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Q UADRO 5.1 – C ONTRATOS DE RENEGOCIAÇÃO DA DÍVIDA ESTADUAL (L EI 9.946/1997) Valores em R$ Milhões correntes

No documento Um estudo sobre a guerra fiscal no Brasil (páginas 131-134)

Unidade federativa Data do contrato Valor Prazo RLR empenhada Encargos

Acre 30/04/1998 32,9 30 anos 11,5% IGP-DI + 6,0%

Alagoas 29/06/1998 777,8 30 anos 15,0% IGP-DI + 7,5%

Amazonas 11/03/1998 120,1 30 anos 11,5% IGP-DI + 6,0%

Bahia 01/12/1997 1.001,9 30 anos 11,5% a 13,0% IGP-DI + 6,0%

Ceará 16/10/1997 160,6 15 anos 11,5% IGP-DI + 6,0%

Distrito Federal 29/07/1999 512,9 30 anos 13,0% IGP-DI + 6,0%

Espírito Santo 24/03/1998 451,3 30 anos 13,0% IGP-DI + 6,0%

Goiás 25/03/1998 1.527,6 30 anos 13,0% a 15,0% IGP-DI + 6,0%

Maranhão 22/01/1998 316,9 30 anos 13,0% IGP-DI + 6,0%

Minas Gerais 18/02/1998 12.687,4 30 anos 6,79% a 13,0% IGP-DI + 7,5%

Mato Grosso do Sul 30/03/1998 1.649,7 30 anos 14,0% a 15,0% IGP-DI + 6,0%

Mato Grosso 11/07/1997 1.059,0 30 anos 15,0% IGP-DI + 6,0%

Pará 30/03/1998 332,8 30 anos 15,0% IGP-DI + 7,5%

Paraíba 31/03/1998 444,0 30 anos 11,0% a 13,0% IGP-DI + 6,0%

Pernambuco 23/12/1997 1.056,7 30 anos 11,5% IGP-DI + 6,0%

Piauí 20/01/1998 421,0 15 anos 13,0% IGP-DI + 6,0%

Paraná 31/03/1998 642,1 30 anos 12,0% a 13,0% IGP-DI + 6,0%

Rio de Janeiro 29/10/1999 19.408,8 30 anos 12,0% a 13,0% IGP-DI + 6,0%

Rio Grande do Norte 26/11/1997 68,1 15 anos 11,5% a 13,0% IGP-DI + 6,0%

Rondônia 12/02/1998 244,6 30 anos 15,0% IGP-DI + 6,0%

Roraima 25/03/1998 9,1 30 anos 11,5% IGP-DI + 6,0%

Rio Grande do Sul 15/04/1998 10.595,1 30 anos 12,0% a 13,0% IGP-DI + 6,0%

Santa Catarina 31/03/1998 2.236,7 30 anos 12,0% a 13,0% IGP-DI + 6,0%

Sergipe 27/11/1997 434,1 30 anos 11,5% a 13,0% IGP-DI + 6,0%

São Paulo 22/05/1997 59.363,5 30 anos 8,86% a 13,0% IGP-DI + 6,0%

Fonte: STN

De maneira geral, o programa federal refinanciou as dívidas por 30 anos, fixando pagamentos mensais e consecutivos, cujas parcelas foram calculadas pela Tabela Price e limitadas a um patamar entre 11,5% e 15% da Receita Líquida Real (RLR). Os juros variaram de 6% a 9% ao ano,

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As duas rodadas de renegociação de passivos estaduais anteriores, promovidas ao amparo das Leis 7.976/1989 e 8.727/1993, também estabeleceram mecanismos semelhantes para coibir a inadimplência dos governadores. Enquanto na primeira foram empenhadas as transferências constitucionais, na segunda a garantia foi estendida, incorporando recursos próprios, que poderiam ser apropriados pela União em caso de atrasos no pagamento.

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acrescidos do IGP-DI, sendo que a taxa final dependeria do valor do refinanciamento pago antecipadamente com recursos originados na venda de ativos, empresas e bancos controlados pelos estados. Em contrapartida, os governos estaduais ficaram proibidos de emitir novos títulos até o valor da dívida igualar ao da RLR anual e foram obrigados a cumprirem metas rígidas relativas a (i) resultados primários; (ii) despesas com funcionalismo; (iii) investimentos/RLR; (iv) dívida financeira/RLR; (v) arrecadação de receitas próprias e, (vi) desestatização e reforma administrativa. No âmbito da Lei 9.496/1997, foram firmados 25 contratos de reestruturação de dívidas estaduais entre 1997 e 1999, alcançando o montante de R$ 115, 554 bilhões, conforme detalhado no Quadro 5.1.

Os limites estreitos impostos aos gestores das finanças públicas estaduais ganham contornos evidentes a partir dessa apreciação panorâmica do programa federal. Em primeiro lugar, transparece o grande esforço fiscal requerido para o atendimento das metas e das obrigações estabelecidas no acordo de refinanciamento. Basta verificar, por exemplo, que os dispêndios dos serviços da dívida, que antes eram rolados praticamente na sua totalidade, passaram a ser compulsórios, alcançando valores importantes de até 15% da Receita Líquida Real. O comprometimento de tal nível de recursos assumiu dimensão substantiva, se for considerado que os estados, desde a estabilização inflacionária, incorriam em déficits primários e operacionais crescentes, determinando, por isso mesmo, ajustamento expressivo para fazer frente ao fluxo agora contínuo e obrigatório representado pelos gastos financeiros. Em segundo lugar, os governos estaduais passaram a se defrontar com barreiras claras ao financiamento por intermédio de recursos de terceiros. Além dos contratos firmados com a União obstarem as operações de crédito enquanto a dívida superasse a RLR, a reestruturação do aparato estatal vinculada ao programa tolheu os mecanismos que as administrações utilizavam no passado recente para sustentar e ampliar gastos e alavancar crédito por meio de suas empresas e, principalmente, bancos. Assim, as dificuldades fiscais e financeiras enfrentadas desde aquele momento tiveram que ser suportadas no âmbito restrito do orçamento e nas condições dadas, praticamente, pela capacidade tributária do Tesouro, num explícito estreitamento das bases de financiamento, ampliando ainda mais o esforço exigido ao atendimento das obrigações estipuladas nos acordos de renegociação da dívida. Em terceiro lugar, e como resultante dos obstáculos ao financiamento e do esforço fiscal determinado pelo ajustamento, os estados perderam, na prática, muito da autonomia que tinham no direcionamento de gastos, tanto devido às metas de evolução das despesas quanto ao fato de que os recursos primários gerados no orçamento deveriam servir a dívida renegociada.

A Lei Complementar nº 101/2000 (a LRF) viria como desdobramento dessas mudanças descritas, reforçando e dando maior amplitude aos marcos institucionais estabelecidos com vistas a

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ensejar uma gestão comprometida com o equilíbrio orçamentário intertemporal. Embora a Constituição exigisse, desde 1988, legislação específica para regulamentar diversos de seus próprios dispositivos relacionados às finanças públicas98, a promulgação da LRF no Brasil – bem como as demais reformas antes comentadas – deve ser observada num contexto mais amplo de profunda reorganização do regime fiscal vigente nos países que se integravam aos fluxos globais de investimentos, tendo como lastro os novos paradigmas contrários ao ativismo das autoridades orçamentárias, conforme já discutido no capítulo precedente. De fato, vários governos nacionais, capitaneados pelos das economias desenvolvidas, implementaram arcabouços normativos disciplinadores a partir dos anos 1990, estabelecendo limites quantitativos e regras restritivas a fim de inibir políticas discricionárias e suscitar um comportamento fiscal inapelavelmente empenhado com a sustentabilidade permanente das contas públicas no longo prazo, como notaram Hemming & Kell (2001, p. 432 e 437):

Em vários momentos durante a década de 1990, diversos países da OCDE também revisaram suas estruturas de política fiscal com vistas a promover a responsabilidade fiscal. Austrália, Nova Zelândia e o Reino Unido criaram novos arcabouços legais que colocam forte ênfase na necessidade de transparência fiscal. Vários países adotaram regras fiscais, incluindo limites para o déficit e para a dívida, previstos no Tratado de Maastricht e no Pacto de Estabilidade e Crescimento, e a regra de ouro e a regra de investimento sustentável no Reino Unido. Houve também uma maior ênfase na definição das metas plurianuais para o déficit e para a dívida (por exemplo, Austrália, Canadá, Nova Zelândia, Suécia, Suíça e Estados Unidos), bem como nas regras processuais limitadoras de despesas (por exemplo, na Suécia, Holanda, Finlândia e Estados Unidos) [...] Tais estruturas são amplamente consideradas para representar o „estado da arte‟ no que concerne à transparência orçamentária e, mais usualmente, forneceram uma abordagem de gestão fiscal que se tornou um modelo seguido por alguns países não membros da OCDE (por exemplo, Argentina, Brasil, Peru e Índia)99.

A breve referência a algumas poucas prescrições da LRF, como as listadas no Quadro 5.2, é suficiente para aquilatar a abrangência das mudanças perpetradas no regime fiscal brasileiro, cuja essência passou a ser a geração contínua de superávits primários para sustentar níveis prudenciais de dívida e de gastos consistentes com objetivos intertemporais de solvência orçamentária. Ilustrativo, nesse sentido, é o novo tratamento dado ao endividamento público, cujas regras definidas pelas resoluções nº 40/2001 e 43/2001 do Senado Federal, seguindo os princípios da LRF, impõem um esforço fiscal ininterrupto.

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Como exemplo pode ser citado o artigo nº 163 da Constituição Federal, que determinou a promulgação de uma lei complementar para dispor sobre: finanças públicas; dívida pública externa e interna, incluída a das autarquias, fundações e demais entidades controladas pelo poder público; concessão de garantias pelas entidades públicas; emissão e resgate de títulos da dívida pública; fiscalização financeira da administração pública direta e indireta, além de outros pontos. Do mesmo modo, o artigo nº 169 exigiu o estabelecimento de li mites para a despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios em lei complementar. Todos esses temas foram disciplinados posteriormente pela LRF.

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Além do citado trabalho de Hemming & Kell (2001), que apresenta as principais características do arcabouço institucional que rege a gestão orçamentária de diversos países industrializados, veja também OECD (2002).

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No documento Um estudo sobre a guerra fiscal no Brasil (páginas 131-134)

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