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1 Q UESTÕES I TRODUTÓRIAS : PERCURSOS SOCIOGEOGRÁFICOS E FORMATIVOS DOS DIPLOMADOS

No documento Diplomas e (Des)Emprego: um estudo de caso (páginas 178-182)

Iniciamos a análise com a contextualização sociogeográfica da população em análise, porque a experiência e durabilidade formativa, os modos de aprendizagem e de ensino e as competências facultadas, como defendem Martínez, Mora e Vila (2007), constituem aspectos no processo de transição para o trabalho e podem ter, efectivamente, alterado o contexto dos diplomados. Verifica-se nos diplomados inquiridos (cf. Quadro 22 do Anexo III) uma proeminência feminina com 63,1% de representatividade, dos quais, face ao total, 51,4% se situam entre os 23-25 anos. Ao nível do estado civil são casados ou estão em união de facto (ambos com 13,5%), embora sem diferenciações significativas entre formações. Destaque-se somente os diplomados de EI e EMGI, que se encontram, na sua totalidade, solteiros, situação que pode ser explicada pelo facto dos mesmos se situarem na faixa etária abaixo dos 30 anos.

Este movimento permite equacionar a efectiva passagem à vida adulta, como defende Galland (1995b, 2000), por parte destes indivíduos. Importa verificar se o estado civil e o processo de transição para o trabalho teriam tido consequências ao nível da mobilidade geográfica. Assim, denota-se uma ligeira mutação nos padrões apresentados, mantendo-se a proeminência do distrito de Viseu (64,9%, CA, EM e EMGI), apesar de se verificar uma maior dispersão dos diplomados

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Novamente chamamos a atenção para o nome e iniciais dos cursos em análise como forma de apoio à leitura: Comunicação Social (CS) da Escola Superior de Educação de Viseu e da Escola Superior de Tecnologia de Viseu os cursos de Gestão de Empresas (GE), Gestão Comercial e da Produção (GCP), Turismo (T), Contabilidade e Administração (CA) e as diversas Engenharias: Madeiras (EM), Ambiente (EA), Electrotécnica (EE); Informática e de Sistemas (EI), Civil (EC), Mecânica e da Produção (EMGI).

169 pelo território nacional, principalmente no litoral centro (Aveiro/Coimbra - EI e T) e também nas áreas metropolitanas do Porto (EA) e Lisboa (EI).

Estes resultados permitem-nos afirmar, na linha de Martins, Mauritti e Costa (2005), que a variabilidade dos padrões residenciais dos diplomados pode reflectir uma mobilidade geográfica intrínseca no movimento de acesso ao primeiro emprego regular. Esta mobilidade geográfica é mais evidente na área de CS, que apresenta maior dispersão no tipo de emprego exercido e níveis evidentes de precariedade laboral funcional “(…) local, o que é que há? Podem falar muito em

Marketing, mas não é Marketing, (…) não é vender porta a porta, não é vender numa loja, isso não é Marketing (…)” (EXTRV D) e na área de EI, que, inversamente, apresenta menores

dificuldades de acesso ao emprego e elevados níveis na relação entre formação académica e emprego, como poderemos confirmar ainda no presente capítulo218. Apesar disto, verifica-se que mais de 80% da população se encontra a trabalhar no centro do país, confirmando a fixação regional dos diplomados, o que vem na continuidade da sua origem geográfica e da evidente procura regional da educação de índole superior.

Face à pertinência da origem social na contextualização desta população neste subsistema de ensino superior, como refere Vieira (1995) ou Mauritti (2002), apresentamos os lugares de classe de origem dos licenciados, partindo da tipologia de classes de Costa, Machado e Almeida (2007).

Quadro 6.1 - Lugares de classe de origem dos licenciados (%)

CS GE GCP T EA EI EC EE EM EMGI CA Total EDL - Empresários, Dirigentes e

Profissionais Liberais

10 7,7 20 5,9 25 16,7 16,7 9

PTE - Profissionais Técnicos e de Enquadramento 6,7 7,7 20 5,9 18,2 33,3 33,3 33,3 11 TI - Trabalhadores Independentes 13,3 7,7 20 17,6 18,2 25 16,7 33,3 50 33,3 16 TIPL - Trabalhadores independentes Pluriactivos 36,7 23,1 29,4 36,4 16,7 66,7 33,3 50 33,3 31 AI - Agricultores Independentes 16,7 1 AIPL - Agricultores Independentes Pluriactivos 7,7 1 EE - Empregados Executantes 13,3 15,4 23,5 9,1 16,7 12 O - Operários 3,3 15,4 5,9 9,1 25 6

AEPL - Assalariados Executantes Pluriactivos

16,7 15,4 40 11,8 9,1 25 13

X 31 15 5 19 12 6 8 6 3 2 4 111

Podemos constatar no quadro 6.1 que 31% pertencem à categoria dos TIPL, 16% aos TI, 13% aos AEPL e 12% aos EE comprovando assim a presença das classes sociais de mais baixos recursos económicos, qualificacionais e organizacionais no conjunto dos estudantes do ensino superior politécnico, movimento já identificado nas análises de Cruz; Cruzeiro e Matias (1992),

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Nos diplomados que acederam ao primeiro emprego, verifica-se que em CS a deslocalização surge associada à precariedade laboral, reflectindo dificuldade de acesso a um emprego na área de formação académica na região. No caso dos diplomados de EI, verifica-se uma deslocalização potenciada por oferta de emprego nas áreas de formação académica; contudo, este movimento de concentração nas áreas metropolitanas não é significativo.

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Resende e Vieira (1992), Cabrito (1997), Balsa et al (2001) ou Machado et al (2003), materializando uma diferenciação social no acesso ao ensino superior e confirmando uma lógica reprodutora e de selecção social. Importa agora verificar até que ponto o acesso ao diploma e a transição para o trabalho permitiu movimentos de mobilidade social.

Quadro 6.2 - Mobilidade Social Intergeracional (%)

Lugares de classe do grupo doméstico de

origem

Lugares de classe social do grupo doméstico actual

EDL PTE TI TIPL AIPL EE O AEPL Total

EDL 85,7 5,9 8,3 6,7 9,1 PTE 14,3 58,8 11,1 TI 5,9 100 16,7 16,2 TIPL 17,6 100 6,7 31,3 AI 5,9 1 AIPL 100 1 EE 91,7 6,7 12,1 O 5,9 83,3 6,1 AEPL 80 12,1

A análise dos fluxos de mobilidade social entre os lugares de classe dos agregados domésticos actuais e os dos agregados domésticos de origem dos inquiridos possibilitam reforçar o imobilismo social. Estes resultados permitem desde já equacionar se estes contornos de estaticismo social não constituem um reflexo directo das condições laborais e situação profissional vivida pelos indivíduos. Verificam-se, em pequena escala, inclusive, movimentos sociais descendentes, sobretudo no caso de EDL (EE e AEPL) e PTE (TIPL), embora existam, também, subidas reduzidas (PTE para EDL-curso de EC).

Para a maior parte dos inquiridos, a obtenção do diploma de ensino superior não possibilitou, ainda, um efectivo movimento de ascensão social, particularmente expectável e visível na crença denotada face ao diploma e tendo presente as origens sociais destes indivíduos, o que se aproxima da perspectiva de Grácio (1986) ou Cruz e Cruzeiro (1995). Podemos afirmar que esta situação reflecte uma desvalorização dos diplomas, tal como é referido pelos teóricos da reprodução social - Bourdieu e Passeron (s/d) e Bourdieu (1979).

Se juntarmos a isto a questão de muitos dos diplomados se manterem solteiros e consequentemente, viverem ainda com os seus progenitores, comprova-se o efectivo adiamento de entrada na vida adulta. Além do mais, é curioso observar que nesta situação se encontram sobretudo os jovens que não acederam ao primeiro emprego, bem como todos os que, mesmo tendo acedido ao primeiro emprego, se encontram neste momento desempregados, o que nos permite associar a situação profissional ao estado civil e aos parâmetros residenciais dos mesmos. Consequentemente, tendo presente Teichler (2007), podemos referir que a autonomia residencial ou a falta dela reflecte obviamente a situação profissional dos indivíduos, fundamentalmente no caso dos mais jovens, que se encontram no início da sua vida activa.

171 Face a este contexto sociogeográfico, importa desde já caracterizar o processo formativo sobretudo em termos de rendimento e durabilidade formativa. Quanto à morosidade do processo formativo (cf. Quadro 23 do Anexo III), verifica-se que 36,9% dos inquiridos declaram ter ingressado em 2002 (GE, CS, T), 26,1% em 2001 (EC, EA) e 18,9% em 2000 (EI e EE). São os cursos de T e CS que apresentam trajectórias académicas mais fluidas e reduzidas temporalmente, inserindo-se, genericamente, no período mínimo de conclusão das suas licenciaturas (4 anos). Contrariamente, encontramos os cursos de engenharia219 e CA que exteriorizam trajectórias mais extensas do ponto de vista temporal, subindo para 5 e mesmo 6 anos o período para a conclusão das suas licenciaturas220.

Porém, outra ilação se pode ainda retirar deste movimento - o facto do factor tempo não surgir como aspecto limitador no processo de acesso ao primeiro emprego, já que os que apresentam maior durabilidade formativa evidenciaram processos de acesso ao primeiro emprego mais fluidos, como podemos confirmar seguidamente. Quanto à saída do sistema de ensino, 73,9 % fizeram-no em 2006 e 22,5% em 2007 (EI e GE). Verifica-se que estes últimos não apresentam dificuldades evidentes no seu acesso ao primeiro emprego, como poderemos observar posteriormente, o que nos permite afirmar que o factor tempo parece não ter influenciado negativamente este processo.

Paralelamente a esta análise, a dicotomia entre as áreas de engenharia e as restantes não se circunscreve somente à durabilidade formativa; estende-se, também, às médias finais obtidas. Assim no que respeita ao rendimento escolar, verifica-se que 32,1% dos diplomados (EM, EI, GCP) afirmam ter obtido média final de 13 valores, 28,4% (EA, EMGI e EC) de 12 valores e 18,3% (EMGI e CS) de 14 valores, salientando-se somente CS e T têm médias acima dos 15 valores. É assim evidente a diferenciação entre as áreas de Gestão e CS e T (curiosamente, os cursos com mais elevado desemprego de inserção, como teremos oportunidade de confirmar) e um segundo grupo constituído pela maioria dos cursos de engenharia e o curso de CA.

Isto permite-nos aprofundar tendências anteriores relativamente à durabilidade formativa, ao verificarmos que o nível do rendimento escolar não se revela decisivo no processo de transição para o trabalho. Este facto equaciona a efectiva pertinência da área científica e não do factor tempo ou médias finais como um dos aspectos mais importantes no que ao acesso ao primeiro emprego diz respeito, como já foi possível igualmente observar em Gonçalves, Parente e Veloso (2009), Alves N. (2005) ou Martins, Arroteia e Gonçalves (2002). Face à passividade de posturas de preparação para o trabalho, por parte dos finalistas, apresentados no capítulo anterior, torna-se

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Recordamos que fazem parte deste grupo os seguintes cursos: EC, EMGI, EI, EA, EM e EE.

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“Os cursos cujos alunos calculam ter maior duração efectiva (em média, sete anos) inscrevem-se em

áreas como as ciências, as engenharias e a agricultura. Estas denunciam ritmos mais lentos de concretização, dando conta de percursos de certificação mais demorados do que nas restantes. As diferenças entre os tempos previstos nos planos de estudos e a forma como os estudantes avaliam os tempos efectivos de formação são mais elevadas nas ciências e nas engenharias (em praticamente dois anos).” (Martins, Mauritti eCosta, 2005: 22).

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importante comprovar quais as estratégias privilegiadas, por parte dos diplomados, no acesso ao primeiro emprego regular.

2-ACESSO E EXERCÍCIO DO PRIMEIRO EMPREGO

No documento Diplomas e (Des)Emprego: um estudo de caso (páginas 178-182)