• Nenhum resultado encontrado

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.2. O processo de apoio à tomada de decisão

3.2.3. Tomada de decisão em sistemas ambientais

Simon (1960) apud Hoffmann (2008) divide o processo de tomada de decisão em três estágios: inteligência, concepção e escolha. O primeiro estágio, de inteligência, consiste em identificar, definir e categorizar o problema. No estágio de concepção são geradas alterna-tivas para solucionar o problema. Finalmente no estágio de escolha, utiliza-se de métodos de seleção de alternativas para apontar uma ou mais soluções a adotar.

Para Moberg (2006) as decisões ambientais são escolhas que indivíduos, grupos, organizações, e sociedades fazem a respeito do ambiente ou que afetam o ambiente. Para o autor, o processo de tomada de decisão ambiental não difere dos processos gerais de tomada de decisão.

Entender o contexto social onde está inserido o processo de tomada de decisão é necessário para que se esteja apto a escolher as ferramentas corretas. Os contextos social e cultural devem ser considerados na escolha das ferramentas de suporte à decisão e, além dis-so, os critérios a serem considerados no processo de decisão devem ser estabelecidos com participação de todos os atores sociais (Tukker, 2000; Moberg, 2006).

Umas das partes mais importantes do apoio à decisão é a etapa da atribuição de pesos. Ferramentas analíticas de análise de sistemas ambientais podem promover informações sobre diferentes alternativas, mas estas informações não resultarão necessariamente em uma solução única e ótima. Por exemplo, diferentes alternativas podem ser preferenciais depen-dendo de qual aspecto ambiental que está sendo considerado: acidificação, uso do solo, mu-danças no clima, etc. Para a tomada de decisão os diferentes aspectos ambientais devem ter seus pesos atribuídos. Para Moberg (2006), esta atribuição de pesos pode ser feita com mais ou menos consistência pelos decisores ou através do uso de algum tipo de método de atribui-ção de pesos. Esta atribuiatribui-ção de pesos não deve somente ser feita na dimensão ambiental, mas também nas dimensões econômica e social. Finnveden (1997) e Bengtsson (2001) apresentam uma ampla discussão sobre métodos de atribuição de pesos em sistema ambientais.

Moberg (2006) apresenta resumidamente as ferramentas de análise de sistemas ambientais mais frequentemente utilizadas:

ACV (Avaliação do Ciclo de Vida): é uma ferramenta analítica para avaliação de impactos potenciais de produtos ou serviços usando a perspectiva do ciclo de vida, incluindo impactos da aquisição da matéria-prima, produção, uso e gerenciamento dos resíduos assim como do transporte.

LCC (Life Cycle Costing – Avaliação de Custos ao Longo do Ciclo de Vida): po-de ser utilizado para análise do custo po-de produtos e serviços usando a perspectiva do ciclo po-de vida. Custos sociais e ambientais também podem ser incluídos.

Entrada de Material por Unidade de Serviço: é similar ao ACV, mas somente in-clui entradas de materiais através do ciclo de vida do produto ou serviço.

Análise de Fluxo de Materiais: lida com entrada bruta de material em termos físi-cos no sistema.

Análise de Risco: é um termo amplo que inclui tanto a análise de risco de substân-cias químicas quanto de acidentes. Análise de risco de químicos inclui análise de exposição e análise de efeitos, enquanto que análise de risco de acidentes inclui a análise de probabilidade e possíveis consequências.

Avaliação Ambiental Estratégica: é uma ferramenta de procedimento que lida com aspectos ambientais (e sustentabilidade) na tomada de decisão estratégica (políticas, pro-gramas e planos).

AIA (Avaliação de Impacto Ambiental): é uma ferramenta de procedimento re-querido por lei em algumas situações, como é caso no Brasil pelo estabelecido na Resolução CONAMA 001/1986 (CONAMA, 1986). Esta ferramenta descreve os impactos ambientais de um determinado projeto e suas alternativas (por exemplo, a localização e construção de um aterro sanitário).

O julgamento de especialistas é a espinha dorsal da maioria das avaliações de im-pactos, por isso a qualidade dos sistemas de tomada de decisão em sistemas ambientais estra-tégicos depende, em grande extensão, da credibilidade dos especialistas ou decisores e da qua-lidade de seus julgamentos (Kontic, 2000).

Noble (2004) analisa as principais características que dão consistência ao julga-mento em um painel de especialistas em análise ambiental estratégica, a saber: o tamanho do painel de especialistas, sua composição, a expertise, e o consenso.

Com respeito ao tamanho do painel de especialistas não há um número exato de decisores que devam participar do processo previamente definido como mínimo ou ótimo. Na literatura pode-se ver a utilização de um número de 10 a 120 especialistas convidados a parti-cipar. O tamanho do painel de avaliação dos impactos, entre outras coisas, depende dos obje-tivos da avaliação e do tempo e dos recursos disponíveis, sendo, portanto, específico para ca-da contexto e para caca-da caso (Tabela 3.10).

Tabela 3.10 – Critérios de seleção para determinar o tamanho e a composição do

painel de especialistas

Critérios de Seleção

Representação dos que serão afetados pelas decisões dos sistemas ambientais – grupos de interesse afetados

– setores afetados, departamentos governamentais, e indústrias Representação daqueles que afetam as decisões dos sistemas ambientais

– administradores públicos

– planejadores e responsáveis em estabelecer políticas – cientistas e pesquisadores

Representação geográfica apropriada

Inclusão das expertises e experiências necessárias Ser exequível, com tempo e recursos suficientes

Grande o suficiente para facilitar as necessárias análises estatísticas Credibilidade do tamanho e dos membros do painel

Fonte: Noble (2004)

Considerando a composição do painel, o autor sugere que três tipos de painelistas devem ser considerados, incluindo especialistas, decisores, e facilitadores. A composição rela-tiva de cada um depende dos objetivos do estudo e da natureza (complexidade e tecnicidade)

do sistema em questão, e esta deverá ser adaptada a cada situação individual em análise. Para Noble (2004), situações onde está claro quem deve agir, mas não está claro como, ou seja, qual a direção estratégica a ser adotada, é onde o painel de especialistas é muitas vezes a esco-lha preferida. Esta parece ser exatamente a situação que se coloca na definição de sistemas sustentáveis de gerenciamento de resíduos urbanos.

Quanto à expertise necessária aos painelistas, Noble (2004) apresenta uma orien-tação com base em práticas recentes (Tabela 3.11).

Tabela 3.11 – Critérios de seleção para expertise dos painelistas Critérios de Seleção

Experiência em duas ou mais das áreas específicas consideradas na análise

Liderança atual ou anterior no gerenciamento de uma ou mais áreas consideradas no estudo Experiência em pelo menos um dos componentes do sistema avaliado

Representação de setor, interesse ou área geográfica afetada em particular

Sete a dez anos de educação e experiência profissional em análise ambiental e/ou em uma das áreas-chave (disciplinas) envolvidas

Experiência em análises ou processos de tomada de decisão similares Alto nível de produtividade profissional, verificada através de:

– publicações

– participação em simpósios e encontros profissionais – experiência em gerenciamento de projetos

– participação atual ou anterior em estudos similares

Baseado em auto interesse de participar ou envolvido no processo Fonte: Noble (2004)

Embora o consenso seja um objetivo comum nos grupos de tomada de decisão em recursos naturais e em meio ambiente, o consenso nunca deve ser o objetivo primordial de um grupo de interação de opiniões quando está em análise o julgamento de análise ambiental es-tratégica. Noble (2004) aponta que o consenso não necessariamente aumenta a qualidade das soluções ambientais obtidas, e que ele não é uma condição necessária nem suficiente para a tomada de decisões com qualidade e consistência. Vale lembrar que o que é realmente espera-do espera-do processo de tomada de decisão, por parte espera-dos tomaespera-dores de decisão (decisores) não é uma solução final e acabada, mas, mais do que isso, que o painel tenha avaliado sistematica-mente e apresente todas as opções de modo que o decisor tenha as informações necessárias para a tomada de decisão final.