mostra claramente as suas origens.

Embora religiosas no início, essas escolas ofereceram o modelo para as escolas básica e de nível médio que existem até hoje em quase todos os países. Uma vez que as suas raízes estavam enterradas na educação dos jovens herdeiros das classes dominantes tradicionais, elas tendiam a favorecer os temas teóricos e negligenciar – senão desprezar - todo o trabalho prático, Castro (2003).

Foi somente no Iluminismo que essas escolas introduziram matérias científicas no seu currículo, consequentemente as escolas não atendiam àqueles que precisavam aprender

habilidades ocupacionais, nem valorizaram este propósito, já que as atividades manuais eram reservadas aos desvalidos.

Apenas uma pequena e privilegiada elite frequentava as escolas acadêmicas. Para a maioria dos jovens, não havia uma proposta estruturada de formação profissional, até que as corporações de ofício passaram a dar maior estrutura e substância a esse tipo de aprendizagem. Neste sistema, o aprendiz oferecia seu trabalho ao mestre de ofício, em troca de um pequeno salário e da aprendizagem através da prática.

No século XVIII, começaram a funcionar as escolas de artes e ofícios, a ideia que deu origem a essas escolas propunha a transmissão de habilidades práticas, em uma estrutura de estilo escolar. As suas principais áreas foram os ofícios e as ocupações tradicionais.

Essas escolas voltadas para as classes pobres e trabalhadoras tentavam oferecer formação em ocupações aproximadamente similares àquelas que eram oferecidas pelo sistema de aprendizes. Este modelo tem descendentes nos centros e escolas vocacionais que surgiram em alguns países que passaram a oferecer, simultaneamente, o desenvolvimento das habilidades práticas e o currículo da escola formal. Estas escolas vocacionais são identificadas como o sistema típico francês de formação profissional.

O sistema de aprendizes tem sobrevivido através dos séculos, seja com mais ou menos estrutura, nos países industrializados. Ele tem tomado todos os caminhos possíveis, nas suas formas mais simples, continua sendo o modo predominante de aquisição de profissões, nas mais sofisticadas, tornou-se muito complexo e estruturado. Podemos atribuir essa característica, inclusive, aos cursos superiores tecnológicos.

Durante muitos anos, a formação profissional foi uma questão de caridade. Um grande número de escolas de formação profissional teve seu início como instituições voltadas para órfãos e pobres, daí o status persistentemente baixo dessa qualificação e o fato das políticas públicas até pouco tempo atribuírem pouca importância a essa modalidade educacional.

Entretanto, na história da industrialização naqueles países onde este movimento foi muito acelerado, descobriram, de imediato, que a aprendizagem no trabalho não se fazia possível a partir do momento em que a indústria se desenvolvia muito rapidamente. Por exemplo, a iniciativa de se criarem grandes indústrias implicou na necessidade de se capacitarem milhares de profissionais em um curto espaço de tempo. Daí, portanto, a necessidade de se criarem programas estruturados de formação profissional, com o objetivo de se responder ao significativo aumento de demanda por mão de obra qualificada para os novos processos produtivos.

Após a segunda guerra mundial, muitos países aceleraram o ritmo de sua industrialização, consequentemente, o fato de sistemas de formação profissional de adultos terem sido criados nesses países não causa nenhuma surpresa. Nos anos que se seguiram ao fim da 2ª guerra, praticamente, todos os países que desejavam desenvolver seu parque industrial criaram sistemas de formação profissional próprios.

Como não havia uma tradição na formação profissional para o contexto industrial, as escolas ficaram com esta incumbência, pois, naquele contexto, lhes cabia o papel de preparar e fornecer a mão de obra qualificada que estava sendo requerida. A demanda emergente estruturava-se sob a seguinte forma: era preciso capacitar instrutores, traduzir, adaptar e preparar material para a formação profissional, construir escolas e adquirir equipamentos. Os países nos quais a industrialização mudou os cenários econômicos nacionais desenvolveram grande número de sistemas de formação profissional, apesar das diferenças em estilo e organização e do caráter eminentemente tecnicista, assim como deveria ser o perfil do trabalhador daquela época.

Nos países, onde a influência francesa era forte, as escolas vocacionais e técnicas copiaram os modelos franceses, a América Latina incluindo o Brasil mesclou as fortes tradições educacionais da França com aquelas de formação profissional alemã. Inclusive, foi este o modelo usado para estruturar a proposta de educação profissional do SENAI.

Uma variante do sistema francês são as escolas técnicas, este sistema associa o estudo de disciplinas acadêmicas com tecnologia e com trabalho prático em oficinas e laboratórios, estes cursos são oferecidos a partir dos últimos anos do segundo grau. As escolas técnicas geralmente preparam os alunos para funções de supervisão nas fábricas ou para ocupações altamente qualificadas.

A associação entre as disciplinas acadêmicas, a tecnologia e as habilidades práticas nas escolas vocacionais ou técnicas nem sempre gera uma combinação estável, muitas vezes se desequilibram ou para um lado ou para outro, seja para o lado prático ou o acadêmico. Se a tendência for para o lado prático, há grandes chances de afastar aqueles alunos que se destacam por sua aprendizagem; se a tendência for o lado acadêmico, deixa-se de lado as atividades práticas e estas acabam por serem consideradas de menor valor na escala da formação profissional. Duas de suas principais desvantagens tendem a ser uma certa rigidez curricular e a sua distância do mercado de trabalho, esta situação é muito comum em países onde a sedução acadêmica é forte. A França tentou compensar essa rigidez oferecendo às empresas uma ampla gama de cursos de curta duração.

Algumas corporações de ofício europeias estruturaram o sistema de aprendizagem em um nível muito elevado, como apresentado no sistema francês, entre elas o sistema adotado pela Alemanha, Áustria e Suíça. Nesses países, a formação profissional evoluiu e tornou-se um sistema que absorve uma grande proporção do grupo de jovens que tem entre 16 e 18 anos (63% na Alemanha). Ao invés de produzir disciplinas práticas nas escolas, esses países preferiram introduzir disciplinas acadêmicas à experiência prática no trabalho.

As dificuldades para implantação deste modelo de formação profissional, em outras culturas, requerem que a sociedade atribua valor e prestígio às ocupações ditas manuais (técnicas) – o que não é, de maneira alguma, o caso das sociedades menos industrializadas. A origem dos cursos profissionalizantes dessas sociedades se encontra comprometida pela crença de que os ofícios técnicos têm menor valor sócio profissional, assim como aqueles que são seus egressos, além de uma acentuada valorização pelos diplomas acadêmicos, o que, no entendimento de Machado (2008), pode ser chamada de cultura bacharelesca.

Para melhor compreender de que modo à educação profissional influencia na concepção dos Cursos Superiores de Tecnologia, trabalhar-se-á com um recorte histórico a partir dos anos 30, época em que a educação profissional recebe maior impulso no sentido de massificação da formação profissional.

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