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4 E XPECTATIVAS E PROJECTOS PROFISSIOAIS

No documento Diplomas e (Des)Emprego: um estudo de caso (páginas 166-178)

A problemática da transição para o trabalho implica, obviamente, que se tenha em consideração a postura dos finalistas, considerando-os como actores, como refere Rose (1998), sobretudo ao nível da sua preparação para a vida activa, ainda durante a sua formação académica. Segundo Dubet (1994), existem dois grupos de estudantes: os verdadeiros estudantes, que possuem um projecto profissional, uma vocação intelectual e uma forte integração académica; os estudantes sem projecto. Se atendermos a que o ensino politécnico encerra diferenças relativamente ao universitário, a questão dos estágios e da experiência profissional, ainda durante a formação académica, revela-se central. Isto porque constituem um reflexo da activação das posturas de antecipação e preparação para o trabalho, tendo presente a importância desta etapa no acesso à vida adulta, como refere Galland (1991, 1995, 1995a, 2000).

Iniciaremos a reflexão pela questão dos estágios; posteriormente, abordamos as posturas de preparação psra o trabalho dos finalistas. Apesar da vertente mais prática (curiosamente, um dos aspectos mais criticados a nível curricular) ser uma das características que diferencia o ensino politécnico do universitário, 39,3% dos estudantes afirmam ter realizado um estágio ao longo do curso (CS, T, EI e CA), (Cf. Quadro 14 do Anexo III).

Podemos, então, concluir que não existe ao nível dos estágios, grande representatividade nas formações académicas em análise, o que se deve à estrutura curricular213 das mesmas, já que a maioria não disponibiliza estágios curriculares.

213

Contudo se o caso de CS existe um estágio curricular integrado, o mesmo não se pode dizer das restantes formações, que não incluem esta valência nas suas estruturas curriculares. Porém isso não implica que as restantes formações não apresentem uma postura mais activa, algumas denotam algum dinamismo institucional, “(…) o estágio profissional é substituído pela unidade curricular de simulação empresarial,

157 Quanto à caracterização dos estágios realizados existe, quanto às funções e áreas nas quais os mesmos foram exercidos, uma linearidade entre formação académica e tipo de estágio frequentado, enquadrando-se na norma que os regem. No que respeita às questões temporais e geográficas, constata-se que são, sobretudo, de curta duração. O período mais significativo vai até 6 meses, o que pode ajudar a explicar a baixa taxa de rentabilização destes estágios a nível profissional, após o final da formação académica, já que somente 10,4% dos finalistas foram admitidos após terminarem os mesmos.

No que respeita ao contexto geográfico dos estágios, existe uma concentração sobretudo em duas regiões: no distrito de Viseu com 62,1%, no âmbito do já observado em Sousa (2003), e no de Lisboa com 12,6% dos casos, o que se explica devido ao facto de esta região constituir, inquestionavelmente, face às características do mercado de trabalho nacional, a zona mais atractiva e que disponibiliza um maior número de oportunidades profissionais a nível nacional, sobretudo no que à aceitação de estagiários diz respeito.

Questiona-se ainda se estes estágios podiam desempenhar, para os alunos, um papel importante no acesso ao emprego. As opiniões não foram unânimes, 52,8% sustentam que sim, o que nos permite concluir que, do ponto de vista institucional e individual, a utilização de estágios como forma de possibilitar uma entrada mais rápida no mercado de trabalho apresenta-se, para estes finalistas como um factor de grande relevância. Esta situação será confirmada no quadro seguinte.

De forma a aprofundar estas posições, tendo presente a pertinência dos estágios como forma dos jovens adquirirem experiência profissional, fazerem face à crise de emprego e à evolução do mercado de trabalho e das profissões, como defende Azevedo (1994), questionámos os finalistas sobre a importância do estágio no acesso ao mercado de trabalho.

Quadro 5.6 - Importância do estágio por curso (%)

ESTÁGIO É: CS GE GCP T EA EI EC EE EM EMGI CA Total Muito Importante 66 85,4 81,8 52,3 90,5 64,3 60 73,3 100 25 43,8 68,9 Importante 31,9 14,6 18,2 47,7 9,5 35,7 25 20 0 75 50 28,7 Pouco importante 2,1 0 0 0 0 0 5 6,7 0 0 0 1,2 Nada importante 0 0 0 0 0 0 10 0 0 0 6,2 1,2 JUSTIFICAÇÃO Preparação/ integração na vida activa

74,5 65,9 72,7 47,7 42,9 71,4 60 46,7 90,9 75 31,2 60,2 Aquisição de experiência profissional 4,3 17,1 27,3 27,3 42,9 21,4 20 33,3 9,1 25 12,5 20,1 Aquisição/ consolidação de conhecimentos 17 7,3 0 20,5 14,3 0 0 6,7 0 0 37,5 12,3

Permite testar competência 0 2,4 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,4

Não são remunerados 0 2,4 0 0 0 0 5 0 0 0 0 0,8

Curta duração dos estágios 0 0 0 0 0 0 5 0 0 0 0 0,4

Não permite acreditação da formaçãoacadémica

0 0 0 0 0 0 5 0 0 0 0 0,4

Área científica demasiado abrangente

0 0 0 0 0 0 0 6,7 0 0 0 0,4

NR 4,9 0 4,5 0 7,1 5 6,7 0 0 18,8 4,9 4,9

158

O quadro 5.6 demonstra que os finalistas reconhecem que o estágio possui particular importância como etapa de preparação para o acesso ao primeiro emprego, os finalistas afirmam sobretudo que é um aspecto Muito importante. Quanto às justificações, verifica-se que a

Preparação/integração na vida activa, Aquisição de experiência profissional ou a Aquisição/consolidação de conhecimentos (teórico-práticos) os motivos mais referidos, não se

verificando diferenciações significativas entre as formações académicas.

Consequentemente, e tendo presente o contexto institucional e a pouca representatividade dos estágios curriculares, questiona-se os alunos (cf. Quadro 15 do Anexo III) sobre que tipo de iniciativas a entidade formadora deveria instituir, como forma de apoiar a transição para o trabalho dos seus diplomados. As respostas confirmam os dados anteriores, concentrando-se na

Promoção de estágios (43%-EA e GCP), nas Parcerias/protocolos ISPV - Empresas (24%-EMGI

e CS) e na Ajuda/apoio/informação à inserção profissional (7,4%-CS e EMGI), o que confirma a crítica à não existência de estágios. Em termos globais, os finalistas atribuem ao estágio uma importância significativa, como uma etapa de transição para a vida activa, sendo, contudo, digna de realce a posição mais crítica dos que afirmam já o ter realizado durante o curso, o que poderá pôr em causa a organização e funcionalidade dos estágios integrados que efectivamente existem (referimo-nos, exclusivamente, ao caso de CS).

No âmbito das posições anteriores, procura-se verificar a existência de efectivas estratégias individuais e pré-definidas, que evidenciem o nível de interesse para com o futuro profissional.

Apesar dos condicionantes estruturais (dinâmicas do mercado de trabalho, necessidades de qualificação por parte das empresas, etc), deve-se ter em conta, como refere Rose (1998), a acção dos próprios jovens como aspecto fundamental no processo de acesso ao emprego, bem como os recursos educacionais (aspirações e expectativas de inserção profissional) como refere Mauritti (2002), porque constituem elementos centrais na procura de trabalho, pautando os processos de transição para a vida profissional da população juvenil altamente escolarizada.

Pretende-se, assim, percepcionar que tipo de perspectivas e quais os recursos a que os jovens estariam dispostos a recorrer de forma a aceder ao mercado de trabalho. Simultaneamente, procura-se verificar que tipo de expectativas os finalistas depositam na obtenção do diploma, tendo presente a questão estatutária, como refere Vieira (1995) e as diferenças do sistema binário do ensino superior em Portugal, como defende Alves (2003, 2007).

159 Quadro 5.7 - Preparação para o primeiro emprego por curso (%)

No quadro 5.7, verifica-se que, no que respeita ao acesso ao primeiro emprego, os finalistas afirmam que o mais importante é Possuir competências/perfil adequado; seguidamente, os

Contactos pessoais (saliente-se GCP, que tem classes sociais com maiores recursos económicos,

qualificacionais e organizacionais, o que pode explicar esta postura) e o facto de Ter estágio

profissional (saliente-se EM que revela continuidade na posição anterior de valorização dos

estágios), sem efectivas distinções de posições entre as formações em análise. Quando interpelados sobre se tinham Conhecimento da existência de medidas/programas estatais de

apoio ao emprego, 38,9% dos finalistas assumem que não (EC e EE com taxas superiores a 50%),

dados que transparecem um alheamento evidente dos finalistas face às políticas de apoio ao emprego, visto que, mesmo os que responderam afirmativamente, quando lhes foi pedido para especificarem o tipos de medidas às quais estariam dispostos a aceder, 54,7% Xão responde. Podemos afirmar que estamos perante finalistas com uma evidente incapacidade em identificar e/ou especificar medidas efectivas de apoio ao emprego. Das referidas, destaca-se o Apoio à

criação de empresas (sobretudo finalistas do curso de Ge e CS). Estas posições denotam do ponto

de vista individual, um desconhecimento quanto às formas de acesso ao emprego (que são comprovadas no capítulo seguinte), apesar de se assumirem preocupados com o emprego, (cf.

O MAIS IMPORTANTE NO ACESSO AO EMPREGO

CS GE GCP T EA EI EC EE EM EMGI CA Total Competência/perfil adequado 70,2 36,6 45,5 65,9 47,6 35,7 55 53,3 27,3 100 50 53,7 Contactos pessoais 12,8 24,4 36,4 11,4 33,3 28,6 35 13,3 9,1 0 25 20,5 Estágio profissional 10,6 34,1 9,1 18,2 9,5 28,6 10 20 63,6 0 18,8 20,1

Possuir boa média 0 4,9 0 0 4,8 7,1 0 0 0 0 6,2 2

Formação académica em Instituição de prestígio

2,1 0 0 2,3 4,8 0 0 13,3 0 0 0 2

Mobilidade geográfica 4,3 0 0 2,3 0 0 0 0 0 0 0 1,2

NR 0 0 9,1 0 0 0 0 0 0 0 0 0,4

CONHECE MEDIDAS DE APOIO AO EMPREGO?

Sim 63,8 63,4 72,7 64,9 57,1 57,1 45 40 54,5 100 75 61,1 Não 36,2 36,6 27,3 34,1 42,9 42,9 55 60 45,5 0 25 38,9 QUAIS UTILIZARIA

NR 53,3 50 50 48,2 91,7 62,5 66,7 50 75 58,3 54,7

Apoio à criação de empresas 26,7 34,6 25 13,8 8,3 12,5 22,2 50 16,7 25 21,3 Apoio à criação de emprego 3,3 3,8 25 20,7 12,5 11,1 33,3 16,7 10,7

Estágios profissionais 3,3 3,8 3,4 12,5 16,7 16,7 8,3 4,7

Programa Inovjovem 16,7 0,7

Programas de formação académica profissional

3,4 0,7

Apoio estatal às energias renováveis

8,3 0,7

Não sabe especificar 6,7 3,8 6,9 8,3 4

Intercâmbios com o estrangeiro. 6,7 3,8 3,4 2,7

PREOCUPAÇÃO FACE AO EMPREGO

Muito forte 57,4 63,4 72,7 61,4 90,5 14,3 40 26,7 36,4 25 31,2 53,7 Moderada 27,7 36,6 18,2 31,8 9,5 78,6 55 73,3 63,6 25 25 37,3 Não é preocupação, o emprego já

está garantido

10,6 0 9,1 6,8 0 7,1 0 0 0 50 25 6,6

Ainda é cedo para pensar no assunto

4,3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,8

160

quadro 16 do Anexo III). 53,7% confirmam mesmo que constitui uma preocupação Muito Forte (áreas de CS, T, GE, GCP e EA, curiosamente, as que evidenciaram posteriormente transições mais complexas e que já tinham denotado preocupação com as questões de empregabilidade nas motivações de acesso) e 37,3% declaram que é uma preocupação Moderada (finalistas das engenharias, que confirmam algum alheamento quanto às políticas de apoio ao emprego)214. Os finalistas não denotam possuírem, estratégias de acesso ao primeiro emprego definidas, questão que será retomada nos capítulos seguintes.

Questiona-se ainda os finalistas (cf. quadro 17 do Anexo III) sobre as estratégias que iriam privilegiar no seu processo de procura de emprego. Constata-se que é fundamentalmente à

Inscrição no Centro de Emprego (CA, EA, EI) que os finalistas assumem ir recorrer, bem como

ao Contacto com agências privadas de recrutamento/selecção (destaque para CS e GE) e aos

conhecimentos familiares/pessoais (GCP, EC e EE, que possuem origens sociais mais elevadas).

Dos factores menos referenciados destaque para o Criar o próprio emprego/empresa, (EM e EI). Estas posturas dos finalistas comprovam uma opção evidente no acesso ao emprego, em relação a medidas e/ou programas de apoio ao emprego estatais, o que pode ser explicado pela origem social dos diplomados, podendo vir a constituir um efectivo handicap no processo de transição para o trabalho.

Nesta perspectiva, pretende-se ainda percepcionar se os alunos pertencem a algum tipo de associação na área científica e se possuem hábitos de leitura exteriores às práticas académicas (cf. quadro 18 do Anexo III). As respostas foram elucidativas, 93% atestam não pertencer a qualquer associação relacionada com a sua área de formação académica (CA, EI e EE são as excepções, denotando dinamismo a este nível, movimento que se irá manter no capítulo seguinte, com excepção da Associação Nacional de Engenheiros Técnicos e a Ordem de Técnicos Oficial de Contas). Já no que respeita às leituras extra-curriculares, 77% dizem ler com regularidade publicações da área científica e profissional respectiva, constituindo a justificação principal o

Aumento/actualização de conhecimentos (75,4%) e não se verificando diferenciações assinaláveis

entre as formações em análise.

Interpela-se ainda os finalistas sobre as suas expectativas formativas215 (cf. quadro 18 A do Anexo III), questionando-se se pretendem, efectivamente, dar continuidade à sua formação académica académica, 44,3% respondem afirmativamente (EI e CS, corroborando tendências de

214

Nota para os 6,6% que afirmam ter emprego garantido, porque são trabalhadores-estudantes. Em 16 casos estudados, 15 encontram-se nesta situação.

215

Como salienta Canals e Diebolt : “Le choix de la poursuite d’études relève de motivations diverses,

guidées principalement par trois facteurs: construire un projet professionnel, avoir un diplôme supérieur au bac, obtenir un diplôme en vue de passer un concours. L’absence de projet professionnel concerne les étudiants qui ne trouvent pas d’utilité aux études (en tous les cas à court terme). Ces étudiants sont majoritairement titulaires d’un bac technologique. L’absence de projet professionnel concerne les étudiants qui ne trouvent pas d’utilité aux études (en tous les cas à court terme). Ces étudiants sont majoritairement titulaires d’un bac technologique (…)” (Canals e Diebolt, 2001: 558-559).

161 avaliação crítica denotada nas questões anteriores), sendo que 40% pretendem frequentar

Mestrados (salientando-se EM) e 27,3% Pós-graduações (EA e CA). Quanto aos que não estão

dispostos a dar continuidade à sua formação académica, 52,3% justificam pelo facto de

Pretenderem exercer uma actividade profissional no imediato (GCP, EC, EM), 13,6% assumem

ter Encargos familiares/profissionais (EE, CS e CA, onde se salientam, obviamente, os trabalhadores-estudantes) e 11,4% confirmam querer ser Financeiramente autónomos (T e CA).

Será que estas posturas revelam, indirectamente, uma convicção na eficácia do diploma no movimento de acesso ao mercado laboral?

Quadro 5.8 - Posição face ao diploma por curso (%)

DIPLOMA INTERFERE CS GE GCP T EA EI EC EE EM E M G I C A Total Possibilidade de encontrar emprego Sim 70,2 90,2 81,8 90,9 71,4 100 100 93,3 72,7 100 100 86,1 Não 25,5 9,8 18,2 6,8 28,6 0 0 6,7 27,3 0 0 12,7 NR 4,3 0 0 2,3 0 0 0 0 0 0 0 1,2 No salário e proveitos materiais Sim 63,8 87,8 81,8 88,6 85,7 92,9 90 86,7 81,8 100 87,5 83,2 Não 34 12,2 18,2 9,1 14,3 7,1 10 13,3 18,2 0 12,5 16 NR 2,1 0 0 2,3 0 0 0 0 0 0 0 0,8 Aumento do estatuto social Sim 63,8 65,9 72,7 56,8 61,9 85,7 50 66,7 81,8 75 75 65,2 Não 31,9 34,1 27,3 40,9 38,1 14,3 50 33,3 18,2 25 18,8 33,2 NR 4,3 0 0 2,3 0 0 0 0 0 0 6,2 1,6 FACILITARÁ ACESSO A PRIMEIRO EMPREGO? Sim 55,3 80,5 72,7 72,7 57,1 100 80 80 81,8 50 75 72,1 Não 44,7 19,5 18,2 25 42,9 0 15 20 18,2 50 12,5 25,8 NR 0 0 9,1 2,3 0 0 5 0 0 0 12,5 2 JUSTIFICAÇÃO NR 10,6 24,4 27,3 9,1 19 28,6 50 6,7 36,4 0 37,5 20,9 Aumenta empregabilidade 19,1 29,3 18,2 11,4 14,3 57,1 10 40 27,3 25 0 20,9 Comprova competência 8,5 22 18,2 9,1 4,8 7,1 0 6,7 18,2 25 12,5 11,1 Potencia formação académica 6,4 9,8 0 15,9 0 7,1 5 13,3 9,1 0% 37,5 10,2 Desvalorização dos diplomas 31,9 7,3 18,2 31,8 42,9 0 20 26,7 9,1 50 6,2 22,5 Emprego precário/ falta

de emprego 17 7,3 9,1 11,4 9,5 0 5 0 0 0 6,2 8,6 Aumento da exigência laboral 6,4 0 9,1 9,1 9,5 0 5 6,7 0 0 0 4,9 Questões pessoais dominam acesso 0 0 0 2,3 0 0 5 0 0 0 0 0,8 X 47 41 11 44 21 14 20 15 11 4 16 244

No que diz respeito à importância do diploma na perspectiva do acesso ao emprego e ganhos materiais, as posições são francamente afirmativas; todavia, quando questionados sobre o facto de o diploma permitir o aumento de estatuto social, os finalistas evidenciam opiniões mais reticentes. Face a estas posições e às posturas de procura de emprego institucionalizadas, podemos questionar, tendo presente Marques (2006), se não estamos efectivamente perante alunos de diploma.

Com o intuito de confirmar a posição dos finalistas, interroga-se a Importância do diploma no

acesso ao emprego. Os finalistas evidenciam mais uma vez uma confiança evidente no estatuto de

162

(saliência para a confiança demonstrada pelos finalistas dos cursos de engenharia, exceptuando EA).

Quando lhes é pedido para justificar as opiniões, os que responderam afirmativamente, assumem que o diploma Aumenta empregabilidade (EI, GE e EM), Comprova competências (EMGI e GE) e Permite continuidade da formação (T e EE). No entanto, muitos dos que respondem afirmativamente também recusam a justificação da sua posição, mas estes dados confirmam a importância atribuída por estes alunos ao diploma.

Este movimento não se apresenta totalmente linear, verificando-se a constituição de um grupo mais crítico que não partilha estas posições apontando a Desvalorização dos diplomas (EA, CS e T) e o Emprego precário/falta de emprego (CS e T) como as suas maiores preocupações. Estamo- nos a referir, mais especificamente, às formações de EA, CS e T, que se apresentavam como as mais pessimistas quanto ao seu futuro laboral, movimento que será corroborado no capítulo seguinte, confirmando estas preocupações face ao seu futuro laboral.

De forma a dar profundidade à temática do valor simbólico do diploma, foi pedido aos finalistas que emitissem a sua opinião sobre as possíveis diferenças entre as universidades e os politécnicos (cf. Quadro 19 do Anexo III). As posições repartem-se: 55,3% declaram que sim, dos quais 30% salientam as questões da Vertente mais prática do politécnico (EI, EMGI e GCP, apesar das críticas das questões anteriores), 26,4% o Prestígio/credibilidade da universidade (EA, CS, EE), 6,4% a Falta de acreditações das formações do Politécnico (EC).

Finalmente, procura-se evidenciar as posturas dos diplomados face ao seu futuro profissional e formativo, tendo presente as tendências anteriores.

163 Quadro 5.9 - Factores de satisfação profissional por curso (%)216

CS GE GCP T EA EI EC EE EM EMGI CA Total Poder de decisão 1ª 50 57,1 100 100 80 25 33,3 39,4 50 2ª 50 28,6 33,3 25 66,7 75 33,3 33,3 50 3ª 14,3 66,7 20 50 33,3 25 33,3 27,3 Boas condições de remuneração 1ª 25,9 47,1 25 32,3 40 14,3 50 33,3 22,2 33,3 44,4 34,3 2ª 48,1 23,5 75 25,8 30 85,7 14,3 11,1 33,3 33,3 31,4 3ª 25,9 29,4 41,9 30 35,7 55,6 77,8 33,3 22,2 34,3 Possibilidade de ocupar um

cargo com formação académica qualificante 1ª 25 55,6 100 50 50 60 50 33,3 40,7 2ª 37,5 33,3 20 50 40 100 16,7 27,1 3ª 37,5 11,1 30 100 50 100 50 32,2 Liberdade de organização do tempo e do trabalho 1ª 22,2 36,4 100 28,6 33,3 42,9 33,3 33,3 33,3 33,3 22,2 36,4 2ª 33,3 27,3 42,9 50 14,3 50 33,3 33,3 34,9 33,3 27,3 3ª 44,4 36,4 28,6 16,7 42,9 16,7 33,3 33,3 31,7 44,4 36,4 Possibilidade de exercer várias funções 1ª 25 40 33,3 40 33,3 25 25,8 2ª 50 20 33,3 20 100 33,3 100 50 32,3 3ª 25 40 66,7 66,7 40 33,3 100 100 25 41,9

Ter um emprego estável (contrato efectivo) 1ª 66,7 33,3 31,2 54,5 25 33,3 16,7 100 66,7 100 44,7 2ª 25,9 26,7 40 50 27,3 25 41,7 33,3 31,1 3ª 7,4 40 60 18,8 18,2 50 25 50 33,3 24,3 Possibilidade de ascender na carreira 1ª 34,8 15,8 14,3 12,5 33,3 40 50 33,3 19,5 2ª 23,5 56,5 66,7 57,9 75 42,9 62,5 44,4 60 50 44,4 51,3 3ª 76,5 8,7 33,3 26,3 25 42,9 25 22,2 22,2 29,2 Possibilidade de criar/inovar 1ª 28,6 11,8 57,1 50 20 33,3 29,2 2ª 33,3 41,2 100 9,5 50 20 50 75 100 50 33,7 3ª 38,1 47,1 33,3 60 100 16,7 25 50 37,1

Ser reconhecido com profissional competente

1ª 41,2 12,5 71,4 18,8 37,5 33,3 25 66,7 71,4 20 35,6

2ª 29,4 18,8 37,5 25 25 16,7 28,6 20 23,3

3ª 29,4 68,8 28,6 43,8 37,5 66,7 50 16,7 100 60 41,1 Outra - Não ser explorado/

Gostar da profissão

1ª 100 100 50

3ª 100 100 50

X 47 41 11 44 21 14 20 15 11 4 16 244

Iniciamos a reflexão sobre as representações dos finalistas relativamente ao trabalho e a uma futura actividade profissional, com o objectivo de efectivamente verificar que representações e, sobretudo, que disponibilidade os mesmos apresentam face aos desafios laborais futuros, sobretudo ao nível da execução do trabalho. Os aspectos mais valorizados são o Poder de decisão (T, EA, EI), Ter um emprego estável (EM e CA) e a Possibilidade de ocupar um cargo com

formação qualificante (GCP e EC).

Resumindo, os finalistas apresentam posturas que reflectem uma valorização dos diplomas, baixas expectativas laborais, denotam preocupações sobretudo de índole funcional e não ao nível dos conteúdos e de execução laboral, o que reforça, face ao alheamento relativamente as estratégias de acesso ao emprego, a questão de estarmos, efectivamente, perante alunos de diploma. Paralelamente, não revelam opiniões de diferenciação estatutária a nível institucional, embora reconheçam diferenciações ao nível de qualidade e reconhecimento, superiores nas universidades comparativamente aos politécnicos.

Procuramos, seguidamente, aprofundar estas posturas, tendo como base a perspectiva utilizada em Marques (2006), sobretudo ao nível da execução do trabalho, com objectivo de verificar os níveis de disponibilidade que os mesmos denotam face ao mundo laboral.

216

A questão colocada era a seguinte: Quais as três razões mais importantes que o levou a ingressar num curso superior? - Os inquiridos tinham que escolher de 1 a 3 por ordem de importância.

164

Quadro 5.10 - Disponibilidade profissional por curso (%)

CURSO CS GE GCP T EA EI EC EE EM EMGI CA Total

Submeter os meus ideais profissionais aos da empresa Disposto 48,9 61 63,6 52,3 52,4 64,3 50 73,3 45,5 75 68,8 56,6 Não disposto 48,9 34,1 36,4 47,7 47,6 28,6 50 26,7 54,5 25 31,2 41,8 NR 2,1 4,9 0 0 0 7,1 0 0 0 0 0 1,6 Ganhar acima da média em função do meu mérito Disposto 83 87,8 90,9 88,6 100 100 100 100 72,7 100 81,2 89,8 Não disposto 14,9 7,3 9,1 9,1 0 0 0 0 27,3 0 12,5 8,2 NR 2,1 4,9 0 2,3 0 0 0 0 0 0 6,2 2 Submeter os Disponibilizar- me totalmente para a empresa Disposto 63,8 73,2 63,6 52,3 52,4 57,1 50 46,7 54,5 75 56,2 59 Não disposto 29,8 22 36,4 43,2 47,6 35,7 50 53,3 45,5 25 37,5 37,3 NR 6,4 4,9 0 4,5 0 7,1 0 0 0 0 6,2 3,7 Ter um horário de trabalho flexível Disposto 97,9 95,1 100 90,9 100 92,9 100 100 90,9 100 93,8 95,9 Não disposto 2,1 2,4 0 6,8 0 0 0 0 9,1 0 0 2,5 NR 0 2,4 0 2,3 0 7,1 0 0 0 0 6,2 1,6 Aceitar a cultura de empresa mesmo contra interesses pessoais Disposto 46,8 43,9 54,5 29,5 57,1 28,6 30 13,3 72,7 25 31,2 39,8 Não disposto 48,9 53,7 45,5 68,2 42,9 64,3 70 86,7 27,3 75 62,5 57,8 NR 4,3 2,4 0 2,3 0 7,1 0 0 0 0 6,2 2,5 Fazer férias em função das necessidades da empresa Disposto 89,4 80,5 72,7 86,4 95,2 64,3 80 86,7 81,8 100 62,5 82,8 Não disposto 6,4 14,6 27,3 13,6 4,8 28,6 20 13,3 18,2 0 31,2 14,8 NR 4,3 4,9 0 0 0 7,1 0 0 0 0 6,2 2,5 Executar qualquer tipo de actividade se a empresa assim o exigir Disposto 59,6 58,5 54,5 43,2 95,2 42,9 35 66,7 54,5 25 62,5 56,1 Não disposto 38,3 36,6 45,5 52,3 0 50 65 33,3 45,5 75 25 40,2 NR 2,1 4,9 0 4,5 4,8 7,1 0 0 0 0 12,5 3,7 X 47 41 11 44 21 14 20 15 11 4 16 244

Tendo presente as tendências anteriores, procura-se constatar quais os aspectos a nível laboral que os finalistas estão dispostos a aceitar, de forma a consolidar e/ou assegurar as suas futuras carreiras profissionais. Assim, os finalistas assumem disponibilidade (e por ordem decrescente de importância) para - Ter um horário de trabalho flexível, Ganhar acima da média em função do

meu mérito e Fazer férias em função das necessidades da empresa, não se verificando

diferenciações significativas entre as formações em análise. No que respeita à indisponibilidade, salienta-se o indicador Aceitar a cultura de empresa, mesmo contra interesses pessoais (apesar de, mesmo neste aspecto, os que se mostraram dispostos a fazê-lo, atingir perto de 40%).

Estes dados denotam uma disponibilidade assinalável, em variadas vertentes para o exercício do trabalho, por parte dos finalistas, como forma de consolidar e/ou assegurar uma carreira profissional. São posturas que comprovam que estamos perante alunos muito funcionalistas, o que pode evidenciar poucas expectativas ou consciencialização face ao mercado laboral. Revelam simultaneamente grande flexibilidade em questões funcionais (horários, férias) e financeiras, desde que assentes no mérito profissional. Verifica-se ainda alguma inflexibilidade quando estão em causa incompatibilidades entre questões do foro pessoal e a cultura da empresa.

Estas posições levantam a efectiva questão das expectativas profissionais futuras, já que os finalistas apresentam uma disponibilidade efectiva, tendo presente os índices de expectativas face ao diploma apresentados anteriormente. Resta analisar quais os seus projectos profissionais e qual

165 a opinião dos finalistas face aos níveis de empregabilidade nas respectivas áreas científicas, tendo presente o seu contexto geográfico.

Face à possibilidade de idealizarem o futuro profissional, os finalistas voltam a demonstrar um desinteresse significativo (cf. Quadro 20 do Anexo III), ao assumirem uma evidente incapacidade de definir uma profissão que gostariam de exercer. Somente numa vertente generalista (área onde gostaria de exercer), as taxas de respostas se situam nos 60%, sendo que, nos restantes indicadores (cargo, funções, tipo de empresa e zona geográfica), a taxa de resposta foi muito inferior. Destacam-se, apesar de tudo, os alunos dos cursos de engenharias, que voltam a apresentar uma posição de maior esclarecimento nas suas posturas projectivas. Este movimento confirma, anexando-se a pouca pertença em associações profissionais, a não existência de identidades profissionais efectivas, apresentando-se como posturas particularmente contraditórias face à linearidade do movimento de acesso ao ensino superior e reforçando a perspectiva de estarmos perante alunos de diploma, muito institucionalizados e passivos quanto à etapa de transição para a vida activa.

Para terminar, procura-se verificar que posição os finalistas detêm face à oferta de emprego para as diversas áreas de formação académica em análise (cf. Quadro 21 do Anexo III). As suas opiniões apresentam-se moderadas quanto à oferta regional (17,6% sustentam ir constituir um movimento Fácil de atingir; 50,4% asseguram ser Um pouco difícil e 29,9% Muito difícil. Salientam-se EC, EI, EMGI e GCP, enquanto surgem, pela negativa, os cursos de CS, T e EA (que já se tinham revelado particularmente preocupados face ao seu futuro laboral). Contudo, apresentam-se mais optimistas a nível nacional (Um pouco Difícil 46,3% e o Fácil 41%, são os alunos de CS e EA que evidenciam posições mais cépticas face ao emprego na área, mesmo ao nível do mercado de trabalho nacional).

Estes resultados dão continuidade a algumas tendências que se têm vindo a verificar, sobretudo

No documento Diplomas e (Des)Emprego: um estudo de caso (páginas 166-178)