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O Museu foi planejado de acordo com as construções jesuíticas, sendo empregadas,

Livro VII. Dos acabamentos para os edifícios privados.

Substância 40 O Museu foi planejado de acordo com as construções jesuíticas, sendo empregadas,

preferencialmente, pedras, telhas, e madeira. A qualidade dos recursos materiais encontrados no sítio histórico, e sua conveniência, propiciando a reutilização, como componentes referenciais de pilares e capitéis.

A busca pela tradição local, por si, seria suficiente para Vitrúvio enquadrar Lucio Costa na definição de arquiteto virtuoso, por ressaltar a importância da teoria (ratiocinatio) e da prática (fabrica), primeiro capítulo do primeiro livro do tratado De Arquitetura. O mesmo enunciado retoma a definição de valor

39 Reescrita de Christian Norberg-Schulz quanto ao genius loci.

escrita por Aloïs Riegl, que transforma o monumento numa unidade símbolo do contexto onde está inserido. Segundo Lucas Mayerhofer:

Tinha-se em vista uma construção simples, destinada a servir de abrigo as peças recolhidas das diversas regiões missioneiras e que, ao mesmo tempo, representasse a reconstituição de alguns elementos do antigo passeio alpendrado que se desenvolvia ao longo das casas dos indígenas. Está localizado no ângulo NO da praça de São Miguel*(I), e consta de três seções de compartimentos limitados em dois de seus lados por paredes paralelas, abrindo-se nos outros dois para um largo alpendre que faz a volta do edifício. É coberto por um telhado de quatro águas, cujo madeiramento se apoia nas empenas das quatro paredes paralelas e nos pilares das varandas.

*(I) Foi localizado em uma das extremidades da antiga praça “para servir de ponto de referência e dar uma idéia melhor de suas dimensões”. (MAYERHOFER, 1947, p.41).

Os registros documentais dão conta que Lucio Costa iniciou o trabalho com uma viagem às Missões de São Miguel, produzindo um relatório detalhado, com data de 20 de dezembro de 1937, contendo as medidas a serem tomadas: escavações, limpeza, levantamento, consolidação da ruína, remoção sem danos dos materiais pertencentes a São Miguel encontrados em outras reduções jesuíticas, e um “museu” por ele descrito:

O “museu” deve ser um simples abrigo para as peças que, tôdas de regular tamanho, muito lucrarão, vistas assim em contáto direto com os demais vestígios; e como a casa do zelador precisa ficar no recinto mesmo das ruínas, é natural que os dois sejam tratados conjuntamente, ocupando a construção, de preferência, um dos extremos da antiga praça para servir de ponto de referência e dar uma idéia melhor de suas dimensões. Conviria mesmo, aproveitando-se o material das ruínas e os esplêndidos consolos de madeira do antigo colégio de São Luiz, reconstituir algumas tramas do antigo passeio alpendrado que se desenvolvia ao longo das casas. Sugiro, dentro dêsse critério, duas soluções que remeto a vossa apreciação:

1º a construção de um grande alpendrado com os pilares internos substituídos por panos de parede caiados de branco para fazer “fundo” às peças expostas e tudo diretamente ligado à casa do zelador que seria murada, a fim de isolar as atividades domésticas da vista dos visitantes;

2º o aproveitamento para abrigo das peças colaterais da própria Igreja, fazendo-se para tanto uma cobertura simples de tellha vã – telha antiga ou fabricada de acôrdo, não se devendo empregar as modernas telhas de canal cujo tamanho e aspéto destoariam do resto; os fragmentos e imagem seriam então arrumados ao longo das paredes ou junto aos pilares da nave. A casa do zelador continuaria no extremo da praça, mas a reconstituição do alpendrado – necessário, a meu ver, para se ajuizar do valor do conjunto, ficaria reduzida às proporções de um pórtico de quatro pilares. Aliás para que os visitantes – geralmente pouco ou mal informados, “compreendam” melhor a significação das ruínas, sintam que já houve vida dentro delas, e, se possível, também, “vejam”, como o Sr. Augusto Meyer “aquela porção de indios se juntando de manhãzinha na Igreja”, parece-me indispensável a organização de uma série de esquemas e mapas, além de plantas de São Miguel, acompanhados de legendas que expliquem de maneira resumida, porém clara e precisa, a história em verdade extraordinária das Missões, e como eram as casas, a organização dos trabalhos nas estâncias e oficinas, as escolas de ler e música, as festas e os lazeres, mas tudo disposto de forma atrente e objetiva, tendo-se sempre em vista o alcance popular. O alpendrado anexo à casa do zelador poderia servir, também, para êsse fim”.

A segunda solução acabou sendo adotada. Os trabalhos de consolidação passaram a ser executados em 1938, sendo repetidos adiante, entre 1980 e 1983, como preparação para a inscrição das Ruínas

de São Miguel Arcanjo, como Bem Cultural da Humanidade, em 06 de abril de 1983. Já o Museu das Missões foi criado pelo Presidente Getúlio Vargas mediante do Decreto-lei-federal Nº 2.077 aos 08 de março de 1940 (publicado no D.O.U aos 11 de março de 1940):

Art.1º. Fica criado em São Miguel, Município de Santo Angelo, Estado do Rio Grande do Sul, o Museu das Missões, com a finalidade de reunir e conservar as obras de arte ou de valor histórico relacionadas com os Sete Povos das Mssões Orientais, fundados pela Companhia de Jesus naquela região do país.

Art. 2º. O Museu das Missões será instalado na construção executada para este fim pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional reconstruindo umas das seções dos de antigos alpendrados que formam a praça do povo de São Miguel.

Art. 3º. O projeto de organização do Museu das Missões será elaborado oportunamente pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Art. 4º. Revogam-se as disposições em contrário.

Rio de Janeiro, 08 de março de 1940, 110º da Independência e 52º da República. Getúlio Vargas

Gustavo Capanema.

Com o crescimento do acervo, que começou a retornar ao sítio após apropriações indevidas, ficou difícil agenciar o Museu por falta de espaço. Foi aí que, em 1954, demandaram-se novas soluções para a primeira reforma e ampliação do Museu, e a dúvida estava em replicar sua estrutura ou aproveitar parte da Ruína, cobrindo-a. Assim, o Museu permaneceu único com a escolha da última opção.

Ainda havia ali, então, muita coisa pra se ver (Lucio Costa).

O acervo artístico é formado por uma grande quantidade de esculturas em madeira policromada, onde, através da análise superficial pode ser identificada a mão dos escultores e dos índios. No Brasil, todo esse acervo começou a ser levado em consideração, como produto cultural no século XX, quando desde o seu início se efetuam ações esporádicas para proteger os remanescentes arquitetônicos (SPHAN, 1989, p. 3).

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