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3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1. Gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

3.1.8. Aterro sanitário

Aterro sanitário é uma técnica de disposição de resíduos sólidos urbanos no solo sem causar danos à saúde pública e à sua segurança, minimizando os impactos ambientais, método este que utiliza princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos à menor área possível e reduzi-los ao menor volume permissível, cobrindo-se com uma camada de terra na conclusão de cada jornada de trabalho, ou a intervalos menores, se necessário (ABNT, NBR 8419/92).

Qualquer que seja o sistema de gerenciamento integrado de resíduos sólidos que for implantado em um município ou uma região, mesmo que tenha as mais modernas formas de tratamento e de reciclagem dos resíduos, incluindo a incineração, um aterro sanitário deve-rá estar presente. Isto porque há resíduos, os rejeitos, que não podem ser reciclados, ou por falta de tecnologia ou por falta de mercado, e mesmo que estes rejeitos sejam incinerados, as cinzas devem ser dispostas em algum lugar – no aterro sanitário.

Para Gandolla et al. (1995), o aterro sanitário é uma tentativa do homem de confi-nar seus resíduos à uma área controlada, a fim de fixar e concentrar as substâncias perigosas, mas ao mesmo tempo em que é uma criação artificial do homem um aterro sanitário para resí-duos sólidos urbanos é também um sistema vivo, dentro do qual se desenvolvem processos biológicos, similares aos que se encontram em certos ecossistemas particulares, ricos em ma-téria orgânica e pobres em oxigênio, como os sedimentos, pântanos e solos saturados em água. Por isso, o aterro sanitário além de uma técnica de destino final é uma técnica de trata-mento de resíduos sólidos, através do processo de digestão anaeróbia não controlada.

O objetivo principal do aterro sanitário é a disposição de longo prazo de forma se-gura dos resíduos, mas também pode ser utilizado para a recuperação de áreas degradadas por atividades de mineração, além de produzir um subproduto valorável, o gás metano. Gendebien et al. (1991) apud McDougall et al. (2001) estimam que haja 730 bilhões de metros cúbicos de biogás de aterro sendo produzidos anualmente por resíduos sólidos domésticos, e que isto equivale em termos de energia a 345 toneladas de petróleo.

Para que este biogás seja utilizado é necessário projetar os aterros de forma a maximizar a drenagem e o aproveitamento deste biogás. Além disso, a drenagem e o trata-mento deste biogás são necessários por razões de segurança para os trabalhadores e vizinhos do aterro, uma vez que o metano presente de 50 a 60 % no biogás é explosivo entre 5 a 15 % de concentração no ar. A geração teórica de biogás em aterros sanitários das frações facilmen-te e moderadamenfacilmen-te biodegradáveis é apresentada na figura 3.4 a seguir.

Outro efluente de interesse dos aterros sanitários é o lixiviado. Wu et al. (1988) descrevem o lixiviado como o produto derivado da hidrólise dos compostos orgânicos e da umidade do sistema, com características que variam em função do tipo de resíduos sólidos, da idade do aterro, das condições meteorológicas, geológicas e hidrológicas do sítio de disposi-ção. Em geral, o lixiviado possui elevada carga orgânica, fontes de nitrogênio, como a amô-nia, metais pesados e grupos microbianos.

Figura 3.4 – Representação gráfica da geração de biogás das frações fácil e moderadamente

biodegradáveis colocadas em um aterro sanitário ao longo do período de cinco anos

(Fonte: Adaptado de Tchobanoglous, 1993)

A concentração dos lixiviados de aterro também é função da idade do aterro e se modifica com o tempo, ocorrendo uma diminuição substancial da carga orgânica (DBO e DQO); uma diminuição menos acentuada no nitrogênio e os metais permanecem com sua concentração quase inalterada (ver Tabela 3.7).

Os lixiviados efluentes dos aterros sanitários devem ser submetidos a processos de tratamento de modo que atinjam os padrões de emissão para lançamento em corpos d’água receptores. Estes padrões são estabelecidos a nível nacional pela Resolução CONAMA 357/2005 e no Rio Grande do Sul pela Resolução CONSEMA 128/2006.

Entre os vários fatores que influenciam o volume de lixiviado gerado destaca-mos os seguintes:

 clima local (regime de precipitações pluviométricas, temperatura, velocidade e direção dos ventos, umidade relativa do ar);

 tipo de cobertura dos resíduos (material, espessura, periodicidade);  umidade dos resíduos no momento do aterramento;

 grau de compactação dos resíduos;

 capacidade dos resíduos em reter umidade;

 infiltrações subterrâneas (no caso de não haver impermeabilização inferior).

Total

Gás gerado da fração rapidamente biode-gradável de material depositado no ano 5

Ano

Gás gerado da fração lentamente biode-gradável de material depositado no ano 5

Gás gera

do (m

Tabela 3.7 – Variação da concentração dos parâmetros de lixiviados com a idade

do aterro sanitário

Parâmetro a

Idade do aterro (anos)

< 5 5 a 10 10 a 20 >2 0 BBO 10.000 – 25.000 1.000 – 4.000 50 – 1.000 < 50 DQO 15.000 – 40.000 10.000 – 20.000 1.000 – 5.000 < 1.000 Nitrogênio Kjeldahl 1.000 – 3.000 400 – 600 75 – 300 < 50 Nitrogênio amoniacal 500 – 1.500 300 – 500 50 – 200 < 30 Sólidos totais 10.000 – 25.000 5.000 – 10.000 2.000 – 5.000 < 1.000 pH 3,0 – 6,0 6,0 – 7,0 7.0 – 7,5 > 7,5 Cálcio 2.000 – 4.000 500 – 2.000 300 – 500 < 300 Sódio e potássio 2.000 – 4.000 500 – 1.500 100 – 500 < 100 Ferro e Manganês 500 – 1.500 500 – 1.000 100 – 500 < 100 Zinco 100 – 200 50 – 100 10 – 50 < 10 Cloreto 1.000 – 3.000 500 – 2.000 100 – 500 < 100 Sulfato 500 – 2.000 200 – 1.000 50 – 200 < 50 Fósforo 100 – 300 10 – 100 < 10 < 10 a

Todas unidades em mg/L, exceto pH (adimensional) Fonte: El-Fadel et al. (2002)

A utilização dos aterros sanitários como forma de destino final dos RSU varia ao redor do mundo. No Reino Unido esta é a principal forma de destino/tratamento de resíduos, cerca de 70 % dos resíduos são dispostos em aterros, pois este país tem uma forte indústria de extração mineral e as cavas acabam sendo remediadas com a construção de aterros sanitários nestes locais. Já na Holanda, que tem grande parte de seu território ao nível do mar, ou abai-xo, com alto nível do lençol freático no solo, há dificuldades para implantar aterros sanitários (somente 34 % dos resíduos tem esta forma de destino), levando à implantação de outras for-mas de destino. Além disso, há a diretiva europeia – já referida anteriormente – que limita o envio de biodegradáveis para aterro, e a ordenança alemã (T.A. Siedlungsabfall, 1993 apud McDougall et al., 2001) que limita ao máximo de 3 % de carbono orgânico total (TOC) nos resíduos destinados a aterros naquele país.

No Brasil, os dados da PNSB apresentada em 2010, com informações referentes a 2008, embora não existam informações sobre o atendimento a todas as condicionantes técni-cas e ambientais destes aterros, mostram que houve uma melhora do quadro, sendo que 58,3 % dos resíduos são dispostos em aterro sanitários, contra 35,4 % apontados pela PNSB (IB-GE, 2002) em 2000. Isto mostra que em nosso país se faz necessário investir ainda na cons-trução de mais e de bons aterros sanitários, aliado a iniciativas que vão no sentido de minimi-zar o envio de resíduos para estes aterros.