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C OMENTÁRIOS F INAIS

No documento Um estudo sobre a guerra fiscal no Brasil (páginas 124-128)

PÚBLICAS FINANCEIRIZADAS – ALGUNS DELINEAMENTOS TEÓRICOS

3. C OMENTÁRIOS F INAIS

O texto tratou da redefinição do papel atribuído à política fiscal em período recente, cuja adequação ao padrão contemporâneo mais extrovertido do capitalismo implicou a degradação das funções estabilizadoras que lhe foram antes reservadas no quadro de prevalência dos paradigmas de inspiração keynesiana. As transformações estreitaram o escopo de atuação das autoridades governamentais e os renovados paradigmas teóricos hegemônicos, ao reafirmarem a rejeição às possibilidades da política fiscal ser manejada com o intuito de fazer frente a problemas de insuficiência de demanda, delinearam as bases de um regime condizente com as exigências impostas pela liberalização financeira internacional, cujo aprofundamento da mobilidade de capitais voláteis e especulativos cobrou estabilidade, mas também previsibilidade na condução da política macroeconômica. Assim, as diretrizes endereçadas a estimular o emprego e o produto foram

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O referido estudo de Sutherland, Price & Joumard (2005), refletindo sobre a experiência da OCDE, aponta para outra categoria de regras fiscais, cujo objetivo seria assegurar a transparência e ampla publicidade das contas públicas; a definição de mecanis mos de controle e de sanções a administradores públicos, bem como mecanismos que permitam, excepcionalmente e dentro de limites bem definidos, flexibilizar a rigidez das normas para fazer frente a “choques” econômicos inesperados. Além do objetivo central de alcançar uma trajetória fiscal sustentável de longo prazo, as regras fiscais buscariam: a) contribuir para a estabilidade econômica de curto prazo; b) conferir maior equilíbrio entre a “utilidade marginal” das despesas públicas e da carga tributária, e c) promover uma alocação eficiente do dispêndio público em conformidade com as preferências da comunidade local.

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abandonadas, cedendo lugar a incumbências bem mais limitadas, direcionadas a infundir confiança nos mercados financeiros em relação ao equilíbrio intertemporal das contas públicas e, desse modo, afastar riscos potenciais de default ou de adoção de medidas que possam vir a frustrar as expectativas de rentabilidade firmadas pelos investidores mundializados.

O arcabouço institucional emergente de tais mudanças apontou para a fixação de restrições ao endividamento e limites à expansão de gastos e de tributos, bem como a subordinação da política fiscal à política monetária, cerceando a ação discricionária dos gestores das finanças públicas, cuja atribuição passou a ser a geração compulsória de superávits primários em magnitude suficiente para assegurar o compromisso inabalável com uma trajetória considerada sustentável e de solvência permanente para os passivos do Estado. No âmbito dos sistemas federativos, foi reclamada coesão das autoridades governamentais, tornando obrigatória a aderência das instâncias subnacionais a esses mesmos marcos mais rígidos de disciplinamento fiscal e de esvaziamento do poder de comandar gastos. De maneira geral, como se buscará discutir no próximo capítulo, foram tais paradigmas que balizaram o processo de ajuste das finanças estaduais promovido pelo governo brasileiro após a implementação do Plano Real, redundando na constituição de um novo regime de política fiscal no país, cujos princípios normativos gerais foram sistematizados mediante a promulgação da Lei Complementar nº 101/2000, a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).

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APÍTULO

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EESTRUTURAÇÃO DAS FINANÇAS PÚBLICAS NO PÓS

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EAL E SUAS

IMPLICAÇÕES FISCAIS E FINANCEIRAS PARA OS ESTADOS

1.INTRODUÇÃO

O capítulo analisa o ajuste das finanças dos governos estaduais efetuado após a implementação do Plano Real, apresentando, inicialmente, uma exposição descritiva das medidas adotadas para, em seguida, examinar os resultados fiscais e financeiros alcançados, bem como os efeitos mais gerais desencadeados sobre a capacidade desses entes federativos sustentarem gastos orçamentários em atividades de fomento produtivo. O argumento básico desenvolvido é de que, balizado pelos paradigmas dominantes contrários ao ativismo discricionário das autoridades orçamentárias, esse processo de ajustamento exigiu o redimensionamento dos dispêndios dos estados nas ações destinadas a promover a economia de suas respectivas regiões, de modo a compatibilizá-los à nova realidade de maiores restrições conformada no país para a gestão das contas públicas, expressando mudanças nas estratégias implementadas com vistas a atrair investimentos privados.

De fato, como discutido no capítulo anterior, a política fiscal veio a ser reavaliada sob novas perspectivas teóricas no bojo da crise e do colapso do que se convencionou denominar de Consenso Keynesiano. A atribuição estabilizadora que exercia com grande centralidade no âmbito da gestão macroeconômica foi crescentemente questionada, sendo então esvaziada e, finalmente, substituída por incumbências bem mais restritas e tópicas no quadro de aprofundamento da globalização. No contexto contemporâneo de liberalização e desregulação dos fluxos internacionais de bens e capitais, a política fiscal passou a desempenhar funções acessórias, objetivando, sobretudo, infundir confiança nos mercados em relação ao compromisso inapelável dos agentes governamentais com regras garantidoras da solvência permanente dos passivos públicos, de modo a não frustrar as expectativas de lucro formadas pelos investidores privados. Para países organizados em moldes federativos e, mais especificamente, para aqueles de histórico macroeconômico problemático, o alinhamento dos entes subnacionais a essas determinações em prol de uma postura orçamentária condizente com padrões considerados sustentáveis no longo prazo se tornou obrigatório ao prévio credenciamento à recepção de investimentos estrangeiros, tanto os diretos quanto os de portfólio.

Embora visando dar respostas a problemas persistentes, as reformas fiscais realizadas no Brasil na esteira do Plano Real estiveram inseridas nesse ambiente mais amplo de transformações e de afirmação hegemônica de uma visão convencional antagônica à ação interventora do Estado, que, na

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realidade, moldou as medidas aplicadas com a finalidade de promover o saneamento das finanças dos estados e a posterior convergência dos entes subnacionais às diretrizes liberais predominantes em âmbito federal. O texto está divido em quatro seções, incluindo essa apresentação e as considerações feitas ao final. Primeiramente, é descrito o ajuste fiscal e financeiro dos estados, cujos parâmetros fixados pela renegociação da dívida sancionada pela Lei nº 9.496, de 11 de setembro de 1997, se desdobraram nas bases de uma nova institucionalidade orçamentária mais austera, sistematizada posteriormente com a promulgação da Lei Complementar nº 101, de 04 de maio de 2000, a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). A terceira seção apresenta um balanço dos resultados alcançados, tanto do ponto de vista fiscal e financeiro quanto em relação às suas consequências para a capacidade dos estados sustentarem gastos em atividades de fomento produtivo, com os quais buscam estimular investimentos nas suas jurisdições.

No documento Um estudo sobre a guerra fiscal no Brasil (páginas 124-128)

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