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Autossatisfação e autodesenvolvimento

NOS TEMPOS COTIDIANOS DOCENTES: O ESPECTRO DO TEMPO LIVRE

2.3. Tempos livres: um espectro

2.3.7. Autossatisfação e autodesenvolvimento

A categoria que ora apresentamos diz respeito ao conjunto de atividades realizadas no tempo livre, que podem trazer ao indivíduo a sensação de satisfação pessoal, desenvolvimento intelectual e formação cultural e profissional. Trata-se de atividades dos tempos livres cotidi- anos, relativamente sistemáticas e com frequência impessoal, bem como o trabalho voluntá- rio, a participação em grupos associativos, as atividades religiosas e outras práticas sociais que envolvem o desenvolvimento de si mesmo e a satisfação pessoal, conforme explicam Norbert Elias e Eric Dunning (1992).

a) Atividades religiosas

A prática da atividade religiosa é um fator forte entre as professoras e os professores em Porto Seguro, sendo que a maioria delas e deles é de religiões evangélicas, refletindo a expansão das igrejas evangélicas no Brasil, em especial na Bahia, que segundo o IBGE (2010) é o 4º maior estado da federação em números de evangélicos, ficando atrás apenas de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Em relação às opções religiosas das professoras e pro- fessores pesquisadas/os, constatamos que há uma predominância daquelas de matriz protes- tante, conforme gráfico abaixo:

Gráfico 27: Opção Religiosa

Praticar a religião, para os sujeitos da pesquisa, significa participar dos encontros se- manais para práticas religiosas, das visitas domiciliares, dos trabalhos sociais das igrejas, dos congressos e estudos bíblicos, dos diversos grupos de evangelização, tais como os de crianças, de adultos, de mulheres, de idosos e de casais.

115 Em relação à prática efetiva das religiões apresentadas, a pesquisa revelou que 80% dos professores e 75% das professoras praticam sempre ou às vezes, enquanto 24,6% dos ho- mens e 20% das mulheres não praticam nenhuma religião, conforme o gráfico a seguir:

Gráfico 28: Prática religiosa – por sexo

A participação em uma religião não requer apenas a frequência a cultos; como já vi- mos, muitos são os trabalhos desenvolvidos pelas igrejas. Sendo assim, muitas/os docentes exercem cargos e obrigações além das suas jornadas de trabalho em casa e na escola, contudo afirmam que seus tempos das atividades ligadas à religião são tempos de dedicação e satisfa- ção pessoal, razão pela qual não se sentem cansadas/os. Ao contrário, sentem-se aliviados, conforme relatos a seguir:

Sou Presbiteriana, vou sempre que posso à igreja, sou atuante, participo dos grupos e busco praticar minha religião sem fanatismos e respeitando a esco- lha das outras pessoas. Busco me basear na bíblia e não somente na religião. É algo que me faz bem e que me ajuda muito de forma geral (Professora Vi- vi, mensagem pela internet, em 15 de maio de 2013).

À tarde, depois do pôr-do-sol, fiz algumas leituras bíblicas, visitei alguns si- tes de cunho religioso, escrevi alguma coisa, compus um sermão e fui para a cama. No sábado, levantei bem cedo, após higiene matinal, escolhi uma rou- pa, reli o texto produzido na noite anterior, fiz algumas correções, imprimi. Cantei um pouco. No domingo fui à feira cedo, após a devoção matinal. Re- tornei às 10h mais ou menos. Passei o restante do dia com meu filho, ouvin- do histórias e vendo TV. À noite fizemos sanduíche, comemos, ele foi dor-

116 mir e eu para a net consultar e-mails e acessar o face.Tá dito. (Professor John, mensagem pela internet, em 14 de janeiro de 2014).

(...) Na igreja Assembleia de Deus, no Fontana II. Ocupo também um cargo de professor da escola bíblica dominical para as senhoras (Professor Jaime, mensagem pela internet, em 16 de maio 2013).

Quanto à frequência da prática religiosa, percebemos que há uma quantidade enorme de horas demandadas para esse fim. Constamos que 93% das professoras dedicam até 15 ho- ras semanais à prática religiosa, equivalendo-se aos homens, que o fazem num percentual de 92%. De outra parte, 5,2% das professoras dedicam entre 15 e 40 horas semanais à prática religiosa, enquanto 8% dos homens dedicam o mesmo tempo. Sendo assim, mesmo tendo uma carga horária muito extensa, distribuída para o trabalho da docência fora da escola, com os filhos, com o trabalho da casa, as mulheres ainda conseguem se dedicar às práticas religio- sas, as quais exigem a participação em cultos de até três horas de duração, ao menos duas ve- zes por semana, conforme o gráfico a seguir:

Gráfico 29: Frequencia semanal da prática religiosa - por sexo

Atualmente tem sido uma prática constante de algumas igrejas em Porto Seguro, rea- lizar seus cultos, além dos noturnos, também antes das sete horas da manhã, desse modo pos- sibilitam às/aos docentes participarem da programação religiosa antes de irem para a escola.

117 Nessa modalidade, encontramos nos relatos dos sujeitos o equivalente a 107 menções a essa atividade no decorrer da semana e 117 nos finais de semana, o equivalente a 224 no total. Ou seja, aproximadamente 27,9% dentre todas as menções de ocupação dos tempos li- vres docentes, sendo que 7,3% das menções foram dos homens e 4,0%, das mulheres, no de- correr da semana. Já no final de semana, o percentual de 10,1% das menções foram dos ho- mens e 6,5%, das mulheres. Desse modo, eles costumam frequentar mais atividades religiosas do que elas, além de assumirem, em sua maioria, os cargos exercidos nas igrejas. Encontra- mos apenas uma docente pastora e aproximadamente 03 coordenadoras de ações religiosas, o equivalente a 8,5% do total de mulheres que praticam frequentemente a religião. Contudo, sabemos que esse fator também pode ser decorrente da escassez de tempo da mulher professo- ra, não necessariamente falta de oportunidade.