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4. MUDANÇAS NA CAFEICULTURA E O PAPEL DE ―O AUXILIADOR‖

4.5 O café Brasileiro em Exposição no século XIX

Durante todo o período em que “O Auxiliador da Indústria Nacional” circulou divulgou muitos artigos sobre uma série de Exposições (Tabela 10), na qual se discutia e se apresentava as principais “novidades” que norteavam a Ciência e Tecnologia, a Indústria manufatureira, artística, agrícola e rural, mundial, dentre outros negócios interessantes ao melhoramento da economia de cada país expositor.

Tabela 10: Artigos sobre exposições, divulgados em “O Auxiliador” (1833-1896)

Ano Autor(es) Seções Tema/Título

1849 5 Ernesto Ferreira

França Filho Indústria manufatureira Exposição da indústria na França 1851 3 P. de A. Lisboa - Exposição Universal da indústria em Londres 1851 6 João Diogo

Sturz Indústria agrícola e rural

Notas desconexas sobre a exposição universal das nações em Londres

1851 6 P. de A. Lisboa - Exposição universal de produtos da Indústria da França

1851 7 P. de A. Lisboa Indústria manufatureira e artística

Exposição Universal da indústria em Londres: França e Bélgica

1852 8 P. de A. Lisboa Indústria manufatureira e artística

Exposição universal da indústria em Londres: estados unidos da América do Norte 1853 2

3 -

Indústria manufatureira

e artística Exposição universal de Dublin 1870 3

Joaquim Antonio de

Azevedo

Exposição Sobre a escola noturna gratuita de instrução primária para adultos

1878 4 5

Nicolau Joaquim

Moreira Exposição

Exposição: participação do Brasil na exposição em Filadélfia (café entre outros) 1879 3 - Exposição Exposição universal de 1878: café

1882 6 - Exposição Exposição de café no Brasil

1884 5 - Exposição Exposição internacional de horticultura em S. Petersburgo

1884 12 - Exposição 4º exposição do café

1886 4 - Exposição Exposição anual de Antuerpia em 1885 Fonte: Autor (2020)

França Filho (1849, n. 5, p. 169), sobre “A Exposição da indústria na França”, faz um longo relato sobre os avanços científicos propostos em tempos recentes pela “Física e a Química”, a saber, o estudo sobre a natureza da luz, da eletricidade e da galvanoplastia, bem como suas diversas formas de aplicação na Indústria. Foram citados vários exemplos apresentados na exposição, dentre eles a determinação do teor de “sacarose” presente na cana ou na beterraba, a partir do uso da luz polarizada sobre uma solução de água e açúcar (FRANÇA FILHO, 1849, n. 5, p. 173).

A manipulação do “ferro fundido” e sua aplicação na Indústria Metalúrgica foi o tema de grande destaque, dado por Lisboa (1851, n. 7, p. 260-272), sobre a “Exposição Universal da indústria em Londres”. Contudo, a “centrífuga de Van Goethem”, usada no branqueamento do açúcar e a máquina de “descascar e brunir arroz”, que compõe operações importantes no beneficiamento desses produtos agrícolas, bem como, os diversos modelos de “charrua”79

79O periódico “O Auxiliador” divulgou, em uma nota, a propaganda de uma charrua dupla, na qual o lavrador

podia arar sentado, até dois hectares de terra por dia, controlando o equipamento, com: “alavancas laterais que fazem descer e subir a roda que trabalha no sulco, para regularizar a profundidade do sulco” [...] (O AUXILIADOR, 1878, n. 9, p. 214).

próprias para arar diferentes tipos de terrenos, receberam grande destaque do autor (LISBOA, 1851, n. 7, p. 260-272).

A participação de membros da Sociedade Auxiliadora nas exposições era decidida em “Assembleia Geral”, como a que ocorreu em “17 de junho de 1851, presidida por Visconde de Abrantes”, que resultou na nomeação de João Diogo Sturz, por Pedro de Alcântara Lisboa, para a sua participação na “Exposição Industrial de Londres”, sendo J. D. Sturz80, na ocasião, responsável por enviar artigos à SAIN, sobre o que observou na exposição (O AUXILIADOR, 1851, n. -, p. 29-31), entre eles a Tabela 10 mostra o que foi publicado em “O Auxiliador”, de título “Notas desconexas sobre a exposição universal das nações em Londres” (STURZ, 1851, n. 6, p. 197-206).

Na “Exposição universal de Dublin” (O AUXILIADOR, 1853, n. 2 e 3, p. 50-72; p. 88-99), o artigo discutiu sobre a própria razão de ser do evento e da tradição da Europa para a sua realização (representada pela “Alemanha, França e Bélgica”, totalizando 228 expositores), da escolha do local, das comissões envolvidas, descrevendo sobre os bastidores da organização da exposição e do espaço destinado aos expositores. Quase nada se narrou no artigo, sobre quais produtos estavam sendo apresentados e quais indústrias seriam beneficiadas, sendo mencionado apenas o nome de alguns itens expostos, dentre o linho Irlandês.

A partir de 1870 o periódico passou a ter uma seção específica, de nome Exposição, como se vê na Tabela 10, na qual foram indexados apenas os artigos sobre exposições, como o caso do artigo “Sobre a escola noturna gratuita de instrução primária para adultos”, dentre outras, destacando-se os artigos que divulgaram o que se discutia sobre o tema café no Brasil e no exterior.

Moreira (1878, n. 5, p. 102-109) destaca, no seu artigo, a participação do Brasil na Exposição Internacional da Filadélfia, nos Estados Unidos, onde foram apresentados variados dos nossos produtos agrícolas, tais como o algodão, o açúcar, mas, principalmente, o café. Destacou-se que o “Brasil era a nação que mais exportava café” e que as províncias do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais eram as que mais produziam dentre as demais brasileiras, bem como as que mais investiam no desenvolvimento das lavouras cafeeiras e nos processos de beneficiamento do café (MOREIRA, 1878, n. 5, p. 104).

A Exposição abriu portas para a ampliação dos negócios entre produtores brasileiros e o comércio exterior, quando:

80

Daniel Lombard, inteligente fabricante de máquinas de beneficiar café e arroz, estabelecido em Boston, Massassuchets, vendo que os cafés expostos primavam sobre os que existiam à venda no mercado americano como procedentes do Brasil, pediu-nos algumas coleções para enviá-las aos negociantes de Boston, New-York, etc., fazendo ele próprio em seu departamento de máquinas, no Agricultural Hall, uma belíssima exposição de amostras das diversas sortes de nosso produto. Essas e outras coleções, solicitadas por diversos negociantes, foram preparadas por nossa ordem pelo inteligente brasileiro e empregado na exposição agrícola o Sr. Jacobsen. Em uma carta que nos foi dirigida em data de 17 de setembro pelo Sr. Consul de Baltimore, Sully de Souza, nos reclamou S. S. amostras de café, porque julgava de muita vantagem e de alta conveniência fazer conhecidas naquela praça as boas qualidades de nosso produto comercial [...]. O mesmo pedido nos foi dirigido pelos Srs. Barrett e Child (Wholesale and Retail Grocers) de New-York (MOREIRA, 1878, p. 105).

O evento internacional contou com mais ou menos 58 expositores premiados, sendo um marco para o produto das lavouras cafeeiras do Brasil, que antes era conceituado abaixo dos procedentes de outros países, passando a ser cotado no mesmo patamar e preço, “indo colocar-se ao lado do célebre Java” (MOREIRA, 1878, n. 5, p. 106). Assim, o autor relatou que muitas autoridades que participavam da exposição, examinaram várias amostras do café brasileiro, reconheceram sua superioridade em relação aos demais, porém, afirmaram aos expositores que “conheciam o produto não como sendo de procedência dos cafezais brasileiros”, o que indica que nosso café, recebia outro tipo de classificação quando adentrava nos mercados do exterior (MOREIRA, n. 5, p. 105).

Segundo “O Auxiliador” (1882, n. 12, p. 283-284) esse problema, embora não tenha atrapalhado a ascensão da qualidade do café no Brasil, colaborava para a perda do seu valor de mercado, por isso, precisava ser resolvido. Sendo assim, o café brasileiro necessitava ser classificado de forma correta, pois estava sendo vendido muitas vezes com o rótulo de outros cafés, produzidos em outros países. Portanto, a participação do Brasil na Exposição de Berlin (Alemanha) poderia resolver esse problema, caracterizando a qualidade e o café produzido em diferentes províncias e regiões do Brasil.

A exposição Universal de 1878, divulgada em “O Auxiliador” (1879, n. 3, p. 58-60) reafirmou que o café era o produto agrícola mais importante do Império do Brasil, sendo, também, o protagonista da produção cafeeira mundial, na segunda metade do século XIX, principal fornecedor mundial de quase a metade do café consumido no mundo e que o café brasileiro estava melhorando sua qualidade cada vez mais, o que refletia, diretamente, no aumento do seu “preço médio, para cada 50 kg de café, indo de 74 Fr. em 1860 para 113 Fr. em 1871, oscilando acima de 100 Fr. entre os anos de 1873 e 1877” (O AUXILIADOR, 1879, n. 3, p. 59).

Segundo “O Auxiliador” (1879, n. 3, p. 58-60), a exposição ocorrida na Filadélfia, em 1878, já discutida anteriormente, não ofereceu aos lavradores de café, muitas informações úteis sobre o cultivo desse produto, citando, entretanto, que outra exposição internacional, a da América do Sul, teria sido mais útil aos produtores de café, nesse sentido.

A Exposição da América do Sul, a respeito do beneficiamento do produto, apresentou a “famosa” máquina de descascar café, usada pelos cafeicultores da República da Guatemala, a chamada “máquina de Gordon”, que há muitos anos era empregada na preparação do café cultivado nas colônias inglesas da Ásia. Além disso, vendeu-se na Exposição Internacional da América do Sul, um manual escrito em espanhol, de título Manual para el cultivo y beneficio del café, discutia detalhes sobre o modo de cultivar, plantar, descascar, dentre outros aspectos considerados muito úteis no melhoramento e no desenvolvimento dos cafezais (O AUXILIADOR, 1879, n. 3, p. 58-60).

Oliveira (1878, n. 11, p. 251) lembra que a participação do Brasil, na Exposição de Paris, ocorrida em 1867, fortaleceu o consumo do café brasileiro pelos franceses, pois, na ocasião, nosso produto obteve a medalha de ouro na competição, uma conquista que resultou dos constantes melhoramentos feitos no cultivo do café, dando, como exemplo, o grão que era obtido na província da São Paulo, que passou a competir com os melhores cafés produzidos no mundo.

A iniciativa do governo Imperial brasileiro de ampliar o mercado exterior e aumentar o consumo dos produtos agrícolas brasileiros no mundo teve como estímulo a participação brasileira, especialmente com as mais variadas amostras de cafés, em diversas exposições pelo mundo, a saber, em “Londres, Paris, Berlim, Viena, Nova York e Montreal” (O AUXILIADOR, 1882, n. 6, p. 137).

Na 4º Exposição do café, ocorrida no Brasil, os trabalhos foram inaugurados pelo discurso do “Sr. Comendador Ramalho Ortigão”, falando a todos os presentes, dirigindo-se, especialmente, ao Imperador, sobre a importância do café brasileiro, que foi mais uma vez destacada entre os participantes. Afirmou-se ser a lavoura cafeeira nossa principal atividade industrial naquele período histórico, relatando brevemente sobre o número de amostras participantes do evento, que contou com a exposição de 1800 tipos de café de diferentes regiões do Brasil (O AUXILIADOR, 1884, n. 12, p. 274).

Outro artigo publicado na seção de Exposições, de “O Auxiliador” relatou, brevemente, a notória participação do Brasil na “Exposição anual de Antuérpia em 1885”, em que apresentou diversos gêneros agrícolas, entre eles o algodão, açúcar, certos preparados

medicinais, café, dentre outros produtos, inclusive da indústria não agrícola (O AUXILIADOR, 1886, n. 4, p. 77).

Segundo “O Auxiliador” (1886, n. 4, p. 79) 1054 expositores, de todos os países, participaram do evento, sendo 900 do Brasil. Na ocasião, foram apresentadas 1526 amostras de café, dentre as quais 1247 eram do Brasil, que ganhou 96 prêmios, dos 176 distribuídos.

O melhor café dentre os que foram expostos no evento foi o do Brasil, de acordo com o júri da competição, dando ao nosso “Centro da Lavoura e do Comércio” o diploma de honra. Porém, a saca que continha o café eleito, de qualidade número um, não estava identificada, na verdade, “17 sacas tinham chegado sem os nomes dos expositores, e sem a competente qualificação”, o que não permitiu que nosso principal produto, levasse a devida premiação (O AUXILIADOR, 1886, n. 4, p. 80).

O governo do Brasil e os seus representantes também receberam, nessa ocasião, o diploma de honra, por ter exposto vários tipos de amostras de café, o maior número, dentre os outros mostrados, reafirmando o seu protagonismo, no final do século XIX, dentre os demais países concorrentes, como exemplo, “Haiti, Libéria, Portugal, Paraguai, Bélgica e a França” (O AUXILIADOR, 1886, n. 4, p. 80).

O QUE SE PODE CONCLUIR?

O início da produção do café no Brasil foi marcado pelas dificuldades com a mão de obra e com a falta de conhecimentos agrícolas sobre: as características do clima; dos terrenos mais apropriados para o cultivo; os tipos e formas de utilização do estrume; as transformações físicas e químicas que ocorriam com o café que secava sobre os terrenos, muitas vezes exposto ao sol intenso, à chuva e ao contato com o barro; o descascamento do café, que era feito de forma que o grão fosse quebrado, o que colaborava para a alteração do seu sabor, antes ainda de passar pelo processo de torra; os tipos e as formas de enfrentamento das pragas na agricultura; bem como, as questões e possibilidades de mecanização da lavoura cafeeira para melhorar o beneficiamento do produto. Ou seja, tais fatores reconhecidamente determinaram a manutenção, a qualidade e, consequentemente, o valor de mercado do produto dos cafezais ao longo do século XIX.

O periódico “O Auxiliador da Indústria Nacional” atuou na observação, discussão e no enfrentamento das dificuldades apresentadas acima. Enquanto isso, o mercado reagia bem e o café brasileiro era comercializado com muita frequência, o consumo por habitante aumentava a cada ano e a demanda crescia paralelamente ao aumento populacional, como mostrou Aguiar (1846, n. 1, p. 34-36), quando apresentou em “O Auxiliador” uma série de dados estatísticos sobre a importação do café brasileiro por parte dos Estados Unidos da América (Figura 33), extraída do artigo no periódico.

Figura 33: Dados sobre a importação do café do Brasil, pelos Estados Unidos

Como pode ser visto acima (Figura 33) de 1825 até 1834 foram quase 150 milhões de libras (1 Libra equivale a 0,45 kg), ou seja, 67.500,00 kg de café importados do Brasil, pelos Estados Unidos, e de 1835 até 1844, a importação saltou para quase 510 milhões, o que equivale a 229.500,000 kg. Tais valores, em termos de números de sacas de 60 kg de café, era a forma adotada para o embalo do produto, já pronto para ser comercializado, o que significava um aumento de 1.125,00 milhões de sacas de 60 kg para 3.825,00 milhões.

O aumento gradativo do café que o Brasil exportou entre 1825 e 1844, segundo Aguiar (1846, n. 1, p. 34-36), indica um consequente aumento do número de fazendas, de produtores, de terras destinadas aos cafezais, culminando em uma maior arrecadação financeira, tornando o Brasil um dos protagonistas da produção agrícola mundial já na primeira metade do século XIX. Esse fato que se estendeu também para a segunda metade do mesmo século, como mostra os “dados estatísticos sobre a exportação de sacas de 60 Kg de café, do Brasil para o mundo, entre os anos de 1800 e 1882”, quando foi registrada a exportação de 4.134 milhões de sacas em 1882 (O AUXILIADOR, 1883, n. 2, p. 45).

O café brasileiro era, principalmente, vendido para os Estados Unidos da América, como mostrou o artigo de “O Auxiliador” (1874, n. 2, p. 87-89), uma nota sobre o Comércio do café, indicando a movimentação do produto brasileiro no Porto de New York (Figura 34).

Figura 34: Dados estatísticos sobre a importação do café pelos Estados Unidos em 1872 e 1873

Fonte: O Auxiliador (1874, p. 87-89)

A Figura 34 (extraída de “O Auxiliador”) compara a importação do café, de diversos países do mundo, pelos Estados Unidos da América, confrontando os anos de 1872 e 1873,

confirmando o protagonismo assumido pelo Brasil, pois foi o país que mais exportou café, ficando muito à frente da Jamaica, Java, Sumatra e Ceylão, que eram regiões que tradicionalmente detinham certa liderança mundial, nesse gênero agrícola. “O Auxiliador” mostra que os Estados Unidos e também a Europa se destacaram como os principais compradores do produto dos nossos cafezais, como pode ser visto nos dados estatísticos sobre o café exportado desde 1800 até o fim de 1880, “Os Estados Unidos importaram 1.886,857 milhões de sacas de café do Brasil, e a Europa 1.676,197 milhões de sacas de 60 kg, em 1880” (O AUXILIADOR, 1881, n. 1, p. 19).

O papel do periódico “O Auxiliador da Indústria Nacional” foi muito importante na divulgação das melhorias relacionadas ao desenvolvimento da cafeicultura brasileira, suprindo e dando todo o suporte necessário aos produtores, pela publicação de diversos artigos, manuais, memórias, propagandas de máquinas, dos tipos de estrumes e das sementes para se iniciar a formação de uma lavoura de café, dos alertas aos produtores sobre as pragas agrícolas e os possíveis meios para enfrentá-las, dentre outros assuntos que poderiam animar os agricultores para desenvolverem novos cafezais.

Discutimos o fato de ter sido o artigo a “Memória sobre o produto de uma plantação de café na ilha de Cuba” (GOMES, 1835, n. 3, p. 72-77) apontado em “O Auxiliador” como a principal fonte de dados sobre os aspectos de uma plantação de café e de incentivo para que os fazendeiros brasileiros, a partir da primeira metade do século XIX, passassem a plantar e formar fazendas de café no Brasil, em grande escala, sentindo-se motivados para tanto (WERNECK, 1854, n. 9, p. 273-280).

As publicações de “O Auxiliador” poderiam animar os produtores de café, pois mostravam o potencial econômico alcançado e a relevância adquirida por esse importante produto agrícola, no contexto do consumo internacional, como foi observado e revelado por Paranhos (1882), no artigo “O café na Grã-Bretanha”, destacando que na segunda metade do século XIX “os altos preços em que se manteve o café durante alguns anos, a partir de 1871” teriam sido o principal motivo que fez com que o Brasil passasse a desenvolver o cultivo cafeeiro em larga escala, fato que explica o considerável aumento nas “exportações do Rio e Santos, que eram de 151.800,00 toneladas, em 1871-1872, atingiram o extraordinário de 324.560,00 toneladas em 1880-1881”, (PARANHOS, 1882, n. 10, p. 225).

Em 1882, outra informação importante publicada no artigo de título “O café no Brasil”, destacou alguns dados estatísticos sobre a produção cafeeira no Brasil, que estava fornecendo naquele ano quase a metade do café consumido no mundo, surpreendendo todas as expectativas sobre esse produto agrícola que há 100 anos, em 1782, era apenas uma planta

no jardim de um convento no Rio de Janeiro (O AUXILIADOR, 1882, n. 12, p. 283), sendo seu fruto mal armazenado pelos produtores brasileiros (AGUIAR, 1834, n. 5, p. 144-145), que adotavam métodos não adequados para o seu beneficiamento (O AUXILIADOR, 1850, n. 11, p. 389-399), mas que tinham em “O Auxiliador”, as possibilidades para melhorar o produto dos cafezais (O AUXILIADOR, 1874, n. 11, p. 502; LIETZ, 1878, n. 8, p. 185-187).

Nada parecia atrapalhar o desenvolvimento da agricultura cafeeira no Brasil, nem mesmo a mão de obra empregada no cultivo do café pelos produtores brasileiros, que era de quase 700 mil escravos até 1879, tendendo para a sua gradativa redução mediante a conclusão do pleno estabelecimento dos dispositivos legais voltados para a libertação dos escravos (O AUXILIADOR, 1882, n. 12, p. 283-284).

Oliveira (1878) também comentou sobre a mão de obra empregada na lavoura e sobre o transporte dos produtos agrícolas, destacando que, de forma geral:

Apesar da diminuição dos braços empregados na agricultura do Brasil, em consequência da gradual abolição da escravatura, a exportação de café e outros produtos agrícolas aumentou rapidamente em quantidade e em valor á medida quo se foram desenvolvendo as vias de comunicação. O Estado tem despendido grandes somas em garantia de juros e em subvenções de companhias de estradas de ferro e navegação a vapor; estas despesas, porém, têm sido retribuídas, pois que o tesouro nacional recebe anualmente uma soma muito maior de impostos, resultantes do desenvolvimento de riquezas enormes, que até o presente o país não podia fazer valer por falta de meios de transporte confiáveis (OLIVEIRA, 1878, n. 11, p. 251- 252).

Os membros da Sociedade Auxiliadora levantaram quatro pontos de discussão sobre a agricultura cafeeira no Brasil, na segunda metade do século XIX, especialmente na província do Rio de Janeiro, que era, naquele período, a que parecia estar passando pelas maiores dificuldades, com o objetivo de avaliar o rumo que a produção teria nos anos seguintes. Os quatro questionamentos apresentados foram investigados, discutidos e divulgados no artigo de Miranda81 (1870, n. 6, p. 239). São eles:

1º, se a moléstia entomológica dos cafezeiros foi bem, e devidamente estudada, e qual o meio de prevenir e remediar este mal; 2°, se a cultura do algodão pode ser uma grande fonte de riqueza, e substituir vantajosamente o café, quais os estudos necessários sobre a latitude e longitude dos terrenos favoráveis a esta planta, etc.; 3°, se a esterilidade e insalubridade de alguns terrenos não é devida á destruição das matas, e qual o meio de obstar e remediar esse mal; 4°, finalmente, quais as necessidades mais urgentes de nossa lavoura, etc.

Miranda (1870, n. 6, p. 240 e 246) concluiu que deve haver muitos estudos teóricos sobre a moléstia do cafezeiro, mas com nenhum resultado prático produzido, que o cultivo do café na província do Rio de Janeiro é muito vantajoso e não poderá ser substituído pelo

81

O Dr. Custódio Luiz de Miranda era agricultor na região de Resende, província do Rio de Janeiro, possuía lavoura de café e cana, por lá, há mais de 10 anos (MIRANDA, 1870, n. 6, p. 240).

algodão, citando, por exemplo, a experiência de alguns fazendeiros das regiões de Barra Mansa e Resende, que haviam ensaiado a formação de lavoura de algodão, sem sucesso, desistindo do empreendimento.

Considerou-se ser um grave erro a prática de derrubar as matas para plantar e obter fartas colheitas, encerrando, em poucos dias, o patrimônio de muitas gerações, principalmente as florestas localizadas em morros, que deveriam ser conservadas, situações que colaboraram para a ocorrência de chuvas irregulares, para a baixa humidade do solo, dureza e esterilidade