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Tombamento do Edifício Sede do Ministério da Educação e Saúde

Livro VII. Dos acabamentos para os edifícios privados.

Superinterpretação 41 Ao retomar o mítico abrigo rústico, por certo, Lucio Costa aperfeiçoou o

3.2.2 Tombamento do Edifício Sede do Ministério da Educação e Saúde

Localização: Casa à Rua da Imprensa, Nº 16, Rio de Janeiro, D.F.

Quadro 2. Movimentações do Processo Nº 375/T-48 na ordem dos autos

IDENTIFICAÇÃO: Nº PROCESSO 375/T-48/ D.P.H.A.N/ D.E.T SEÇÃO DE HISTÓRIA

Decreto-lei n. 7.148 de 13 de dezembro de 1944. Autoriza o Prefeito do Distrito Federal a dar terreno que menciona Autoridades: Getúlio Vargas e Alexandre Marcondes Filho

Data: 15 de dezembro de 1944

Decreto n. 8.012 de 28 de dezembro de 1944. Faz a doação do terreno que menciona Autoridade: Henrique Dodsworth. Prefeito do D.F

Data: 28 de dezembro de 1944 D.O.U em 30/12/44. Seção II

Proposta de Tombamento: Edifício Sede do Ministério da Educação e Saúde Destinatário: Lucio Costa. Diretor D.E.T

Parecerista: Alcides da Rocha Miranda. Chefe da Seção de Arte Data: 03 de março de 1948

Data: 08 de março de 1948

Autoridade Adminstrativa: Lucio Costa. Diretor D.E.T

Manuscrito. Despacho Administrativo. “Expeçam-se as notificações para o tombamento” Autoridade Administrativa: Rodrigo Melo Franco de Andrade. Diretor Geral D.P.H.A.N Data: 08 de março de 1948

Notificação Nº 544. Tombamento do Edifício Sede do Ministério da Educação e Saúde. Original e Cópia Data: 09 de março de 1948

Destinatário: Clemente Mariani Bittencourt. Ministro da Educação e Saúde

Autoridade Administrativa: Rodrigo Melo Franco de Andrade. Diretor Geral D.P.H.A.N Recibo de Notificação de Tombamento

Local/ Data: Rio de Janeiro, 12 de março de 1948

Notificação Nº 545. Tombamento do Edifício Sede do Ministério da Educação e Saúde Data: 09 de março de 1948

Destinatário: Lourival Telles de Menezes. Diretor da Secretaria do Patrimônio da União Autoridade Administrativa: Rodrigo Melo Franco de Andrade. Diretor Geral D.P.H.A.N Recibo de Notificação de Tombamento

Local/ Data: Rio de Janeiro, 10 de março de 1948

Manuscrito. Despacho Administrativo. Inscreva-se no Livro Tombo Nº 03 Data: 17 de março de 1948

Autoridade Administrativa: Rodrigo de Melo Franco de Andrade. Diretor Geral D.P.H.A.N Manuscrito. Comprovante da Inscrição no Livro Nº 03: Tombo das Belas Artes

Data: 18 de março 1948 Nº Inscrição: 315. Folha: 66

Registrador: Carlos Drummond de Andrade. Chefe da Seção de História D.S.P.U 341. Anotação a respeito do imóvel

Destinatário: Rodrigo Melo Franco de Andrade. Diretor Geral D.P.H.A.N Data: 30 de junho de 1948

Autoridade Administrativa: Eng. Francisco Behrensdore Junior. Diretor Secretaria do Patrimônio da União Autos do Processo de Tombamento Nº 375/T-48: Volume I (107p.). Anexos 1, 2, 3 e 4 (44p.). Nº total de Páginas: 151p.

Juntada de Documentos: Autorização de Doação Terreno e Doação (1, 2/151); Parecer, Despacho e Ofício de Solicitação Notificação (3, 3.1/151); Notificação Nº 544, Recibo e Cópia (4,5,6/151); Notificação Nº 545, Recibo (7, 8/151); Inscrição e Comprovante de Inscrição no Livro Tombo (9/151); Oficio de Comunicação S.P.U e Despacho (10/151). Demais movimentações (11 a 151/151).

Transcrição da proposta de tombamento escrita por Alcides da Rocha Miranda e endereçado à Lucio Costa:

Sr. Diretor da D.E.T:

Nos termos do art. 9, II, a, do Regimento aprovado pelo decreto Nº 20.3030, de 2 de janeiro de 1946, tenho a honra de propor o tombamento, como monumento de arquitetura civil, do edifício-séde do Ministério da Educação e Saúde, à rua da Imprensa, Nº 16, no Distrito Federal, com área complementar, integrante da mesma construção. Justifica-se a medida proposta, pelo fato de tratar-se da primeira edificação

monumental, destinada a séde de serviços públicos, planejada e executada no mundo, em estrita obediência aos princípios da moderna arquitetura. Esse caráter

de edifício marco de uma nova fase da evolução da arquitetura lhe vem sendo reconhecido pelos críticos e especialistas mais autorizados da Europa e da América, tal como é do conhecimento público, através das publicações técnicas. A obra em questão reveste-se, assim, da maior importância, do ponto de vista artístico e histórico, sendo assim de toda conveniência coloca-la sob a proteção do Decreto-lei Nº 25, de 30 de novembro de 1937, que classifica e manda conservar e proteger o patrimônio de arte do país (MEC, Nº 375/T-48, 1948, p. 3, grifo nosso).

A proposta de tombamento do edifício sede do Ministério da Educação e Saúde também foi de ofício. Redigida aos 03 de março de 1948, partiu da Divisão de Estudos e Tombamento por meio da relatoria de Alcides da Rocha Miranda, Chefe da Seção de Arte, com anuência de Lucio Costa, Diretor da Divisão de Estudos e Tombamento e despacho de Rodrigo Melo Franco de Andrade, Diretor Geral do Departamentanto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (DPHAN).

Chancelado nos termos do Art. 9º, inciso II, alínea a, do regimento interno aprovado pelo Decreto Nº 20.303, o texto ainda propõe: “o tombamento dos monumentos e das obras de arte assim inventariados e classificados, quando satisfizerem as condições previstas no Decreto-lei N° 25, de 30 de Novembro de 1937”, amplificando assim seus domínios, no destaque dado à “área complementar integrante à mesma construção” (MEC Nº 375/T-48, 1948, p. 3).

As “condições previstas” presentes no Decreto Nº 20.303 ratificavam, especialmente, o art. 18º do

Decreto-lei, regulamentando a ocupação da vizinhança da coisa tombada. Dada a dupla referência do

relator no parecer técnico sobre esse tema, nota-se uma disposição prévia da jurisprudência em relação à preservação das visuais do entorno do bem tombado e a sinergia entre a competência do órgão de preservação, o instrumento de proteção e o parecer técnico, sendo assim favorecidas as medidas cautelares dirigidas ao referido monumento moderno, assunto amplamente debatido no parecer PR 10.642-68, Nº 744-H, de 16 de setembro de 1968, cujo assunto “Construção em área tombada”, será desenvolvido ainda nesta seção.

Destarte, em atendimento ao art. 5º do Decreto-lei Nº 25/37, após efetuadas as notificações, aos 17 de março de 1948, o Diretor Geral do DPHAN, Rodrigo Melo Franco de Andrade, expediu a inscrição no Livro Tombo a que se refere o art. 4º, alínea 3, do edifício-séde do Minitério de Educação e Saúde, localizado à Rua da Imprensa, Nº 16, na cidade do Rio de Janeiro, DF. O bem foi inscrito aos 18 de

março de 1948, sob Nº 315, no Livro Tombo de Belas Artes, fl. 66.

Sabe-se que, durante e após sua construção, o edifício que viria a se tornar monumento protegido por lei, e celebrada obra prima mundial da arquitetura moderna era combatido pela opinião pública com duras críticas: elevado custo, construção demorada, megalomaníaco. Foi apelidado de Capanema Maru, identificação clara com o Ministro Gustavo Capanema, e com os navios cargueiros japoneses

que atracavam no porto do Rio de Janeiro – sentido pejorativo advindo da insensatez dos academicistas (CAVALCANTI, 2006).

Neste contexto, era razoável a antecipação da proteção jurídica do MES, mesmo que a ameaça constituída fosse de domínio ideológico, uma vez que o edifício era alvo persistente daqueles que se colocavam como opositores obstinados do movimento moderno – já identificados neste texto. Não se davam conta da autenticidade do monumento enquanto fundamento, enquanto programa, enquanto método construtivo e, principalmente, enquanto documento da nova identidade nacional, valores mais ou menos destacados no parecer técnico de Rocha Miranda.

Como visto, a autenticidade tem colaborado com a proteção internacional de bens culturais, estando condicionada através da distinção entre o objeto material e sua mensagem – ou valor que o mesmo transmite – segundo o contexto social e cultural, e não segundo modelos universais (LOGGIA, 1996). O parecer técnico esclarece que esses valores do MES foram tombados: “[...] primeira edificação monumental, destinada a séde de serviços públicos, planejada e executada no mundo, em estrita obediência aos princípios da moderna arquitetura”.

Considerando os valores do MES e o valor atribuído à atualidade, Riegl já assinaria sua condição de monumento e protótipo, pelo menos porque além de despertar um significado, trouxe as referências do passado para a situação contemporânea, influenciando posteriormente o contexto.

Autenticidade versus conservação. Entretanto, as sucessivas demandas por reformas e alterações

nas funções administrativas do MES também geravam preocupações com relação à sua autenticidade material, desde a transferência do DF para Brasília (1960), e a definitiva transformação do MES em Palácio Gustavo Capanema (1985). Anos depois, uma carta de Lucio Costa ao Ministro Celso Furtado soa como alerta sobre essa questão, atentando para a “condição de monumento tombado” (1986):

O palácio nasceu assim – “je suis comme je suis”, da canção – e assim deve permanecer: está tombado. Os novos ocupantes que se conformem e adaptem, internamente, à intencional sobriedade dele, ao seu digno e severo despojamento. (COSTA, 1995, p.142, grifo do autor).

A internacional sobriedade e o digno e severo despojamento do MES, Lucio Costa já havia destacado no Esclarecimento (1937), transcrito na íntegra no início deste capítulo e assim referenciado: “[...] necessidade de traduzir de forma adequada a ideia de prestígio e dignidade logicamente sempre associada à coisa pública” (COSTA, 1937, p. 132). Aliás, como citado, o Esclarecimento (1937) serviu de referência direta ao parecer de tombamento do relator Alcides da Rocha Miranda, especialmente no parágrafo em que coloca o valor da arquitetura moderna em questão:

Justifica-se a medida proposta, pelo fato de tratar-se da primeira edificação monumental, destinada a séde de serviços públicos, planejada e executada no mundo, em estrita obediência aos princípios da moderna arquitetura. Esse caráter de edifício marco de uma nova fase da evolução da arquitetura lhe vem sendo reconhecido pelos críticos e especialistas mais autorizados da Europa e da América, tal como é do conhecimento público, através das publicações técnicas (MEC, Nº 375/T-48, 1948, p.3).

Do mesmo modo, o trecho poderia ser substituído, sem perdas de conteúdo, por:

Sob êsse aspecto convem acentuar ser esta a primeira vez que se empregam em obra de tal importância e de forma assim tão clara e precisa, os princípios da nova técnica de

construir, ha tantos preconizada pelos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna. [...]. Estamos simplesmente a aplicar, com conciência, os princípios reconhecidos pelos arquitetos modernos do mundo embora nenhum governo ainda os tivesse oficialmente adotado em obra de tamanho vulto. Trata-se, assim, de um empreendimento de repercussão internacional e como tal terá seu lugar na história da arquitetura contemporânea. Prova disto é o interesse que vêm demonstrando pela obra as melhores visitas técnicas e estrangeiras (COSTA, 1995, p. 133).

Também em argumento, perderam seus opositores. Com o MES, ganhou a equipe de Lucio Costa109, em know-how, expertise, reverência e visibilidade, sendo Oscar Niemeyer seu maior beneficiário, embora a autoria da obra não seja citada nos autos. Afirma Lucio Costa:

Entretanto o êxito integral do empreendimento só foi assegurado devido à circunstância de estar incluída entre os seus legítimos autores a personalidade que se revelaria a seguir decisisva na formulação objetiva, pelo exemplo e alcance da própria obra, no rumo novo a ser trilhado pela arquitetura brasileira contemporânea (COSTA apud SANTOS, 1977, p. 133).

Prevalentemente, “venceu a arquitetura”, conforme sentenciava Lucio Costa no Boletim do Patrimônio: “A boa arquitetura de um determinado período vai sempre bem com a arquitetura de qualquer período anterior – o que não combina com coisa alguma é a falta de arquitetura” (IBPC, 1992). Da significativa “fala” de Lucio Costa, percebe-se, contudo, um tom subjetivo, qualificativo, que não explica o que de fato representa a boa arquitetura, embora se possa entender, revisitando a própria obra de Lucio Costa, que a sua noção de valor está muito identificada com os princípios da tradição clássica e colonial, ligando-o à Vitrúvio e outros.

Autenticidade em risco. Identificado inicialmente com causas ideológicas e posteriormente com a

autenticidade, tanto material quanto doutrinária do monumento, o tombamento do MES teve outros desdobramentos, antecipando a salvaguarda de seu entorno. Vizinha ao MES, a Igreja de Santa Luzia, inscrita no Livro Tombo de Belas Artes, em julho de 1938, é um marco evocativo da cidade colonial, estando implicada numa celeuma de décadas envolvendo a administração pública, o SPHAN, o MES e a Fundação Getúlio Vargas (FGV).

A discussão tem início em 1957 a partir da manifestação da FGV ao SPHAN de alienar, para fins de construção, terrenos de sua propriedade havidos por doação da União e compra, posterior ao tombamento do MES110, situados à Rua Santa Luzia, contíguos ao Palácio da Cultura111 e à Igreja de mesmo nome – ambos monumentos tombados e cuja inscrição no Livro Tombo inclui a área pleiteada. Tendo seu pedido recusado, a FGV invoca o Decreto-lei Nº 3.866, de 26 de novembro de 1941, cujo artigo único dispõe sobre o cancelamento de bens pertencentes à União, aos Estados e Municípios. A intenção da requerente era desvincular, unicamente, a área adjacente incluída no tombamento do Palácio da Cultura, efetivado em 1948. Ocorre que a dispensa do acautelamento da área contígua acarretaria danos irreparáveis à ambiência e visibilidade dos monumentos, ocasionando a livre intromissão de edificações comerciais no entorno imediato dos referidos bens culturais.

Reconhecendo, entretanto, a necessidade da requerente de provimento de recursos indispensáveis à manutenção de suas atividades, o Diretor do SPHAN pleiteou, junto ao Ministério da Educação e

109 Afonso Eduardo Reidy, Carlos Leão, Jorge Moreira, Ernani Vasconcelos e Oscar Niemeyer. 110 Quando se transferiu a área doada, e se adquiriu a que lhe era contígua, toda área já era tombada. 111 Primitivamente sede do MES.

Cultura, a desapropriação dos terrenos desmembrados em três lotes: 1A, 1B e 2. Porém, com a transferência da capital federal para Brasília, a aquisição por parte da União tornava-se inviável. Assim, o SPHAN admitiu a construção, sob regulamentação, do primeiro lote, resultando no edifício Barão de Mauá, condicionando a aprovação do projeto à transformação dos dois lotes remanescentes em área non-aedificandi, lotes estes que deveriam ser permutados por dois equivalentes, de propriedade da União, despacho dado por Juscelino Kubistchek, em 21 de agosto de 1958.

Quando tudo parecia acertado, o Governo do antigo Estado da Guanabara deliberou, por Processo Administrativo (PA) a restituição dos lotes remanescentes, para fins de uso e ocupação comercial. Tão logo tomou conhecimento do fato, o Diretor do SPHAN solicitou ao Governo do antigo Estado da Guanabara, a imediata revogação do PA porque ia de encontro à preservação dos monumentos tombados, quanto à integridade de suas perspectivas.

A insistência da FGV em ocupar os lotes remanescentes, após acordo firmado com SPHAN, culminou com o indeferimento pronunciado pela Consultoria Geral da República, que ainda recomendou: “[...] qualquer edificação naquela área ou em sua vizinhança, terá, forçosamente de ser aprovada e autorizada pela Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, consoante os termos do art. 18º do Decreto-lei Nº 25/37” (DOU, 12/11/1968, p. 13).

O assunto sobre a permuta de imóveis pertencentes ao Patrimônio da União com terrenos da FGV, situados na área tombada do Palácio da Cultura, se estendeu até 1983, quando o Secretário de Cultura Marcos Vinícios Vilaça encaminhou ao Diretor do Serviço de Patrimônio da União, José Alfredo de Azevedo Nunes, pelo Ofício Nº 082/82 de 27 de abril de 1983, a solicitação de laudo de avaliação dos lotes de propriedade da FGV, para que fossem definitivamente permutados na forma da lei, cumprindo- se, assim, a determinação do Art. 18 do DL Nº 25/37, citado no parecer de tombamento. O que, segundo a apreciação de Mindlin sobre o MES, evitou:

[...] habitual aglomeração de prédios maciços, alinhados às calçadas, o terreno em volta do edifício oferece uma margem de espaço livre, utilizado com o objetivo racional e prático de banhar o edifício de luz, de ar, de sol, o que porporciona um ambiente adequando à monumentalidade do projeto, monumentalidade que é verdadeira expressão do programa e que raramente é conseguida pelos arquitetos contemporâneos (MINDLIN, 1999, p. 218).

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