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Docentes na rede: muito trabalho, pouca diversão

SOCIABILIDADES, PRÁTICAS CULTURAIS E LAZER NOS TEMPOS LIVRES DOCENTES

4.1.2. Docentes na rede: muito trabalho, pouca diversão

No início da pesquisa de campo percebemos que muitas/os das/dos docentes pesquisa- das/os permaneciam online na internet, principalmente após as 22h. Muitos chegavam a per- manecer até as duas horas da manhã, como foi registrado no diário de campo: “Há mais de uma semana que estou acompanhado os professores e professoras adicionadas/os ao meu facebook. Geralmente elas/eles entram no facebook e permanecem conectadas/os por até três horas, isso ocorre mais à noite, após as 22h” (Notas de campo, em 21 de agosto de 2013).

185 que estar online não significa estar nas redes sociais, jogando, fazendo compras ou outras ati- vidades que podem ser consideradas de lazer. Muitas/os das/os docentes estão na internet a trabalhar, a escolher textos e vídeos para suas aulas, e simultaneamente conversam com cole- gas, amigos, parentes, dentre outros, através das redes sociais, como o relato da professora Janine ilustra:

Não tenho tempo. Internet só para trabalho mesmo. Pesquisar, preparar aula, falar com meus irmãos no facebook, mas coisa rápida, dar uma notícia, saber uma notícia e partiu (risos) (Entrevista concedida pela professora Janine, em 10 de setembro de 2013).

Os meios de comunicação digitais introduziram em nosso cotidiano formas diferentes de viver os tempos cotidianos e afetaram profundamente a nossa cultura. Imerso no espaço virtual, o indivíduo encontra-se isolado do mundo exterior e constrói para si uma nova lin- guagem, novos comportamentos, novo tempo, mais efêmero do que nunca. Além disso, o cor- po experimenta outra maneira de vivenciar suas percepções, gestos e expressões, o sensório se reconstrói, correspondendo a uma corporeidade sensivelmente diferente e híbrida. Sendo as- sim, o tempo é reinventado na era digital (Edmond COUCHOT, 2007).

O tempo virtual alterou a vida humana, modificando relações e práticas culturais. Com isso, toda a ordenação dos eventos significativos perde seu ritmo cronológico interno e fica organizada em sequências temporais condicionadas ao contexto social de sua utilização. Por- tanto, é simultaneamente uma cultura do eterno e do efêmero. Eterna porque alcança a se- quência passada e futura das expressões culturais, e efêmera porque cada organização, cada sequência depende do contexto e do objeto da construção cultural solicitada (Manuel CASTELLS, 1999). Desse modo, é possível afirmar que há instantaneidade temporal sem precedentes aos acontecimentos sociais e expressões culturais nas dinâmicas sociais do pre- sente. A comunicação está mediada por computadores, possibilitando diálogos em tempo real, reunindo pessoas geográfica e fisicamente distantes, com interesses afins, em conversas inte- rativas multilaterais, orais e por escrito. Pessoas constroem amizades e inimizades, relaciona- mentos amorosos e desafetos, compram e vendem, estudam, leem, trabalham, divertem-se e fazem os outros se divertirem, assistem a filmes, jogam em games, vivem tempos virtuais que são também reais, parte de suas vidas e histórias, de sua sociabilidade e experiências.

No que concerne à ocupação do tempo livre com a internet, indagamos sobre o com- portamento das professoras e professores pesquisadas/os, encontrando percentuais equipara- dos entre homens e mulheres: ambos usam a internet na mesma proporção, conforme o gráfi- co abaixo.

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Gráfico 40: Acesso à internet - por sexo.

Em relação ao que as/os docentes costumam acessar, a pesquisa nos mostra que tanto homens como mulheres costumam realizar atividades diversificadas, entre elas: consultar e- mails; fazer pesquisa, em geral sobre educação; saúde, beleza, religião. Elas e eles também costumam ver as notícias; entrar nas redes sociais; fazer cursos on-line; assistir a filmes; bai- xar vídeos; acessar sites das disciplinas que ministram; alimentar blogs; ler artigos; fazer compras, dentre outras. Observa-se que há pouca referência a lazer e entretenimento, pois as atividades estão muito mais relacionadas à formação, ao desenvolvimento pessoal e ao traba- lho escolar.

Também podemos constatar com a pesquisa que o uso da internet pelas/as professo- ras/es não é uma regra geral, uma unanimidade, existem professoras e professores que sequer se interessam pela internet, não a utilizam nem para o trabalho nem para o lazer, o equivalente a 3% dos professores e 1,7 das professoras pesquisadas/os.

No relato da professora Alice, e outros que escutamos, ela destaca que está sempre na internet de passagem, sem vício, mas por necessidade. Essa relação com a internet nos parece a mais comum entre as/docentes, estar online sempre, em cada fração de tempo que sobrar, mas para coisas pontuais e necessárias.

Eu só acesso pra coisas necessárias, não tenho muito esse vício de tá em computador, fico na internet esporadicamente, não é uma coisa assim (pau- sa). Eu gosto muito de ler jornal, sou viciada nessas coisas de ler jornal, no- tícias, o que tá acontecendo eu sempre acesso, diariamente, mas eu não fico

187 muito tempo lá (Professora Alice, Grupo Focal nº. 04, em 14 de maio de 2013).

Em relação à frequência em que as/os docentes pesquisadas/os acessam a internet nos tempos livres, percebemos que, em média, ambos a acessam na mesma proporção, conforme gráfico a seguir:

Gráfico 41: Horas semanais dedicadas ao acesso à internet - por sexo.

A primeira vista, parece-nos que homens acessam mais que mulheres. Contudo, ao comparar as frequências, constatamos que há uma diferença mínima de 0,1 ponto percentual a mais para os homens. Professoras e professores utilizam a internet todos os dias, mas a inten- sidade dos usos dos tempos concentra-se nos finais de semana e após a jornada de trabalho da escola e da casa, momento em que há mais tranquilidade, principalmente para pesquisar e preparar as aulas, acessar e-mails, dentre outras atividades que apareceram na pesquisa com maior frequência.

Os tempos na rede são muitos significativos, constituídos por tempos de estudo, diver- são, distração, risadas, brincadeiras, trabalho, aprendizagens. Também podem significar eco- nomia de tempo, pois na rede podem acessar conhecimentos sem ir a bibliotecas, conhecer lugares sem viajar. Entretanto, para muitos o tempo na rede é associado a um tempo de traba- lho, enquanto para outros são tempos de liberdade, de relaxamento e despreocupação, segun- do Inês Teixeira e Luiz Silva (2008).

188 Além destes, um outro aspecto deve ser considerado na utilização da internet, pelas/os professoras/es. Na rede de ensino de Porto Seguro, especificamente na Educação Básica, ain- da não é comum o preenchimento de diários na rede, contudo há uma série de solicitações de relatórios, fichas, planos que são enviadas por e-mail, como relata o professo Márcio:

(...) Agora mesmo estou com um monte de coisas para enviar para o email da coordenadora: plano de curso, plano de unidade, relação de aluno. E nin- guém me libera mais cedo pra fazer essas coisas (Professor Márcio, mensa- gem pela internet, em 03 de julho de 2013).

Segundo Inês Teixeira e Luiz Silva (2008), quando o/a professor/a utiliza a internet para preparar aula, preencher diários, fazer pesquisas, dentre outras atividades, ele/a está am- pliando a sua jornada de trabalho, ele/a trabalha mais horas, retirando da sua rotina os tempos de descanso e lazer, principalmente nos finais de semana.