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3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1. Gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

3.1.2. Gerenciamento integrado

Segundo White et al. (1995), gerenciamento integrado de resíduos sólidos é uma forma diferenciada de manejo de resíduos que combina diferentes métodos de coleta e trata-mento para lidar com todos os materiais no fluxo de geração e descarte de resíduos, de manei-ra ambientalmente efetiva, economicamente viável e socialmente aceitável. Ainda segundo os mesmos autores, um sistema integrado inclui a segregação na origem e a coleta de todos os tipos de resíduos e de todas as fontes, seguido por uma ou mais das seguintes opções: recupe-ração ou valorização secundária de materiais (reciclagem), tratamento biológico da matéria orgânica, tratamento térmico e aterro sanitário.

No Brasil poucas experiências têm sido postas em prática adotando estes concei-tos, menos ainda tem sido publicado. Na primeira metade da década de 90 foram desenvolvi-dos sistemas integradesenvolvi-dos em Porto Alegre – RS (Reichert et al., 1993; Reichert, 1999) e Belo Horizonte – MG (Campos e Abreu, 1995).

Na Figura 3.1 é apresentada uma representação esquemática dos conceitos do ge-renciamento integrado. No sistema apresentado estão contemplados resíduos das diferentes fontes ou origens, a separação na origem, o manejo e o armazenamento e a coleta diferencia-da; passando pelo processamento e o tratamento, como a triagem e a reciclagem de resíduos seletivos secos e a compostagem dos resíduos orgânicos. Aparece ainda a necessidade da dis-posição final em aterro sanitário.

Embora as experiências brasileiras no desenvolvimento de sistemas integrados se-jam ainda incipientes, inúmeros projetos têm surgido, principalmente, na implantação de

pro-gramas de coleta seletiva, reaproveitamento de materiais e compostagem, além da implanta-ção gradativa dos aterros sanitários como forma de disposiimplanta-ção final. O problema está nestas iniciativas, que embora devam ser aplaudidas e incentivas, carecerem de uma articulação ou integração de modo a obter melhor desempenho econômico e ambiental.

Figura 3.1 – Conceito de gerenciamento integrado de resíduos sólidos urbanos

(Fonte: Tchobanoglous et al., 1993)

A simples hierarquização do manejo de gerenciamento de resíduos sólidos urba-nos proposta pela Agência de Proteção Ambiental Estadunidense (EPA, 1989) não é capaz de ser útil na tomada de decisão da escolha dos sistemas mais adequados e sustentáveis. Esta hierarquia para o manejo de resíduos sólidos estabelece a prioridade da redução na geração, seguido pelo reaproveitamento e a reciclagem (os 3 R`s) passando pelo tratamento (como a incineração) e dispondo no solo somente os rejeitos.

Não está claro ainda, entretanto, como um sistema municipal de gerenciamento de resíduos sólidos pode ser desenvolvido de modo que seja economicamente viável, ambiental-mente efetivo e socialambiental-mente aceitável. Esforços consideráveis têm sido feitos na análise e pesquisa dos aspectos práticos dos sistemas municipais de manejo de resíduos (como coleta, transporte, tratamento e disposição) e sobre a percepção das pessoas sobre separação na

ori-Geração

Manejo

Disposição

final

Coleta

Transbordo e

transporte Processamento

gem, reciclagem, incineração e aterro sanitário, mas os administradores e gerentes de sistemas de manejo de resíduos muitas vezes não têm a perspectiva de análise do sistema em longo prazo. Wilson et al. (2001) avaliaram os sistemas de manejo de resíduos de 11 diferentes pro-gramas-líder de gerenciamento municipal na Comunidade Européia, em 9 diferentes países. Foram explorados e analisados os aspectos econômico, social, político, ambiental, legal e téc-nico de cada programa específico.

Faz-se necessário uma mudança de paradigma, deixando de identificar os admi-nistradores públicos como simples gestores de resíduos, e passando-os a gestores de recursos, seja este o composto, materiais para geração de energia ou calor, recuperação de materiais para (re)produção de bens de consumo, entre outros, sendo o resíduo sólido final apenas mais um material a ser gerenciado.

O Brasil ainda carece de uma base de dados suficientemente ampla e confiável na área de gerenciamento de resíduos sólidos urbanos. O IBGE tem informações sobre os siste-mas de saneamento no país desde o início da década de 1990. Os resultados têm sido publica-dos nas Pesquisas Nacionais de Saneamento Básico – PNSB (foram feitas cinco pesquisas: 1974, 1977, 1989, 2000 e 2008). O Ministério das Cidades, através do Programa de Moderni-zação do Setor de Saneamento – PMSS – vem levantando e divulgando indicadores nacionais em saneamento através do SNIS – Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento.

Em função do grande número de variáveis envolvidas, e das diferentes questões intrínsecas a cada município, não há um modo “correto” para manejar os resíduos ou para criar um sistema integrado de gerenciamento (Wilson et al., 2001). Metodologias de apoio à decisão servem, entretanto, de suporte para que cada municipalidade busque o desenvolvi-mento de seu próprio modelo, baseado nas características e peculiaridades locais.

O SNIS é um sistema que reúne informações e indicadores sobre a prestação dos serviços de água e esgotos provenientes de uma amostra de prestadores que operam no Brasil. O Diagnóstico do Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos é um produto extraído do SNIS, ela-borado anualmente desde 2002, que incorpora os dados enviados pelos municípios que aten-deram à solicitação para participar do trabalho.

A questão do desempenho financeiro dos sistemas de gerenciamento de resíduos continua sendo um problema a ser resolvido, sendo que os dados SNIS de 2006 mostram que 40,1 % dos municípios não fazem qualquer cobrança pelos serviços de limpeza urbana (Bra-sil, 2008). Nos municípios que cobram pelos serviços o valor médio verificado é de R$

31,00/hab.ano. Já despesa média anual per capita nos municípios é de R$ 62,28/hab.ano, com variações de acordo com o tamanho da população (ver Tabela 3.1).

Tabela 3.1 – Alguns indicadores de resíduos sólidos urbanos de municípios brasileiros

Faixa populacional kg/hab.d RSU kg/hab.d RSD

Coleta seletiva (%) Coleta seletiva kg/hab.ano Reciclagem kg/hab.ano Custo da coleta R$/t Despesa com RSU R$/hab.ano até 30.000 hab 0,83 0,61 65,8 13,2 9,2 47,34 35,78 de 30.001 até 100.000 hab 0,74 0,56 54,8 18,3 8,4 61,45 44,96 de 100.001 até 250.00 hab 0,92 0,71 71,7 9,1 4,2 45,33 39,32 de 250.001 até 1.000.000 hab 0,82 0,66 84,3 7,8 2,9 60,78 50,40 de 1.000.001 até 3.000.000 hab 0,95 0,69 100,0 4,1 3,8 68,75 72,96 mais de 3.000.000 hab 1,07 0,79 100,0 1,7 1,2 64,91 76,92

Média dos municípios 0,93 0,71 72,3 4,6 2,8 61,32 62,28

Fonte: Tabela montada a partir de Brasil – SNIS (2008)

Notas: RSU = geração per capita de resíduos domiciliares + resíduos públicos; RSD = geração per capita de resíduos sólidos domiciliares; A coluna “Coleta seletiva (%)” representa a porcentagem dos municípios que dizem ter serviços de coleta seletiva, sem análise de co-bertura ou eficiência do serviço; Valores monetários base ano 2006. Valores constantes na tabela são referentes às médias dos muni-cípios que responderam o questionário do SNIS em resíduos sólidos.

Embora as despesas com o manejo dos resíduos sólidos representem, em média 6 % das despesas correntes dos municípios brasileiros – variando de 3,7 % a 6,1 % nas cidades de maior porte, segundo Brasil (2008) – as receitas arrecadadas se mostram insuficientes para manter as atividades de gerenciamento dos resíduos sólidos, sendo, como regra, que as recei-tas arrecadas cobrem somente 50 % dos gastos realizados pelos municípios nesta área. Este fato é preocupante e merece especial atenção no momento de definição de modelos de siste-mas integrados de gerenciamento de resíduos sólidos urbanos.

Alguns destes indicadores levantados pelo SNIS serão apresentados nos próximos subcapítulos, onde também serão discutidos os principais elementos ou etapas que constituem um sistema integrado de gerenciamento de resíduos sólidos urbanos e a sua importância para o processo de apoio a tomada de decisão baseado na avaliação do ciclo de vida.