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3 D ESVALORIZAÇÃO DOS DIPLOMAS E D ESCLASSIFICAÇÃO PROFISSIOAL

No documento Diplomas e (Des)Emprego: um estudo de caso (páginas 142-152)

O desemprego domina actualmente as preocupações dos responsáveis políticos e económicos, afectando cada vez mais a população jovem, sobretudo a detentora de diplomas de ensino superior; consequentemente, o que se encontra em causa é bem mais do que a penúria de emprego é igualmente o tipo e condições de exercício do mesmo.

O desemprego de jovens diplomados intensificou-se significativamente nas últimas décadas, transformando profundamente a problemática da transição para o trabalho, que engloba, agora, face à dificuldade progressiva dos jovens aceder a empregos coerentes com formação académica e estatuto académico obtido. Desde a teoria da reprodução da escola sociológica francesa, impulsionada pelos trabalhos de Bourdieu e Passeron (s/d) e Bourdieu (1979) que constituíram o

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O estar pré-inserido implica possuir profissão estável que corresponde à formação que está realizar, o que pode constituir um movimento de potenciar as competências individuais, uma forma de financiamento dos estudos, um processo de melhoria das condições de vida, um reflexo e um sinal de motivação, uma forma de pesquisa e adaptação ao mercado e pode transparecer um contexto geográfico (dimensão de espaço urbano e a relação com a probabilidade de trabalhar) - “(…) students are involved in two types of

extracurricular activities while studying at university: employment to sustain academic life, and leisure or social activities. (…) These students’ jobs may influence their future access to the labor market. (....) extra- curricular activity may influence a graduate’s transition process to the labor market, for instance, by speeding up or slowing down access to employment.” (Tchibozo, 2007: 37-38).

133 modelo teórico da reprodução social, que se verificou que o espaço escolar não é um espaço igualitário, onde as pessoas não chegam nem saem em igualdade de circunstâncias. Embora inicialmente preocupados com estas desigualdades no espaço escolar e tendo como pano de fundo a teoria das classes sociais, estes autores vão constatar a progressiva desvalorização dos diplomas e a constituição de novos parâmetros e exigências laborais. Esta questão afecta particularmente os que progressivamente vêem um dos únicos veículos de ascensão social ser inflacionado (diplomas do ensino superior) e novos parâmetros, mais exigentes, a serem instituídos (mestrados e doutoramentos), como demostra Alves M. (2009). Galland (1991), a tendência é a de assistirmos, logicamente, a um aumento da procura de formação pós-ensino superior, o que corresponde a um novo aumento temporal das trajectórias escolares e, consequentemente, a um novo adiamento na entrada dos jovens na vida adulta.

Esta desvalorização dos diplomas pode ter várias explicações. Amaral e Teixeira (2000) defendem que este movimento se deve à melhoria dos recursos financeiros da população portuguesa (maior investimento em educação) e às políticas educativas governamentais (alargamento da oferta de ensino superior), apesar da diminuição da relevância do retorno social no ensino superior e do cepticismo face ao retorno deste investimento (inflação do diplomas). Estes aspectos representam, assim, também na nossa perspectiva, os principais desafios do tradicional papel da autoridade pública, principalmente na maioria dos países da Europa Continental, onde o Estado tem uma posição hegemónica na regulamentação do sistema de ensino superior. A importância do sistema de ensino superior encontra-se assim dependente da política educativa. Nos últimos anos, porém, temos assistido a uma progressiva responsabilização e autonomia institucional; cada vez mais as instituições têm que fazer face às responsabilidades, contextos e pressões externas, sobretudo as que visam a sua competitividade190, perante uma penúria crescente da população escolar e uma oferta educativa a nível superior excessiva.

Esta situação levanta a questão da meritocracia191 no ensino, que, para Bills (2004), exterioriza o facto das associações entre escola e trabalho ser desenvolverem por racionalidade, produção social e razões de benefício. Para este autor o sucesso socioeconómico vai para os que o merecem e não para os que nasceram em determinada classe e ostentam um determinado sexo, idade ou etnia (a individualidade é recompensada e os sistemas estão definidos para isto poder ocorrer, o que significa que questões tradicionais como propriedade, redes sociais, etnia, género, etc, tenham pouca importância no rácio da vantagem económica). Contudo, Teichler(2005)constata,que nos vários países europeus a noção típica de meritocracia educacional parece não ter afectado os

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A actual política de passagem das universidades a fundações materializa, no caso nacional, o início deste processo.

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Este conceito encontra-se relacionado com o funcionalismo (Parsons 1968; 1965), bem como com a teoria do capital humano (Becker 1964; Mincer, 1958, 1974, 1989). Na meritocracia, os indivíduos são recompensados e os sistemas estruturados para o permitir. Questões como propriedade, contactos, raça, género, etc, não possuuem particular importância.

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valores e actividades da maioria da população. Apesar disto, as diferenças entre os países europeus na formação geral ou específica continuam a subsistir, como pudemos observar no capítulo 2, assistindo-se a uma diversificação conceptual de emprego e identidade laboral e de estratégias de acção política na relação entre ensino superior e emprego. Facilmente o comprovam a multiplicação da oferta educativa ao nível de conteúdos e tipologias formativas, disponibilizada por um sistema cada vez mais volátil na sua oferta, consequência directa do aumento da postura concorrencial interinstitucional.

Consequentemente, face ao aumento do fluxo de jovens que possuem diplomas de ensino superior, a concorrência pelo emprego intensifica-se a nível macroeconómico, originando uma longa fila de espera, levando muitas vezes os jovens a aceitarem empregos pouco qualificados. Materializa-se, assim, de uma forma cada vez mais evidente, uma dificuldade progressiva na rentabilização da formação académica (exercício de um trabalho na respectiva área científica e ao nível do diploma obtido), movimento que tem ganho particular dimensão na última década, consequência directa do aumento exponencial do número de diplomados e da diversidade da oferta formativa. Não podemos deixar de dissociar esta diversificação da oferta, da necessidade do sistema e das instituições de ensino superior sobreviverem, como forma a fazer face à progressiva concorrência institucional, atendendo aos contextos demográficos negativos.

Atendendo à crescente incongruência, verificável, no mundo laboral, entre formações académicas e empregos exercidos e tendo presente o movimento de desvalorização dos diplomas, ganha evidência, no meio académico, o movimento de desclassificação académica (o facto de os jovens se encontrarem empregados não implica que esta situação constitua uma materialização de boas transições, sobretudo quando o que está em causa é mão-de-obra qualificada), que, segundo Nauze-Fichet e Tomasini (2005), designa o facto de as pessoas ocuparem um emprego para o qual possuem um nível de formação superior à normalmente requerida, o “(…) déclassement

caractérise la situation des personnes «sur-diplômées» par rapport à l’emploi qu’elles occupent”

(Nauze-Fichet e Tomasini, 2002: 21).

A definição deste fenómeno coloca a questão da existência de uma norma de adequação entre formação académica e emprego, uma hipótese que, em termos práticos, é impossível de verificar, mas que se situa no sentido de intuição. As abordagens192 a esta problemática podem ser de carácter normativo (análise do conteúdo da formação que é, a priori, necessário para ocupar

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Segundo Fondeur e Minni (2004), os trabalhos empíricos que analisam a relação formação e emprego distinguem três definições: a normativa (relação formação-emprego normal), a estatística (relação formação-emprego observada) e a subjectiva (percepção dos indivíduos sobre a sua situação). Esta problemática assenta no modelo de concorrência de emprego (Thurow, 1975). Fondeur (1999, in: Lefresne, 2003) afirma que existem três métodos para medir este fenómeno: método adequacionista (relação formação/emprego é normal quando o trabalho coincide com a formação); método estatístico (relação formação/emprego é normal quando se estabelece uma tabela de correspondência diploma/profissão em função de cada profissão/nível de diploma) e o método subjectivo (relação formação/Emprego é normal se o indivíduo a considera como tal).

135 aquela posição), estatístico (se o diploma é um investimento em capital humano, a remuneração é uma forma de retorno; assim, o nível de emprego é visto a partir da remuneração associada) ou subjectivo (percepção própria das pessoas relativamente ao seu trabalho). Uma outra forma de explicar este movimento é constatar o hiato entre competências individuais e emprego ocupado, através da verificação da existência de um desajustamento entre ritmos de progressão dos diplomados e do trabalho qualificado existente/disponível, originando emprego e/ou sub-emprego (trabalho a tempo parcial). Esta noção de desclassificação focaliza a atenção nos níveis de formação académica e emprego, sugerindo a existência de um desnível desfavorável, por referência ao que era expectável. Pode abarcar o nível escolar (o emprego é incoerente com formação académica), o social (o emprego é de nível inferior do que é detido pelos pais) e o económico (emprego e remuneração a um nível inferior ao esperado). Paralelamente, pode igualmente possuir uma vertente subjectiva (perspectiva do indivíduo), objectiva (calculada segundo critérios pré-definidos e verificáveis) e ser individual ou estatística, passageira ou durável.

Nauze-Fichet e Tomasini (2002) assumem que a análise deste movimento pode ocorrer de três formas: a norma estatística de adequação entre diploma e categoria socioprofissional, o sentimento da pessoa interrogada de estar ou não a ser desclassificada academicamente e a valorização relativa das pessoas em termos salariais, ou mesmo a comparação com os não diplomados que exerçam o mesmo tipo de trabalho. Giret (2005) afirma que, para os investigadores e estatísticas, o estudo da desclassificação se refere à existência de uma norma entre níveis de formação e emprego e o indivíduo que se encontre nesta norma é classificado como desclassificado. A escolha da norma não é assim neutra: podemos distinguir a norma subjectiva193 (o indivíduo especifica o nível de estudos, de diploma ou qualificação necessária para o emprego que ocupa), mas a abordagem pode ser também objectiva (os pesquisadores baseiam-se na base das características dos trabalhos). Para Pollmann-Schult e Büchel (2005), uma outra forma de explicar a desclassificação é o hiato entre competências individuais e emprego ocupado. Existe, consequentemente, um desajustamento entre ritmos de progressão dos diplomados e do trabalho qualificado existente/disponível, originando emprego e/ou sub-emprego (tempo parcial).

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Nesta análise subjectiva da desclassificação utilizamos a análise da situação do assalariado no emprego (ex: perguntar se o seu nível de educação/diploma corresponde ao seu emprego), por ser mais indirecta e porque interroga o assalariado sobre o nível de educação que será necessário para ocupar um emprego e um emprego como o seu. Dos inquéritos realizados, duas medidas se aproximam da dimensão subjectiva: nível de diploma supostamente necessário para o jovem efectuar correctamente o trabalho. (estando desclassificado quando o diploma que estima ser necessário é superior ao que detêm); nível de competências detidas pelos jovens. As abordagens “(…) subjectives présentent l’intérêt de mieux prendre

en compte l’environnement du salarié et de s’affranchir des problèmes de nomenclature d’emploi (…)”

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Além do desemprego e do trabalho a tempo parcial, a desclassificação194 constitui uma outra forma de subutilização das competências humanas. No mercado de trabalho, um nível elevado de desemprego aumenta, inevitavelmente, o risco de desclassificação académica; por outro lado, a concorrência entre jovens diplomados de diferentes especialidades de formação, categorias de mão-de-obra e especialidades origina efeitos de desclassificação e desajustamentos, que exteriorizam dificuldades de acesso ao emprego. Os efeitos de segmentação, nos mercados internos ou profissionais, garantem uma certa correspondência para os que estão protegidos, mas reduzem-na para os restantes. Isto implica que o conceito de desclassificação não se apresente como consensual, verificando-se mesmo que o seu carácter conceptual é problemático.

Na perspectiva sociológica (desclassificação intergeracional) ou económica (desclassificação respeitante a um nível de formação), coloca-se a questão da medida entre as abordagens normativas, estatísticas ou subjectivas Parte-se do princípio de que o sentimento de desclassificação é um produto de uma interacção entre a situação de emprego e as características ligadas à trajectória individual, constituindo a representação subjectiva do emprego ocupado mais do que a percepção, pelo indivíduo, de um desnivelamento factual entre nível de formação académica e a qualificação do seu emprego. É um sentimento que se constrói, ao longo das histórias escolares, profissionais e pessoais dos indivíduos e a aceitação das regras do mercado de trabalho traduz-se pela renúncia, mais ou menos imediata, do seu diploma de origem, movimento mais visível por quem têm urgência em trabalhar. Esta situação degrada o estatuto de diplomado no mercado de trabalho, levando os jovens a diminuir as suas intenções em aceitar empregos mais qualificados, afectando, essencialmente, inexperientes, mulheres, bacharéis e formas particulares de emprego. A diminuição do número de empregos disponíveis tem um papel importante neste processo, embora varie consoante o nível do diploma seja mais baixo (maior risco de desemprego) ou mais alto (redistribuição de emprego - diminuição da exigência pelo diplomado). A articulação “(…) incertaine entre formation et emploi pose le problème du déclassement, de la

dévalorisation et donc celui des pratiques des entreprises dans un contexte de pénurie d’emploi.”

(Rose, 1998: 43).

A literatura anglo-saxónica refere-se a este mesmo movimento como sobre-educação. Medi- lo195 é como reflectir sobre a subutilização de competências, apesar de se assumir que a

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Os principais condicionalismos da desclassificação socioprofissional são de três tipos: factores individuais sócio demográficos (idade, sexo, nacionalidade, rural/urbano, estado civil, etc), factores individuais que descrevem a inserção no mercado de trabalho (situação profissional, tipo de contrato) e factores ambientais/contextuais (sector de actividade, tipo de emprego, etc). Em período de conjuntura difícil, o número de candidatos à função pública aumenta, mesmo para trabalho subqualificado, a taxa de

déclassement tem vindo constantemente a aumentar - “(…) une situation initiale où la personne cumule déclassement salarial et déclassement professionnel conduit un an après au chômage dans 2 cas sur 5 ou à un persistance de déclassement salarial dans un cas sur 3.” (Nauze-Fichet e Tomasini, 2002: 41).

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As formas de medir este movimento são: direct self-assessment (pergunta-se aos trabalhadores se estão

over ou under, através do questionamento da sua utilização de competências no trabalho); indirect self- assessment (pergunta-se se têm o nível educacional apropriado para o trabalho que executam - comparação

137 capacidade de aprendizagem dos mais qualificados é maior, reduzindo, contudo, a produtividade no trabalho e os salários. Hartog (2000) defende que a necessidade de habilitações pode ser medida de três formas diferentes: Job Analysis, Worker Self-assessment (o trabalhador define as habilitações necessárias para o exercício do trabalho) e Realized Matches.

Escapar ao desemprego é também largamente determinado pelo facto do trabalhador usufruir ou não de benefícios sociais, que por vezes são alvo de um uso indevido, no caso de os benefícios estenderem em demasia a duração do desemprego. Apesar disso, Pollmann-Schult e Büchel (2005) defendem que o subsídio de desemprego, diminui a probabilidade de desclassificação académica. Esta questão mostra-se coerente com a teoria da procura de emprego e melhora a qualidade de uma eventual situação de Job Match, reflectindo, por um lado, a democratização do ensino, sobretudo o de índole superior e, por outro, o não acompanhamento deste movimento por parte da procura da mão-de-obra, o que implica que o modelo de procura e oferta, na sua versão simples, preveja que o regresso à educação adicional seja uma desvantagem, porque a educação requerida e a desclassificação serão recompensadas de uma forma mais baixa.

Para Bills (2004), este conceito assenta na ideia dos trabalhadores assumirem possuir mais competências do que as efectivamente exigidas no processo produtivo. Pode ser vista numa perspectiva subjectiva (quando são os próprios trabalhadores a assumir a adequação ou não do

background educacional e as exigências do trabalho realizado), ou objectiva (comparando, por

exemplo, o nível educacional de um dado trabalhador e o exigido, normalmente, na ocupação desse posto de trabalho). Para Verhaest e Omey (2006), este conceito tem sido analisado segundo diversas variáveis, como o salário, a satisfação no trabalho (sobretudo a nível salarial) e participação em formação profissional ou mobilidade no trabalho. Os trabalhadores desclassificados são menos satisfeitos, em comparação com os que estão adequadamente educados para a mesma ocupação, mais móveis e têm maior disponibilidade de participação em treino/aprendizagem.

A desclassificação é uma causa directa do movimento de penúria de emprego e do aumento das exigências dos processos de recrutamento face à oferta de uma mão-de-obra qualificada. Pode ser visto como um modelo de gestão de mão-de-obra, que permite, face ao desemprego, sub- remunerar os mais formados e acumular, simultaneamente, mão-de-obra competente e potencialmente adaptável, constituindo, inquestionavelmente, uma modalidade de flexibilização do custo do trabalho196.

deste nível com o actual nível educacional); job analysis (nível educacional dos analistas do trabalho);

realised matches (nível educacional requerido na distribuição dos níveis educacionais dos trabalhadores

sem qualquer tipo de ocupação. Utilizámos o segundo modelo, porque para Hartog (2000), tem a vantagem de trabalhar no local (informação in loco), lidar com o questionado (embora estes inflacionem, muitas vezes, o funcionamento do emprego, a nível de estatuto e posição). Apesar de tudo e face às condições de pesquisa, é a melhor forma de medida. Ver inquérito aos diplomados, Anexo I.

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Segundo o modelo de Thurow (1975), o salário não é o fruto de um ajustamento do mercado de trabalho, mas o reflexo da hierarquia dos postos de trabalho na empresa. Os empregos estão hierarquizados em

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Para Rose (2005), a formação não tem influência nas formas de emprego; depende, sobretudo, do estado do mercado de trabalho e das políticas das empresas e não do conteúdo e das modalidades de formação. Face a isto, a distinção entre formação de curto termo e longo termo impõe-se, porque permite distinguir uma desclassificação temporária. (no decurso dos primeiros anos de vida activa) e uma abstenção durável de correspondência entre especialidade adquirida e exercida, até porque, consoante a sua forma e o seu nível, estas inadequações constituem um movimento mais ou menos penalizante para as trajectórias das pessoas. O importante é fazer evoluir os conteúdos e práticas de formação, para que estas permitam a aquisição e o exercício de competências técnicas e sociais e, igualmente, criem condições para que as relações instituídas entre escola/empresa permitam fazer evoluir as práticas de cada um. A organização das transições profissionais corresponde justamente a isto - ao movimento de assegurar progressivamente uma boa sinergia entre formação académica e emprego.

Para Lefresne (2003), esta situação de degradação do valor dos diplomas reflecte a sua sobreprodução, face às necessidades do aparelho produtivo e à estabilização da procura de trabalho, apesar de o estatuto de diplomado continuar a deter, apesar de tudo, um papel inquestionável importante no acesso ao mercado de trabalho, já que diminui o risco de desemprego, propicia a entrada nos melhores empregos e facilita o acesso aos mais bem remunerados. Contudo, como podemos verificar, por exemplo, em Coupié, Giret e Lopez (2005) os níveis de emprego obtidos pelo mesmo nível de diploma baixaram. As correspondências entre formação académica e emprego estão cada vez menos asseguradas e as situações de desclassificação multiplicam-se. Quem procura emprego revê as suas ambições em função das dificuldades encontradas no acesso ou obtenção de um emprego que corresponda ao seu diploma. Esta situação é visível na crescente oferta de emprego por parte dos projectos estatais (estagiários/programas solidariedade), onde inevitavelmente se assiste a uma reprodução deste fenómeno. Podemos concluir que os empregos em contrato com duração determinada conduzem mais facilmente a esta situação, exprimindo a dissimetria das relações de trabalho, num contexto de penúria de emprego.

Para Brynin (2002), as evidências confirmam que o conceito de desclassificação representa uma situação persistente e profunda, o que sugere causas estruturais, podendo ser originada por questões sociais, de procura, de ineficiência de mercado, de pouca transparência no mercado, de novas exigências de flexibilidade nos trabalhos, de fim do trabalho para a vida, etc. A desclassificação é causada por excesso de qualificação, na prática, podendo originar mais recompensas a nível do exercício do trabalho, mas penalizar relativamente às qualificações.

função da sua rentabilidade salarial, “(…) le salaire des individus n’est pas apprécié dans l’absolu mais

relativement à celui des titulaires de diplômes inférieurs, la mesure est moins biaisée par le mécanisme d’«inflation des diplômes»” (Nauze-Fichet e Tomasini, 2002: 36). Este movimento apelida-se de

139 Groeneveld e Hartog (2004) afirmam ainda que exprime a relação entre o nível de escolaridade do trabalhador e o nível requerido pelo trabalho.

A literatura tem trabalhado a coerência entre a qualidade do trabalhador e a requerida pelo trabalho, para analisar as funções da aprendizagem. O conceito de Mismatch197, segundo Hartog (2000), está relacionado com a experiência individual, no mercado de trabalho, e, neste sentido, é uma situação temporária e a sua incidência diminui com o aumento da idade e da experiência. O facto é que a população diplomada viu a rentabilização do seu investimento, de uma forma progressiva, diminuir significativamente e o retorno deste movimento já não se aproxima do que se verificava nos anos sessenta em Portugal, como podemos observar em Sousa (1968). Verifica- se assim que o movimento de desclassificação aumenta em Portugal198, exteriorizando, sobretudo, uma expansão da participação na educação, que ultrapassou o desenvolvimento das necessidades dos níveis de educação da mão-de-obra necessária ao nível do mercado de trabalho. Todos os resultados são o oposto da previsão; consequentemente, o crescimento do feedback do

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