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2 P ASSAGEM À VIDA ADULTA : POSTURAS DE ATECIPAÇÃO E COTEXTOS DE ACESSO AO EMPREGO

No documento Diplomas e (Des)Emprego: um estudo de caso (páginas 133-142)

O que se encontra em causa no processo de transição para o trabalho não é somente o acesso à vida activa, mas também à vida adulta e a uma efectiva integração social, por parte dos mais jovens. Para a Sociologia da Juventude, o conceito de juventude175 apresenta-se como um processo individual e social e não uma categoria social ou um estado. Pais (1996) refere que podermos dividir as teorias da juventude em duas correntes distintas: a geracional e a classista. Na primeira, englobam-se as teorias das gerações (que pressupõem o confronto, não necessariamente conflitual, entre jovens e adultos) e as teorias estruturo-funcionalistas, mais especificamente os trabalhos de Parsons (1973), Eisenstadt (1973) e Coleman (1961), que consideram os conflitos inter-geracionais e as subculturas juvenis como disfunções do processo de socialização dos anos 50/60. Já a corrente classista, de índole marxista, opõe-se à perspectiva da homogeneidade da juventude, questionando o papel da idade como forma de estratificação, sendo que a classe social continua a ser a variável social nuclear para a explicação das diferentes trajectórias escolares, como podemos observar nos trabalhos de Bourdieu (1976, 1979) e Passeron (1982, 1983, 1989) que comprovam a posição diferenciada dos jovens face à divisão social do trabalho.

A juventude é, para Rose (1998), mais do que uma idade, do que uma geração, do que um nome ou do que um grupo social, sendo distinguida segundo a origem social, situação familiar, relação com o trabalho, experiência na vida activa, etc.

Na actualidade, a passagem à vida adulta, para Galland (1991, 1995, 1995a, 2000), apresenta- se cada vez mais como um processo de complexidade e durabilidade crescente, como um momento de transposição de diferentes patamares, que incluem a conclusão da formação académica, o início da vida profissional, a saída da casa dos pais e a constituição de uma unidade familiar autónoma. Existem, assim, três momentos fulcrais no acesso à vida adulta: a autonomia face à família, a entrada na vida activa/profissional e a formação de um relacionamento afectivo estável.

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Nesta perspectiva, salienta-se Mauger (1998), que representa a juventude como a idade da dependência familiar e económica, a idade das incongruências estatutárias, a idade da indeterminação entre posição social de origem e a de destino, a idade das classificações sociais que o próprio constrói e que os outros lhe atribuem a nível laboral e matrimonial. À juventude é vista como propriedade do indivíduo contrapõe-se uma noção de juventude como “grupo de idade” .

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Consequentemente, Galland (1996) propõe a divisão da juventude em três momentos: a pós- adolescência (constituída pelo período que medeia a conclusão da formação académica e a autonomia residencial - estatuto de adulto associado ao desempenho de uma actividade profissional e o de adolescente associado à permanência na residência de progenitores); a juventude característica dos mais escolarizados (período que compreende uma autonomia económica e residencial, mas sem relação conjugal) e, finalmente, a fase pré-adulta (do envolvimento conjugal ao nascimento do primeiro filho, que é considerado como o acontecimento biográfico decisivo para aceder ao estatuto de adulto). Segundo o mesmo autor (1995a), podemos então definir três tipos de passagem à vida adulta: o modelo de executante (inserção e passagem rápida), o modelo burguês (período de espera, adaptação) e o modelo feminino (caracterizado pelo casamento e não tanto pela passagem à vida profissional).

Com trajectórias académicas cada vez mais longas os jovens abandonam a casa dos pais mais tardiamente, aumentando a idade média de acesso ao emprego, diminuindo as entradas precoces no mercado de trabalho e arrastando temporalmente o acesso a um emprego estável176. Esta situação origina uma “(…) multiplication, au cours de la période récente, de situations

intermédiaires entre l’installation des jeunes dans un autre logement que celui des parents (la décohabitation), et leur accession à une réelle indépendance résidentielle (les parents n’assurant plus le financement de ce logement), complique l’analyse de leur accès à l’autonomie résidentielle (…)” (Villeneuve-Gokalp, 2000:62).

Este movimento é reforçado pela democratização sexual do ensino e consequente escolarização do sexo feminino, que adiam o início da vida conjugal, considerada por Lefresne (2003) como a entrada num novo ciclo da vida. Nos países latinos o sistema de ensino possui um duplo papel: o de refúgio imediato em relação ao risco elevado de desemprego e o facto de tentar melhorar o seu posicionamento na fila de espera face ao emprego.

Iannelli e Soro-Bonmati (2006) referem-se ao modelo mediterrânico da juventude, onde os jovens apresentam trajectórias escolares longas; revelam dificuldades ao nível do primeiro emprego; vivem com os pais (mesmo após a passagem à vida activa), de onde só saem genericamente quando casam (redes paternais); verifica-se uma diminuição da percentagem dos jovens a viver sozinhos ou em co-habitação. Este movimento enquadra-se no modelo de protecção continental, onde a família é central no processo de acesso ao emprego, compensando limitações das políticas de apoio aos jovens desempregados ao nível do emprego e habitação. É nesta perspectiva que se enquadra o caso nacional, onde a família surge, assim, como uma compensação da falta de apoio estatal aos jovens, como podemos comprovar em Galland (1995b)

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Para mais informações, consultar relativamente aos aspectos: micro/macro/passagem à vida adulta-

Muller; Gangl (2006) ob. cit; Nicole-Drancourt; Roulleau-Berger (2001) ob. cit ; autonomia residencial- Dormont et Sandrine Dufour-Kippelen (2000) ob. cit ; tipos passagem à vida adulta-Pais (1994, 1996) ob

cit; Nielsen (1998) ob. cit; geração-Rose (1998); vida adulta-Thomson e Taylor (2005) ob. cit; Johnson,

125 e Villeneuve-Gokalp (1997). O prolongamento da juventude não ocorre a ritmos semelhantes pela Europa, sendo mais precoce nos países do norte e centro. Em Portugal apresenta-se como um fenómeno recente, constituindo para Alves (2008) o reflexo de uma maior procura de qualificações escolares177.

Face às dificuldades que circunscrevem o processo de transição para o trabalho e a passagem à vida adulta, o descontentamento generaliza-se. Consequentemente, urge questionar: o jovem é sujeito (teoria do Job Search, de acordo com a qual o indivíduo tem poder de análise entre o trabalho, procura e optimização das escolhas) ou actor (o jovem é um produto das estruturas)?

A capacidade de estratégia individual apresenta-se, progressivamente, como um critério de diferenciação da juventude, face à dificuldade cada vez mais evidente de acesso ao mundo do trabalho, que exige uma progressiva flexibilização na postura dos jovens, quando acedem ao primeiro emprego regular. Canals e Diebolt (2001) referem mesmo que os jovens optam, muitas das vezes, por empregos mais estáveis, independentemente de o mesmo implicar uma desclassificação, tendo presente o seu nível de escolaridade e expectativas salariais e formativas. Esta situação é, a nível nacional, particularmente visível no acesso dos diplomados ao mercado público, como pudemos comprovar em Sousa (2003), até porque aí o emprego “(…) is much

farther removed from the impetus of productivity and profitability of global competition.” (Milss

e Blossfeld, 2005: 19).

Situação inversa verifica-se no mercado privado, onde o estatuto de estável, exige, não raras vezes, uma sucessão de sequências de emprego de curta duração, desemprego, formação profissional, regresso aos estudos etc, tendo presente que estas “(…) différentes expériences,

même précaires et transitoires, influent sur la situation future des individus en leur apportant des compétences, des premières expériences de travail.” (Cart e Toutin, 2005: 103).

Não podemos esquecer, contudo, que, obviamente, os jovens procuram inicialmente rentabilizar o investimento em educação, tentando obter empregos promissores, apesar de experimentam cada vez mais, no inicio da vida activa, situações de desemprego ou uma sucessão de empregos. Lefrense (2003) afirma que os jovens representam cada vez mais um stock, um grupo particular e uma passagem universal; consequentemente, os recursos familiares, a dimensão local e a existência de pesquisas que ajudem a informar a juventude na procura de emprego podem ser determinantes, bem como a questão do género. Gangl (2002) defende que, a acção individual ao nível do mercado de trabalho, é cada vez mais importante, bem como a educação, a experiência profissional e as redes sociais, constituindo os recursos centrais no processo de acesso ao emprego. Neste contexto, Beck (2001), relembra que as trajectórias biográficas são o resultado das escolhas que se fazem e das decisões que se podem e devem tomar no que respeita a todas a dimensões da vida pessoal, tendo presente que a “(…) situação dos jovens e os seus projectos

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Para mais informação sobre a evolução dos níveis de escolaridade e respectiva temporalidade de percursos escolares, no caso nacional, consultar OCDE (1997; 1999; 2003; 2007) ob cit.

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continuam a ser governados pela origem social da família, pelos resultados escolares, pelo sexo, pelo local de residência (…)” (Robert, 1996: 229).

Para Russel e O’Connel (2001) existem a dois tipos de influências que afectam o processo de transição para o trabalho: os factores micro (que englobam aspectos como a idade, género, origem social, formação académica, experiência profissional e duração do acesso ao emprego ou de desemprego) e os factores macro, (que circunscrevem a procura do mercado de trabalho, programas de apoio ao emprego, regimes nacionais de protecção ao emprego, apoio social ao desemprego e relação entre sistema educativo e mercado de trabalho). Muller e Gang (2006) salientam que, a nível micro, a pertinência que o primeiro emprego assume, no desenvolvimento da trajectória profissional é evidente, já a nível macro a divisão social do trabalho e o sistema de estratificação social, possuem particular pertinência neste processo (empregos disponíveis por área, região ou sector económico), bem como no próprio processo de entrada na vida adulta. Podemos referir, que os jovens, actualmente, são caracterizados por uma maior mobilidade geográfica, o que pode originar uma posição de acesso ao emprego mais favorável, segundo Dumartin (1995, in: Rose, 1998).

Para Giret (2000), o diploma, representa simplesmente uma característica individual, perante factores mais discriminatórios, como são as características pessoais178 (o género, a origem social), as políticas de gestão de pessoal (a duração dos primeiros empregos, a utilização de diferentes tipos de contratos, os períodos experimentais, as medidas de apoio aos mais jovens), as estratégias de procura de emprego e a utilização de certos canais de informação sobre o mercado de trabalho e o espaço (o território é central, até porque a mobilidade geográfica é um factor cada vez mais ligado a este processo). Martínez, Mora e Vila (2007) salientam ainda os aspectos sociodemográficos (país/região), a experiência educacional, o número de anos de educação superior, a educação/formação contínua, os modos de aprendizagem e de ensino, as competências e timing da graduação, defendendo que estes elementos influenciam a decisão ocupacional, depois da graduação.

Consequentemente, a questão do património individual179 detém particular pertinência neste processo. Por conseguinte, segundo Lahire (2008), a captação das realidades mais individuais não

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Por exemplo, para Teichler (2007), a maternidade continua a ser um assunto central para as mulheres, principalmente as que estão empregadas no sector público. Lefresne (2003) refere que certas características individuais dos jovens influenciam a natureza do percurso, bem como a própria segmentação do mercado de trabalho.

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Preocupados durante muito tempo, principalmente, com a questão da reprodução social por parte da família, escola e diferentes instituições culturais e sociais, Boudon (1977) e Bordieu e Passeron (1979) constatam uma desigualdade social crescente, que reflecte uma herança cultural e social intergeracional. Esta problemática foi alvo da reflexão de Boudon (1973), que defende que a pertença a uma determinada classe influencia a trajectória escolar dos indivíduos, afirmando que, quanto mais elevado fosse o nível de ensino em causa, mais esta influência era evidente, “(...) à une étepe plus avancée du cursus scolaire, la

variance des probabilités d’admission en fonction des classes sociales est notablement plus élevée: la disparité des chances est plus forte au niveau de l’enseignement supérieur (...)” (Lahire, 2008: 95).

127 remetem nem para uma singularidade inquestionável dos contornos individuais nem para a “liberdade de escolha” de indivíduos “autónomos” (e imunes a todos os determinantes sociais). Remetem, sim, para a estrutura de conjunto das sociedades que as construíram, para a pluralidade de grupos (ou de instituições) e para a multiplicidade dos quadros de vida social que cada indivíduo é susceptível de frequentar, simultânea ou sucessivamente, estando ligadas à forte diferenciação social das funções características das sociedades180.

A questão da origem social possui, assim, particular pertinência neste processo; influencia as aspirações escolares dos jovens, como assinala Boudon (1983), e reflecte simultaneamente a imagem social que a família possui de si própria181. Bourdieu (1980b) avança neste contexto com o conceito de capital social, conceptualizando a teoria da dominação, que surge como um mecanismo social alicerçado nos recursos sociais do actor, nas relações de conhecimento e reconhecimento.

Werfhorst e Andersen (2005) confirmam a influência do background social na trajectória escolar, principalmente da origem social e do nível educacional dos pais, “(…) parents’ education

and social status and the gender of the graduates, is generally seen as being influential (…) To have parents with higher education seems to be a clear advantage for one’s own success.”

(Schomburg, 2007: 47-48).

Por outro lado, Bureau e Marchal (2005) referem mesmo que o recurso a familiares e amigos se apresenta como um meio de procura de emprego temporal e economicamente bastante eficaz, contrariamente ao serviço público de emprego. Para Santos (1991), a análise destas redes sociais, constituídas pelos actores (individuais ou colectivos que actuam como emissores ou receptores),

resultante das descontinuidades existentes entre aspirações e oportunidades e entre identidade escolar e sistema de ensino. Desta forma, verifica-se que a origem sociocultural dos indivíduos continua a desempenhar um papel fulcral no sucesso escolar e profissional dos indivíduos, determinando as possibilidades de mobilidade social inter e intrageracional.

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A realidade social é, portanto, mais complexa do que a teoria da legitimidade cultural defende. O estudo sistemático das variações intra-individuais dos comportamentos culturais, obriga a ver as deslocações que um mesmo indivíduo efectua de um registo cultural a outro, coloca ênfase na pluralidade de “subsistemas” com os quais os actores têm de se relacionar, segundo Passeron (1991). Para Lahire (2005), de facto, numerosos sociólogos continuam a praticar a sociologia, sem mesmo ter necessidade de dar nome a essas matrizes corporais (cognitivas, sensitivas, avaliativas, ideológicas, culturais, mentais, psíquicas...) dos comportamentos, das acções e reacções. Alguns chegam mesmo a pensar que se está tipicamente, aqui, a lidar com “caixas negras” (como é o caso das noções de “socialização” ou de “habitus”), das quais a sociologia científica e explicativa deveria absolutamente desfazer-se, como refere Boudon (1996). Efectivamente, é difícil compreender totalmente uma disposição, se não reconstruirmos a sua génese (isto é, as condições e as modalidades da sua formação). Como salienta Lahire: “Para apreender a pluralidade

interna dos indivíduos e a maneira como ela age e se “distribui” segundo os contextos sociais, é necessário dotarmo-nos de dispositivos metodológicos que permitam observar directamente ou reconstruir indirectamente (através de diversas fontes) a variação “contextual” (no sentido lato do termo) dos comportamentos individuais. Só esses dispositivos metodológicos permitem julgarem que medidas algumas disposições são transferíveis de uma situação para outra e outras não, ver como joga o mecanismo de inibição - suspensão/activação - operacionalização de disposições e avaliar o grau de heterogeneidade ou de homogeneidade do património de hábitos incorporados pelos indivíduos no decorrer das suas socializações anteriores.” (Lahire, 2005: 26-27)

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O conceito de Habitus de classe, originário de Bourdieu (1979; 1980; 1989), aplica-se nesta questão, salientando a pertinência do capital social de origem em todo o processo de ensino.

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pelos vínculos (nexo de união entre os diferentes actores. São o elemento relacional da rede e actuam como canais de comunicação entre os membros dessa rede), pela centralidade (nem todos têm a mesma força de comunicação; esta varia segundo a localização do actor dentro da rede e o tipo de vínculo com outros actores) e pelo tipo de relação (determina a função particular de uma rede e está determinada pela classe de informação) tem a vantagem de chamar a atenção para as relações182 que se estabelecem dentro de um sistema social, reflectindo uma visão global da estrutura social e dos seus componentes.

As organizações das relações sociais constituem-se assim num conceito central da análise das redes, nas quais interactuam os actores, “(…) it is an investment in resources rooted in social

relational networks. From this investment we expect a ‘return’; or in other words, we expect to get ‘something back’ or a ‘reciprocal action’ by the person who receives our investment - but also a ‘return’ in the form of a profit, gain, a yield in social income taking the form of recognition: consideration or reputation.” (Barbieri, 2003: 684).

Uma rede pode ter várias funções e, através dela, circularem vários tipos de informação, sobre o processo de procura de emprego, o que implica que as redes que interessam nesta análise são, sobretudo, representadas pela família, amigos, vizinhos, etc. A compreensão do funcionamento das redes sociais de enquadramento dos movimentos de transição para o trabalho é central, para Poliveja (2003), e devem ser vistas como um mecanismo gerador de desigualdade de oportunidades, como um filtro. São as relações entre os membros da rede que proporcionam a sua intensidade, duração, densidade e heterogeneidade. Se atendermos ao contexto funcional das sociedades actuais e à centralidade que o trabalho possui, sobretudo o acesso a um estatuto económico e social, verifica-se que a questão da transição para o trabalho possui hoje uma importância inquestionável a nível sociológico, já que, explicitamente, define as trajectórias sociais de integração ou de exclusão social, processos de reprodução social e de diferenciação regional, que determinam e reflectem as estratificações e as redes sociais e de poder.

Bureau e Marchal (2005) referem-se ainda aos intermediários183, que viram progressivamente a sua importância aumentar, possuindo diversos papéis/funções, “(…) contribuent à la fois à

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Para Santos (1991), os tipos de relação são: as relações de comunicação/laços entre actores (são canais pelos quais se transmitem mensagens de um actor a outro, dentro de um sistema); as relações de transição (os actores trocam controlo, seja por meios físicos ou simbólicos; as relações instrumentais/os actores contactam uns com os outros para proporcionarem mutuamente segurança, bens, informação, etc); as relações sentimentais (são as mais frequentes; as relações de autoridade e poder indicam os direitos/deveres dos actores face a superiores e subordinados); as relações de parentesco e descendência (indicam as posições dos membros na estrutura familiar).

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Os trabalhos assentes na teoria do Job Seach questionam a eficácia dos intermediários, centrando a sua atenção na procura de emprego e na eficácia dos canais de recrutamento e sua distribuição espacial. Os intermediários, nesta perspectiva, são actores capazes de acumular um capital informacional dificilmente acessível a todos (agências privadas de emprego). A informatização da procura/oferta de emprego incarna o sonho neoclássico, face à redução dos custos de transacção, associados à procura de informação. Bessy et al (1995) in: Lefresne (2003) distinguem três tipos de perfis de acção dos intermediários: agente «cívico» social, que faz respeitar as regras do direito do trabalho, permite negociar com a empresa, de forma a lutar a

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structurer et à accentuer la segmentation du marché du travail: d’une part, elles structurent le “marché externe” et en organisent le fonctionnement parallèlement aux dispositifs publics des politiques de l’emploi (…) participent au renforcement d’une segmentation du marché du travail, principalement en fonction du sexe et de l’âge (…)” (Germe et al, 2003: 59).

Existem intermediários que favorecem a transparência do mercado, facilitam contactos, dão segurança nas transacções, reduzem custos, seleccionam, avaliam, actuam sobre a formulação das necessidades, etc, podendo ser constituídos por formadores, agentes de inserção e de recrutamento. Isto comprova, segundo Giret (2000), que a informação relativamente às oportunidades de emprego não é perfeita, verificando-se que a questão salarial é fundamental. Quanto mais elevado é o pretendido, maior é a duração e custos da procura, o nível de desemprego no mercado de trabalho local, a possibilidade de adquirir informações sobre a oferta de emprego, a aceitação de migrações geográficas, etc. Pollmann-Schult e Büchel (2005) acrescentam que esta situação levanta a questão da aceitação da primeira oportunidade de emprego; ou seja, o facto de se verificar ou não uma procura mais aprofundada e um acesso mais coerente com a formação académica obtida. Contudo, este tempo de espera é determinado por diversos factores, como o tipo e nível das qualificações, a procura coerente dessas competências, a existência de benefícios sociais ou apoios de familiares e os custos directos da procura de emprego, os que usufruem destes apoios sociais têm, normalmente, taxas de espera mais elevada, aumentando a possibilidade de financiar a sua pesquisa para emprego sustentável e, a longo prazo, assegurar uma adequação formação académica/emprego184.

Tendo presente Rose (1998) e a teoria procura de emprego, podemos dizer que, num contexto de penúria de emprego, os jovens reduzem o seu emprego de reserva, aceitando um emprego desqualificado, o que não permite percepcionar claramente a importância do diploma neste processo. Se o nível de habilitações parece ter uma correlação positiva com a intensidade dessa procura, demonstra, contudo, que a intensidade de procura e as taxas de oferta são mais elevadas para os diplomados e que a idade e a experiência profissional permitem aumentar a produtividade

No documento Diplomas e (Des)Emprego: um estudo de caso (páginas 133-142)