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3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1. Gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

3.1.4. Coleta e transporte

A coleta dos resíduos urbanos está no centro de um sistema integrado de gerenci-amento de resíduos urbanos. A maneira como os resíduos são coletados e segregados deter-mina quais as opções de tratamento podem ser utilizadas na sequência, e, de modo particular se métodos como reciclagem de materiais, tratamento biológico ou tratamento térmico são econômica e ambientalmente viáveis. A separação na origem e a forma de coleta podem defi-nir se um determinado resíduo terá ou não mercado para a reciclagem. Papel contaminado com resíduo oleoso, por exemplo, não terá mais mercado; assim como matéria orgânica con-taminada com metais pesados ou com restos de medicamentos, também não se prestará mais à compostagem, pois resultará em um produto (o composto) contaminado.

A etapa de coleta é também o ponto de contato entre os geradores de resíduos (neste caso as residências e os estabelecimentos comerciais) e os gerentes do sistema de ge-renciamento (a municipalidade), e conforme afirmam McDougall et al. (2001) esta relação deve ser cuidadosamente conduzida para assegurar a eficiência do sistema. O gerador necessi-ta que seu resíduo sólido seja colenecessi-tado com um mínimo de inconveniência, enquanto que o coletor necessita receber o resíduo de forma compatível com o método de tratamento planeja-do. Do ponto de vista do gerador, a coleta dos resíduos misturados em uma única coleta pro-vavelmente seja o método mais conveniente, tanto nas necessidades de tempo e de espaço. Este método limitará, entretanto, as opções subsequentes de tratamento. Há claramente um ponto de equilíbrio a ser atingido entre estas duas necessidades conflitantes, um sistema de gerenciamento de resíduos que não atinja este equilíbrio nesta relação possivelmente não terá sucesso.

Na tabela 3.4 é apresentada uma forma de estimar a quantidade de material que pode ser efetivamente esperada como recuperável pela coleta seletiva de resíduos, apontando os fatores que intervêm no processo, como o nível de conveniência e o nível de motivação da população.

Zaneti (2006) em uma pesquisa feita sobre o sistema de gerenciamento de resí-duos sólidos de Porto Alegre, em especial sobre a coleta seletiva, verificou que 71,9 % das pessoas afirmaram que faziam “sempre” a segregação em casa para fins de coleta seletiva. Quando somadas as repostas também dos que responderam “geralmente faço” ou “raramente faço”, este índice subiu para 88,2 %. Entre os motivos apontados na pesquisa em relação aos motivos de não adesão à coleta seletiva, as respostas que mais apareceram foram “porque não tem espaço para guardar” e “porque o caminhão coletor passa para recolher apenas uma vez

por semana”.

Tabela 3.4 – Influências sobre a separação na origem e recuperação de materiais Total de material recuperado = Total de material no fluxo de resíduo x Índice de participação x Eficiência

da segregação Total de material no fluxo de resíduo: ver item 2.1.3.

Índice de participação: % de residências que disponibilizam resíduos segregados regularmente Eficiência da segregação: % de material corretamente segregado e separado

Tanto o índice de participação como a eficiência de segregação serão influenciados por: Nível de conveniência: Total de tipos de materiais a serem segregados

Dificuldade de segregação

Frequência e confiabilidade da coleta Espaço extra de armazenamento requerido Distância ao ponto de coleta

Problemas de higiene

Nível de motivação: Qualidade e frequência das comunicações (publicidade) Nível de consciência ambiental

Pressão/influência de familiares e amigos Requerimentos legais

Disponibilidade de alternativas de disposição

Redução de custos/incentivos para gerar menos resíduos

Fonte: McDougall et al. (2001)

Os números apresentados acima corroboram com as informações da Tabela 3.4, no sentido de que a conveniência é um fator fundamental para a participação do gerador na separação na origem mesmo quando esta separação é compulsória, como é o caso de Porto Alegre onde a separação na origem para fins de coleta seletiva está prevista em lei municipal (Lei Complementar no 234/1990). O estudo de Zaneti (2006) aponta ainda que os dois princi-pais motivos que levam as pessoas a aderir à coleta seletiva são as campanhas publicitárias / imprensa e o trabalho de educação ambiental realizado pelo órgão gestor dos resíduos no mu-nicípio – o DMLU –, respectivamente com 44,3 % e 26,3 % dos respondentes; mostrando a importância da mobilização e motivação constantes para atingir o sucesso na separação e re-cuperação de resíduos urbanos.

Os métodos de coleta são normalmente divididos em “entrega voluntária” e “por-ta-a-porta (junto ao meio-fio)”. Os sistemas de entrega voluntária são aqueles onde o gerador deve levar os seus resíduos para um ou mais pontos de coleta pré-estabelecidos. No Brasil estes pontos são geralmente denominados de pontos de entrega voluntária – PEVs –, sendo mais utilizados para a coleta dos resíduos recicláveis. Sistemas chamados de porta-a-porta ou de coleta junto ao meio-fio são aqueles onde o gerador disponibiliza os resíduos à coleta em pequenos contêineres ou apenas embalado de sacos plásticos em frente a residência, literal-mente junto ao meio-fio da rua. Na verdade estes dois sistemas são apenas as duas

extremida-des de uma variedade de métodos de coleta (ver figura 3.3), sendo que o que muda é a distân-cia que o gerador deve transportar seus resíduos até o ponto de coleta.

No Brasil, os números atuais apontam uma boa cobertura de coleta de resíduos urbanos nas cidades pesquisas pelo SNIS, que é superior a 90 % (Brasil, 2008). A frequência de coleta média é de duas a três vezes por semana.

Figura 3.3 – O espectro de métodos de coleta de “PEVs” a “coleta no meio-fio ou

porta-a-porta” (Comprimento das setas indica as distâncias a percorrer pelos cidadãos até os pontos de coleta.)

(Fonte: Adaptado de McDougall et al., 2001)

Quanto à coleta seletiva e à triagem de materiais recicláveis, 55,9 % dos municí-pios presentes na amostra do SNIS informaram a existência de coleta seletiva de resíduos só-lidos sob a forma predominante de coleta no sistema porta-a-porta. Não há, entretanto, infor-mação sofre a amplitude, ou seja, a cobertura destes sistemas de coleta seletiva nem sobre a eficiência ou sobre o grau de participação da população na efetiva separação dos resíduos na origem. Além dos sistemas oficiais de coleta seletiva, há ainda a coleta informal realizada por catadores em 83,0 % dos municípios; sendo que em 47,4 % dos municípios ainda foi relatada a existência de catadores nas áreas de destinação final. Em 53,0 % dos municípios em que atuam catadores existem organizações de agregação, como cooperativas e associações (Brasil, 2008).

No estudo apresentado, a incidência dos diversos materiais recuperados pelos sis-temas de coleta seletiva é a seguinte: 44,3 % de papel e papelão; 27,6 % de plásticos; 15,3 %

Área do Sistema

Contêiner Centralizado        Coleta Conteinerizada Junto à rua Coleta junto ao Meio-fio (Porta-a-porta) Contêineres Alta densidade (Perto às residên-cias)

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Contêineres Baixa densidade ALTO BAIXO BAIXO ALTO MEIO-FIO ENTREGA VOLUNTÁRIA

Transporte pelo cidadão

de metais; 9,8 % de vidros; e 2,9 % de outros materiais (Brasil, 2008).

Um aspecto que deve ser considerado nos sistemas de coleta nas cidades brasilei-ras é a coleta informal. Coleta informal é aquela realizada por catadores autônomos. A coleta informal mais presente na realidade brasileira é coleta dos materiais seletivos realizada por carinheiros e carroceiros, que acabem vendendo os materiais coletados para intermediários. No entanto, a coleta informal também está presente nos resíduos domiciliares comuns. Em ambos os casos os catadores passam antes do caminhão coletor oficial da municipalidade, levando os resíduos que mais os interessam. Reconhecidamente um problema de ordem soci-al, uma vez que é fonte de geração de renda para quem está excluído do mercado de trabalho oficial, este tipo de coleta gera também problemas ambientais, uma vez que em muitos casos a triagem dos resíduos é feito na via pública, ou em locais não apropriados e sem a necessária destinação dos rejeitos.

Na cidade de São Carlos, SP, a participação da coleta informal realizada pelos ca-tadores no município correspondia à cerca de 30 % dos resíduos seletivos coletados em 1999 (Mancini, 1999). Em Porto Alegre, embora não haja números oficiais, a estimativa é de que a coleta informal recolha de duas a três vezes a massa coletada pelo DMLU, que é de cerca de 60 t/d.

Por motivos de economia no serviço de coleta, quando há grandes distâncias até os pontos de destino (aterro sanitário ou outra unidade de tratamento), passa a ser indicada implantação de estações de transferência ou de transbordo. Segundo D’Almeida e Vilhena (2000) é recomendado uso de estações de transferência a partir das seguintes distâncias a se-rem vencidas pelo coletor até o destino: mais de 6 km para pequenos coletores e caminhões convencionais tipo carroceria ou caçamba, e a partir dos 25 km para caminhões compactado-res.

As estações de transferência ou de transbordo são instalações intermediárias onde os resíduos dos veículos coletores são transferidos geralmente para equipamentos de transpor-te maiores tais como carretas (capacidade de 40 a 60 m3) que conduzem os resíduos para o local de destino final (D’Almeida e Vilhena, 2000). Embora não utilizados no Brasil, o trans-porte fluvial por barcaças e o transtrans-porte ferroviário também são opções para transferir os resí-duos sólidos.