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1. INTRODUÇÃO

1.2. Relevância e justificativa do trabalho

A tomada de decisão na adoção de soluções de gerenciamento de resíduos sólidos no âmbito dos decisores municipais – e atualmente regionais (consórcios), com a implantação cada vez em maior número dos consórcios de municípios, consórcios esses incentivados pela Lei Federal 11.107/2005 – Lei dos Consórcios Públicos – (Brasil, 2005) e pela Lei Federal 12.305/2010 – Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) (Brasil, 2010) – é realizada, de maneira geral, empiricamente e sem critérios técnicos bem definidos.

Este fato deve-se de um lado ao despreparo técnico e gerencial destes administra-dores, mas também, fundamentalmente, à falta de uma metodologia aplicada que possibilite o auxílio à tomada de decisão no complexo campo de definições e escolhas de cenários de ge-renciamento integrado de resíduos sólidos urbanos.

alterna-tivas e técnicas utilizadas para manejar, transportar, processar, tratar e dispor os resíduos, tem-se potencial de geração de impactos ambientais resultantes das emissões gasosas, líquidas e resíduos finais das diversas etapas do sistema de manejo.

No que diz respeito às emissões gasosas, o gerenciamento dos resíduos sólidos municipais tem uma importante participação na emissão dos gases que causam o aquecimento global (Estados Unidos, 2002). O aterro Bordo Poniente da Cidade do México, por exemplo, que recebe 12 mil toneladas de resíduos sólidos por dia é responsável por 15 % das emissões de gases causadores do efeito estufa naquela cidade (Cevallos, 2008). Ações que levam à re-dução da geração na origem, ao aumento da reciclagem e da compostagem, e ao aproveita-mento energético dos gases dos aterros sanitários reduzem as emissões destes gases.

Outra grande fonte de emissão de gases poluentes no sistema de gerenciamento de resíduos está na etapa de coleta e de transporte, onde roteiros de coleta mal dimensionados e as distâncias cada vez maiores das unidades de tratamento, em especial as de disposição final (os aterros sanitários), são responsáveis pela emissão de níveis consideráveis de poluentes atmosféricos e de gás carbônico. Processos de tratamento como a incineração, a composta-gem, a digestão anaeróbia e o próprio processo de reciclagem dos materiais também geram gases poluentes.

O correto gerenciamento dos resíduos sólidos está diretamente ligado à manuten-ção da qualidade das águas superficiais e subterrâneas. Eficácia nos serviços de coleta e lim-peza urbana evita que os resíduos cheguem às redes de drenagem. Em uma avaliação realiza-da por Cotrim (2007) os resíduos que chegam à rede de drenagem, especialmente em bacias hidrográficas urbanas com população de baixa renda, varia entre 3,4 a 5 % de todos os resí-duos urbanos gerados na bacia.

Nos aterros sanitários ocorre a emissão dos lixiviados, que são os líquidos oriun-dos da decomposição oriun-dos resíduos orgânicos e das águas pluviais infiltradas pelo aterro. Os lixiviados têm altas cargas orgânicas (mesmo aterros mais velhos apresentam DQO – deman-da química de oxigênio – acima de 10.000 mg/L) e altas concentrações de amônia (de 2.000 a 3.000 mg/L). Além disso, estes lixiviados são de difícil tratabilidade. Mesmo os resíduos ditos seletivos (papel, plástico, vidro e metais) têm emissões líquidas que podem afetar negativa-mente os recursos hídricos quando são submetidos aos processos de reciclagem.

Quanto aos aterros sanitários, principal método de disposição final de resíduos só-lidos utilizado no Brasil, estes têm restrições cada vez maiores à sua implantação. As

comuni-dades das áreas vizinhas a estes empreendimentos, via de regra, não querem sua implantação. Além disso, aumentam também as restrições e os controles ambientais, o que por sua vez acarreta maiores custos de implantação e de operação. Devido a esta dificuldade de localiza-ção de áreas para novos aterros, estes se localizam em áreas cada vez distantes dos centros urbanos, implicando em grandes distâncias de transporte, com maiores custos associados e maior emissão de gases pelos veículos transportadores.

Por estas razões, a meta de um sistema de gerenciamento de resíduos deve ser en-viar cada vez menos resíduos aos aterros, aumentando sua vida útil e diminuindo seu poten-cial de causar impactos ambientais negativos.

A limpeza urbana e o gerenciamento dos resíduos sólidos municipais correspon-dem a uma fatia que varia de 5 a 15 % dos orçamentos públicos dos municípios – quanto me-nor a população do município, maior a participação do setor no bolo orçamentário (CEPIS, 2005). Na Cidade de Porto Alegre, por exemplo, a despesa com o gerenciamento dos resíduos sólidos gerados por cerca de 1,4 milhão de pessoas em 2010 foi de aproximadamente R$ 200 milhões, o equivale a 5,6 % do orçamento anual total de Prefeitura Municipal (DMLU, 2011). Considerando que estes serviços consomem grande quantia de recursos é premente a constru-ção de sistemas e soluções economicamente sustentáveis ao longo do tempo.

O planejamento sistemático do setor de resíduos sólidos por parte do poder públi-co (planos municipais, intermunicipais, microrregionais, estaduais e nacional) torna-se ainda mais relevante com a aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos em agosto de 2010 (Lei Federal 12.305/2010). Esta nova legislação instituiu a obrigatoriedade da elaboração dos Planos Municipais de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos por parte do município bem como os Planos Estaduais e Nacional de Resíduos Sólidos. Estabelece ainda a prioriza-ção da reduprioriza-ção na origem, da reciclagem e do tratamento dos resíduos (com a obrigatoriedade dos municípios estabelecerem metas de reciclagem e de redução de envio para aterro sanitá-rio), destinando para aterros sanitários somente aqueles resíduos que não podem ser reapro-veitados, os chamados rejeitos, bem como comprovação da viabilidade técnica e ambiental de tecnologias de recuperação enérgica de resíduos.

Um movimento que já vinha acontecendo no Brasil, e que foi reforçado com a aprovação da PNRS, é a entrada de empresas estrangeiras tentando vender as mais diferentes tecnologias de tratamento de resíduos. Atualmente os decisores, na sua maioria técnicos e administradores municipais, não possuem os elementos necessários para decidir qual a melhor

solução para o seu município. Isso reforça a necessidade do desenvolvimento e utilização de técnicas estruturas de apoio à tomada de decisão na definição de sistemas de gerenciamento de resíduos urbanos.

Fica explícita, pelo estabelecido na política de resíduos sólidos, a importância do estabelecimento de metodologias, aplicáveis à realidade brasileira, que atendam aos princípios e objetivos desta política, em especial a visão sistêmica da gestão dos resíduos, a sustentabili-dade, e ao direito da sociedade à informação e ao controle social.

Por fim, é de fundamental importância a participação social na definição do siste-ma de gerenciamento a ser adotado em determinado município, pois conforme afirsiste-mam Joos et al. (1999), um sistema ou programa de gerenciamento de resíduos que ignora os aspectos sociais está fadado ao fracasso. Daí a relevância do estabelecimento de um procedimento me-todológico que incorpore os atores sociais no processo de tomada de decisão.

Desta forma, o sistema a ser adotado deverá atender ao tripé da sustentabilidade: ambiental, econômico e social.

2. HIPÓTESE E OBJETIVOS DA PESQUISA