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4. MUDANÇAS NA CAFEICULTURA E O PAPEL DE ―O AUXILIADOR‖

4.1 Todos estão plantando café no Brasil no século XIX?

O início da produção agrícola cafeeira no Rio de Janeiro, não foi fácil, não havia máquinas especializadas para beneficiar o café, todo o trabalho era realizado pelos escravos e as primeiras colheitas não davam lucro aos produtores. Alguns fazendeiros desistiram de produzir, outros puseram fogo nos seus cafezais, mas os poucos que insistiram viram, após a segunda e a terceira colheita, que a plantação desse produto agrícola seria a solução, não apenas para as finanças das suas fazendas, como também para a economia do Brasil. Assim, após 1830 o café se firma nas fazendas fluminenses (WERNECK, 1854, n. 9, p. 273-280).

Segundo Werneck65 (1854, n. 9, p. 277), um artigo sobre o café, publicado em “O Auxiliador da Indústria Nacional”, teria promovido a transformação das lavouras brasileiras no século XIX, bem como a mudança de rumo no cultivo da cana-de-açúcar para o café, pois serviu de referência para que os mais diversos fazendeiros iniciassem suas plantações na província do Rio de Janeiro, visto que muitos agricultores daquela região não tiveram coragem de arriscar essa mudança brusca, temendo o mal resultado das colheitas.

Werneck (1854, n. 9, p. 273-280) reconhece no seu artigo o fato de ter sido o periódico “O Auxiliador” o promotor da transformação da lavoura brasileira, ao divulgar o artigo intitulado de: “Memória sobre o produto de uma plantação de café na ilha de Cuba”, discutido no Capítulo 3 desta tese, sendo publicado em 1835, em “O Auxiliador”, escrito por José Caetano Gomes, que ofereceu aos sócios da SAIN e aos fazendeiros do Brasil, naquele momento, leitores do periódico, informações detalhadas e essenciais para aqueles que quisessem empreender um cafezal.

O destaque trazido por Werneck (1854, n. 9, p. 273-280) confirma os levantamentos realizados no Capítulo 3, na primeira parte da análise do periódico, sobre a contribuição dos artigos publicados no periódico “O Auxiliador”, bem como sua influência no surgimento de novas lavouras cafeeiras no Brasil e no abandono de muitas plantações de cana-de-açúcar no Rio de Janeiro, para que os fazendeiros se voltassem para a formação dos cafezais.

Werneck (1954, n. 9, p. 273-280) discute o fato de que a produção cafeeira, com o passar dos anos, foi atraindo os fazendeiros ligados a outros tipos de cultivos agrícolas que, ao

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Werneck (1854, n. 9, p. 273-280), herdeiro de uma das maiores fazendas produtoras de café da província do Rio de Janeiro, exaltou a vocação agrícola do Brasil, em virtude do seu solo e clima, dentre outras características ainda não exploradas.

verem os ganhos com a produção, foram estimulados a empenharem mais terra para a plantação do café, fazendo com que esse cultivo agrícola fosse definitivamente consolidado na província do Rio de Janeiro, ainda na primeira metade do século XIX.

O artigo “A produção do café” (O AUXILIADOR, 1850, n. 11, p. 389-399), publicado em “O Auxiliador”, quatro anos antes do artigo de Werneck (1854, n. 9, p. 273-280) destaca que a “Memória sobre a cultura do cafeeiro”, baseada na obra “O Agricultor de São Domingos” de Laborie (1797) também discutida no Capítulo 3 desta tese, teria sido também, muito importante no processo de desenvolvimento do cafeeiro no Brasil, afirmando que:

Pelo que toca à propriedade e conveniência das terras para a plantação do café, encontra-se uma memória de Laborie indicações confirmadas hoje pela experiência do país. Terras baixas, húmidas, vizinhas ao mar, produzem mal café. As terras elevadas, em clima frio, sujeito à chuva frequente, novas, são boas para a cultura do café (O AUXILIADOR, 1850, n. 11, p. 389).

O artigo “O Auxiliador” (1850, n. 11, p.399) seguiu discutindo, resumidamente, alguns aspectos que reforçaram os critérios para melhorar o cultivo e o beneficiamento do café no Brasil, indicando, por exemplo, o maquinário mais adequado para lidar com a colheita e o descascamento do café. Incentiva-se a formação de novos cafezais, ao falar dos ganhos financeiros com a venda do café, capazes de deixar “o proprietário vivendo livre de dívidas, respeitado, e gozando de bastante influência moral, e política entre os seus vizinhos”.

Ainda no contexto da província do Rio de Janeiro Werneck (1854, n. 9, p. 273-280) destaca que as diversas dificuldades com a cultura da cana-de-açúcar, como exemplo, a falta de pessoas para trabalhar ou mesmo de braços que não tinham a devida experiência na lavoura, dentre outros fatores que, em conjunto contribuíram para a crise desse cultivo, permitiu que os mesmos agricultores, antes envolvidos com a produção de açúcar no Brasil, olhassem para o café.

Werneck (1854, n. 9, p. 273-280) comenta sobre o processo de reformulação do cultivo agrícola na referida província, quando o café ganha espaço, pois exige menor força de trabalho, menor capital, maior preço de venda, dentre outras situações, citando, mais uma vez, o artigo sobre “uma plantação de café na Ilha de Cuba”, como promotor da formação das fazendas e animador dos fazendeiros para investir nas lavouras de café no Brasil do século XIX.

As plantações de café existentes, bem como os processos errados adotados para com o cultivo do café, na segunda metade do século XIX, quase 30 anos depois do primeiro número de “O Auxiliador” foram corrigidas no artigo de Carlos Hidro da Silva, de título “Cultura do cafezeiro”, publicado no periódico, em 1861. Usou-se o exemplo do Município de Campinas,

na província de São Paulo para relatar o que seria o clima ideal para a formação dos cafezais, sua florescência e frutificação, assim como as terras próprias para o café (SILVA, 1861, p. 164).

Os cafezais se desenvolviam bem em qualquer terra, desde que ela não fossem “muito dura”, feita, por exemplo, puramente de barro vermelho, sendo difícil sua estrumação:

Pela prática tem-se considerado padrão para a escolha das terras serem elas uma mistura de argila e silicia (barro e areia) [...]. A mesma prática tem indicado aos cultivadores que as terras novas de primeira ordem, especialmente as que chamam roxas, não convém para a cultura do cafezeiro [...] (SILVA, 1861, p. 167).

Segundo Silva (1861, p. 164-199), o agricultor deveria ter muito cuidado com a formação das sementeiras para a obtenção de mudas de café, sendo os meses de setembro e outubro os melhores para essa operação. Já a transplantação das mudas deveria ser feita com o solo húmido, sem o risco da ocorrência de geadas no período de fixação das mudas no terreno, de preferência no mês de março. Além disso, os cafezais já desenvolvidos e em plena produtividade deveriam passar por manutenção constante, o que incluía a capina, que necessitaria ser feita em dia de sol, a estrumação, indicada quando os galhos dos arbustos do café começassem a secar, após ter dado muitos frutos.

A experiência adquirida com o desenvolvimento dos cafezais na província do Rio de Janeiro passou a ser, também, a partir da segunda metade do século XIX, protagonizada pelas províncias de São Paulo e Minas Gerais, que colaboraram muito para que o crescimento da indústria agrícola cafeeira continuasse com elevado grau de produtividade, fazendo melhor uso das terras destinadas ao plantio do café, buscando melhorar a qualidade do produto final, para colocar o café brasileiro no patamar dos principais cafés do mundo.

Assim, a província de São Paulo e sua experiência agrícola, obtida a partir do desenvolvimento do café foram usadas em “O Auxiliador”, como exemplo para os fazendeiros da província do Rio de Janeiro, principalmente no que tangia à recuperação de cafezais envelhecidos e improdutivos (SILVA, 1861, p. 164-199; CORREIA, 1877, n. 9, p. 477-482). Além disso, outras regiões produtoras de café, cujos proprietários eram leitores do periódico, poderiam usufruir também das ideias para melhorarem seus terrenos e cultivo de café (OLIVEIRA, 1878, n. 11, p. 251).

O artigo divulgado em “O Auxiliador” (1873, n. 11, p. 473-477), de título “Produção do café em Minas Gerais”, indicava que a partir de 1873 a produção cafeeira na província do Rio de Janeiro passava por um processo de declínio e que a produção mineira e paulista estava em ascensão:

[...] está nas vistas de todo o mundo que a província de Minas, ao passo que alarga e desenvolve suas plantações e lavoura de café, a do Rio de Janeiro caminha para o seu fatal declínio! Falta-lhe área a cultivar, já não tem matas, e certos fenômenos atmosféricos, ligados a uma ação desconhecida do solo, tem matado a lavoura de café. No Rio de Janeiro, a lavoura de café não corresponde nem ao número de cafezeiros, e nem aos braços empregados para tal fim! As plantações de café em São Paulo e Minas dão três vezes mais do que no Rio de Janeiro [...] (O AUXILIADOR, 1873, n. 11, p. 475).