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O café, o açúcar e o algodão no século XIX eram os produtos agrícolas mais cultivados no mundo. No Brasil as plantações de cana-de-açúcar foram diminuindo ao passo que os cafezais aumentavam a sua produtividade, até que assumiu, em definitivo, o protagonismo da indústria agrícola de exportação, motivo de grande ânimo para os lavradores brasileiros (REBELO, 1833, n. 5, p. 1-19).

Uma importante contribuição de “O Auxiliador” para a plantação do café no Brasil se deu pelo artigo de Rebelo (1833), “Memória sobre a cultura do cafeeiro”, quando indicou as terras próprias para a plantação do café, que deveriam ser: elevadas, com clima refrigerado, com chuvas frequentes, com 25° de latitude meridional e temperaturas que não poderiam ser muito abaixo de 10° Celsius e que a água da chuva penetrasse facilmente, ou seja, terras profundas e de preferência avermelhadas (REBELO, 1833, n. 5, p. 1-19).

O artigo “Café” (O AUXILIADOR, 1848, n. 8, p. 296-297) trouxe outra contribuição - uma experiência com a produção cafeeira das Antilhas, de acordo com Tussac, citado no artigo. Segundo ele, a composição do solo deveria ser de:

[...] dois terços de uma argila corada de rubro amarelado pelo ferro e de um terço de terra vegetal [...], os cafezeiros plantados em declives esbarrondados correriam risco muitas vezes de serem desarraigados em ocasiões de furacão, bem como se fossem plantados em terreno arenoso e sem consistência. (O AUXILIADOR, n. 8, p. 296- 297).

As condições de solo, observadas no Brasil, indicam os melhores aspectos para que o café produza bem:

[...] nas vargens de massapé44, e nos morros de barro vermelho, e não despreza mesmo um solo areento, uma vez que seja fundo e húmido [...], nos anos chuvosos o café prospera em qualquer terreno, porém havendo seca, os plantados em terrenos de massapé e areia, tornam-se amarelos e os frutos murcham, [...] enquanto que os plantados em morros de barros que as nuvens humedecem, conservam seu vigor e aspecto viçoso45. (O AUXILIADOR, 1848, n. 8, p. 298).

O artigo destaca que, no geral, os cafezais no Brasil mostram preferência por áreas de morros, declives férteis, contudo, pode-se observar a presença de lindos cafezais em áreas de várzea, ou seja, terrenos baixos, a margem de rios, citando, por exemplo, a experiência dos

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De acordo com Taunay (1839), o massapé é um tipo de terreno conhecido no século XIX por ser quase que totalmente formado por matéria orgânica decomposta, muito adequada para o cultivo do café, da cana-de-açúcar, dentre outras culturas agrícolas.

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Essa citação literal nos leva a supor que o artigo, ou a primeira parte dele, publicada no número 8 de 1848, pode ter sido escrito por C. A. Taunay, pois o texto é idêntico ao escrito por Taunay no seu Manual do Agricultor Brasileiro, publicado quase 10 anos antes, em 1839.

cafezeiros da Guiana Holandesa, plantados em áreas de vargens, em pântanos de mangues, que surpreendentemente dão duas colheitas por ano (O AUXILIADOR, 1848, n. 8, p. 293- 303).

Pode-se, também, a depender das condições climáticas e ambientais, como exemplo, a ocorrência de chuvas regulares ou mesmo a quedas bruscas de temperatura que danificam folhas e galhos do cafezeiro, plantar árvores que possam dar sobra aos cafezais, como se faz na Arábia, protegê-los do vento, do frio ou, também, manter o chão fresco, por exemplo, plantando-se bananeiras por entre as fileiras de café, como se faz em São Paulo, indicando que o café tem preferência por uma atmosfera húmida e clima temperado, parecido com o que se observa na Serra da Tijuca, no Rio de Janeiro, que em meados do século XIX, era a região do Brasil de onde vinha o melhor café (O AUXILIADOR, 1848, n. 8, n. 8, p. 293-303). Além disso, o café não poderia ser plantado em terrenos que antes foram usados no cultivo de cana- de-açúcar, algodão, terras virgens, oriundas de matas de jacarandás, árvores resinosas, pois o cafezal não se desenvolveria (REBELO, 1833, n. 5, p. 1-19).

Com as informações discutidas anteriormente, o agricultor brasileiro teria condições de selecionar a região para formar seu cafezal, porém, restava-lhe ainda saber algumas informações sobre como plantar o café. Ele deveria ser semeado diretamente no solo, como se fazia com o milho, o feijão, dentre outros grãos? Quanto à disposição dos arbustos de café no solo, qual seria o critério?

Como era de se imaginar, o café não podia ser semeado diretamente no solo, era necessário preparar viveiros para a sementeira. Na província do Rio de Janeiro, por exemplo, a melhor época do ano para executar esse processo era nos meses de agosto, setembro e outubro, pois o clima era mais propício, tendo menor incidência de chuva e sol. Assim, as sementes cultivadas em viveiros (REBELO, 1833, n. 5, p. 1-19; O AUXILIADOR, 1848, n. 8, p. 293-393) gerariam mudas que, ao final de oito até 12 meses do início do processo, deveriam ser transplantadas para um local apropriado para a formação dos cafezais (O AUXILIADOR, 1852, n. 12, p. 457-459).

O local deveria estar limpo, sem a presença de ervas resultantes do roçado anterior, e se o local for considerado quente, deveria-se plantar bananeiras para proteger as mudas de café dos raios solares (REBELO, 1833, n. 5, p. 1-19).

A transplantação das mudas de café deveria ser feita a uma distância de sete ou oito pés (o que varia entre 2,1 e 2,4 metros) em figura quadrada (REBELO, 1833, n. 5, p. 1-19; COSTA, 1834, n. 11, p. 321-339), ou seja, uma disposição baseada no modelo adotado na

França, conhecido como quincôncio46 francês, que foi apresentado em “O Auxiliador” por Gomes (1835, n. 3, p. 72-77), no artigo “Memória sobre o produto de uma plantação de café na Ilha de Cuba”.

O uso dos viveiros é interessante, pois permite que o lavrador faça a seleção de plantas mais vigorosas. As sementes que caíam dos cafezais já formados ou as mudas de café que cresciam à borda dos arbustos do café, poderiam ser aproveitadas para a formação dos viveiros, para a constituição de novos cafezais (O AUXILIADOR, 1848, n. 8, p. 293-303). Contudo, a partir de 1852, o artigo “Distribuição de sementes: café de Moka”, publicado no n. 12, de 1852, de “O Auxiliador”, na seção de Variedades, há uma indicação de outra possibilidade para a formação dos viveiros, adotada pela Sociedade Auxiliadora, destacando que sementes de café de Moka, presente dado a SAIN, pelo Consul Geral do Brasil em New York, Luiz Henrique Ferreira de Aguiar, haviam sido distribuídas entre os sócios-fazendeiros da SAIN (O AUXILIADOR, 1852, n. 12, p. 457-459).

Os cafezais da região de Moka, na Arábia, produziam o melhor grão de café, o mais conhecido em meados do século XIX (COSTA, 1834, n. 11, p. 321-339). Além disso, tinham o maior valor de mercado dentre todos os outros comercializados no mundo. Se comparados com o melhor grão de café produzido no Brasil, os de Moka eram quase três vezes mais caros no momento da exportação (O AUXILIADOR, 1852, n. 12, p. 457-459).

A SAIN estava interessada nos resultados dessa iniciativa, de distribuir sementes do que era considerado o melhor café do mundo, entre os seus sócio-fazendeiros. As notícias deveriam ser divulgadas para os leitores de “O Auxiliador”, com o objetivo de propagar as melhorias alcançadas na indústria agrícola do Brasil, assim, o periódico publicou avisos em “O Auxiliador”, de n. 11 e 12, de 1853, p. 395 e 435, respectivamente. Foi solicitado aos fazendeiros contemplados com a aquisição de sementes de café de Moka, que enviassem, assim que possível, os resultados obtidos com a propagação dessas sementes nas suas lavouras e que logo quando tivessem, mandassem pequenas porções dos frutos colhidos, nas primeiras frutificações das plantações a partir dessas sementes.

A Sociedade Auxiliadora seguiu com a iniciativa de adquirir sementes de regiões que produziam excelente café, fora do Brasil, como foi divulgado em “O Auxiliador” (1858), no qual foi relatado que o objetivo da “Expedição as Ilhas Maurícia e Bourbon”, além de adquirir novas espécies de cana-de-açúcar, visto que naquele momento histórico havia baixa

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O quincôncio se resume na plantação de cinco árvores dispostas em um quadrado, sendo uma em cada ponta e a quinta no centro da forma. Disponível em: https://pt.wiktionary.org/wiki/quinc%C3%B4ncio. Acessado em: 26 abr. 2019.

produtividade da espécie de cana que era cultivada no Brasil, foi que o Brasil mandasse trazer novas espécies, mudas e sementes de café de Moka e Bourbon (O AUXILIADOR, 1858, p. 147-150).

A iniciativa do Governo Imperial de adquirir sementes de café da Arábia foi divulgada no periódico “O Auxiliador” que destacou que a tarefa de adquirir o produto não seria fácil, uma vez que “os xeiques dessas localidades, com o „fito de conservar o monopólio dessa cultura‟ impediam por todos os meios a exportação de mudas, e só expunham no mercado as sementes depois de sujeitá-las à ação do fogo até torná-las infecundas” (O AUXILIADOR, 1865, p. 150).

Contudo, o cônsul do Brasil naquele país, fez solicitação direta ao vice-rei da Arábia, sendo prontamente atendido, não apenas com mudas e sementes do melhor café cultivado em Moka, no Iêmen, mas, também, com instruções, esclarecimentos e observações dos seus agrônomos sobre o cultivo do café naquela região (O AUXILIADOR, 1865, p. 150-151).

Os cuidados com a formação do cafezeiro voltaram a ser discutidos já no período final de publicação de “O Auxiliador”, como foi o caso do artigo de Guimarães (1877, n. 8, p. 422- 424), que deu instruções aos lavradores de café, acerca da seleção das mudas para a “plantação do cafezeiro”.

Segundo Guimarães, a plantação poderia ser feita em qualquer mês do ano, sem que houvesse perdas das mudas, o que implicava no replantio de novas mudas. O método proposto segundo Guimarães (1877, n. 8, 423-424) se diferencia dos demais, já apresentados em “O Auxiliador”, pois:

1º As mudas não são martirizadas em suas raízes, e com a frescura do mesmo barro faz desenvolvê-las espantosamente em menos de 30 dias, o que não acontece pelo sistema usual, isto é, quando é cortada grande parte das raízes, e depois de plantadas são socadas com terra pura, o que faz retardar o crescimento das novas raízes, ficando por esse fato os brotos sem garantia, e sujeitos às grandes soalheiras.

Assim, foram formados os cafezais no Brasil, no século XIX, com as sementes em mãos, bem como pela adoção dos métodos e processos discutidos e divulgados em diversas oportunidades pelo periódico “O Auxiliador”, resumidamente, a escolha do local, do terreno apropriado, da produção das mudas pela sementeira e da disposição do plantio, além do emprego das ideias sobre a estrumação, segundo orientações de “O Auxiliador” (REBELO, 1833, n. 5, p. 1-19; COSTA, 1834, n. 11, p. 321-339; O AUXILIADOR, 1848, n. 8, p. 293- 303; GUIMARÃES, 1877, n. 8, p. 422-424).

Os lavradores de café foram encontrando o caminho da prosperidade nas suas lavouras, sabendo que para se obter uma ótima lavoura, dentre outras características, os

viveiros para a geração das mudas e a formação dos cafezais, deveriam ser constituídos de terra revirada, preparada com estrume47 vegetal, para receber as sementes de café (O AUXILIADOR, 1848, n. 8, p. 293-303).

O cafezal produzia bem um ano sim e outro não, com o passar dos anos, perderia essa propriedade, passando a produzir cada vez menos (REBELO, 1833, n. 5, p. 1-19; COSTA, 1834, n. 11, p. 321-339; O AUXILIADOR, 1848, n. 8, p. 293-303). Deve-se, portanto, após 20 anos, podar a planta deixando apenas um único tronco e com o intuito de prolongar sua alta produtividade, adotar o seguinte método, segundo Rebelo (1833, n. 5, p. 10): “Haverá na fazenda uma estrumeira, e esta deve ser feita principalmente com as cascas do café, bananeiras caídas, e o estrume dos animais, tendo cuidado em que o local não seja lavado pelas águas das chuvas”.

O produto obtido a partir dessa mistura deve ser aplicado em um sulco (vala ou rego) aberto com cerca de 30 cm de largura a 30 cm de distância do pé de café, na proporção de 4/1, partes de terra por estrume, respectivamente. Deve-se cortar as raízes que se encontrarem fracas, franzinas, achadas durante a abertura do sulco. Há fazendeiros que preferiam formar novos cafezais ao invés de tentar prolongar a vida daqueles que já se encontram formados, os problemas com isso são: a distância que os novos cafezais ficarão da sede da fazenda; a devastação da natureza na propriedade e a desvalorização da fazenda em função da redução da sua área de mata “virgem” (REBELO, 1833, n. 5, p. 1-19).

Outro tipo de estrume que também foi indicado em “O Auxiliador”, no artigo “Memória sobre o produto de uma plantação de café na Ilha de Cuba”, tinha aspecto líquido, proveniente da mistura de matérias orgânicas e água, ou em urina, cujo resultado seria melhor, embora não explicasse o motivo dessa melhora. Essa teria sido a primeira vez que esse tipo de estrume foi mencionado nos artigos sobre café publicados em “O Auxiliador” (GOMES, 1835, n. 3, p. 72-77).

No mesmo ano de 1835, como no artigo anterior, uma tradução feita por Frei J. M. B.48 do “Boletim das Ciências Agrícolas e Econômicas”, publicada em “O Auxiliador”, teve como objetivo, orientar os agricultores sobre o uso e as vantagens do emprego do estrume líquido na lavoura em geral. Segundo Frei J. M. B. (1835, n. 11, p. 329-335), muitas cidades inglesas, principalmente, armazenavam o estrume líquido, rico em matéria nutritiva, para

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O termo estrume em “O Auxiliador” era usado para designar qualquer tipo de material, que pudesse ser misturado a terra, com o objetivo de melhorar sua produtividade agrícola, como exemplo, a palha seca de trigo, aveia, cevada, feno decomposto, cinzas de lenhas reduzidas a carvão, peixe em qualquer estado, ossos quebrados e recém-cozidos, restos de peles de manufaturas, urina de vaca (DAVY, 1833, n. 2, p. 22-34).

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O referido autor, Frei J. M. B. foi citado como no “O Auxiliador”, pois não foi possível encontrar o significado dessas iniciais, nem no periódico nem em qualquer outra literatura.

utilizar nas suas lavouras. Uma mistura constituída pela urina dos animais, bem como a água, como resultado da lavagem dos estábulos e das indústrias que empregavam matéria animal. O material recolhido era armazenado e passava por um processo de fermentação, que durava até cinco semanas.

Frei J. M. B. (1835, n. 11, p. 329-335) destacou algumas maneiras de deixar o estabelecimento pronto para dele se coletar o material e deu explicações de como se deveria utilizar o estrume líquido nas lavouras, por exemplo, a mistura só poderia ser empregada após ter passado por sucessivas diluições em água, podendo ser regado diretamente no solo que já havia recebido uma determinada lavoura e estava no início do seu crescimento. A matéria poderia também ser misturada à terra, que serviria para formar novas áreas prontas para receber novos cultivos agrícolas.

“O Auxiliador” (1847, n. 1, p. 25-27) também revelou um método escocês para a preparação do estrume líquido. Destacou-se que a agricultura escocesa era a mais sábia de toda a Europa, pois lá qualquer agricultor era instruído e transmitia aos seus filhos o conhecimento, antes mesmo deles se iniciarem na lavoura. O estrume por lá era preparado da seguinte maneira:

[...] as matérias líquidas que servem para estrume são recolhidas em cisternas e ali, saturadas com terra calcinada, e ácido sulfúrico, a fim de não desperdiçar o amoníaco que se desenvolve dessas matérias [...]. A urina das estrebarias e currais, o líquido que corre do estrume que se tem amontoado nos pátios, as matérias líquidas das cloacas, são conduzidas por meio de canos subterrâneos à uma cisterna coberta com um tampo de madeira; uma bomba igualmente de madeira serve para tirar o líquido dessa cisterna, com a qual se regam os prados por meio de um tonel regador. Ao lado dessa cisterna acha-se uma vala descoberta na qual são lançadas as cinzas de carvão [...]. Lixos de galinheiro e pombal [...]. Logo que esta vala se acha quase cheia, lançam nela por meio da bomba já referida tanto estrume líquido, quanto as matérias contidas na vala possam absorver. Mistura-se depois tudo exatamente e reduz-se à consistência de uma massa mole; a proporção que vão havendo novas matérias secas para se lançar na vala, estas vão se depositando sobre a massa assim preparada, até que haja suficiente quantidade delas para serem reduzidas por sua vez à massa, saturando-as com estrume líquido (O AUXILIADOR, 1847, n. 1, p. 25).

Sobre os “Estrumes Líquidos” foi publicada em “O Auxiliador”, na seção de Agricultura, uma contribuição sobre essa matéria dada por Liebig, que discutia o movimento provocado por Liebig, sobre o uso do estrume líquido, proveniente dos dejetos humanos nas lavouras da Europa, especialmente a Inglaterra (O AUXILIADOR, 1863, p. 173-176).

O artigo de “O Auxiliador” (1846, n. 1) com o título “Considerações sobre a química agrícola”, destacou que a plena absorção desses nutrientes pelas plantas dependeria da solubilidade desses sais em água, de modo que se o agricultor lançasse tais nutrientes nos

terrenos durante a estação seca não teria os resultados esperados (O AUXILIADOR, 1846, n. 1, p. 13-19).

“O Auxiliador” (1846, n. 1, p. 13), no artigo de título “Considerações sobre a Química Agrícola” mostrou ser essa uma das principais colaborações à agricultura, de modo geral, dada pelo químico alemão Justus Von Liebig49. Na compreensão sobre as principais substâncias responsáveis pela nutrição mineral das plantas em geral e o modo como eles interagiam com os vegetais e o solo, foram citados alguns desses minerais caracterizados por Liebig, dentre eles, o sódio, o potássio, o cálcio e o magnésio, “os quais entram na composição de todos os terrenos férteis”.

A obra de Liebig sobre a química aplicada à agricultura foi divulgada em “O Auxiliador” de diversas formas, até mesmo sua morte foi noticiada no periódico (O AUXILIADOR, 1873, n. 5, p. 206), como pode ser visto na Tabela 6, que traz apenas os artigos que levam o nome de Liebig no título, mas não mostra os demais artigos em que o mesmo era apenas citado.

Tabela 6: Artigos sobre J. Von Liebig divulgados em “O Auxiliador”

Ano Autor(es) Seções Tema/Título do artigo

1843 4 Traduzida por

Lião Playfair -

Química: considerada nas suas aplicações por Justus Von Liebig

1848 6 e 7 - Indústria Agrícola

A química e suas aplicações a indústria, à fisiologia e a agricultura por Justus Liebig

1861 - Justus von Liebig Agricultura

Carta50 de Justus Von Liebig a M. Merchi de Londres, a cerca da necessidade de se aproveitar a matéria das latrinas na agricultura

1863

1864 - W. Fonville

Bibliografia Aagrícola

A nova obra de Justus Von Liebig intitulada de As leis naturais da agricultura moderna

1865 - - Agricultura Da fabricação e emprego dos fosfatos de cal na Inglaterra (Liebig)

1873 5 - Notícias Diversas Morte de Justus Von Liebig

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A obra de Liebig vai ao encontro do processo de modernização da agricultura, passando pelos processos de obtenção industrial das substâncias utilizadas como fertilizantes de grande importância para o desenvolvimento das lavouras em todo mundo. Foi ele quem primeiro: “Recomendou o emprego, como fertilizante, da amônia gerada na carbonização do carvão e propôs o uso de ácidos para fixá-la. Posteriormente, em 1840, sugeriu que a farinha de ossos, já utilizada de longa data como fertilizante, fosse tratada com ácido sulfúrico para melhor aproveitar-se o fósforo nela contido” (CARRARA; MEIRELLES, 1996, p. 25).

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O Anexo A mostra que “O Auxiliador” divulgava cartas nos seus números, versando sobre diversos assuntos de interesse dos seus leitores, a saber: a mecanização das lavouras (TAIZON, 1856); as pragas na agricultura (SANTOS, 1859; BELÉM, 1874); química agrícola (MAREST, 1861); ensino agrícola (BURLAMAQUE, 1866); além do artigo de Liebig (1861), sobre o aproveitamento do estrume humano nas lavouras, mostrado na Tabela 6.

1875 9 e 10 Nicolau Joaquim

Moreira Economia Rural

Teoria sobre a ação dos estrumes (proposta de Liebig)

1876 4 - Química Agrícola Nutrição mineral dos vegetais (Liebig entre outros)

Fonte: Autor (2020)

Os artigos de J. Von Liebig (Tabela 6) chegaram ao Brasil pelos periódicos, documentos, relatórios, sendo publicados com a finalidade de divulgarem os mais novos adventos científicos, técnicos e tecnológicos, que poderiam ser diretamente aplicados na melhoria da produção agrícola brasileira (PLAYFAIR, 1843, n. 4, p. 110-119; O AUXILIADOR, 1848, n. 6 e 7, p. 137-146; p. 169-176; LISBOA, 1849, n. 1, p. 3-6). Mesmo não discorrendo especificamente sobre as possiblidades de melhoramento do cultivo do café no Brasil, falava da agricultura, e, portanto, de todos os vegetais, em geral, sendo Liebig considerado a principal autoridade no assunto (O AUXILIADOR, 1848, n. 6 e 7, p. 137-146; p. 169-176).

“O Auxiliador” (1848, n. 6 e 7, p. 137-146; p. 169-176), citado anteriormente, divulgou um artigo que resumiu as 26 cartas publicadas por Justus Von Liebig na “Gazeta Universal de Augsburgo”, destacando que a obra de Liebig é a que melhor se apresenta dentre todas as outras que abordam as aplicações da Química na agricultura. O artigo afirma, também, que a Química tem contribuído muito para a compreensão dos processos envolvidos na fermentação e que isso tem sido muito importante para o progresso da Fisiologia vegetal.

O artigo defendeu que:

Os princípios científicos da agricultura devem, portanto, compreender o conhecimento de toda a vida vegetal, da origem de seus elementos e da sua fonte de alimentação [...]. Os métodos de agricultura variam em cada país segundo a constituição geológica do terreno [...] ordenado pela ciência [...], que nos ensina a descobrir esses princípios pelo exame das cinzas vegetais, e se a análise de um terreno nos provar a sua falta, a causa de sua esterilidade deve ser reconhecida (O AUXILIADOR, 1848, n. 7, p. 174).

Lisboa (1847, p. 173-176) destacou a necessidade atual de se considerar a química aplicada à agricultura51, principalmente na compreensão das substâncias indispensáveis a cada planta e que, portanto, deveriam ser disponibilizadas aos terrenos, uma vez que a terra se