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Parafraseando Ana Carolina Santos Pellegrini, ‘Quando o projeto é patrimônio: a modernidade póstuma em questão’ (2011).

Livro VII. Dos acabamentos para os edifícios privados.

Superinterpretação 41 Ao retomar o mítico abrigo rústico, por certo, Lucio Costa aperfeiçoou o

66 Parafraseando Ana Carolina Santos Pellegrini, ‘Quando o projeto é patrimônio: a modernidade póstuma em questão’ (2011).

Desde 2013 até setembro de 2018, o edifício começou a ser desocupado e atualmente está fechado para visitação. A obra, isolada por tapumes, está na iminência de iniciar as reformas internas e de paisagismo. Segundo o Portal do Ministério da Cultura:

A conclusão da segunda etapa das obras do Palácio Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro, está em fase final e será entregue em agosto. A obra – que inclui fachadas, esquadrias e teto do pilotis – foi iniciada em dezembro de 2014 e já contou com recursos do MinC de cerca de R$ 34 milhões, provenientes do programa PAC Cidades Históricas/Avançar. A próxima etapa, referente ao projeto para os espaços internos, restauração de azulejos e paisagismo externo, está em fase final de elaboração (MINISTÉRIO DA CULTURA, 15/06/2018).

Em setembro de 2018 o portal de notícias do Estadão anunciava: “MinC inaugura obra de 29 milhões em prédio histórico no Rio”. A pauta fez referencia à inauguração das obras de restauração das fachadas, inciada em dezembro de 2014. O prédio, desocupado desde março de 2017, vai permanecer assim até a conclusão da reforma interna dos espaços, com prazo de dois anos, aproximadamente, e custos estimados em 80 milhões:

Ainda que a reforma não esteja concluída, em 2020 o prédio deve ser usado pela União Internacional de Arquitetos para eventos do 27º Congresso Mundial de Arquitetos. Depois o palácio voltará a ser usado pelas instituições brasileiras (ESTADÃO, 19/09/2018).

O edifício, elevado à condição de ícone do movimento moderno brasileiro, não experimentou o esquecimento ou a depredação gratuita; pelo contrário, sempre representou um espaço acessível social e politicamente, dentro da capital fluminense, sendo cenário frequente às produções cinematográficas, culturais, bem como manifestações políticas.

Fechando o paralelo com o texto Razões da Nova Arquitetura e suas ênfases conforme a tese – nova realidade, nova técnica e nova prática –, e ainda dentro da seção Princípio Fundamental, a discussão seguinte, sob a guarida da nova arquitetura, partirá para a análise de outros dois ícones da modernidade que se internacionalizaram: a Estação de Hidroaviões de Attílio Corrêa Lima (1938) e a Catedral de Brasília (1959), de Oscar Niemeyer.

3.1.3 Nova prática

Deixemos, no entanto, de lado essa pseudo-arquitetura, cujo interesse é documentar, objetivamente, o incrível grau de incompreensão a que chegamos, porque ao lado dela existe, perfeitamente constituída de seus elementos fundamentais, em forma, disciplinada, toda uma nova técnica construtiva paradoxalmente ainda à espera da sociedade a qual, logicamente, deverá pertencer (COSTA, 1995, p. 108).

Como já visto, a nova arquitetura só virou monumento porque, mais do que uma forma de recordar, despertou para um tempo histórico presente. À procura de um novo equilíbrio, buscando a celebração dos verdadeiros atributos de uma tradição nativa e colonial, houve, contudo, a necessidade de uma

reinterpretação de sua natureza por parte de artistas e arquitetos, pois moderno nunca quis significar um novo colonial. Na realidade, no neocolonial brasileiro, a fascinação era pelo “neoestrangeiro”, que, travestido de arquitetura acadêmica de final de século, de historicismo panamericano, de colonial espanhol, de californiano ou missões, era tudo – menos um neocolonial por excelência.

Tradição sim; modismo não. As feições do neocolonial brasileiro, entretanto, denotavam total ausência de nostalgia com o que foi sua arquitetura pregressa. Neste aspecto é que está a defesa contrária à falta de estilo do moderno, porque é justamente a partir do aprimoramento – e às custas da gênese “do estilo precedente” – que se situa a razão de sua existência e de sua filiação acadêmica ou erudita: “Ser Moderno é ter estilo”.

O próprio Lucio Costa transitou do neocolonial de segunda fase ao moderno, tendo, contudo, que aceitar suas ambivalências, inclusive em situações externas à criação arquitetônica. Sensato a ponto de reconsiderar suas escolhas, mesmo após sua breve e retumbante passagem pela ENBA (1930-31), era publica e duramente criticado, especialmente por José Mariano Filho – por quem Lucio Costa fora apadrinhado na academia. “Inexperiente, infiel e ambicioso”, desqualificações proferidas por Mariano Filho a Lucio Costa67 que, por sua vez, as revidava com maturidade, percepção estética e autocrítica. Em uma oportunidade, disse Lucio Costa: “o importante é penetrar-lhe o espírito, o verdadeiro sentido, e nada forçar. Que venha de dentro pra fora, e não de fora pra dentro, pois o falso modernismo é mil vezes pior que todos os academismos” (COSTA apud XAVIER, 2003, p. 58).

Sobre a percepção sócio-econômica dizia, corbusianamente, Lucio Costa: “gostar ou não das formas modernas deixa de ser um direcionamento estilístico para se tornar uma necessidade política e social” (CAVALCANTI, 2006, p.13). Como se vê, a estratégia discursiva de Lucio Costa sobre a nova prática em arquitetura caminhava na direção de restituí-la à razão, diferenciando o falso do verdadeiro, exaltando seus princípios fundamentais e seu argumento coletivo, por isso é que se torna tão convincente.

Convincentes eram também os primeiros ensaios da nova arquitetura. Na primeira fase, foi importante o Albergue da Boa Vontade (1931), de Affonso Eduardo Reidy e Gerson Pompeu Pinheiro – cujo projeto foi decorrente de concurso público. No mundo, a legenda “racionalismo e funcionalismo”, associada à “máquina de morar” corbusiana, era perseguida aqui por Gregori Warchavchick, que escreveu o Manifesto de 1925. Sobre esse tema, discorre Paulo Santos: “[...] muito divulgado nos jornais do Rio e S. Paulo, foi interpretado entre os arquitetos como se o projeto arquitetônico devesse ser a precisão de uma fórmula matemática. Mas só em teoria, porque na prática a arquitetura que resultou desta interpretação tinha muitas falhas [...] (SANTOS, 1977, p. 121).

Fascinava ainda mais o edifício do Ministério da Educação e Saúde, MES, enquanto protótipo, monumento e documento, representante máximo da segunda fase da nova arquitetura. Faz lembrar o Livro III do tratado vitruviano, que considera o templo como modelo para todo tipo de edifício. Longe de ser um templo, o MES é um edifício governamental polifuncional; mas tanto o templo quanto o MES contêm uma combinação de funções utilitárias e simbólicas que se expressam, mais ou menos. Inegavelmente, que no templo predomina a função simbólica; no edifício administrativo, a utilitária. Entretanto, o fato de incluir atividades culturais num edifício essencialmente burocrático fez com que, no MES, as funções utilitárias e simbólicas fossem equilibradas.

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