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Atores do conhecimento emergentes

No documento BID APolíticadasPolíticasPúblicas (páginas 134-136)

Escritórios de assessoramento legislativo. Alguns países desenvolveram competência

técnica na legislatura. Conforme se observou no Capítulo 3, um Congresso com boa compe- tência técnica no processo de formulação de políticas é um importante fator na configura- ção dos traços fundamentais das políticas públicas.

No Brasil, as assessorias parlamentares das duas casas do Congresso têm cerca de 500 membros profissionais do quadro ao todo. Essas unidades foram reconhecidas como um fa- tor-chave para assegurar que os acordos e transações políticas que resultam das negociações do Congresso não sejam alcançados às custas da qualidade técnica das leis. Ademais, há evi- dências de que, com o apoio prestado por essas assessorias, o debate político ficou mais rigo- roso, o diálogo entre os poderes Executivo e Legislativo tornou-se mais complexo e exigente, e a cobertura jornalística dos debates passou a concentrar-se mais nos aspectos técnicos das

leis.28

Institutos vinculados a partidos políticos. Os partidos políticos são responsáveis pela

formulação de programas de políticas alinhados aos princípios que defendem e aos interes- ses de seu eleitorado. À medida que os partidos formam suas competências técnicas, podem aprimorar a base para construir uma plataforma programática mais sólida e coesa.

A despeito do processo de democratização na região e do progressivo aumento na res- ponsabilização das autoridades públicas, poucos partidos acumularam amplamente essas competências. Isso foi um empecilho ao surgimento de um sistema partidário com capa- cidade de oferecer aos eleitores algo mais do que incentivos particularistas ou promessas ir- reais de melhoria dos resultados das políticas.

A exceção é o Chile, onde os partidos de oposição e o governo têm centros de estudos políticos para subsidiar seus processo de formulação de políticas. A função desses centros foi testada na crise de corrupção de 2003, pois os especialistas que conceberam as reformas eram oriundos, majoritariamente, dos institutos partidários.

Organismos internacionais. Diversos organismos internacionais financeiros e não-

financeiros operam na América Latina e no Caribe, prestando assistência técnica. Atuam como importantes mediadores do conhecimento, transferindo para a região a experiência que acumularam em outros países. Os organismos não-financeiros, como as agências das

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Alston et al. (2005a).

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Nações Unidas — em particular o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) — fornecem as- sistência e competência técnica para a análise, o diagnóstico e o diálogo de políticas de uma perspectiva nacional ou regional. Os organismos financeiros — o Fundo Monetário Interna- cional (FMI), o Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Cor- poração Andina de Fomento (CAF), entre outros — contribuem para a estabilização e o desenvolvimento dos países mediante o financiamento de projetos e programas. Esse finan- ciamento vem cada vez mais acompanhado de assistência técnica, não apenas na fase pre- paratória das atividades, mas também no diagnóstico das necessidades e na identificação de políticas alternativas.

Isso faz dos organismos financeiros, principalmente nos países que mais dependem de seu financiamento, importantes atores do processo de formulação de políticas. Primeira- mente, eles apóiam a estabilidade macroeconômica, fornecendo incentivos para políticas coerentes com requisitos básicos de racionalidade econômica. Segundo, por meio de seu trabalho na preparação de estratégias e projetos, eles transferem para os países da região a experiência que adquiriram na formulação de políticas públicas.

Centros de análise e pesquisa (centros de estudos). Os centros de pesquisa ligados à

formulação de políticas, também conhecidos como centros de estudos, desempenham pa- pel de suma importância em alguns países da região. Existem várias dessas organizações, apesar de diferirem consideravelmente de país para país. Argentina, Brasil, Chile e Colôm- bia têm muitos centros de estudos, ao passo que em outros países eles são menos desenvol- vidos. Entre os exemplos mais significativos na área de elaboração de políticas econômicas estão: FIEL e Fundación Mediterránea (Argentina), Tendências (Brasil), Cieplan (Chile), Fe- desarrollo (Colômbia), Fusades (El Salvador), CIEN e Asies (Guatemala), e Ceres e Cinve (Uruguai). Em alguns casos, como o do Grupo Apoyo, no Peru, tais institutos são mais uma firma de consultoria do que um centro de estudos, embora a distinção nem sempre seja cla- ra. Em outros casos, como o do INCAE, na Costa Rica, eles assemelham-se mais às universi- dades, porém com maior ênfase na formulação de políticas públicas.

Esses centros são caracterizados por capacidades financeiras e técnicas de peso, muito embora possam não ser tão avançados como seus homólogos em países como Estados Uni- dos e Alemanha, onde os doadores (fundações, por exemplo) fazem generosas contribuições para seu financiamento, permitindo maior independência em relação ao governo e mais au- tonomia em sua agenda de trabalho. Na América Latina, a relativa falta de independência fi- nanceira significa que os centros de estudos, às vezes, são obrigados a atuar como consulto- res remunerados, em muitos casos para o governo, o que tende a orientá-los mais para a jus- tificativa de políticas oficiais do que para oferecer uma rigorosa análise técnica dos proble- mas e alternativas.

Organizações não-governamentais com unidades de pesquisa. Algumas ONGs de-

senvolveram capacidades de pesquisa próprias em relação aos assuntos com os quais traba- lham. Realizam pesquisas para promover a conscientização acerca de problemas ou propor reformas condizentes com suas idéias. Um exemplo é a rede de organizações na região filia- das à Transparência Internacional. Algumas conduzem estudos específicos para analisar ca- sos de corrupção. Outras, como a Transparência Colômbia, preparam índices de avaliação da transparência dos órgãos governamentais. Outras ainda, como Poder Ciudadano, na Argentina, concentram seus esforços em reformas jurídicas para promover a transparência governamental.

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O vigor desses atores depende de sua capacidade de influenciar o processo de formula- ção de políticas com suas idéias e propostas. Um fator muito importante é o acompanha- mento e apoio que inspiram na opinião pública pelos meios de comunicação. Em virtude de seu caráter ativista, são importantes por sua influência na agenda de políticas, sobretudo quando uma janela de oportunidade cria um clima favorável a suas idéias (como no caso de iniciativas legislativas contra a corrupção), ou quando podem usar sua capacidade de mobi- lização para obstruir uma decisão ou iniciativa que contradiga suas idéias.

Unidades de pesquisa de empresas e corporações. As empresas de grande porte e as

corporações contribuem para a produção e difusão de conhecimento por meio de suas uni- dades e centros de pesquisa. Na esfera do conhecimento econômico, as equipes de analistas dos grandes bancos têm especial importância. Os principais bancos sediados na Espanha possuem as maiores equipes que se concentram em América Latina, com aproximadamente 100 analistas cada.

Com esses serviços, as entidades financeiras fornecem informações, análises e, com bastante freqüência, aconselhamento. Com sua presença nos meios de comunicação, suas interações com representantes do governo e suas análises, estão constantemente influen- ciando a agenda de políticas, com base em seus interesses comerciais. Executivos, diretores e economistas de renome que pertencem a essas entidades também atuam no setor público, formal ou informalmente, e trazem consigo sua experiência e conhecimento.

O nível de presença e atividade dos diferentes tipos de atores do conhecimento em sete países da região aparece no Quadro 5.7. A presença desses atores varia consideravelmente de um país para outro. Em particular, há um grave desequilíbrio entre a presença de atores que operam no âmbito de instituições políticas, como institutos de partidos políticos e unidades de assessoria parlamentar, e os atores que operam fora das instituições públicas, como os centros de estudos e ONGs. Somente no Brasil e no Chile é que existe algo que se aproxima do equilíbrio.

No documento BID APolíticadasPolíticasPúblicas (páginas 134-136)