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Livro VII. Dos acabamentos para os edifícios privados.

Superinterpretação 41 Ao retomar o mítico abrigo rústico, por certo, Lucio Costa aperfeiçoou o

51 Dado extraído da Prefeitura BH.

atingiu São Miguel das Missões, a soma com as obras de recuperação custou R$ 1,68 milhão52 para a federação.

Em um país de dimensões continentais e em crise permanente, que supera a marca de 1,2 mil bens tombados – só a nível federal, a discussão sobre os valores que representam patrimônio cultural, em termos nacionais, cognitivos, econômicos e artísticos, é no mínimo necessária. E que segundo Max Dvorák: “quando se destróem os monumentos e as obras de arte, destróem-se valores morais que a eles estavam atrelados e que sustentavam a vida em seus mais diferentes aspectos” (DVORÁK, 2008, p. 16).

Desde dezembro de 2017 a Igreja de São Francisco de Assis está fechada ao público, e assim permanecerá até que as reformas estruturais e de restauro sejam concluídas. Segundo o IPHAN, os custos advindos do PAC Cidades Históricas totalizarão mais de um milhão de reais.

Isto posto, após compatibilizar arquitetura e sociedade, Razões da Nova Arquitetura exibe também a coincidência entre tradicional e moderno, desenvolvida através da técnica e do ambiente. A parcela mais didática do texto de Lucio Costa demonstra que uma das motivações que orientou o avanço da nova arquitetura no seu aspecto construtivo foi a estrutura independente, executada tanto em concreto quanto em metal:

É este o segredo de toda nova arquitetura. Bem compreendido o que significa essa

independência, temos a chave que permite alcançar, em todas suas particularidades, as intenções do arquiteto moderno; porquanto foi ela o trampolim que, de raciocínio em raciocínio, o trouxe às soluções atuais – e não apenas no que relaciona à liberdade de

planta, mas, ainda, no que respeita à fachada, já agora denominada “livre”,

pretendendo-se significar com essa expressão a nenhuma dependência ou relação dela com a estrutura (COSTA, 1995, p. 112, grifo nosso).

Visto que Razões da Nova Arquitetura é um tema com propósito pedagógico, a preocupação de Lucio Costa, persistente desde a ENBA, consistia na dissociação entre estrutura e arquitetura, portanto, no atraso tecnológico que, então, a arquitetura moderna propõe recuperar:

Em todas as grandes épocas as formas estéticas e estruturais se identificaram. Nos verdadeiros estilos, arquitetura e construção coincidem. E quanto mais perfeita a coincidência, mais puro o estilo. [...] Nós fazemos exatamente o contrário – se a estrutura pede cinco a arquitetura pede cinquenta (COSTA, 1995, p. 68).

Mas não era só esta a inquietação do arquiteto. Movida pela nova realidade, a nova arquitetura necessitava um meio absoluto para se prospectar de fato. É daí que o ambiente, tanto físico quanto cultural, tipificará as referências para as estratégias de projeto.

O que não foi possível realizar na reforma da Escola, foi feito aqui, cinco anos depois: a adequação da arquitetura à nova tecnologia construtiva do aço e do concreto armado. Em 1938, com o prédio do Ministério já em construção, ainda não havia em Nova York nenhum arranha-céu com fachada envidraçada – a “curtain-wall” ou “mur rideau” – surgiram todos depois (COSTA, 1995, p. 122).

52 Dado extraído do IPHAN.

Para além de arquitetura e sociedade, moderno e tradicional, arquitetura e construção, técnica e ambiente, outras vinculações vão legitimar-se, tendo lugar no edifício do Ministério da Educação e Saúde; seja por meio do “histórico e simbólico” de Lucio Costa (COSTA, 1975), seja por sua versão mais recente, “protótipo e monumento” de Carlos Eduardo Dias Comas (COMAS, 1987).

3.1.2 Nova técnica

Assim, a crise da arquitetura contemporânea, como a que se observa em outros terrenos, é o efeito de uma causa comum: o advento da máquina. É pois natural que, resultando de premissas tão diversas, ela seja diferente, quanto ao sentido e à forma, de todas aquelas que precederam, o que não a impede de se guiar – naquilo que elas têm de permanente – pelos mesmos princípios e pelas mesmas leis (COSTA, 1995, p. 110).

Mesmo não atuando na dianteira da equipe do MES53 para o terreno do Castelo, Lucio Costa satisfez sua crença nos aportes da tradição, que, somados ao contágio da arte livre e pura de Le Corbusier e à inventividade de Oscar Niemeyer, renovaram a nova arquitetura, a partir deste momento brasileira e independente, confirmando a sentença: moderno quer dizer livre.

Segundo Lucio, longe de ser um insulto ou uma provocação, a liberdade fora um estímulo e uma conquista histórica e simbólica, tanto porque houve a consagração da arquitetura de grande porte adaptada à nova tecnologia do concreto armado, quanto porque atestou a independência intelectual provinciana sobre o dogmatismo dominante europeu. Disse, Bernard Rudovsky: “Na arquitetura brasileira é possível encontrar uma riqueza de peculiaridades nativas as quais eloquentemente descartam qualquer insinuação de que seus arquitetos seguem uma fórmula impostada de fora” (AU, 1998, p, 59).

Ambiência fenomenológica. Mas antes, uma síntese sobre a conquista do território, também uma

peculiaridade, uma vez que relacionar o objeto de estudo com o contexto mutante facilita na compreensão de sua história e do que ambos significam para a cidade.

A área central ocupada pelo MES é decorrente do desmonte do Morro do Castelo, parte reveladora da paisagem colonial do Rio de Janeiro. Iniciada nos primórdios do século XX, esta ação de renovação urbana, feita à época, fez parte de um plano maior de melhoramentos, encampada inicialmente por Francisco Pereira Passos, prefeito do Distrito Federal, visando resolver contradições de paisagem, em que o traçado costeiro irregular, a presença de montanhas como a do Castelo, São Bento, Santo Antônio e Conceição e a exuberância de praias e florestas, impactavam a ligação entre as reduzidas áreas planificadas.

A capital da República contrastava ainda com uma área central degradada, de características coloniais, com ruas estreitas e escuras, cortiços e carroças. Era preciso resolver, prioritariamente, o saneamento, a circulação e a pavimentação e embelezamento, canalizando rios, estendendo a cidade em direção a zona sul, ampliando as vias de circulação, implementando o transporte de massa (bonde elétrico) e dando imponência aos edifícios representativos.

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