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SOCIOLOGIA MILITAR

CAPÍTULO 2 – OS TEMAS AGLUTINANTES DA SOCIOLOGIA MILITAR

4. Relações Civis-militares

4.3. Caracterização das competências do Poder Político em relação à área militar

conjunta; elaborar os projectos da definição das missões específicas das Forças Armadas, dos sistemas de forças e do dispositivo militar; Chefes de Estado-Maior dos Ramos

São os comandantes dos respectivos ramos e compete-lhes: dirigir, coordenar e administrar o respectivo ramo; assegurar o comando das forças que integram a componente operacional do sistema de forças nacional pertencentes ao seu ramo; definir a doutrina operacional do seu ramo

Fonte: Apontamentos de Sociologia Militar ao curso de ISA).

4.3. Caracterização das competências do Poder Político em relação à área militar

Prescreve a nossa Constituição, já desde 1976 que, tal como acontece em todos os regimes democráticos, “as Forças Armadas obedecem aos órgãos de

soberania competentes, nos termos da Constituição e da lei” (4. do art. 275°).

O Tenente General Belchior Vieira, numa das suas aulas de Sociologia Militar, enquanto ainda era director do IDN dizia que, no processo de transição para a democracia iniciado em 25 de Abril de 1974, é lícito distinguir quatro períodos na evolução da competência do poder político, em relação à área

militar:

No primeiro período, entre 1974 e a Constituição de 1976, procedeu-se à separação orgânica dos domínios militar e político, sendo conferida às Forças Armadas uma completa autonomia;

No segundo período, entre a Constituição de 1976 e a sua revisão de 1982, foi mantida, com base no teor da lei fundamental, votada pela a Assembleia Constituinte, a nítida separação entre os domínios militar e político. Foram então atribuídas ao Conselho da Revolução (composto exclusivamente por militares), entre outras, as funções de conselho do Presidente da República (militar) e de órgão político e administrativo em matéria militar.

O Governo e a Assembleia da República não tinham qualquer compe- tência no âmbito das Forças Armadas, com o Governo confinado à condução da política geral do país e à direcção superior da administração pública. Este enquadramento legislativo consagrava, na prática, a institucionalização quase autonómica das Forças Armadas no seio do Estado.

Neste contexto, o ministro da Defesa Nacional não detinha qualquer competência em matéria de defesa e das Forças Armadas, limitando-se a ser um agente de ligação entre o Governo e a estrutura superior militar;

O terceiro período, que decorreu a partir da revisão constitucional de 1982 e da publicação da Lei de Defesa Nacional e das Forças Armadas (Dezembro de 1982) até 1991, corresponde ao reconhecimento constitucional da subordinação das Forças Armadas aos órgãos de soberania, com a consequente extinção do Conselho da Revolução e do Movimento das Forças Armadas e a transferência da administração das Forças Armadas para o Governo, surgindo o Ministério da Defesa Nacional (MDN) como o departamento governamental através do qual as Forças Armadas passaram a inserir-se na administração directa do Estado.

A generalidade das competências legislativas do extinto Conselho da Revolução transitaram para a Assembleia da República, enquanto a distribuição das competências executivas foram objecto de uma cuidadosa ponderação, procurando-se garantir, para a maioria dos casos, o concurso efectivo de pelo

menos dois órgãos de soberania para que uma decisão pudesse ser tomada e executada, assim procurando garantir que uma tal decisão representasse uma política de Estado e não um simples capricho de uma entidade, os interesses de um partido ou a táctica de uma coligação governamental.

O Governo passou a ser o órgão superior da administração das Forças Armadas. Foi criado o Conselho Superior de Defesa Nacional como um verdadeiro órgão de concertação político-militar presidido pelo Presidente da República;

O quarto e último período, que decorreu entre 1991 e a data actual, corresponde, enfim, à redefinição das bases da organização das Forças Armadas, tendo em vista a sua reinserção plena num Estado de direito democrático. Neste sentido foram transferidas do Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA) para o MDN todas as responsabilidades de coordenação não relacionadas com o comando operacional;

Em suma, actualmente as competências fundamentais dos órgãos políticos do Estado responsáveis pelas Forças Armadas podem ser assim sintetizadas:

Presidente da República

Declarar a guerra, em caso de agressão efectiva ou iminente, e fazer a paz, sob proposta do Governo, ouvido o Conselho de Estado e mediante autorização da Assembleia da República; declarada a guerra, assumir a sua direcção superior em conjunto com o Governo; nomear e exonerar, sob proposta do Governo os Chefes dos estados-maiores; declarar o estado de sítio ou o estado de emergência; ratificar os tratados internacionais;

Assembleia da República

Legislar e fiscalizar a acção governativa em matéria de Forças Armadas; aprovar os tratados internacionais; aprovar as leis de programação militar e o Orçamento do Estado;

Governo: Elaborar e fazer executar as leis de

programação militar e o Orçamento do Estado; fazer os regulamentos necessários à boa execução das leis em matéria das Forças Armadas; determinar a mobilização militar; definir o conceito estratégico de defesa nacional; Primeiro-ministro:

Dirigir a política de defesa nacional, pela qual é politicamente responsável; coordenar e orientar a acção dos ministros nos assuntos relacionados com a defesa nacional; em caso de guerra, assumir a sua direcção superior em conjunto

com o Presidente da República; Ministro da Defesa Nacional

É politicamente responsável pela elaboração e execução da componente militar da política de defesa nacional; pela administração das Forças Armadas; pela preparação dos meios militares e resultados do seu emprego;

Conselho Superior de Defesa Nacional

É o órgão específico de consulta relativa, não só aos assuntos de defesa nacional, como também aos assuntos de organização, funcionamento e disciplina das Forças Armadas, dispondo de alguma competência administrativa;

Conselho Superior Militar

Reúne os quatro Chefes de Estado-Maior sob a presidência do ministro da Defesa Nacional; é o principal órgão consultivo militar do ministro da Defesa Nacional.

Fonte: MDN

Pela Constituição da República, é obrigação do Estado a Defesa Nacional. Para além da sua finalidade básica de responder a qualquer agressão ou ameaça externa, forma hoje demasiado simplista para uma realidade internacional cada vez mais complexa, a Constituição da República define pelo seu artigo 273º os objectivos permanentes da Defesa Nacional como sejam “a manutenção da

Independência Nacional; Integridade do Território; Liberdade e Segurança das Populações”.

Pelo seu artigo 275º determina-se que “às Forças Armadas incumbe a defesa

militar da República”.

Mas, as Forças Armadas são também sempre uma reserva dissuasória a favor da estabilidade geral; um meio de integração social e nacional e, em consequência, de coesão nacional; um importante instrumento de política externa e de afirmação nacional.

Neste ponto, uma questão conceptual e de fundo tem de ser clarificada. São as Forças Armadas apenas um instrumento do Estado?

Ou são elas antes de tudo, uma emanação da Nação e só depois um instrumento do Estado?

Se forem apenas um instrumento do Estado, não são mais do que um Serviço que, em teoria, até poderia ser extinto, ou privatizado, como acontece com tantos outros.Mas se forem uma emanação da Nação, então assumem um carácter de permanência.

O seu aspecto instrumental pode ser adaptado, revisto, corrigido e actualizado, mas a sua razão de existir mantém-se, porque são uma necessidade, antes de serem um instrumento, na medida em que sempre corporizaram a vontade nacional, estando sempre associadas aos objectivos nacionais, independentemente do poder político vigente.