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Q UADRO 6.3 – I NICIATIVAS ESTADUAIS BASEADAS EM FORMAS EXTRAORÇAMENTÁRIAS DE INCENTIVOS CALCADOS NO ICMS

No documento Um estudo sobre a guerra fiscal no Brasil (páginas 164-168)

Ano de criação Beneficiário Tipo de incentivo

2003 Comércio atacadista e centrais de distribuição (Riolog) Crédito presumido, diferimento e redução da base de cálculo

2003 Área de influência do Porto de Sepetiba Redução da base de cálculo, crédito presumido, diferimento

2003 Setores de reciclagem e metal-mecânico de Nova Friburgo Crédito presumido, diferimento e redução da base de cálculo

2003 Importação pelos portos e aeroportos fluminenses Diferimento e redução do ICMS

2003 Empresas das regiões Norte e Noroeste fluminense Crédito presumido e diferimento

2003 Empresas instaladas em Porto Seco/EADI Diferimento

2003 Polo de Alumínio Redução da base de cálculo e diferimento

2003 Informática Crédito presumido

2004 Setor têxtil, aviamento e confecção Diferimento

2004 Fabricantes de autopropulsores Redução da base de cálculo e diferimento

2004 Perfumaria, cosméticos e produtos de higiene pessoal Diferimento, redução da base de cálculo e transferência de saldo credor entre estabelecimentos que usufruam de crédito presumido

2004 Compra de produtos fabricados no Rio de Janeiro pelo setor público estadual

(CompraRio) Isenção de ICMS

2004 Produtos farmacêuticos Diferimento, redução da base de cálculo e crédito presumido

2004 Fabricantes de bebidas alcoólicas Crédito presumido

2004 Álcool combustível Redução da base de cálculo

2004 Indústria Ferroviária Diferimento

2004 Indústria de Material escolar Crédito presumido e diferimento

2004 Investimentos, materiais, artefatos, peças e acessórios da indústria óptica Redução da base de cálculo e diferimento

2004 Comércio eletrônico Crédito presumido e diferimento

2004 Indústria de bens de capital e de consumo durável Redução da base de cálculo, crédito presumido e diferimento

2004 Querosene de aviação Redução do imposto a pagar

2005 Indústrias instaladas no Norte, Noroeste e Centro-Norte fluminense Diferimento

2006 Indústrias químicas Redução da base de cálculo, diferimento

2008 Aquisição de máquinas, equipamentos, peças, partes e acessórios para incorporação

ao ativo fixo de indústrias instaladas em território fluminense Diferimento

Fonte: Agência de Fomento do Estado do Rio de Janeiro (Investerio).

A Lei autorizativa nº 4.174, de 29 de setembro de 2003, alargou a área de influência do Porto de Sepetiba, que passou a englobar os municípios de Itaguaí e Queimados e os distritos industriais de Campo Grande e Santa Cruz, localizados na capital do estado – além das citadas cidades de Japeri, Paracambi e Seropédica. A nova legislação dava plenos poderes ao governo para oferecer vantagens a projetos de instalação e de expansão executados nessas localidades, desde que mobilizassem investimento fixo mínimo de 500.000 UFIR-RJ e não implicassem transferência ou interrupção de atividades de plantas em funcionamento no território fluminense. Aos empreendimentos enquadrados poderiam ser oferecidos: i) financiamento; ii) crédito presumido e redução da base de cálculo do ICMS de até 100%, e iii) diferimento do imposto em operações de importação e aquisição

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interna de máquinas, equipamentos, peças, partes, componentes, matérias-primas e insumos destinados aos projetos subsidiados. De modo complementar, a Lei nº 4.185, de 29 de setembro de 2003, instituiu o Programa de Fomento à Atividade Econômica na Região do Porto de Sepetiba (Pró Sepetiba) no âmbito do Fundes, com o propósito de prover financiamento a investimento fixo e a capital de giro. Poderiam requerer enquadramento aos incentivos, projetos associados às operações portuárias nas seguintes situações: i) instalação de novas unidades produtivas com investimento mínimo de 500.000 UFIR-RJ; ii) expansão de estabelecimentos que resultassem em ampliação de pelo menos 30% da capacidade instalada e de inversão mínima de 300.000 UFIR-RJ, e iii) processos de relocalização de plantas que gerassem aumento de pelo menos 30% da capacidade produtiva, correspondendo a cifra mínima de 500.000 UFIR-RJ. O valor do financiamento poderia cobrir 150% do investimento fixo, sendo o desembolso feito em parcelas mensais equivalentes a até 9% do faturamento incremental. O prazo de utilização, incluindo a carência, foi definido em 84 meses. A amortização, também por igual período, seguiria o modelo SAC, pagando juros fixos de 6% ao ano – devidos a cada três meses, durante a carência, e mensalmente, na fase de amortização.

2.1CONCLUSÕES PROVISÓRIAS

O acompanhamento feito nos parágrafos precedentes do aparato regulador dos principais programas de incentivo do Rio de Janeiro permite apreender a tendência básica que fundamentou as transformações efetuadas na política de fomento do estado. É possível verificar que as sucessivas mudanças efetuadas pelo governo fluminense foram no sentido de adequar os instrumentos disponíveis às cambiantes circunstâncias contextuais com as quais se defrontava, buscando resguardá-los, em alguns aspectos, e exacerbá-los, em outros. Assim, o movimento dominante não foi outro senão o de conferir uma entonação cada vez mais agressiva e discriminatória às estratégias manejadas para atrair investimentos e, em simultâneo, o de reforçar a importância dos benefícios de natureza tributária no âmbito dessas mesmas estratégias, sobretudo aquelas modalidades de subsidiamento fiscal extraorçamentárias, cuja utilização veio a ser intensificada para favorecer determinadas operações de atividades e setores selecionados.

Nos anos iniciais do Plano Real e frente ao acirramento das disputas federativas por projetos produtivos, as providências encaminhadas visaram revitalizar a capacidade do estado de influenciar as decisões de alocação espacial dos investimentos, de modo a permitir uma inserção competitiva na guerra fiscal em curso. Mas à medida que o poder de comandar gastos das autoridades

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estaduais era crescentemente contido, em virtude do agravamento paulatino da situação das contas públicas e das obrigações que iam sendo firmadas no bojo do ajuste patrocinado pela União para fazer face às dificuldades de ordem fiscal e financeira, alguns expedientes vieram a ser adotados na tentativa de revigorar o potencial de concorrência do Rio de Janeiro em relação aos demais entes federativos.

A diretriz geral das correções efetuadas entre 1996/1999 foi a de definir um escopo mais seletivo para a política de fomento fluminense e, ao mesmo tempo, dotá-la de maior competitividade, através, por exemplo, da melhoria das condições dos incentivos e da ampliação do alcance da assistência prestada às empresas. As adaptações nesse momento consistiram na instituição de novos programas de estímulo dirigidos a setores específicos; a designação de fontes suplementares de recursos para custear excepcionalmente ações de fomento do governo e a adoção de dispositivos visando garantir o cumprimento dos benefícios acertados contratualmente com empreendimentos subvencionados.

A mesma orientação seria replicada e aprofundada nos anos posteriores a 1999, objetivando sustentar e reforçar a capacidade de concorrência do Rio de Janeiro perante os outros estados envolvidos na guerra fiscal, mas agora num quadro institucional de rígido disciplinamento orçamentário, cujas regras, fixadas pelo processo de renegociação da dívida e consolidadas pela LRF, cobraram inapelável compromisso com a solvência intertemporal das contas públicas. Uma linha de ação emblemática nessa fase de restrições fiscais e financeiras mais demarcadas foi a maior ênfase conferida aos incentivos que não enlaçam diretamente o Tesouro – como ocorre nas típicas operações de crédito triangulares calcadas na arrecadação incremental de ICMS, nas quais o imposto recolhido previamente pela empresa estimulada é devolvido depois na forma de um financiamento subsidiado. Assim, ganharam expressão no âmbito dos programas do Rio de Janeiro outras modalidades extraorçamentárias de beneficiamento sustentadas no ICMS, como crédito presumido, diferimento e redução da base de cálculo, a fim de dispensar tratamento privilegiado a atividades e transações de determinados setores econômicos escolhidos previamente para serem enquadrados em regimes tributários diferenciados. De igual forma, vários programas de cunho discriminatório foram instituídos com a finalidade precípua de apoiar setores produtivos selecionados e áreas geográficas específicas, bem como suprir infraestruturas em conformidade com as necessidades exclusivas dos projetos assistidos em separado, acentuando, com isso, o viés seletivo da política de fomento fluminense, que veio se tornando cada vez mais dedicada e focada na promoção de investimentos em bases progressivamente competitivas e individualizadas.

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3.PERNAMBUCO

Foi no limiar do Plano Real que o governo de Pernambuco decidiu reordenar suas estratégias de fomento e instituir novos mecanismos de atração de investimentos, a fim de adquirir maior capacidade de concorrer nas disputas interestaduais por empreendimentos produtivos, em franco avanço àquela altura, e superar o persistente ciclo de baixo dinamismo que vinha caracterizando a trajetória da economia local desde pelo menos meados da década de 1970118. Um procedimento adotado para a consecução de tais objetivos foi a criação, no final de 1995, do Programa de Desenvolvimento de Pernambuco (Prodepe), buscando municiar os gestores estaduais com instrumentos aptos a influenciar as escolhas locacionais das empresas119. No triênio inaugural de operação, o Prodepe veio a ser submetido a sucessivos ajustes que reforçaram seu potencial competitivo, configurando, em verdade, um prelúdio das transformações posteriores, cujo sentido foi o de tornar a política de incentivos regional cada vez mais seletiva e dedicada a projetos privados específicos. Essa tendência geral, de fato, se insinuou de imediato, na formulação e nas primeiras alterações das normas de funcionamento do programa, entre 1995/1998. O movimento observado no período, como será relatado, envolveu, principalmente, a intensificação do direcionamento de vantagens diferenciadas a um número crescente de determinados setores, atividades, aglomerações produtivas e localidades, elegidos como prioritários e relevantes. As correções efetuadas promoveram a melhoria nas condições de subsidiamento prestado a esses alvos preferenciais do Prodepe, que também passou a apoiar as importações de bens a eles destinados. As medidas enfeixadas nesses anos iniciais

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A economia pernambucana ingressou numa fase de estagnação a partir da segunda metade dos anos de 1970, que se prolongou no quinquênio inicial da década de 1980 e, a despeito da recuperação ensaiada no momento subsequente, persistiu nos anos 1990. Lima, Sicsú & Padilha (2007) arrolam os seguintes fatores explicativos para essa evolução, dentre outros determinantes: i) a perda de importância do estado como entreposto comercial regional no bojo da integração da economia nacional; ii) dificuldades vivenci adas pelo setor sucroalcooleiro pernambucano, que só recentemente recuperou desempenho mais satisfatório; iii) maior direcionamento de blocos de investimentos federais estruturantes para outros estados do Nordeste no âmbito do II PND, como Bahia, Alagoas, Sergipe e M aranhão; iv) estratégia da Sudene de promover a desconcentração produtiva intraregional no Nordeste, implicando retraimento do apoio em termos de incentivos fiscais à Região Metropolitana de Recife nos anos 1970/1980; v) a menor agressividade que pautou a política de atração de investimentos do governo estadual, que foi, de acordo com Lima (1997), marcada por grandes descontinuidades desde a década de 1950.

119 O Prodepe, na realidade, veio substituir o Fundo Cresce Pernambuco (Funcresce), que havia sido reestruturado no final de 1994 ,

mediante a transformação de seus financiamentos em operações de diferimento do ICMS. Tal conversão decorreu do temor de que o governador oposicionista eleito naquele ano, Miguel Arraes (PSB), decidisse extingui-lo ao tomar posse (Lima, 1997, p. 66). Instituído pela Lei nº 10.649, de 25 de novembro de 1991, o Funcresce supria financiamento para investimento fixo e capital de giro, bem como recursos destinados à aquisição e preparação de terrenos industriais. O decreto nº 18.295, de 28 de dezembro de 1994, determinou que, a partir de 1º de dezembro de 1994, os financiamentos providos pelo Funcresce seriam transformados em diferimento do recolhimento do ICMS, observando: i) todas as condições, prazos, limites e encargos previstos para o financiamento; ii) a manutenção da legislação de estrita aplicabilidade em relação às parcelas já financiadas; iii) a continuidade de condições idênticas àquelas que seriam usu fruídas pelo beneficiário em decorrência do estímulo correspondente; iv) a abrangência do diferimento equivalente a 50% do ICMS devido no período. Posteriormente, a Lei nº 12.543, de 30 de março de 2004, reafirmou essa norma, retroagindo seus efeitos para 1º de dezembro d e 1993. Conforme Lima (1997, p. 68), após a efetivação das mudanças, 28 dos 136 projetos habilitados ao Funcresce foram transferidos para o Prodepe, a pedido dos próprios beneficiários.

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ampliaram o alcance do programa, mas, ao mesmo tempo, deram maior foco ao seu escopo de atuação, que ficou mais seletivo.

No documento Um estudo sobre a guerra fiscal no Brasil (páginas 164-168)

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