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3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.2. O processo de apoio à tomada de decisão

3.2.5. Construção de cenários

A construção de cenários é uma ferramenta para ordenar percepções sobre ambi-entes futuros alternativos nos quais as consequências de sua decisão vão acontecer, ou, ainda, um salto imaginativo no futuro. Para Kato (2007), um cenário é uma visão internamente con-sistente daquilo que o futuro poderia vir a ser, sendo de primordial importância o seu uso co-mo um instrumento para o planejamento estratégico, facilitando o conhecimento das implica-ções das incertezas sobre o desempenho futuro de cada organização e também no setor a que pertence, sobretudo no que envolve a cadeia de valor. O autor lista os principais benefícios da construção de cenários:

– facilitar o processo de entendimento do ambiente e suas influências; – propiciar maior consistência interna no processo decisório;

– conhecer as inter-relações entre fatores externos e internos à empresa; – dar ênfase aos aspectos de interações entre os concorrentes;

– receber elementos para a formulação das estratégias empresariais.

Os estudos de cenários recorrem a um conjunto de técnicas e processos de siste-matização e organização das informações e hipóteses. No caso específico de construção e seleção de cenários de sistemas de gerenciamento de resíduos urbanos, devem ser considera-das as diferentes opções de coleta, reciclagem e tratamento para cada um dos materiais consti-tuintes do fluxo de resíduos (como resíduos recicláveis, resíduos orgânicos e rejeitos).

Salhofer et al. (2007) salientam que na construção dos cenários a situação inicial ou atual deve ser analisada para a identificação de elementos chaves que fazem parte do sis-tema. Os outros cenários a serem avaliados deverão ser construídos considerando as diferentes opções de geração, coleta, reciclagem e tratamento. Na Figura 3.5 apresenta-se uma sequência de passos que devem ser tomadas em um processo de tomada de decisão em resíduos sólidos, ressaltando a etapa de construção dos cenários.

Figura 3.5 – Etapas principais de estudo de suporte à decisão

(Fonte: Adaptado de Salhofer et al. (2007))

Exemplos de cenários de gerenciamento de resíduos urbanos são apresentados por Bovea e Powell (2006) para a Comunidade de Valência, Espanha, e podem ser vistos nas figu-ras 2.6, 2.7 e 2.8. O primeiro cenário chamado de “Cenário atual” reproduz a estratégia de manejo de resíduos existente. O sistema de coleta consiste em uma coleta seletiva em pontos de entrega voluntária – PEV – apenas de vidro e papel e papelão que são enviados diretamen-te para centros de reprocessamento. Os resíduos comuns, ou os resíduos restandiretamen-tes, são coleta-dos em contêineres colocacoleta-dos na via pública e enviacoleta-dos para unidades de triagem onde os resíduos são separados em seus diferentes materiais. Os rejeitos da triagem são enviados a um aterro sanitário. Os resíduos recicláveis são enviados para o centro de reprocessamento e os resíduos putrescíveis são enviados para a planta de compostagem. Neste cenário, 10,5 % dos resíduos são reaproveitados e 13,4 % são compostados, em massa do total gerado (ver Figura 3.6).

No “Cenário recuperação de putrescíveis” os resíduos urbanos são separados em três frações: putrescíveis, rejeitos e recicláveis. Os dois primeiros resíduos são depositados em dois diferentes contêineres colocados em via pública em distâncias não superiores a 50 m. Os putrescíveis são transportados diretamente à unidade de compostagem, ao passo que os rejei-tos são enviados ao aterro sanitário. Os resíduos seletivos separados na fonte (papel e papelão, vidro e embalagens leves) são coletados em contêineres em PEVs, sendo o papel, papelão e vidro enviados para os centros de reprocessamento em quanto as embalagens leves são envia-das às unidades de triagem onde são separados em suas distintas frações (plástico, metal fer-roso, papel e papelão, metal não ferroso e rejeitos). Os quatro primeiros materiais separados são enviados a unidades de reprocessamento e os rejeitos ao aterro sanitário (ver Figura 3.7).

Etapa 1 – Objetivos, regras de funcionamento

Etapa 2 – Definição dos critérios e da construção dos cenários

Etapa 3 – Construção dos cenários

Etapa 4 – Seleção dos critérios

Etapa 5 – Análise dos cenários

Figura 3.6 – Cenário “atual” – Valência (Espanha)

(Fonte: Bovea e Powell, 2006)

Figura 3.7 – Cenário “recuperação de putrescíveis” – Valência (Espanha)

(Fonte: Bovea e Powell, 2006)

O terceiro cenário dá ênfase à qualidade dos materiais recuperáveis (ver Figura 3.8), tanto os orgânicos putrescíveis como os recicláveis. Os resíduos domiciliares são separa-dos em quatro frações: putrescíveis, rejeitos, não fermentáveis e recicláveis. As três primeiras frações são coletadas em três diferentes contêineres junto à via pública. Os resíduos não fer-mentáveis são enviados à unidade de triagem onde são separados os metais não ferrosos,

pa-Resíduos Urbanos (100 %) Papel e papelão (4,0 %) Vidro (3,0 %) (7,0 %) Coleta convencional (93,0 %) Resíduos comuns(93,0 %) Metal ferroso (1,3 %) Papel e papelão (1,4 %) Vidro (0,4 %) Plástico (0,4 %) Rejeitos (55,0 %) Composto + água (34,5 %) Reprocessamento (10,5 %) (55,0 %) (13,4 %) Composto Aterro Sanitário Unidade de Triagem Coleta seletiva / PEV

Resíduos Urbanos (100 %) Putrescíveis (47,0 %) Papel e papelão (10,0 %) Vidro (7,0 %) (24,0 %)

Coleta contein. segr.

(76,0 %) Rejeitos (29,0 %) Embalagens leves (7,0 %) Metal ferroso (1,7 %) Papel e papelão (0,7 %) Metais ñ-ferrosos (0,2 %) Plástico (3,7 %) Rejeitos (0,7 %) Rejeitos (8,0 %) Composto + água (39,0 %) Reprocessamento Unidade de Compostagem (23,3 %) (37,7 %) (19,0 %) Composto Aterro Sanitário Unidade de Triagem Coleta seletiva / PEV

pel e papelão, vidro e plásticos que vão às unidades de reprocessamento. Os rejeitos separados na triagem, junto com o rejeito da compostagem e os rejeito já coletados separadamente são enviados ao aterro sanitário. Os resíduos seletivos (papel e papelão e vidro) coletados separa-damente nos PEVs são enviados diretamente às unidades de reprocessamento.

Figura 3.8 – Cenário “recuperação de todos os materiais” – Valência (Espanha)

(Fonte: Bovea e Powell, 2006)

Nos dois últimos cenários apresentados (Figuras 3.7 e 3.8) é possível uma varia-ção das alternativas, quando consideramos as possibilidades de aterro sanitário sem e com aproveitamento energético do biogás gerado.

A definição de cenários com os respectivos balanços de massa como mostrado acima são importantes para permitir a análise dos sistemas de manejo de resíduos através de modelos, como será apresentado na sequência.

3.3. Modelos aplicados ao gerenciamento sustentável de resíduos sólidos