• Nenhum resultado encontrado

Q UADRO 6.6 – S ISTEMÁTICA DE DILAÇÃO DO ICMS E DE DESCONTO PELA QUITAÇÃO ANTECIPADA , POR CLASSIFICAÇÃO DO PROJETO Classificação de

No documento Um estudo sobre a guerra fiscal no Brasil (páginas 196-200)

enquadramento Prazo máximo de fruição (anos) Carência (anos) Parcela do ICMS incentivado Antecipação (anos) anos antecipados Desconto por da antecipação Benefício

0 0% __ 1 30% 27,0% Classe I 12 6 90% 2 45% 40,5% 3 80% 72,0% 4 85% 76,5% 5 90% 81,0% 0 0% __ 1 30% 24,0% Classe II 10 6 80% 2 45% 36,0% 3 80% 64,0% 4 85% 68,0% 5 90% 72,0% 0 0% __ 1 20% 14,0% Classe III 8 6 70% 2 35% 24,5% 3 70% 49,0% 4 75% 52,5% 5 80% 56,0%

Fonte: Decreto nº 8.205/2002 (redação original)

Algumas regras normativas da dilação de prazo foram posteriormente reavaliadas. Uma adequação foi feita pelo decreto nº 8.413, de 30 de dezembro de 2002, que facilitou o acesso ao benefício, mediante a criação de mais quatro classes de enquadramento direcionadas a abrigar empresas que migrassem de outros programas estaduais para aproveitar as vantagens ofertadas pelo Desenvolve143. Essa movimentação tinha sido inicialmente vetada pelo citado decreto nº 8.205, de abril de 2002, aos projetos de implantação, ampliação ou modernização de plantas produtivas que tivessem firmado protocolo de intenção com o governo antes de 1999. Em combinação com o decreto nº 8.435, de 03 de fevereiro de 2003, foram acrescidos também novos percentuais do saldo devedor mensal do ICMS suscetíveis à dilatação do prazo de recolhimento (35%, 40%, 50% e 60%) e ampliado o período

143

O decreto nº 10.174, de 1º de dezembro de 2006, excepcionou as empresas habilitadas ao Bahiaplast, que poderiam, na migração para o Desenvolve, serem enquadradas nas Classes I a III.

Página | 181

de fruição do incentivo para as Classes II e III144. Cabe mencionar, finalmente, o critério especificado através do decreto nº 9.188, de 28 de setembro de 2004, que adicionou na parcela do ICMS, para efeitos do desconto praticado sobre o pagamento antecipado, os encargos financeiros correspondentes, tornando a sistemática de subsidiamento ainda mais generosa e atrativa.

O modelo empregado no Desenvolve para estimular investimentos veio a ser depois replicado em apoio a outros segmentos produtivos. A Lei nº 9.829, de 28 de novembro de 2005, por exemplo, instituiu o Programa Estadual de Incentivos à Indústria de Construção Naval (Pronaval), cujo principal mecanismo de beneficiamento foi a dilação em 72 meses do prazo de pagamento de 98% do saldo mensal do ICMS devido pelas empresas do referido setor. Com período de fruição de 12 anos (seis de carência), o tratamento tributário privilegiado englobava integralmente as operações próprias resultantes do projeto auxiliado pelo programa, recaindo sobre cada parcela dilatada do imposto juros capitalizados mensalmente, referenciados na TJLP. A liquidação antecipada propiciaria desconto de até 98% do montante do ICMS pendente, incluindo os encargos financeiros. As transações envolvendo concreto, cimento, aço e bens do ativo usados na construção e no reparo de dique seco foram incentivadas, com a dispensa de recolhimento do ICMS, e o Poder Executivo foi autorizado a permitir o diferimento do lançamento e do pagamento do imposto incidente nas operações destinadas a empresas habilitadas ao Pronaval. Essa orientação de conferir maior importância a mecanismos de favorecimento que não enlaçassem diretamente o Tesouro esteve também presente em correções adaptativas realizadas em outros programas. A Lei nº 9.430, de 10 de fevereiro de 2005, possibilitou aos beneficiários do Procomex o lançamento de crédito fiscal em substituição aos incentivos previstos, respeitando os valores, limites e condições vigentes145. O Protec admitiu o mesmo expediente: por meio do decreto nº 9.332, de 14 de fevereiro de 2005, foi consentido às empresas utilizarem como crédito fiscal o ICMS anteriormente cobrado nas aquisições de mercadorias e insumos, limitando a operação ao montante do financiamento.

No que se refere ao Procomex, o decreto nº 10.972, de 18 de março de 2008, formulou regras mais detalhadas para o uso do crédito de ICMS em lugar de seus benefícios originais. Os lançamentos válidos entre agosto de 2007 a julho de 2014 seriam contabilizados em valores distintos por períodos sucessivos de 12 meses. O percentual sujeito ao procedimento seria definido pelo Conselho Deliberativo do Fundese, com descontos crescentes de 10% a 90% ao longo do período mencionado. Adicionalmente, foi permitido que o saldo do crédito fiscal não absorvido, incluindo o

144

Para melhor detalhamento das referidas alterações legais, ver, em especial, os artigos 4º e 5º do decreto nº 8.413/2002 e o a rtigo 7º do decreto nº 8.435/2003.

Página | 182

acumulado desde 2005, fosse empregado no pagamento de débitos decorrentes de impostos retidos por substituição tributária, entrada de mercadorias importadas, denúncia espontânea e autuação fiscal ou, de outro modo, pudesse ser transferido a empresas localizadas na Bahia para quitar esses tipos indicados de obrigações.

Mais reformulações executadas nesse ano na política de fomento baiana avançaram no sentido de aguçar a capacidade concorrencial do estado, outorgando aos responsáveis pelas estratégias estaduais maior espaço para a implementação de suas ações. O Desenvolve, por exemplo, foi alterado a fim de prestar assistência a novas atividades e, assim, passou a dispor de regras ordenadas de subsidiamento a fabricantes de biodiesel, tornando possível o enquadramento de projetos nas Classes I, II e III, justamente as que proporcionavam condições mais favorecidas de dilação do prazo de pagamento do saldo mensal do ICMS devido146. Para fazer jus aos melhores benefícios, os empreendimentos deveriam utilizar determinadas matérias-primas em seu processo produtivo, como palma, girassol, pinhão manso, mamona, soja, caroço de algodão, entre outras. As unidades processadoras localizadas em cidades do semi-árido integrariam a Classe I, ao passo que as situadas nos demais municípios do estado seriam agrupadas na Classe II e, caso 70% dos insumos relacionados fossem comprados fora da região do semi-árido, na Classe III.

O Prodese recebeu igualmente nova configuração, perdendo em certa medida suas feições seletivas em troca de regras que atribuíram maior poder de decisão ad hoc aos gestores do programa. Uma modificação inicial ocasionada pelo decreto nº 11.232, de 08 de outubro de 2008, foi a melhor especificação de seus objetivos, que vieram a ser formalmente delimitados na execução de ações dirigidas a viabilizar a implantação, ampliação, reforma, modernização, manutenção, relocalização e diversificação de unidades produtivas em território baiano, bem como a construção ou reaproveitamento de edificações de empresas desativadas. As linhas de crédito ofertadas mantiveram praticamente as mesmas condições anteriores147, deixando, entretanto, de priorizar determinadas atividades para atender, genericamente, empreendimentos nos setores de indústria, comércio, serviços e rural. Mas, em contrapartida, foi delegado ao Conselho Deliberativo do Fundese a prerrogativa de eleger projetos individuais como relevantes para a economia do estado e estabelecer, intempestivamente, condições diferenciadas de financiamento a serem desfrutadas por esses

146

Estas normas foram introduzidas no Desenvolve pelo decreto nº 10.988, de 31 de março de 2008, e modificadas posteriormente pelos decretos nºs 11.933, de 19 de janeiro de 2010, e 12.128, de 19 de maio de 2010.

147

O Financiamento permaneceu com o mesmo prazo global de 15 anos (cinco de carência), limitado ao valor correspondente a 90% do investimento total do projeto beneficiado, mas teve aumento dos encargos financeiros: os juros de 6% capitalizados no período de carência subiram para a faixa entre 7% a 12% ao ano.

Página | 183

beneficiários, incluindo o acesso e as bases de operações especiais dirigidas a cobrir os encargos incorridos no período de carência.

O mesmo decreto nº 11.232/2008 alargou o alcance do Prodecon, que também passou a prover financiamento a planos de instalação, ampliação, modernização, manutenção, relocalização e diversificação de empresas, compreendendo, nesse rol, a construção ou reaproveitamento de galpão, obras civis, infraestrutura, máquinas, equipamentos e as exigências associadas de capital de giro. O Pronaval, por seu turno, permitiu às empresas diferir, para o momento da desincorporação, o lançamento e o pagamento do ICMS incidentes nas compras de bens destinados ao ativo fixo, tanto importados quanto adquiridos de fabricantes locais ou dos demais estados do país, sendo que nesta situação o benefício seria referente ao diferencial de alíquotas, conforme regulamentado pelo decreto nº 11.015, de 22 de abril de 2008. Na hipótese da desincorporação ocorrer após dois anos de uso no estabelecimento, o lançamento do imposto devido seria dispensado. A norma legal, além disso, definiu cinco faixas de desconto de 20% a 98% para o pagamento antecipado da parcela dilatada do ICMS.

Essa linha de ajustamento norteadora das últimas reformas sumariadas conduziu as alterações pontuais feitas na política de fomento da Bahia nos anos de 2009 e 2010, cabendo destacar algumas delas. Nas operações de diferimento previstas pelo Desenvolve relativas a bens integrados ao ativo fixo das empresas, o pagamento e o lançamento do ICMS incidente nas compras internas e nas importações foram dispensados desde que decorridos dois anos de uso nos estabelecimentos adquirentes, em atendimento às determinações do decreto nº 11.481, de 08 de abril de 2009. O Protec teve modificada a regra de utilização de crédito fiscal em substituição ao seus incentivos originais. O decreto nº 11.552, de 27 de maio de 2009, determinou que as empresas poderiam escriturar como crédito o ICMS cobrado nas entradas de mercadorias para posterior industrialização, tendo como limite o valor correspondente ao somatório anual do Imposto de Importação (II) e do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) referentes a partes, peças e componentes importados. O lançamento do crédito não poderia exceder a 90% do saldo devedor mensal do ICMS, ficando admitido no pagamento de débitos de ICMS diversos, bem como a sua transferência a empresas credenciadas no programa. O Prodese foi posto a suprir financiamento a obras de infraestrutura, alargando o seu horizonte de atuação, através do decreto nº 12.490, de 1º de dezembro de 2010. O documento legal aumentou de 15 para 20 anos o prazo global das linhas de crédito do programa (e também do Fundese) e definiu que as operações de apoio infraestrutural seriam remuneradas pela TJLP acrescida de uma remuneração de risco, sendo esses encargos capitalizados no período de carência.

Página | 184

4.1CONCLUSÕES PROVISÓRIAS

A avaliação precedente das principais mudanças ocorridas na política de fomento da Bahia revela uma gradual evolução que aparelhou o governo local com mecanismos de subsidiamento cada vez mais discriminatórios e concorrenciais, expressando a tentativa constante dos gestores estaduais de preservar e adequar, frente a contextos adversos de acirramento da guerra fiscal e de restrições orçamentárias crescentes, o potencial de interferência nas decisões locacionais privadas. Esse percurso, entretanto, não foi regular e demonstrou intermitências relevantes. Inicialmente, as estratégias governamentais consistiram, sobretudo, em operações de crédito subvencionadas calcadas em fundos abastecidos pelo ICMS gerado pelos próprios empreendimentos assistidos e apresentaram caráter mais genérico e, em certo sentido, defensivo: visavam atrair e estimular projetos que contribuíssem para a diversificação da economia do estado, mas objetivavam igualmente proteger a estrutura produtiva pré- existente.

A escalada das disputas federativas por investimentos, combinada com o agravamento da crise e subsequente ajuste das finanças públicas estaduais, redundando em regras compulsórias de observância da solvência fiscal de longo prazo, ambientou a reconfiguração da política de fomento baiana, efetuada mediante contínuas mudanças que minimizaram seu viés genérico em prol de instrumentos seletivos e dirigidos a promover determinados investimentos com vantagens diferenciadas. De fato, como foi relatado em detalhes, entre 1997/1999, programas e mecanismos de subsidiamento novos e existentes foram constituídos ou adequados com a finalidade precípua de prestar assistência a projetos de setores econômicos específicos, como o automotivo, petroquímico, telecomunicações e informática, entre outros. O poder decisório dos gestores estaduais de fixar e orientar os incentivos, bem como de escolher aquelas atividades produtivas sujeitas a tratamento privilegiado, foi reforçado. Ademais, medidas foram encaminhadas para auxiliar o comércio exterior e para assegurar o provimento de infraestrutura e locações moldadas às prescrições ditadas pelas empresas beneficiadas. Uma última alteração que merece ser salientada foi a maior importância conferida a modalidades extraorçamentárias de incentivos tributários, não envolvendo diretamente o Tesouro, como crédito presumido, diferimento e dispensa de recolhimento do ICMS sobre vários tipos de transações e produtos.

A reestruturação da política baiana não se esgotou nesse momento e, embora seguindo tendências análogas das correções antes implementadas, ganhou maior dimensão e amplitude, resultando, assim, no aprofundamento de seu potencial competitivo e de sua seletividade nos anos

No documento Um estudo sobre a guerra fiscal no Brasil (páginas 196-200)

Outline

Documentos relacionados