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1.2 M ERCADO DE TRABALHO ACIOAL E PARTICULARIDADES REGIOAIS

No documento Diplomas e (Des)Emprego: um estudo de caso (páginas 82-101)

As diferentes realidades económicas culturais e legais que enquadram os diferentes países, apesar do movimento de globalização, bem como as novas contingências de oferta formativa e

empregadores, políticas de emprego ou de empresa, sindicatos ou independentes, convenções colectivas, etc. Tudo é regido por leis, regulamentos e convenções. Para estes autores, dois tipos de equipamentos são necessários ao funcionamento dos mercados: os dispositivos de avaliação e os de promessa (a importância do estatuto de instituição de ensino superior revela-se aqui, uma vez que a sua credibilidade pode ser fulcral para o processo).

73 realidades laborais, alteram funcionamentos, configurações e disposições do mercado de trabalho. Iannelli e Soro-Bonmati (2006) referem que a entrada no mercado de trabalho continua a ser orientada pela posse de educação específica ou qualificação formativa, mas, face à complexidade da realidade, sobretudo no que respeita ao aumento de desemprego, existe uma evidência inconclusiva de retorno ocupacional dos níveis educativos mais altos.

A formação informal e a relação desestruturada entre educação e mercado de trabalho é um facto, verificando-se uma predominância de actividade económica informal e uma limitada protecção dos jovens, o que potencia a participação familiar no processo de transição para o trabalho.

A questão geográfica revela-se, neste contexto, um elemento particularmente pertinente, isto porque quando, na região99, a dificuldade em aceder ao emprego é elevada, a tendência para a aceitar o primeiro emprego é maior.

Assim, a questão temporal e o acesso à informação sobre o emprego são aspectos centrais, tendo presente que“(…) los jóvenes acceden por primera vez al mercado de trabajo, disponen de

una información insuficiente no sólo de las oportunidades de empleo disponibles, sino también de la validez de sus conocimientos y aptitudes para desempeñar un puesto de trabajo.” (Santos,

1991: 98).

Tendo presente que para Béduwé e Giret (2004) a dimensão do espaço urbano influencia directamente a probabilidade de trabalhar, procuramos de seguida caracterizar o mercado de trabalho nacional, tendo presente que o contexto cultural e geográfico é central na percepção das suas características e particularidades. Existem em Portugal profundas dicotomias económicas, sociais e culturais entre as diferentes regiões, sobretudo entre o litoral e o interior, como podemos comprovar em Barreto (1996) e Veiga (2005).

Estas dicotomias apresentam-se assim como características estruturais importantes a nível nacional, assistindo-se, nas últimas décadas, a um movimento de litoralização geográfica evidente e de concentração urbana. Tendo presente o contexto geográfico que enquadra a presente análise, torna-se fulcral caracterizar economicamente a região.

Na Região Centro do país, o litoral apresenta-se como o mais populoso e urbanizado, situando- se aí três dos pólos urbanos mais importantes (Coimbra, Leiria e Aveiro), verificando-se que a

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Esta questão pode ser relacionada com a pertinência analítica dos mercados locais. Segundo Gambier e Verniéres (1991), o espaço representa um factor fundamental, na análise desta questão. Assim, questões ligadas à mobilidade de oferta de trabalho, à transparência do processo (diferenças regionais no acesso informação) e à homogeneidade do trabalho (desigualdade de oferta a nível geográfico) têm que ser acrescentadas a esta análise. O conceito de mercado local deve ser equacionado nesta perspectiva. Couppié e Mansuy, (2006) acrescentam ainda que o contexto geográfico possui a nível micro, importância para a vida individual e ao nível da educação/formação (habilidades de trabalho, competências e capacidades); a nível macro, refere-se, sobretudo, à relação sistema educativo e mercado de trabalho. Esta questão tem particular importância tendo presente o contexto geográfico que envolve a nossa vertente empírica.

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cidade de Viseu, mais interior, apresenta um dinamismo demográfico que comprova a tendência para a concentração urbana e a desertificação das regiões rurais do interior100.

Neste contexto, a cidade de Viseu apresenta-se com uma centralidade geográfica evidente na perspectiva nacional, e a sua média dimensão confere-lhe posição estratégica relevante no desenvolvimento do território circundante, como refere Gaspar (1994).

A década de 80, na região, ficou marcada pelo crescimento industrial de uma economia local até aí resumida ao sector primário (agricultura de subsistência) e terciário (comércio e serviços). A multiplicação de empresas registadas, a partir desta década, beneficiou do aumento demográfico, também potenciado pelo regresso das ex-colónias, criando emprego na região. Se a isto juntarmos uma diminuição dos movimentos de emigração e mesmo o regresso de muitos destes emigrantes, complementamos o contexto de aumento demográfico registado.

A integração europeia e o consequente investimento em infra-estruturas de mobilidade geográfica (saliente-se as rodoviárias) potenciam este movimento, ajudando à internacionalização de muitas das empresas da região. Contudo, o norte do Distrito de Viseu apresenta-se, ainda hoje, limitado em termos de acessibilidades e, consequentemente, em termos económicos, com a preponderância do sector primário.

Por seu lado, o centro e o sul, mais favorecidos em termos de acessibilidades rodoviárias e ferroviárias, são, consequentemente, as regiões onde a indústria desempenha um papel mais importante. No entanto, porque faz ponte entre regiões desenvolvidas do litoral e as limítrofes do interior, apresenta, igualmente, outras dualidades. Assim, e tendo presente Lopes (2005), o nível de desenvolvimento industrial da região é fraco, predominando, na actividade económica, os sectores primário e terciário. Os serviços constituem, assim, o ramo económico mais representativo da região.

Tendo presente dados do INE (1991, 2001), a região centro caracteriza-se economicamente por apresentar dinâmicas de criação de emprego nos sectores secundário e terciário, associadas a um declínio do sector primário. Sendo os preços dos terrenos simbólicos e dotados, muitas vezes, de infra-estruturas, assiste-se a um incremento de empresas nas áreas industriais e de construção e finalmente a uma diversificação em termos de sectores de actividade e especialização em indústrias de transformação (confecções, metalomecânica, indústria automóvel e componentes, produtos para o lar e produtos alimentares são os mais representativos e com exportação).

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Segundo o INE (2001), este núcleo urbano tem-se vindo a instituir como um pólo de atracção efectivo para a população do interior do distrito. A região Dão-Lafões ocupa uma área de 3484 Km2, possui uma média de 82,2 habitantes. Entre 1991-2001 aumentou 1,4%, devido sobretudo ao crescimento do concelho de Viseu em 11,8%, ao contrário do movimento de contracção verificado nos restantes concelhos (denotando uma concentração obvia e evidente no núcleo urbano mais representativo da região, movimento comum à maior parte das regiões do interior do país e que confirma movimentos de urbanização). Esta região é servida por duas vias rodoviárias importantes (IP3 e A25), que permitem a ligação entre o litoral do país e Espanha, ligando, igualmente, os grandes centros urbanos da região centro, Coimbra, Aveiro, Guarda e Viseu.

75 Apesar disso, o tecido empresarial é diversificado, possuindo empresas com elevados níveis de competitividade, mas globalmente pouco evoluído tecnicamente e com características de pequena e média dimensão. A produtividade da região, tendo presente os dados do INE (2006c; 2008g), tem-se revelado inferior à média nacional.

Em termos globais, as actividades económicas dominantes no distrito de Viseu, tendo em conta o emprego que proporcionam, situam-se na indústria têxtil, na indústria da madeira e da cortiça e na indústria alimentar, bebidas e tabaco.

São dignos de destaque os casos pontuais da indústria automóvel (Mangualde) e da indústria metalúrgica de base de produtos metálicos (Tondela e Viseu)101. Nos Serviços, destaque para o Turismo102, alicerçado na exploração de um rico património histórico e monumental e também nas potencialidades termais (ex: São Pedro do Sul). No sector primário, salientam-se a avicultura, a produção de vinho e a floresta. Confirma-se a contracção do sector primário, onde se continuam a salientar as explorações de cariz familiar. Contudo, segundo INE (2009), os fracos níveis de formação das pessoas a nível regional podem constituir limitações ao crescimento e desenvolvimento103. No ano lectivo de 1995/96 a taxa de escolarização do ensino superior em Portugal é de 15,9%, passando em 2007/08 para 28,1%, na região centro, a taxa é actualmente de 19,2%.

Quadro 3.1 - População empregada segundo o sector de actividade a nível nacional e regional

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Nacional 4738 800 4825 200 5020 900 5098 400 5137 300 5118 00 5122 800 5122 600 5159 500 5169 700 5197 800 Sector primário 639 400 613 200 635 400 652 600 636 900 642 100 618 100 606 200 603 800 601 400 595 600 Sector secundário 1694 700 1694 400 1733 700 1728 800 1727 800 1652 800 1592 6 00 1566 600 1577 200 1577 800 1520 800 Sector terciário 2404 600 2516 600 2651 700 2730 300 2727 100 2823 100 2908 600 2949 800 2978 400 2990 500 3081 400 Região Centro (milhares) Sector primário a) 256 700 269 400 279 500 271 300 310 100 293 700 281 900 287 700 288 500 281 800 Sector secundário a) 292 900 316 400 307 900 310 800 400 400 388 500 385 800 387 800 403 300 391 100 Sector terciário a) 407 800 410 200 413 500 426 800 574 900 595 400 606 200 610 100 602 700 619 700 Fonte: INE; a) Não disponível

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“Todos nós sabemos que, aqui, a nossa zona não é uma zona de indústria abundante, infelizmente, de

resto as clássicas: a Citroën, na zona de Mangualde. Ao lado, também temos uma grande empresa, que é a Madivéria, temos uma do grupo Sonae de aglomerados de madeira, em Mangualde, e temos, na zona de Viseu, um grande grupo, a Visabeira, e a Martifer, que já é um grupo com alguma dimensão. Obviamente que não nos poderemos comparar a um Porto a uma Lisboa.” (EXTRV G).

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“(…) a Visabeira é o monopólio que toda a gente conhece (…) a região em si não quer apostar (…)

apostam demasiado nas actividades de verão, quando há concentração de turistas e depois esquecem-se. Há algumas empresas lúdicas que trabalham em eventos pontuais.” (EXTRV A).

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“Em Viseu, e arrisco-me a dizer no distrito, não temos mercado para nós. Portanto, o que nós temos

aqui são pequenas empresas, micro-empresas (…) alguém sai do meu curso com alguma ambição só as encontra em Lisboa e no Porto, eu encontrei em Coimbra (...)“ (EXTRV I).

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A primeira ilação que podemos retirar da análise do quadro 3.1 é a de que se verifica um aumento do número de empregados a nível nacional no período entre 1998-2008, embora se assuma que “(...) uma parte significativa do crescimento do volume de emprego neste período

recente parece fazer-se em boa medida à custa da mobilização de formas e modalidades de trabalho que se distanciam do modelo «típico» das sociedades ocidentais (...) a relação salarial do tipo fordista, baseada no trabalho por conta de outrem com contrato permanente e com um conjunto de direitos e deveres fortemente regulados pelo Estado.” (Freire et al, 2000: 29).

Verifica-se uma redução da importância do sector primário e secundário em contraponto com o sector terciário, que revela tendência crescente nos últimos 10 anos.

A nível regional, contudo, verifica-se movimentos inversos, que reflectem o nível de desenvolvimento local e exterioriza as características económicas da região centro. Assim, o sector primário e o secundário não diminuem a sua representatividade, apesar de não os podermos comparar à evolução do sector terciário, que apresenta os índices mais elevados.

Estes dados comprovam o referido anteriormente: o sector dos serviços tem revelado nos últimos anos crescimentos em volume em média superiores aos restantes sectores económicos da economia, reflexo de uma alteração considerável da sua composição. Paralelamente, verifica-se que o sector primário, apesar de tudo, continua a assegurar 25% do emprego, representando o sector terciário e secundário, respectivamente, 40% e 30% da população empregada.

A desagregação do emprego por sector de actividade é reveladora da forte concentração do mesmo no sector dos serviços e do papel deste na manutenção dos elevados níveis de crescimento do emprego verificados entre 1998 e 2001. Esta variação representa um crescimento médio anual de 2,8%, bastante superior aos 1,6% verificados no total do emprego. Crescendo, anualmente a uma média de 0,4%, o emprego na “Indústria, Construção, Energia e Água”, em 2001, representa 34% do total do emprego. Neste período, o decréscimo do emprego na “Indústria Transformadora” foi mais que compensado pelo crescimento verificado na “Construção”. O emprego na “Agricultura, Silvicultura e Pesca”, após o declínio em 1999 (- 4,4%), apresentou variações sempre positivas (2,4% em 2000 e 1,8% em 2001); este crescimento não foi, contudo, suficiente para recuperar o valor observado em 1998. Saliente-se ainda que, em 2001, os “Serviços” absorviam mais de 60% do emprego feminino, enquanto a “Indústria, Construção, Energia e Água” pouco mais de 20%.

A evolução económica favorável verificada entre 1998 e 2008, possibilitou o forte crescimento do emprego, segundo o INE (2009), isto deve-se ao facto de, a partir de 2001, se assistir em Portugal a uma escalada dos índices de actividade. Não se pode deixar, contudo, de associar este aumento da taxa de actividade ao aumento da população feminina no mercado de trabalho (Almeida, 2007), ao adiamento da entrada na reforma, à dinâmica dos fluxos migratórios e ao incremento da qualificação na força de trabalho, apesar da proporção de activos com nível de escolaridade correspondente ao ensino superior continuar relativamente baixa, situando-se em

77 14,8% em 2008. Em Portugal, até 1970, apesar do atraso significativo em diversos aspectos políticos, económicos e sociais, o desemprego é pouco representativo, sendo constituído essencialmente, segundo Barreto (1996), por população em sub-emprego (actividades pouco produtivas).

Com o espoletar da crise a nível mundial, verifica-se um aumento significativo da taxa de desemprego, alicerçada nos movimentos demográficos que caracterizam o país, neste mesmo período. Convém não esquecer que após décadas de emigração e face à crise económica e às profundas mutações políticas em Portugal se verificou um extenso movimento de retorno dos emigrantes e das ex-colónias, face à queda do último império colonial. Este movimento intensificou-se a partir de 1986, data da integração na actual União Europeia, potenciando a imigração originária fundamentalmente dos PALOP’S, mas que, correntemente, ganha novas características com a imigração do leste da Europa. Apesar deste aumento da população activa, Portugal apresenta taxas de desemprego persistentemente baixas e próximas das verificáveis nos restantes países da União Europeia, que se pode explicar devido a um aumento da flexibilidade do mercado de trabalho em Portugal; “(…) o ajustamento fez-se entre nós pela baixa dos salários

reais do que pelo aumento do desemprego.” (Barreto, 1996: 310). Consequentemente, como

afirma Rodrigues (1988), esta situação apesar de não permitir a não extensão das taxas efectivas de desemprego em Portugal; não significou, no entanto, de uma forma objectiva, uma melhoria efectiva da qualidade do emprego.

Assim, até ao ano 2000, o nosso país apresenta, segundo Silva (2002), taxas de desemprego persistentemente baixas e taxas de emprego acima da média europeia, sendo mesmo das mais altas, quando considerado o emprego feminino a tempo inteiro. Este movimento é explicado pelos níveis baixos de produtividade, juntamente com os baixos salários, baixas qualificações e nível reduzido da protecção no desemprego, que criam um contexto propício para altos níveis de emprego e baixos níveis de desemprego. Kóvacs (2002) defende que, na prática, o aumento do emprego só decorrerá no sector quaternário (informação e comunicação), sobretudo nos sectores de informação, actividades de investigação/desenvolvimento, educação, saúde e actividades recreativas.

Consequentemente, a sociedade da informação tem originado, progressivamente, uma extinção do emprego agrícola, o declínio do emprego na indústria transformadora, o aumento dos serviços às empresas (comerciais e sociais), o aumento rápido das profissões de topo e a revalorização das estruturas das profissões (qualificação superior e nível de instrução aumentam). Não se tem verificado em Portugal, nos últimos anos, uma grande taxa de variação percentual do desemprego, constituindo as situações de desemprego de longa duração e juvenil, os problemas mais preocupantes da região, apesar de a região apresentar baixos níveis de produtividade, reflexo do subdesenvolvimento de muitas das suas actividades económicas. Contudo, a baixa taxa de

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desemprego observada acontece sobretudo nos sectores de actividades económicas tradicionais com características de subsistência (caso da agricultura).

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Quadro 3.2 - Taxa de desemprego e diplomados desempregados inscritos no Centro de Emprego a nível nacional e regional

Desemprego 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Taxa de desemprego na UE 8,7% 8,5% 8,9% 9% 9,1% 8,8% 8,1% 7,1% 7% Taxa de desemprego em Portugal 3,9% 4% 5 % 6,3% 6,7% 7,6% 7,7% 8% 7,6% Taxa de desemprego na Região Centro 2,2% 2,8% 3,1% 3,6% 4,3% 5,2% 5,5% 5,7% 5,4% Volume de desempregados registados do Concelho de Viseu (n) a) a) a) a) 5016 5078 5055 5085 4721 Desemprego dos Diplomados do Ensino Superior * Taxa de desemprego 3,1 3,4 4,9 6 5,3 6,3 6,3 7,5 6,9 Diplomados desempregados a nível nacional a) 7,1% 7,9% 8,8% 7,5% 8,8% 9,4% 10,3% 9,2% Diplomados desempregados na região centro (n) a) a) a) a) 6 848 6 945 8 159 8 644 8 347 Diplomados desempregados no Concelho de Viseu (n) a) a) a) a) 783 703 785 878 817 Diplomados inscritos no CE a nível nacional (n) a) a) 20882** 29123 39509 37115 43197 42747 39399 Diplomados inscritos no CE na região centro ** (n) a) a) a) a) a) a) a) 6660 8115 Diplomados inscritos no CE do ES Público Universitário (n) b) b) b) b) b) b) 924 1 589 2 552 Diplomados inscritos no CE do ES Público Politécnico (n) b) b) b) b) b) b) 674 1 322 3 011

Fonte: INE, IEFP, GPEARI (2009); Legenda: a) não disponível; b) De 1999-2005 - 3 634 inscritos (E.S. Universitário) 2 022 inscritos (E.S. Politécnico); * em Janeiro de cada ano civil; ** em Junho de cada ano civil.

A taxa de desemprego em Portugal aproximou-se nos últimos anos da média europeia. Em 2000 representava menos de metade da média da União Europeia e desde 2007 que se aproxima das taxas verificadas nos congéneres europeus, mesmo se em 2008 este diferencial se tenha estreitado (em termos de emprego, neste ano de 2008 a proporção de empregados com curso superior em Portugal é de 17,4%, para 27,3% verificável na UE, em 2005 são de 15,9% para 26,1%, e em 2000 de 11,8% para 23,6%, pela mesma ordem)104.

A nível nacional e no que respeita aos níveis de desemprego verifica-se que a zona centro do país sempre apresentou valores abaixo da média nacional, em média com menos 2% de desempregados, como podemos observar no quadro 3.2. A nível regional verificamos que o concelho de Viseu, tem desde 2004, apresentado valores no número de desempregados que se têm situado nos 5 000 indivíduos inscritos no Centro de Emprego, sem grande variação até 2008.

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Situação económica deteriorou-se, no período que precede o enquadramento temporal da presente análise, sobretudo o aumento do desemprego que se aproximou dos 10%, o que pode levantar a questão de um extremar da situação de precariedade laboral face às tendências verificadas presentemente.

79 O quadro 3.2 demonstra a contemporaneidade do problema do desemprego dos diplomados em Portugal, comprovado com a limitação de dados disponíveis, assim, somente a partir de 2006 existe regularidade analítica oficial sobre este fenómeno, que tem denotado tendência crescente particularmente visível em 2008. Em termos de emprego, neste ano de 2008, a proporção de empregados com curso superior em Portugal é de 17,4%, para 27,3% verificável na UE, o que significa uma subida face aos dados dos anos anteriores (2005 são de 15,9% para 26,1% e em 2000 de 11,8% para 23,6%, pela mesma ordem).

O aumento dos diplomados desempregados reflecte o problema da transição para o trabalho e, paralelamente, comprova a expansão do ensino superior a nível nacional e regional. Verifica-se que o concelho de Viseu apresenta uma da taxa de diplomados desempregados a nível da regional de 10%, e de 15,5% face aos índices nacionais, comprovando dados anteriores onde se constata que este concelho não é o que mais contribui para o desemprego registado em toda a região centro. Este movimento é comprovado pelo volume de inscritos nos Centros de Emprego de onde se destaca o facto de se assistir a uma alteração tendo presente o tipo de ensino superior frequentado. Verifica-se que em 2008 os diplomados inscritos passam a ser, sobretudo, do ensino superior politécnico.

Contudo, o caso nacional apresenta-se como paradoxal, já que tem uma das forças de trabalho menos qualificadas da Europa e elevado nível de desemprego por parte dos mais qualificados, exteriorizando fragilidades estruturais105 perceptíveis ao nível dos baixos níveis de escolaridade, na importância do desemprego de longa duração, na dificuldade de (re)inserção das jovens mulheres, dos idosos e deficientes e no tecido empresarial, constituído maioritariamente por pequenas e médias empresas e por sistemas produtivos suportados por mão-de-obra barata e desqualificada, segundo a DGEEP/MTSS (2006a).

Segundo dados do GPEARI (2009), a população com habilitação superior inscrita nos Centros de Emprego em Junho de 2009 caracteriza-se genericamente por ser maioritariamente feminina (66%), estar particularmente representada na região Norte (39%), maioritariamente inscrita há menos de um ano (75%) e ser jovem (68% têm menos de 35 anos). Esta população apresenta assim, por comparação à restante população inscrita, especificidades que se enquadram numa lógica de transição para o trabalho, já que 75% dos inscritos com habilitação superior procuram emprego há menos de um ano, dos quais 27% o primeiro emprego. Estes indicadores são reforçados pelo facto de a maior destes diplomados que procuram emprego (primeiro emprego ou novo), ter concluído o seu curso recentemente (50% entre 2005 e 2009). Quanto ao tipo de ensino

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Para termos uma explicação genérica da situação portuguesa, há que considerar o papel das actividades económicas trabalho - intensivas (sendo os casos paradigmáticos o desenvolvimento da construção civil e obras públicas depois da adesão à União Europeia e consequente usufruto do Fundo de Desenvolvimento Regional), o papel do Fundo Social Europeu no apoio a políticas activas de emprego, o crescimento rápido do sector dos serviços (nomeadamente em actividades que requerem mão-de-obra barata e pouco qualificada, maioritariamente feminina) e o papel decisivo do ajustamento via salários e não do desemprego em períodos recessivos.

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superior, 63% dos inscritos são do ensino público e 37% do ensino privado, mantendo-se uma tendência sensivelmente idêntica à observada entre 1998-1999 e 2007-2008 (68% de diplomados no ensino público e 32% de diplomados no ensino privado). Destes, 36% situam-se no ensino politécnico e 64% no ensino universitário, o que revela uma contribuição relativa maior do ensino universitário para as inscrições nos centros de emprego, já que os diplomados do ensino politécnico, entre 1998-1999 e 2007-2008, representam 47% do total de diplomados contra 53% no ensino universitário106.

Esta situação é explicada pelo maior número de alunos e pelo consequente maior número de diplomados que saem das universidades anualmente, o que traduz as dificuldades acrescidas, por parte dos jovens diplomados, de acederem ao emprego, o que reflecte uma oferta crescente de mão-de-obra escolarizada e uma evidente incapacidade do mercado de trabalho a absorver. Isto

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