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3 S ITUAÇÃO P ROFISSIOAL ACTUAL E IMOBILISMO LABORAL

No documento Diplomas e (Des)Emprego: um estudo de caso (páginas 198-200)

Face aos dados anteriores e ao facto de estarmos perante duas populações diferenciadas - os que acederam ao primeiro emprego e os trabalhadores-estudantes - torna-se pertinente caracterizar a situação actual à data de aplicação do inquérito, 18 meses após a obtenção do título académico.

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“In some countries, affiliation with a region was held in such high esteem that some graduates forewent

bright career opportunities in order to live in a certain region. There were indications that international mobility was greatly appreciated by some graduates for many reasons other than income, status and satisfactory employment conditions. Last but not least, child care continued to be a central issue for women; we noted a strong preference by women for employment in the public sector, especially in countries where political efforts were made to counterbalance their professional disadvantages.” (Teichler, 2007:

189 No primeiro caso, verificar se a situação profissional teria sido alterada, tendo presente o ponto anterior; no que respeita ao segundo caso interessava-nos constatar se, efectivamente, o acesso ao diploma de ensino superior teria tido consequências efectivas ao nível da actividade profissional regular já exercida ou se teria propiciado alterações mais profundas nas situações profissionais247. Iniciaremos a análise pelo primeiro caso.

Quadro 6.8 - Situação profissional actual dos diplomados que acederam ao primeiro emprego por curso (%)

Salienta-se, na população que acedeu ao primeiro emprego regular, a manutenção do mesmo e da situação profissional248, sobretudo por parte dos que exteriorizavam exercer profissões mais qualificadas (destacando-se GCP, EI, EM e EMGI). Assim, verifica-se que são sobretudo os indivíduos que ocupam as posições laborais mais qualificadas que mantiveram a situação ao nível do primeiro emprego, apesar de termos já verificado que as mesmas não implicam

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Temos presente, nesta reflexão, a caracterização institucional das saídas profissionais destes cursos, ISPV (2007): CS-jornalismo e imprensa, assessoria de comunicação e marketing, etc; CA-técnico oficial de contas, contabilista, director administrativo e financeiro, auditor interno e externo, planeamento e controlo de gestão, ensino nas áreas de contabilidade, auditorias e fiscalidade, etc; EA-analista laboratorial, auditor, controlador de qualidade ambiental, gestor de águas de abastecimento, de resíduos, energético, de recursos naturais, etc; EC-director fiscalista e coordenador de obras, projectista, gestão de estaleiros, controlador da qualidade, etc; EE-actividades nas energias renováveis, instalação e manutenção de sistemas de automação e controlo industrial, robótica e informação industrial, projectistas de redes de baixa e alta tensão, etc; EMGI-gestão industrial (produção, qualidade, manutenção, coordenação de projectos), inspecção e licenciamento, direcção técnica de alvarás, etc; EI-análise, planeamento e desenvolvimento de sistemas de informação e redes, gestão de bases de dados, centros informáticos, auditorias, etc.; GE-contabilidade e fiscalidade, gestão financeira, de empresas ou áreas de negócio, banca e seguros, ensino, etc. T-gestão de hotelaria e restauração, agências de promoção turística, operadores turístico e de agências de viagens, animação e organização de eventos, etc; GCP-gestão comercial e da produção de empresas ou áreas de negócio, área comercial, ensino, etc.

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Os que acederam ao primeiro emprego: os diplomados de EMGI (Técnico de controlo da qualidade), EM (Planeamento e apoio à produção; Eng. Técnico agrário e Costureira), EC (Eng. Técnico Civil), EI (Eng. Técnico de Informática, Programador, Técnico de Manutenção) e GCP (Vendedores Demonstrador, Gestor de Produto, Agente Comercial, Técnico de Vendas), com 100%. Saliente-se o facto de estas formações terem constituído as que revelaram, no acesso ao primeiro emprego, as melhores transições para o trabalho. Já no que respeita aos trabalhadores estudantes que mantiveram a sua situação, destaque para EMGI (Outros Empregados do Planeamento e Apoio à Produção), EI (Professor do Ensino Básico - 2º e 3º ciclos e Secundário; Engenheiro Técnico de Informática), CS (Oficiais da Marinha, Pilotos de Aviões e Técnicos dos Transportes Marítimos e Aéreos; Monitor de Formação); T (Agente Comercial; Director e Gerente de Transportes), CA (Outros Empregados de Aprovisionamento e Armazém; Economistas) e GE (Empregada Comercial). Destaque para os que detinham situações mais estáveis.

Situação profissional actual CS GE GCP T EA EI EC EE EM EMGI Total Mantive o emprego e a situação

profissional (mesmas funções/categoria profissional e condições de trabalho)

66,7 83,3 100 75 60 100 50 66,7 100 100 73,8

Mantive o emprego detido, mas alterei situação profissional (funções, categoria

profissional e/ou condições de trabalho diferentes)

5,6 20 12,5 4,9

Possuo um novo emprego 11,1 16,7 25 37,5 33,3 14,8

Encontro-me desempregado 16,7 20 6,6

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necessariamente qualidade ao nível das condições de trabalho ou uma fuga à precariedade de emprego.

Relativamente aos que mantiveram emprego mas alteraram situação laboral, verifica-se que o movimento revela alguma representatividade, destacando-se os casos de EA e EC, contudo, em termos práticos, as alterações não se revelaram significativas, cingindo-se sobretudo à passagem de estagiários a trabalhadores sem contrato, o que nos permite concluir que não se verifica melhoria significativa, com o passar do tempo, na situação laboral ao nível do primeiro emprego, como comprova a manutenção dos níveis de rendimento.

No caso dos que efectivamente mudaram de emprego249, este movimento também não se apresenta como particularmente relevante em termos de representatividade (saliente-se EE, EC), verificando-se que, a nível contratual, as condições não melhoram face à realidade laboral anterior, surgindo mesmo casos onde os diplomados assumem não possuir contrato laboral e casos de prestação de serviços, sendo os restantes contratados a termo. Em termos de conteúdos laborais, estes casos não denotam melhoria significativa face ao primeiro emprego regular250, verificando-se mesmo uma reprodução da situação anterior (EC afirmam exercer o mesmo tipo de funções). Os restantes casos (sobretudo CS e T) revelam dificuldades e dispersão profissional, confirmando dificuldades evidentes destas áreas científicas. Destacamos ainda os casos de desemprego (CS e EA) que comprovam as dificuldades dos diplomados destes cursos no acesso ao emprego. Novamente se confirma que é a nível contratual que a precariedade é mais visível, o que é reforçado pelo facto de se constatar uma estagnação dos rendimentos usufruídos251. Confirma-se a dificuldade vivida ao nível do emprego, sobretudo por parte dos diplomados de T e CS, sendo que o caso de EC se apresenta como exemplificativo de que a precariedade contratual afecta igualmente os que afirmam desempenhar funções mais qualificadas e usufruem de rendimentos mais elevados. Tal movimento pode-se enquadrar na perspectiva de Fondeur e Minni (2004) que se referem ao efeito da “primeira entrada”252, que alimenta o mercado de trabalho, originando um “efeito de precariedade”. Esta situação é particularmente visível a nível contratual,

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Assim, profissões como Professor/Formador-EE /Eng. Civil/Preparador de obra/Director técnico de obra - EC /Técnico de gestão-GE, já não se encontram nessa situação profissional.

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No que respeita às profissões, saliente-se EC e GE onde se verifica uma reprodução da situação profissional anterior (engenheiro civil e projectista). Relativamente aos restantes casos, os que tinham situação débil, não apresentam melhoria significativa ao nível do novo emprego (CS e T), o restante não responde sobre profissão actual. EC acedem a profissões ao mesmo nível. Os restantes têm taxa de inserção que confirmam dificuldades e dispersão profissional, tendo presente a formação académica detida (CS, T e EA-confirmam-se os 3 cursos que denotam maiores dificuldades no acesso e execução do primeiro emprego).

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Assim, 4 casos recebem entre os 801-1500 Euros, que se mantêm; 3 entre os 601-800 Euros (aqui houve melhoria-recepcionista e num jornalista); e somente 1 recebe entre 401-600 Euros e manteve situação- ajudante de farmácia).

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Para Paul (1992 in: Rose 1998), as condições de entrada no mercado de trabalho são susceptíveis de determinar a continuidade da vida profissional. Pottier (1992 in: Rose 1998) modela o desenvolvimento das trajectórias profissionais dos jovens, afirmando que os primeiros anos de vida activa são uma construção e têm um papel importante na definição de duas situações: movimento de emprego que se estabiliza ou uma forma prolongada e alternada entre precariedade e desemprego.

No documento Diplomas e (Des)Emprego: um estudo de caso (páginas 198-200)