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3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.5. Sustentabilidade social

3.5.1. Participação social na definição dos sistemas de gerenciamento

Conforme apresentado no item 3.3.4 desta revisão bibliográfica, a questão da sus-tentabilidade social e a aceitação pela comunidade do modelo de gerenciamento de resíduos sólidos municipais que está sendo proposto são determinantes para o sucesso ou o fracasso do modelo.

Hung et al. (2007) dividem a sustentabilidade social dos modelos de gerenciamen-to integrado de resíduos sólidos municipais em duas categorias: uma que incorpora fagerenciamen-tores sociais nos métodos de tomada de decisão e outra que inclui a participação popular no proces-so de tomada de decisão. Na maioria das metodologias pesquisadas a população tem pouca participação nos processos de tomada de decisão, participando tão somente das discussões. Para os autores um modelo sustentável de tomada de decisão deve não somente acomodar simultaneamente fatores econômicos, ambientais e sociais, mas deve também incorporar ne-cessariamente a participação popular no processo de tomada decisão. Com isso procura-se atingir um equilíbrio entre decisões científicas e os valores dos decisores ou atores participan-tes do processo de decisão.

Para Joos et al. (1999) os especialistas em resíduos sólidos que devem ser convi-dados a participar do processo são autoridades públicas e agentes do governo, grupos de ação local, legisladores, operadores de unidades de tratamento e disposição de resíduos, planejado-res, empresas de reciclagem, fornecedores de tecnologia, ONGs ambientais e de consumido-res, representantes do setor industrial e cientistas e pesquisadores especialistas em resíduos sólidos.

Joseph (2006) aponta os atores sociais envolvidos e seus papéis para a proteção ambiental (Tabela 3.14). Segundo o autor, a população (os munícipes) forma a maior catego-ria de decisores no gerenciamento de resíduos e têm uma relação multifacetada com as ativi-dades de manejo de resíduos: como geradores de resíduos, como clientes dos serviços de ge-renciamento de resíduos; como recebedores de informação e como participantes na mobiliza-ção para o gerenciamento dos resíduos e a limpeza urbana.

A qualidade da análise ambiental através de julgamentos feitos por um grupo de especialistas depende, fundamentalmente, da credibilidade dos especialistas e da qualidade dos seus julgamentos (Kontic, 2000 apud Noble, 2004). Um dos maiores desafios da utiliza-ção de painéis de especialistas na definiutiliza-ção ambiental está na definiutiliza-ção do tamanho, composi-ção e especialidades do painel. Para Noble (2004) o tamanho do painel depende, entre outros, dos objetivos da avaliação de impacto e dos recursos e tempo disponíveis, e é, portanto, espe-cífico para cada caso. Em uma ampla pesquisa na literatura o autor acima citado refere que na prática o número de painelistas varia de 10 até mais de 100, sendo que o mais usual é a parti-cipação de 40 a 50 pessoas. No que diz respeito à composição, Scheele (1975) apud Noble (2004) sugere que três tipos de participantes devem ser considerados, incluindo especialistas, decisores (tomadores de decisão) e facilitadores.

Tabela 3.14 – Atores chave e seus papéis para a proteção ambiental

Ator Papel / Interesse

Agentes ambientais Estabelecer regulamentos e padrões ambientais, monitoramento e fiscalização Agências de planejamento Integrar o meio ambiente no planejamento do desenvolvimento

Políticos Visão política com visão de longo prazo na alocação de recursos

Agências setoriais Coordenação cruzada e incorporação de aspectos ambientais nos projetos População Participação na tomada de decisão, implementação e monitoramento ONGs Mobilização da participação da comunidade e expressar os interesses locais Setor privado Pesquisa e implementação de ações apropriadas

Mídia Consciência ambiental e foco nas reais necessidades locais em vez de sensacio-nalismo

Comunidade científica Foco nas necessidades da população mais vulnerável e diálogo com uma audi-ência mais ampla, incluindo planejadores, gerentes e definidores de políticas Instituições financeiras Suporte ao desenvolvimento ambiental

Fonte: Joseph (2006)

Há certo ceticismo na utilização de metodologias como a análise multicritério ou a ACV, uma vez que seriam baseadas nas preferências de certos analistas ou decisores, sem considerar a opinião da população como um todo. Segundo De Marchi et al. (2000), este ceti-cismo vem do fato de estas metodologias serem consideradas “tecnocráticas”, onde o analista constrói o problema baseado na opinião de especialistas que conhecem as tecnicidades do

problema. Para evitar esta armadilha os autores sugerem o uso simultâneo de diferentes meto-dologias da pesquisa social, formando uma triangulação de métodos: (1) A análise institucio-nal, baseada principalmente em documentos históricos, legislativos e administrativos, resulta um mapa dos decisores formais, (2) A informação e interpretação resultantes desta perspecti-va interna, devem ser complementadas com entrevistas com alguns atores locais chave, (3) A realização de uma pesquisa com uma amostra randômica da população residente.

Aplicação de questionários na definição de sistemas de gerenciamento de resíduos sólidos, proporcionando a participação da comunidade e a sustentabilidade social foi feita por Joos et al. (1999) na definição de modelos de gerenciamento de resíduos sólidos para regiões da Suíça e por Schneider et al. (1998) para o julgamento de indicadores por especialistas no planejamento de resíduos sólidos com participação social na Alemanha.

Powell et al. (1995) sugerem a utilização de painel de julgamento por especialistas para a fase alocação de pesos em um estudo de avaliação do ciclo de vida (na fase de avalia-ção do impacto ambiental).

Joos et al. (1999) apontam os principais problemas da participação social na defi-nição dos modelos de gerenciamento de resíduos: a falta de conhecimento especializado por parte da população, a redução do sistema de votação a um simples “sim” ou “não”, de que qualquer modelo de gerenciamento resulta em uma quantidade de resíduos com quais se deve lidar, o efeito NIMBY (do inglês, não no meu quintal) e o fato inevitável que as gerações fu-turas não estão presentes para ajudar a determinar coisas que as afetarão.

Choguill (1996) e Joseph (2006) apontam a necessidade de se levar em conta a existência de um setor informal de coletores e recicladores de resíduos sólidos nas cidades. Fato este que tem se agravado muito nos últimos anos nas cidades brasileiras (Abreu, 2002; D’Almeida e Vilhena, 2000; Gonçalves, 2003; Magera, 2003; Romani, 2004; IPES, 2006).

As leis e políticas governamentais devem ser apropriadamente adequadas de mo-do a assegurar a participação mo-dos diferentes atores sociais na definição mo-dos serviços de geren-ciamento de resíduos sólidos (Joseph, 2006). No Brasil, a participação popular na definição das políticas públicas está legalmente definida pela Lei Federal no 10.257/2001, chamada de Estatuto das Cidades (Brasil, 2001).

3.5.2. Indicadores de impacto social

O gerenciamento de resíduos sólidos está associado à mágica de fazê-los desapa-recer, o que pode ser feito transformando-os em algo útil, como produtos reciclados e energia. Embora esteja claro que os especialistas em gerenciamento de resíduos sólidos são os infor-mados das vantagens e desvantagens econômicas e ambientais das diferentes opções, eles devem ter em mente que decisões sobre a realização de um projeto não deveriam ser tomadas apenas em critérios técnicos e que as decisões devem ser suportadas por aqueles aos quais potencialmente afetam, a sociedade.

Segundo Den Boer et al. (2005), a inclusão dos aspectos sociais do gerenciamento de resíduos sólidos no processo de tomada de decisão, embora não seja em si um conceito novo, tem sido limitada, como a pesquisa sobre de que forma medir as preocupações sociais está apenas começando.

Os autores colocam ainda que os seguintes aspectos devem ser considerados na sustentabilidade social do gerenciamento de resíduos:

 direitos e obrigações dos cidadãos;

 direitos e obrigações dos trabalhadores/empregados;  responsabilidades dos fornecedores de serviços;

 responsabilidades do governo ou autoridade pública competente;  proteção social e ambiental;

 envolvimento da comunidade.

Todos os critérios e indicadores devem ser classificados sob três diferentes pers-pectivas de sustentabilidade social:

 aceitabilidade social (SGIRS precisa ser aceito);

 equidade social (distribuição equitativa dos benefícios e malefícios do SGIRS entre os cidadãos);

 função social (benefício social do SGIRS).

Na tabela 3.15 apresenta-se uma lista de critérios e indicadores sociais para medir a sustentabilidade social classificados em três diferentes estágios do sistema de gerenciamen-to: armazenamento temporário, coleta e transporte e tratamento dos resíduos.

Tabela 3.15 – Lista de critérios e indicadores sociais Aceitabilidade social

Armazenamen-to temporário

Coleta e

Transporte Tratamento

Odor Sim Não Sim

Impacto visual Sim Não Sim

Conveniência Sim Não Não

Espaço urbano Sim Não Sim

Espaço privado Sim Não Não

Impacto sonoro Sim Sim Sim

Complexidade Sim Não Não

Tráfego Não Sim Sim

Percepção de risco Não Não Sim

Equidade social

Alocação e distribuição Sim Não Não

Qualidade dos empregos Não Sim Sim

Função social

Destinação (reciclagem/disposição) Não Não Sim

Criação de empregos diretos Não Sim Sim

Fonte: Den Boer et al. (2005)