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3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1. Gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

3.1.3. Geração e composição gravimétrica

Coleta seletiva kg/hab.ano Reciclagem kg/hab.ano Custo da coleta R$/t Despesa com RSU R$/hab.ano até 30.000 hab 0,83 0,61 65,8 13,2 9,2 47,34 35,78 de 30.001 até 100.000 hab 0,74 0,56 54,8 18,3 8,4 61,45 44,96 de 100.001 até 250.00 hab 0,92 0,71 71,7 9,1 4,2 45,33 39,32 de 250.001 até 1.000.000 hab 0,82 0,66 84,3 7,8 2,9 60,78 50,40 de 1.000.001 até 3.000.000 hab 0,95 0,69 100,0 4,1 3,8 68,75 72,96 mais de 3.000.000 hab 1,07 0,79 100,0 1,7 1,2 64,91 76,92

Média dos municípios 0,93 0,71 72,3 4,6 2,8 61,32 62,28

Fonte: Tabela montada a partir de Brasil – SNIS (2008)

Notas: RSU = geração per capita de resíduos domiciliares + resíduos públicos; RSD = geração per capita de resíduos sólidos domiciliares; A coluna “Coleta seletiva (%)” representa a porcentagem dos municípios que dizem ter serviços de coleta seletiva, sem análise de co-bertura ou eficiência do serviço; Valores monetários base ano 2006. Valores constantes na tabela são referentes às médias dos muni-cípios que responderam o questionário do SNIS em resíduos sólidos.

Embora as despesas com o manejo dos resíduos sólidos representem, em média 6 % das despesas correntes dos municípios brasileiros – variando de 3,7 % a 6,1 % nas cidades de maior porte, segundo Brasil (2008) – as receitas arrecadadas se mostram insuficientes para manter as atividades de gerenciamento dos resíduos sólidos, sendo, como regra, que as recei-tas arrecadas cobrem somente 50 % dos gastos realizados pelos municípios nesta área. Este fato é preocupante e merece especial atenção no momento de definição de modelos de siste-mas integrados de gerenciamento de resíduos sólidos urbanos.

Alguns destes indicadores levantados pelo SNIS serão apresentados nos próximos subcapítulos, onde também serão discutidos os principais elementos ou etapas que constituem um sistema integrado de gerenciamento de resíduos sólidos urbanos e a sua importância para o processo de apoio a tomada de decisão baseado na avaliação do ciclo de vida.

3.1.3. Geração e composição gravimétrica

A falta de um sistema de coleta de dados compreensivos e padronizados sobre quantidades e composição de resíduos sólidos é um dos fatores limitantes para o desenvolvi-mento de sistemas efetivos de gerenciadesenvolvi-mento de resíduos sólidos tanto no Brasil como em países desenvolvidos.

Em 2008 foi disponibilizada a pesquisa realizada pelo SNIS de indicadores em re-síduos urbanos referente ao ano de 2006 que amostrou 247 municípios que representam 48,8 % da população brasileira e 53 % dos resíduos municipais gerados no país (Brasil, 2008).

A massa média de resíduos urbanos (considerando os resíduos domiciliares e os resíduos públicos) coletados no Brasil é de 0,92 kg/hab.d; e é de 0,71 kg/hab.d se forem con-siderados apenas os resíduos domiciliares. Conforme pode ser visto na Tabela 3.1, de maneira geral, as cidades de maior população apresentam maiores gerações per capitas de resíduos.

A importância do nível econômico e dos modelos de produção e de consumo das sociedades fica evidente quando se verificam as gerações per capitas de resíduos em países desenvolvidos como Alemanha (1,0 kg/hab.d), França (1,5 kg/hab.d), Dinamarca (1,7 kg/hab.d), Holanda (1,9 kg/hab.d), Canadá (2,0 kg/hab.d), Estados Unidos (2,3 kg/hab.d) e Hong Kong (5,9 kg/hab.d) (McDougall et al., 2001). Também nos indicadores destes países há variações dos tipos de resíduos considerados para as estatísticas do que é de fato classifica-do como RSU.

A heterogeneidade encontrada entre os resíduos sólidos urbanos é imensa. As ca-racterísticas qualiquantitativas dos resíduos variam em função das caca-racterísticas da cidade e de acordo com as mudanças climáticas e sazonais. Variam também com as alterações que ocorrem na população que os produz, ou seja, os resíduos diferem de composição em razão dos hábitos e padrões de vida da comunidade. Mudanças na política econômica de um país, e no nível de renda da sua população, também são causas para uma variação na massa de resí-duos de determinada comunidade.

A determinação da composição gravimétrica dos resíduos sólidos é outro dado es-sencial. No caso dos resíduos de origem domiciliar e comercial, normalmente dispostos em aterros sanitários, os componentes comumente discriminados na composição gravimétrica são: matéria orgânica putrescível, metais ferrosos, metais não-ferrosos, papel, papelão, plásti-cos rígidos, plástiplásti-cos filme, vidro, trapos, borracha, couro, madeira e rejeito, entre outros. Na literatura são apresentados diferentes métodos para realizar o estudo de composição gravimé-trica dos resíduos urbanos, a maior parte baseada no quarteamento da amostra, como em D’Almeida e Vilhena (2000), Pessin et al. (2002), Cintra et al. (2003) e Costa et al. (2003).

Os dados de composição também não podem ser diretamente comparados, ou po-dem ser comparados com ressalvas, uma vez que aqui também não fica claro quais os resí-duos que foram caracterizados, se somente os residenciais, ou se há resíresí-duos comerciais e industrias misturados. De qualquer maneira, é possível verificar que países industrializados apresentam mais frações de matéria orgânica putrescível e de papel/papelão (ver Tabela 3.2).

Paí-ses em desenvolvimento, como a Índia e mesmo o Brasil, têm geralmente frações maiores de resíduos orgânicos putrescíveis do que os países do hemisfério norte onde o consumo de pro-dutos pré-processados é alto, com a porcentagem de papel/papelão apresentado tendência con-trária.

Tabela 3.2 – Variação geográfica da composição gravimétrica dos RSU –

por países

Material Composição em massa úmida (%) – Países

Reino Unido Espanha Hungria Índia Brasil

Papel / papelão 37 21 19 6 13 Plásticos 10 11 4 4 16 Vidros 9 7 3 2 3 Metais 7 4 4 2 2 MO putrescível 19 44 32 42 57 Outros 18 13 38 44 9

Fonte: Para Reino Unido, Espanha, Hungria e Índia (Adaptado de McDougall, 2001) e para Brasil (Adapta-do de ABRELPE, 2006)

Dados de composição gravimétrica de RSU são geralmente apresentados na litera-tura com base no porcentual de massa úmida. O teor de umidade representa a quantidade de água presente no resíduo, medida em porcentagem de sua massa. A umidade dos RSU varia de 40 a 60 %, podendo chegar a 70 % quando considerados somente os resíduos orgânicos putrescíveis, e tem influência direta sobre a velocidade da decomposição em processos bioló-gicos, como a compostagem, também sobre a massa específica aparente dos resíduos, sobre a geração de lixiviados em aterros sanitários; e sobre o poder calorífico em processos térmicos.

Nas cidades brasileiras, conforme é mostrado na tabela 3.3, a fração orgânica pu-trescível fica, na média, abaixo dos 50 %, sendo que os materiais recicláveis que mais apare-cem são os plásticos e papel/papelão, nesta ordem; com pequena porcentagem de vidros e metais. Deve-se salientar que nas cidades listadas na tabela abaixo existem sistemas de coleta seletiva, com maior ou menor cobertura e eficiência, mas que retiram materiais recicláveis do fluxo dos resíduos que vão aos aterros, onde normalmente são feitas as caracterizações gravi-métricas. Os dados desta tabela referem-se, portanto, à composição dos resíduos que chegam ao aterro, e não necessariamente, à composição dos resíduos efetivamente gerados nas resi-dências, uma vez que os resíduos seletivos não estão aí incluídos.

A quantidade e composição dos resíduos sólidos gerados em uma região podem ser afetadas por qualquer tentativa de promover a redução na fonte. Uma forma de redução na fonte é a compostagem caseira. Na Europa, e mesmo no Brasil, uma variedade de compostei-ras caseicompostei-ras está disponível para a compostagem de resíduos de alimentos e de jardinagem (McDougall et al., 2001; Ellwanger et al., 2002), sendo que algumas municipalidades fazem

esforços para que os moradores adotem tais sistemas, reduzindo assim tanto o volume coleta-do quanto o tratacoleta-do ou destinacoleta-do. Estucoleta-dos realizacoleta-dos na Europa demonstraram que 13 % coleta-dos resíduos podem ser reduzidos na fonte através da compostagem caseira (McDougall et al., 2001).

Tabela 3.3 – Variação geográfica da composição gravimétrica dos RSU – por cidades

brasileiras

Material Composição em massa úmida (%) – Cidades Brasileiras

Belo Horizonte Campina Grande Caxias do Sul Curitiba Porto Alegre

Papel / papelão 18 11 8 18 10 Plásticos 16 24 10 19 13 Vidros 3 2 3 3 3 Metais 3 5 2 3 4 MO putrescível 43 43 56 38 44 Outros 17 15 21 19 26

Fonte adaptada: Para Belo Horizonte - MG (Costa et al., 2003), Campina Grande - PB (Pereira e Melo, 2008), Caxias do Sul - RS (Schneider et al., 2004), Curitiba - PR (Consórcio Intermunicipal, 2008), Porto Alegre - RS (Reichert, 2004)

Comparando algumas das caracterizações, em termos de composição gravimétrica dos RSU de Porto Alegre ao longo dos últimos 30 anos, verifica-se um decréscimo porcentual da fração orgânica – tanto da fração orgânica facilmente biodegradável quanto do papel. Uma das possíveis explicações para tal fato é o aumento do consumo de produtos pré-industrializados (neste caso os resíduos orgânicos são gerados na indústria e não nos domicí-lios); e outra é o aumento de embalagens e envases de plásticos e metal, em substituição ao papel. Esta variação na composição pode ser melhor visualizada na Figura 3.2 na sequência, onde se vê que os orgânicos significavam cerca de 91 % da massa total de RSU domiciliares em 1973; e que em 2002, este porcentual baixou para 53 %.

Figura 3.2 – Evolução da composição gravimétrica no tempo, no município de Porto Alegre

(Fonte: Reichert, 2004) 0% 20% 40% 60% 80% 100% 1973 1994 1997 2002 (% ) Ano MO Putrescível Todos os outros Papel/papelão