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Campanário, Batistério, e Cúria Metropolitana A título de informação, entre final de 1950 e final de 1960, alguns destes elementos subsidiários sofreram novos arranjos até a situação definitiva.

Livro VII. Dos acabamentos para os edifícios privados.

Superinterpretação 41 Ao retomar o mítico abrigo rústico, por certo, Lucio Costa aperfeiçoou o

76 Campanário, Batistério, e Cúria Metropolitana A título de informação, entre final de 1950 e final de 1960, alguns destes elementos subsidiários sofreram novos arranjos até a situação definitiva.

A verdade é que, se houve certa neutralidade na definição do lugar para a inserção da Catedral, sob a perspectiva do entorno, e essa decisão privou, em parte, a obra da monumentalidade requerida, caracterizando, segundo Comas, “[...] o chamado espaço maquete, perspectivamente desolador, conceituamente passivo, experencialmente insólito” (COMAS, 1986, p. 92). Em parte. Para Alberti, foi atendida a recomendação: bem frequentado, bem conhecido e proeminente (ALBERTI, 2011).

Mas foi em Brasília que minha arquitetura se fez mais livre e rigorosa. Livre no sentido da forma plástica; rigorosa, pela preocupação de mantê-la em perímetros regulares e definidos (Oscar Niemeyer).

Culto moderno. Liberdade no sentido de reconhecer, na tradição das catedrais góticas, seus valores

místicos e simbólicos; rigorosa pela obsessão geométrica de onde deriva a planta centrada, perfeita, e de sua relação com o corpo humano, herança vitruviana. “Pois nenhum templo poderá ter esse sistema sem conveniente equilíbrio e proporção e se não tiver uma rigorosa disposição com os membros de um homem bem configurado” (VITRÚVIO, 2009, p. 109). Ao livre, o dinâmico. Ao rigoroso, o estático. Muito antes da Catedral de Brasília ser concebida, Lucio Costa a descreveria virtualmente:

Dualidade figurada, de um lado, pela concepção estática da forma, na qual a energia plástica concentrada no objeto considerado parece atraída por um suposto núcleo vital, donde a predominância dos volumes geométricos e da continuidade dos planos de contôrno definido e a conseqüente sensação de densidade, de equilíbrio, de contensão (arte mediterrânea); e, por outro lado, pela concepção formal dinâmica, onde a energia concentrada no objeto parece querer libertar-se e expandir, – seja no sentido unânime de uma resultante ascencional (arte gótica), seja em direções contraditórias simultâneas (arte barroca), seja revolvendo-se e voltando sobre si mesma (arte indu), seja rodopiando à procura de um vértice (arte Eslava), seja fragmentando-se aprisionada dentro de limites convencionais (arte árabe), seja ainda, abrindo-se em elegantes ramificações (arte iraniana), ou, finalmente, recurvando-se para cima num ritmo escalonado (arte sino-japonesa) – donde a fragmentação dos planos e a predominância das massas de aparência arbitrária e silhueta ponteaguda, irregular, torturada, retorcida, intrincada, graciosa ou ondulada, conforme o caso, e como conseqüência, inversamente, as sensações de embalo, de encantamento, de prestidigitação gráfica, de vertigem, de angústia, de impulso extravasado e de

serenidade ou exaltação (COSTA, 1952, p. 8 grifo nosso).

L'architecture se rapproche de la sculpture, celle-ci se réconcilie avec celle-là; elles sont prêtes, toutes deux, à s'intégrer77 (Sigfried Giedion).

Se no MES e na Igreja de São Francisco de Assis da Pampulha as artes plásticas entram na composição integrando-se, de modo a formar um todo corente e harmônico, na Catedral de Brasília, a escultura se incorpora à própria arquitetura, ocasionando uma solução compacta, homogênea, monolítica, a própria arte escultórica. Segundo Oscar Niemeyer, a superação desta obras está em:

Realizar uma catedral que não necessita cruz nem imagens de santos para simbolizar a Casa de Deus, uma escultura monumental traduzindo uma ideia religiosa, um momento de oração. Um bloco uniforme, simples e puro. Um objeto de arte (BOTEY, 2002, p. 164).

77 Citando Sigfried Gidion, em A Forma na arquitetura, de Oscar Niemeyer (1978): “A arquitetura se aproxima da escultura, esta se reconcilia com aquela, estando prontas para se integrar”.

Quando uma forma cria beleza ela tem uma função e das mais importantes na arquitetura (Oscar Niemeyer).

Se pela ótica urbana negligenciaram-se o eixo, as visadas e a área contígua à igreja – árida e fria –, a arquitetura garantiu sua monumentalidade, e seu caráter individual, concentrando-se na conversão da estrutura em uma grandiosa escultura de 40 metros de altura que consiste em “uma grande circunferência de 70m de diâmetro rebaixada três metros em relação ao nível da esplanada e ‘coberta’ por uma estrutura da forma de um paraboloide de revolução” (SCHLEE, 1990, p. 18). Este rebaixamento faz crer na influência da recomendação de Alberti sobre Niemeyer para igrejas consagradas aos deuses terrestres: a Catedral N. Sra. da Conceição Aparecida – virgem negra cuja imagem apareceu para três pescadores nas águas do Rio Paraíba do Sul, na época da escravidão (1717).

Sobre o particular da forma, assim como a escolha da planta circular ratifica a filiação clássica, bem como a dedução a 16 elementos estruturais78 realça a ideia de número perfeitíssimo, tanto para os antigos gregos, cujo número perfeito era dez, quanto para os matemáticos gregos, para quem era perfeito o número seis, chegando finalmente à ideia de número perfeito que, para os romanos, era dezesseis (VITRÚVIO, 2009). É plausível pensar que a dedução das partes tenha decorrido, unicamente, da adequação da forma ao cálculo estrutural, embora a feliz coincidência colabore com a discussão sobre a tradição clássica que foi absorvida pelo moderno brasileiro e que vem sendo colocada em relevo na tese.

Alberti, no Livro Sétimo, falava que a natureza se compraz principalmente nas formas circulares e, por fim poligonais (ALBERTI, 2011, p. 439). No caso da Catedral, o uso do hexadecágono regular79 extrapola a imaginação de Alberti, que percebeu que os “antigos usavam de seis, ou oito, ou até de dez ângulos” (ALBERTI, 2011, p. 440); como também corrobora que a ideia inicial foi puramente racional. Porém, mal sabia ele que o que era para ser compreensível logicamente era impossível tecnicamente, pelo menos numa parte, diz Oscar Niemeyer:

Quando iniciei os estudos para a catedral, sabia que meu projeto deveria constituir, por sua ligeireza, um exemplo de técnica contemporânea. Recordei-me das antigas catedrais do passado, as quais, cada uma exprimindo o progresso da época em que foram construídas, conquistavam o espaço com as estruturas audazes, a beleza das fachadas e dos interiores ricamente ornamentados. Ora, com a descoberta do cimento armado, que oferece inúmeras possibilidades, sentia poder ambicionar a algo mais. (NIEMEYER, 1998, p.106).

Substância. Catedral monolítica na forma e na materialidade. Vidro e concreto amalgamados na

mesma solução, não haveria um sem o outro. Transparência e opacidade. Leveza e robustez. Claro e escuro. A síntese material proposta por Niemeyer far-se-ia virtude, em um limite insuperável. Yves Bruand vê a existência real da Catedral de Niemeyer – como síntese de toda sua obra:

Mais do que nunca, procurou uma forma compacta e límpida, um volume único capaz de surgir com a mesma pureza fosse qual fosse o ângulo de visão externa sob o qual se apresentasse. Assim, foi de maneira natural que chegou à planta circular e teve a ideia

78 Originalmente eram 23.

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