• Nenhum resultado encontrado

1 I SERÇÃO E TRASIÇÃO PROFISSIOAL

No documento Diplomas e (Des)Emprego: um estudo de caso (páginas 120-133)

Nas últimas décadas, no quadro global da reflexão sobre as relações entre a educação e o mundo do trabalho, as investigações científicas, no campo da sociologia e da economia, relativas à problemática do desemprego dos diplomados do ensino superior, complexificam-se em termos de quadros teóricos e empíricos de referência. Esta evolução conceptual comprova, por um lado, uma dificuldade crescente de acesso ao mercado laboral dos diplomados do ensino superior e uma multiplicidade evidente nas formas de acesso à vida activa por parte do fluxo crescente de jovens diplomados, e por outro, uma dificuldade progressiva na relação entre sistema de ensino e mercado de trabalho, que exige uma crescente intervenção estatal face ao desemprego. Consequentemente, surgem estudos159 que analisam a passagem do sistema de ensino para a vida activa, constituindo um dos sinais da crise económica, que abrange, praticamente, todos os países da Europa, materializada no aumento do desemprego dos jovens diplomados e na sua situação precária no mercado de trabalho, marcada pela multiplicação dos fluxos entre inactividade, desemprego, emprego e formação académica.

Este debate sobre a relação entre formação académica e emprego, segundo Rose (1998) e Alves (2008), surge a partir do século XX, debruçando-se inicialmente sobre as questões da juventude. Na década seguinte, face a uma diminuição das oportunidades de emprego e ao aumento do número de graduados que procuram aceder à vida activa, questionam-se os conteúdos

159

De entre eles, são de destacar os trabalhos realizados pelo Centre d’ Etudes et de Recherche sur les Qualifications (CEREQ), os Xational longitudinal studies of youth, nos EUA e os Youth court studies, em Inglaterra.

111 formativos, mais especificamente o facto de as alterações curriculares influenciarem as oportunidades de emprego. Assim, face à progressiva desvalorização do actor, surgem as abordagens institucionais e culturalistas. No século XX, a ênfase é colocada nos factores estruturais, mais especificamente ao nível do melhoramento da diversidade de oportunidades de trabalho, no aumento da diversidade do ensino superior e no modo como os estudantes se preparam para o mundo do trabalho. Finalmente, na última década daquele século, verifica-se o regresso ao actor, analisando-se as questões relativas à identidade e socialização intrínsecas ao exercício laboral.

É neste contexto que surge a expressão inserção profissional, como observamos em Nicole- Drancourt e Roulleau-Berger (2002). Este conceito refere-se a uma entrada directa e estabilizada dos indivíduos sem qualquer experiência de trabalho, caracterizando um período onde se trabalham paralelamente as questões da integração profissional.

Para Vincens (1981), inserção implica um período de procura de emprego por parte de um agente económico que possui informação imperfeita sobre as oportunidades de emprego, que só termina160 quando o emprego ocupado é durável, quando os indivíduos não denotam disponibilidade para o abandonar e não procuram efectivamente emprego (considerando, assim, a durabilidade da sua situação profissional), quando não modificam o seu projecto de vida e as escolhas em matéria de formação não afectam decisivamente a sua carreira profissional. Trottier

et al (1995) acrescentam ainda que esta fase só termina quando o emprego se prevê de longo

prazo ou que se enquadra nos planos estabelecidos, tendo presente a informação assimilada no processo de procura e na percepção da competitividade no mercado de trabalho.

O conceito de inserção profissional é, como observamos, de difícil definição. Pode incluir as fases de integração, estabilização profissional e acesso ao emprego, consoante os objectivos da investigação, permitindo uma abordagem transversal e sincrónica da situação de emprego, após a saída do sistema de ensino, “(…) l’insertion professionnelle des jeunes est une succession

d’étapes, une trajectoire mue par une dynamique individuelle (…)” (Fondeur e Minni, 2004: 86).

As dificuldades de inserção são atribuídas, nesta perspectiva, fundamentalmente aos modos de gestão de mão-de-obra por parte dos empregadores, ao mercado de trabalho e à área, natureza e nível formativo do indivíduo. Desta forma, afirma-se a pertinência das variáveis sociogeográficas (sexo, idade, região) na explicação da inserção profissional, além das variáveis clássicas, taxas de emprego/desemprego, duração do acesso ao emprego, entre outras. Esta situação implica que a análise não se aplique somente à descrição do percurso entre decisão de entrar na vida activa e a obtenção do primeiro emprego, mas também à realização de um projecto profissional e de vida,

160

Vincens (1998) refere ainda que a inserção pode ser analisada do ponto de vista macro económico (quando e como um grupo de jovens chega e se insere no mercado de trabalho) e micro económico (nível individual, processo de integração profissional). Para Dolton et al (1995, in: Giret 2000), esta fase só termina quando a existe qualidade de emprego e correspondência ao nível escolar, isto é, quando os jovens se considerem satisfeitos e estabilizados no mercado de trabalho.

112

traduzida numa situação laboral durável, colocando, assim, novamente, a ênfase no projecto profissional, e valorizando o papel do próprio indivíduo, as suas opções educativas e laborais.

Trottier et al (1995) afirmam que o processo de inserção constitui, invariavelmente, um período de socialização e de construção identitária161, no qual o indivíduo formula o seu projecto de vida, tendo presente que este, por vezes, não se encontra delimitado no início do processo. Esta posição é partilhada por Dubar (1991), que refere que a inserção constitui invariavelmente um processo de socialização profissional, que depende das histórias de vida e das organizações produtivas, criando uma identidade pessoal e profissional através de mecanismos biográficos e relacionais. Isto porque, durante este período, os indivíduos tomam progressivamente consciência do valor das suas capacidades e qualificações, consolidam expectativas profissionais e estruturam futuros reconhecimentos identitários.

As propostas de Dubar (2000, 2001 e 2006) e de Nicole-Drancourt e Roulleau-Berger (1995) vão no sentido de enfatizar a inserção profissional como uma fase da vida de intensa socialização e construção identitária a nível pessoal e profissional162; ou seja, um processo assente numa íntima articulação entre a dimensão biográfica (identidade para si) e a dimensão estrutural (identidade para outros). Tendo presente as diversas formas de aceder à vida activa que reflectem a complexidade da realidade laboral, a abordagem longitudinal apresenta-se, assim, como indispensável à análise da inserção como um processo, face a uma diversidade crescente de percursos profissionais para um mesmo nível de formação académica, exigindo que se questione o efeito da idade, a geração e o efeito de momento163. Para Vernières (1993), a inserção profissional

161

Revel (2001) refere quea identidade profissional representa, juntamente com a família, um dos vectores centrais da vida social. Por sua vez Dubar (1991) acrescenta que a existência de estratégias identitárias exterioriza a visão de futuro, uma interpretação do mundo, uma capacidade de antecipação e uma capacidade de orientação na incerteza e complexidade. A inserção profissional é, assim, um momento privilegiado de construção identitária, até porque a identidade virtual, trazida do sistema de ensino, confrontada com o mercado de trabalho em crise, origina a identidade profissional de base, que por sua vez engloba não só uma identidade face ao trabalho, mas, também, uma projecção do futuro, uma antecipação da trajectória de emprego e formação. Assim, a construção da identidade profissional é o resultado de um processo biográfico e de um processo relacional, de uma transacção objectiva entre identidade atribuída e proposta, requerendo o reconhecimento, por parte dos outros, num quadro relacional. A identidade apresenta-se, assim, como um “(…) resultado simultaneamente estável e provisório, individual e colectivo,

subjectivo e objectivo, biográfico e estrutural dos diversos processos de socialização que, em conjunto, constroem os indivíduos e definem as instituições (…)” (Dubar, 1991: 122).

162

Para Revel (2001), este conceito de inserção é mais descritivo que analítico, permitindo apreender a variedade das situações dos jovens que procuram emprego, em vez de variáveis tradicionais. Para Roulleau- Berger e Nicole-Drancourt (1995, in: Rose, 1998), a inserção é um processo de socialização inacabada e um período de construção identitária, de aquisição de saberes, de adaptação às actividades e de acesso progressivo à autonomia. Varia consoante as empresas e as formações internas que as mesmas podem facultar e que permitem aos indivíduos desenvolver os seus saberes, sobretudo ao nível do saber-fazer e do saber-ser. A problemática da inserção profissional permite uma abordagem transversal e sincrónica da situação de emprego, após a saída do sistema de ensino. Para mais informações consultar Nicole-Drancourt, (1994) ob. cit.

163

Teichler (2005) refere uma tipologia de tipos de inserção: inserção totalmente adquirida (acesso a uma relação de dependência); inserção em emprego instável (contratos ou formas de trabalho independente, largos períodos de simultaneidade); inserção não adquirida (desemprego, mudança constante); inserção em moratória (continuação da formação e instabilidade laboral).

113 representa uma posição estabilizada alcançada por um indivíduo que acede pela primeira vez ao mercado laboral. Acrescenta, contudo (1997), que é paralelamente um processo institucionalizado por uma crescente diversidade de políticas de formação e emprego, assumindo que a inserção representa, efectivamente, um processo socialmente estruturado.

Esta posição aproxima-se, assim, da perspectiva de Rose (1984; 1987) que apresenta um novo conceito para fazer face à nova realidade laboral - o de transição profissional. Esta diversificação conceptual exterioriza uma proliferação das dificuldades e do tempo efectivo de integração no mercado de trabalho, evidenciados pelos jovens após a saída do sistema de ensino. Para Lefresne (2003), o conceito de transição vem substituir a noção de inserção profissional, que surge num período de predomínio dos contratos de duração indeterminada, a tempo inteiro. Uma das críticas apontadas por Rose (1998) é que o conceito de inserção entende o acesso ao emprego como um processo homogéneo e quase instantâneo para os detentores de diplomas de ensino superior, movimento que nas últimas décadas se torna cada vez menos vulgar e alvo de actuações de poderes públicos e empresas. A abordagem económica da inserção profissional dominante afirma que a inserção inicial é um momento neutro e específico da juventude, definida a partir das características dos jovens, em detrimento das condicionantes do sistema produtivo e da dimensão social dos processos.

Consequentemente, a sua utilização revela-se, aqui, desajustada, face à diversidade de formas e agentes incluídos em todo este processo de passagem à vida activa por parte dos mais jovens,

“(…) Corresponde acertadamente a la idea de un tránsito, de un estado intermedio (...) que sufre la influencia de la situación precedente y prefigura la situación futura.” (Rose, 1987: 72).

A proposta alternativa é, assim, a da noção de organização da transição profissional, evidenciando-a como um processo singular, longo, complexo e organizado164, tendo presente que o acesso dos jovens ao emprego aparece como um processo socialmente construído, complexo e diversificado,“(…) youth transition from school to work can be summarized as the passage from

school to a relatively stable position in working life.” (Couppié e Mansuy, 2006: 64).

Esta diversificação conceptual é fruto do alargamento do fenómeno de desemprego e do agravamento da ligação entre educação e emprego, bem como do aumento da oferta e frequência do ensino superior, a inflação dos diplomas, as características mutáveis do mercado de trabalho ao nível dos conteúdos produtivos e de organização do trabalho, o aumento da concorrência no

164

A definição de inserção é problemática, várias questões podem ser colocadas: “Como medir a inserção

profissional? Quais os indicadores a privilegiar? O que entender pelo momento inicial e o momento final do processo de inserção profissional? Em que circunstâncias um indivíduo está inserido profissionalmente? A maior vulnerabilidade dos diplomados ao desemprego, a extensão da sua precariedade laboral, a incerteza e risco enformadores das dinâmicas do mercado de trabalho, que os afectam particularmente na condição de jovens, a constatação de que a educação superior tende cada vez menos a estar directamente direccionada para actividades ocupacionais particulares são factores, entre outros, que torna difícil a elaboração de respostas que se traduzam em indicadores inquestionáveis sobre a inserção.” (Gonçalves, Parente, Veloso, 2001: 37/38).

114

mercado global e a constante evolução tecnológica que estabelece novos desafios aos graduados que têm que ser cada vez mais flexíveis no exercício laboral e preparados para uma vida de aprendizagem. Analisam-se agora questões como a contribuição da educação para o crescimento económico, a desvalorização dos diplomas, a diversidade formativa e as oportunidades de emprego, o risco de precariedade de emprego, o crescimento da importância das qualificações- chave e a globalização dos mercados de trabalho de graduados.

O conceito de transição profissional enquadra-se, em parte, na perspectiva da teoria da regulação, sobretudo na forma como esta interpreta o funcionamento do mercado de trabalho. Rose (1987, 1998) critica a teoria da segmentação pelo facto desta defender a importância central da empresa no mercado de trabalho, afirmando que se deverá ter em consideração igualmente diversos factores/actores (Estado e entidades empregadoras). Assim, a vantagem da utilização do conceito de transição é o de salientar as dimensões institucionais que circunscrevem este processo, elevando-o a nível macro, desviando-se assim da perspectiva da teoria do capital humano ao assumir que este processo é, fundamentalmente, um entrelaçar de períodos de formação profissional, emprego e desemprego. Salienta, simultaneamente, que existe uma dinâmica de socialização onde se constrói a relação entre educação, trabalho/emprego e suporta a inserção dos indivíduos nas relações laborais. Para Lefresne (2003), a transição para o trabalho constitui paralelamente um campo de observação privilegiado de evolução dos comportamentos sociais entre géneros, constituindo-se, como um dos mais importantes vectores de análise socioeconómica na comunidade científica, até porque influi directamente no funcionamento económico e social das sociedades, sobretudo das populações mais jovens, justificando a sua contemporaneidade analítica.

Assim, o conceito de transição, além de envolver os diversos actores sociais, indivíduos, família, instituição formadora, mercado de trabalho e Estado, apresenta-se como um fenómeno pluridimensional165 e multifacetado166, arrastando-se temporalmente, com consequências directas na vida pessoal e social dos indivíduos, sobretudo no que respeita à sua passagem à vida adulta. A sua análise permite a reflexão sobre os mercados de trabalho, a reprodução social, as estratégias de actores e do emprego, o tempo de espera no acesso ao primeiro emprego e as dificuldades de acesso ao mesmo, tendo presente os aspectos conjunturais que circunscrevem a oferta de emprego

165

Para Trottrier et al (1995), o conceito de transição permite fazer face a um conjunto de condições que caracterizam a contemporaneidade da realidade económica e social, sobretudo no que respeita à diversificação das formas de desemprego, à precariedade de emprego e à recomposição do sistema produtivo, face ao extremar da concorrência económica e qualificacional.

166

Estudar as relações entre os jovens e o emprego é interrogar-se sobre um grupo social (juventude), sobre as instituições ou organizações (escola, empresas) e sobre as formas culturais e sociais, no que respeita aos mecanismos de regulação laboral. As interpretações avançadas (especificidade dos jovens, inadaptação da escola, singularidade nacional, papel das políticas públicas, papel das empresas e funcionamento do mercado de trabalho) não são suficientes para perceber as condições de acesso ao emprego dos jovens inexperientes e a evolução do seu volume, repartição e formas de emprego. Resta combinar estas abordagens com a selectividade de desemprego, precariedade, discriminação, heterogeneidade, desclassificação e estigmatização da juventude.

115 (evolução demográfica, inadaptação do sistema de educativo, transformação das mentalidades, etc), bem como o próprio processo de procura de emprego (nível de actividade, custos contactuais, políticas de pessoal, etc).

Com esta perspectiva, Rose (1998) aproxima-se de uma realidade que se apresenta com uma complexidade crescente e que exterioriza novas incompatibilidades entre sistema de formação académica e mercado de trabalho, exteriorizando condições de acesso ao emprego cada vez mais alienadas das efectivas vontades e particularidades dos jovens e da sua formação académica, e progressivamente definidas pelos poderes económicos e políticos. Simultaneamente, a análise das condições de acesso ao emprego pelos jovens permite a reflexão sobre o mercado, a sua segmentação, a reprodução social e as estratégias de actores e do emprego.

As linhas de orientação da organização da transição profissional circunscrevem a sua efectiva organização (estado/empresas/indivíduos), estruturam todo tipo de mercados, implicam uma diversidade de situações de trabalho, dependem da transformação das condições de aquisição de saberes e saberes-fazer e contribuem para a regulação sociopolítica das populações desempregadas ou inactivas. Apresenta-se como um processo cada vez mais longo e complexo, acarretando a assumpção de estatutos instáveis, com percursos e modos de transição diferenciados e fortemente estruturados pelas empresas e poderes públicos, além do inevitável contexto formativo e familiar. Face a isto, encontra-se fortemente ligada aos movimentos económicos e à representatividade e incidência do desemprego, bem como às questões relativas ao mercado de trabalho local e nacional. Desta forma, diversos actores e intervenientes directos entrecruzam-se neste movimento, delimitam informação, oportunidades, acesso, trajectos e hipotéticas carreiras profissionais, ultrapassando as questões económicas e revelando-se, cada vez mais, como um factor de estratificação social e de integração ou exclusão social. Existem, assim, diversas vantagens em articular as questões de volume, repartição e formas de emprego, até porque a organização da transição profissional gera fluxos de mão-de-obra, contribui para a categorização das populações e participa na emergência de formas precárias de emprego.

Segundo Giret (2000), este processo pode dividir-se em três fases de preparação para o mercado de trabalho: a formação, a transição e a integração profissional; no entanto, os projectos dos jovens e a evolução dos mesmos ao longo do processo de entrada na vida activa são fundamentais para perceber este movimento, até porque integram a concepção que os jovens possuem relativamente ao mercado de trabalho. O conceito de transição circunscreve, assim, diversos momentos, desde a saída da formação inicial, passando pelo período de procura de emprego, pelo tempo de inactividade, pela participação em programas de inserção ou mesmo pelo regresso aos estudos. Consequentemente, tem que ser analisada como um período de gestão da relação formação académica/emprego e como um período de produção progressiva de experiência profissional, fundamental para uma efectiva integração profissional, implicando uma inevitável socialização profissional, independentemente das formas e características que encerra.

116

Tendo presente Rose (1998), as linhas de orientação da organização da transição profissional são as seguintes: é organizada pelo estado, empresas e indivíduos, estruturando todo tipo de mercados; implica uma diversidade de papéis; depende da transformação das condições de aquisição de saberes e saberes-fazer e contribui para a regulação sociopolítica das populações desempregadas ou inactivas. Existem, assim, cada vez mais tipos, formas e ritmos de transição profissional diferenciados, confirmados pela diversidade de percursos, pela impossibilidade de tratar a juventude como um grupo social unificado, pelo prolongamento do tempo de estabilização profissional e pela construção de um período de moratória que antecede, cada vez mais intensamente, o acesso ao primeiro emprego regular. Esta nova perspectiva conceptual apresenta- se mais realista e adaptada à realidade social e económica, permitindo a percepção dos contornos de organização social que circunscreve o indivíduo, não só a nível macro (sociedade), mas também micro (classe de origem), o sistema de ensino, o mercado de trabalho, bem como as políticas públicas de apoio ao emprego, além de ter em conta os factores macroeconómicos contextuais (movimentos económicos globais e de desemprego).

Na primeira década do século XXI acentua-se o interesse no relacionamento entre o ensino superior e o mundo do trabalho, sobretudo ao nível das condições que os alunos possuem no ensino superior e de que modo as suas opções afectam as carreiras profissionais. Apesar do ensino superior ainda proteger contra o desemprego, o período do emprego imediato, terminou há muito e a realidade laboral apresenta desafios de crescente complexidade, pelo que a simples obtenção de um diploma já não resolve, per si, o problema da entrada na vida activa. Gangl (2002) refere que a acção individual (antes, durante e após a formação académica) se revela fundamental, quando o que está em causa é uma efectiva transição para o trabalho. As questões ligadas ao percurso educacional dos indivíduos, à já referida experiência profissional e redes sociais, apresentam-se como fundamentais no sucesso deste processo. Os recursos aos quais os jovens têm acesso, bem como as suas trajectórias e posturas individuais, têm que ser tidas, inquestionavelmente, em conta, sob pena da transição se reter em questões puramente institucionais e formais, que nada se aproximam do enquadramento social actual.

Isto implica, para Rose (1998), que o jovem tenha que ser considerado não somente como sujeito mas paralelamente como actor. Para Lefresne (2003) esta posição dicotómica reflecte dois pólos: um individualista, ao considerar os jovens agentes operativos arbitrários dos

No documento Diplomas e (Des)Emprego: um estudo de caso (páginas 120-133)