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2 D IVERSIFICAÇÃO DOS ALUOS : O CASO DOS TRABALHADORES ESTUDATES

No documento Diplomas e (Des)Emprego: um estudo de caso (páginas 157-160)

Nesta perspectiva, importa caracterizar estes finalistas, tendo presente o movimento de diversificação dos públicos, acessos e usos das formações de índole superior. Para Wolbers (2006), assiste-se progressivamente ao surgimento dos estudantes a tempo parcial; para Finocchietty (2004), dos estudantes em part-time. Estas situações comprovam a diversificação e uma menor selectividade no acesso ao ensino superior, movimento que reflecte simultaneamente novas formas de financiamento do ensino, segundo a DGES/CIES (2005), e de preparação para o trabalho, como verificamos em Erlich (1998). Béduwé (2004) refere que o aumento dos trabalhadores-estudantes se deve à democratização do ensino superior, criando novas necessidades de financiamento dos estudos por parte dos estudantes e constituindo, paralelamente, é um reflexo do movimento de inflação escolar.

Este aumento dos casos de exercício laboral entre a população estudantil é paralelamente originado, segundo Galland (1991), pelo desejo de autonomia dos jovens adultos, o que favorece a procura de independência financeira e de passagem à vida adulta. Apesar disso, e do ponto de vista funcional, a questão do trabalho durante a formação académica levanta algumas questões de pertinência evidente.

Podemos constatar em Martins, Mauritti e Costa (2005), que existem dois segmentos de “estudantes trabalhadores”, com evidentes sobreposições, que tendem a materializar a própria diferenciação interna que caracteriza as condições sociais que envolvem os exercícios da actividade laboral. Designadamente, é expectável que, paralelamente ao conjunto que agrega os que exercem alguma actividade profissional, independentemente do facto de ser a título precário ou eventual, que não se classificam necessariamente como trabalhadores, se encontre uma maior diversidade de situações, desde os estudantes com experiências mais precárias e eventuais aos trabalhadores-estudantes propriamente ditos.

Consequentemente, apesar do apoio estatal à frequência do ensino superior, verifica-se a utilização cada vez mais comum das actividades laborais esporádicas como forma de financiamento da frequência do ensino superior. Em Portugal, contudo, não se pode falar de uma generalização da prática do trabalho remunerado entre a população estudantil. Como podemos notar em Wolbers (2006), esta é reduzida a uma percentagem de estudantes que exercem actividades remuneradas. Num estudo do HIS (2005) verifica-se mesmo que Portugal é o país com menor percentagem de estudantes que afirmam ter exercido uma experiência de trabalho antes da sua entrada no ensino superior. Contudo esta realidade está a alterar-se e, como observamos em Alves (2005), a percentagem de trabalhadores-estudantes está a aumentar,

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levando ao questionar a importância das origens socioeconómicas dos mesmos no desenvolvimento deste movimento.

Os trabalhadores-estudantes representam, assim, um novo fluxo de estudantes que comprovam o alargamento da base social de acesso ao ensino superior como forma de captar novos públicos, tendo presente uma crescente concorrência institucional, a inflação escolar e as contingências de recuo demográfico (Béduwé, 2004).

Relativamente à população em análise, constatamos que os trabalhadores-estudantes (cf. Quadros 2 e 3, do Anexo III) representam 16% dos finalistas, com saliência para os cursos de EMGI (com 75% de representatividade) e CA (com 68,8 %206). De destacar ainda 9% dos inquiridos afirmam exercer actividades ocasionais (EC e T), não se verificando diferenciações ao nível do género. São, sobretudo, indivíduos com mais de 30 anos, casados e que residem na região centro, verificando-se, curiosamente, uma não proeminência do distrito de Viseu, o que nos permite concluir que esta população se encontra, obviamente, num contexto de vida adulta.

Quadro 5.3 - Caracterização profissional no último ano curricular por curso (%)

Resta analisar o seu contexto profissional, de forma a verificar uma hipotética ligação entre formação académica frequentada e emprego exercido. Tendo presente o quadro 5.3, no que

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Esta situação foi visível na efectiva dificuldade em contactar estes finalistas nestas duas áreas, como o número de inquiridos comprova, apesar do curso de CA funcionar num período pós-laboral.

PROFISSÃO CS GE T EI EC EE EM EMGI CA Total Especialistas das profissões intelectuais e técnicas 18,2 20 100 50 33,3 36,4 30

Técnicos e profissionais de nível intermédio 9,1 25 33,3 9,1 10

Pessoal administrativo e similares 45,5 20 100 45,5 30

Pessoal dos serviços e vendedores 18,2 40 10

Operários, artífices e trabalhadores similares 33,3 2,5

Trabalhadores não qualificados dos serviços e

comércio 9,1 100 20 50 9,1 12,5

Trabalhadores não qualificados da construção, indústria e transportes 50 2,5 NR 25 2,5 TEMPO DE TRABALHO Tempo inteiro 72,7 60 50 50 100 90,9 67,5 Tempo parcial 27,3 100 40 50 50 100 50 9,1 30 Outra - Férias 50 2,5

SITUAÇÃO PERANTE TRABALHO

Patrão 20 50 25 7,5

Trabalhador por conta própria 9,1 20 50 18,2 15

Por conta de outrem 90,9 100 60 50 25 100 100 100 81,8 77,5 VÍNCULO CONTRATUAL

Estagiário 100 9,1 5

Contratado a termo 45,5 100 40 50 25 50 100 35

Trabalhador independente 20 50 75 50 18,2 20

Contrato sem termo 54,5 40 72,7 40

RENDIMENTO Até 400 Euros 36,4 100 20 100 50 100 50 9,1 32,5 401- 600 Euros 18,2 40 50 18,2 17,5 601 - 800 Euros 40 25 66,7 54,5 27,5 801 - 1500 Euros 36,4 25 33,3 15 + de 1500 Euros 9,1 18,2 7,5 X 11 1 5 2 4 1 2 3 11 40

149 respeita à profissão, verifica-se que é ao nível dos Especialistas das profissões intelectuais e técnicas (EI, EE) e do Pessoal administrativo e similares (EE, CS) que se verifica uma maior representatividade dos trabalhadores-estudantes. Apesar de se observar uma evidente heterogeneidade profissional, constata-se que existe uma maior coerência entre formação académica frequentada e emprego regular exercido nas áreas de engenharia (Engenheiros Técnicos, Fiscais de Obra, Projectistas e Programador Informático - cf. Quadro 4 do Anexo III).

Relativamente à situação perante o trabalho são sobretudo trabalhadores por conta de outrem, exercendo a actividade a tempo inteiro; a nível contratual, apresentam-se como contratados sem termo sobrepondo-se aos com termo. Contudo, a nível do rendimento, a faixa salarial mais representativa é a dos 400 Euros (GE, EI e EE), sendo a segunda de 600-800 Euros (EMGI e CA), verificando-se, face a este aspecto, que são os mais jovens os que usufruem os salários mais baixos (cf. Quadro 5 do Anexos III).

Constata-se, assim, que é a nível salarial que os indivíduos apresentam níveis de maior precariedade, confirmando resultados da DGEEP/MTSS (2006) e enquadrando-se na pertinência da frequência de uma licenciatura como forma de permitir uma evolução profissional, ponto que será central na continuidade desta investigação, “(…) para quem já está no mercado de trabalho,

aparecem muitos alunos (…) que não estão na área que gostariam no emprego, mas muitos mudam de emprego ao longo do curso (…)” (Coordenador A); “(…) eles já estão nas empresas, nos bancos (…) e que procuraram aqui a formação.” (Coordenador G).

Quanto à caracterização da natureza entidade empregadora (ou seja o ramo económico do organismo empregador), salientam-se (cf. Quadro 6 do Anexo III) os Serviços Públicos, o Comércio e a Prestação de Serviços (intermediários). Ao nível das dimensões da entidade empregadora, verifica-se que exercem sobretudo em pequenas empresas (45% possuem até 9 trabalhadores) e acederam ao emprego sobretudo por Autopropostas e através de Conhecimentos

Pessoais. Constata-se, assim, uma dupla realidade profissional, sobretudo respeitante ao nível da

estabilidade de emprego e aos níveis de remuneração, entre os que se encontram no mercado público207 e os que exercem no mercado privado, mais especificamente na área comercial, situação que se enquadra no movimento já verificado pela DGEEP/MTSS (2006a).

A heterogeneidade desta caracterização profissional encontra paralelismo nas representações que a maioria (77,8%) dos trabalhadores-estudantes tem, de que a obtenção do diploma contribui para uma melhoria efectiva da situação laboral (cf. Quadro 7 do Anexo III). Esta convicção abrange, sobretudo, os finalistas de GE, EI, EC e EM comprovando a perspectiva anterior de instrumentalização do diploma a nível laboral, quer na evolução da situação profissional detida quer na pretensão de alteração da mesma.

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Saliente-se o caso dos Funcionários Públicos distribuídos por diferentes funções, o que comprova a procura de ensino superior por parte das pessoas que exercem o seu emprego no mercado público, dando continuidade ao observado em Sousa (2003).

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Podemos, consequentemente, concluir que grandes partes dos trabalhadores-estudantes encontram-se pré-inseridos, tendo presente Béduwé e Giret (2004), apesar da representatividade dos trabalhadores por conta de outrem, das entidades empregadoras de pequena dimensão e dos níveis de rendimentos baixos apresentados. Realce ainda para o facto das condições de trabalho mais precárias incidirem, sobretudo, sobre os indivíduos mais jovens que afirmam exercer no mercado de trabalho privado, contrariamente aos que exercem no sector público.

Neste contexto, torna-se particularmente pertinente analisar as motivações de acesso e respectivas trajectórias académicas da totalidade dos finalistas.

No documento Diplomas e (Des)Emprego: um estudo de caso (páginas 157-160)