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TEORIAS E MODELOS DE ORGANIZAÇÃO MILITAR

CAPÍTULO 4 – O ESTUDO DA ORGANIZAÇÃO MILITAR

3. A cultura organizacional no Exército

3.2. A Empresa Militar

Numa perspectiva histórica pode dizer-se que a cultura organizacional nas empresas é ainda um objecto de estudo relativamente recente. “O seu estudo

teve início a partir dos anos oitenta, nos EUA, onde especialistas da teoria das organizações renovaram a abordagem tradicional, propondo o embrião de uma teoria da cultura da empresa” (Strategor, 1993:355).

Autores como Lemaitre, citado em Humanator, referem “o papel da

cultura como essencial para o êxito da empresa, pois é a partir da sua cultura que esta passa a imagem para o exterior; se a imagem transmitida não for concordante com as normas e valores exteriores poderão daí advir conflitos e tensões” (Câmara, 1997:83).

Assim, segundo João Bilhim, “a cultura da empresa pode constituir um factor

negativo quando a mesma não estiver alinhada com os valores que reforçarão a eficácia de actuação da empresa no mercado” (idem:87).

Segundo João Pereira Neto “No que se refere à sociedade civil mencionamos,

em primeiro lugar, as empresas de maiores dimensões que estão bem organizadas. Estas poderão servir como modelos de excelência, a serem meditados tendo em vista a elaboração do modelo ou modelos limites para que deveremos tender. Os especialistas que nelas trabalham poderão ser os grandes artífices da definição do modelo ou modelos a seguir. Paralelamente terão de continuar atentos para que os padrões da cultura organizacional das respectivas empresas não percam a funcionalidade que, neste momento, lhes permite atingir e superar o limiar da excelência” (1989:60).

A organização militar constitui um domínio aparte na organização das empresas e, de certo modo também, nas administrações públicas clássicas, embora cada administrador tenha as suas características próprias.

No entanto, dada a sua antiguidade e a amplitude do seu raio de acção, a organização militar fixou rapidamente os seus métodos próprios e influenciou até as próprias empresas privadas.

Na perspectiva de Herbert Spencer, existem dois tipos ideais de sociedade: “as sociedades militares e as sociedades industriais. Cada uma delas

corresponde a um estádio de evolução específico. Enquanto que as sociedades de tipo militar são constituídas por estruturas e funções simples e elementares, as de tipo industrial são constituídas por estruturas e funções complexas e compostas. O seu carácter distintivo pode sublinhar-se essencialmente através das características das estruturas e funções das organizações e instituições correspondentes a cada tipo de sociedade e, por outro lado, pela natureza da sua adaptação e selecção face às contingências do meio ambiente” (cit. in Ferreira:52).

Em administração, faz-se muitas vezes alusão ao vocabulário militar (chefes de estado-maior, objectivos a alcançar, missões a cumprir, investigação operacional, tipos de estrutura).

A divisão, entre militares e civis, como a de funcionários públicos e simples cidadãos, é essencialmente contingente e precária; depende das concepções políticas do momento e da evolução dos espíritos e da legislação.

O Exército de outros tempos, por exemplo, confiado a mercenários e a capitães encarregados do seu recrutamento, pagamento e organização das tropas, assemelha-se muitíssimo a uma empresa privada ao serviço do poder público; além de que a distinção entre serviços públicos e serviços privados está longe de ser imutável.

Alguns serviços públicos são geridos e organizados como os empreendimentos privados (nacionalizações, repartições de gestão autónoma, empresas industriais do Estado). Só uma legislação mais ou menos de execução caracteriza e diferencia o serviço de interesse ou utilidade pública e o serviço puramente privado.

Entendendo que a teoria da empresa assenta em três dimensões (empírica, teórica e cultural), Cunha diz-nos que “uma teoria é uma concepção, um

modelo da realidade, uma representação das regularidades ou padrões que observamos, mesmo que tal representação seja pouco sistematizada” (1999:18).

No momento presente as Forças Armadas constituem, em todos os países, um serviço público distinto dos outros pelas missões, pelas prerrogativas, pela aparência exterior (uniforme, armamento), pelo funcionamento hierarquizado; torna-se necessário incluir aqui em certa medida, as forças para-militares.

Aliás temos de verificar que, por razões de eficiência, certas empresas civis adoptam a hierarquia e a disciplina militar (Marinha Mercante, Exército de Salvação). Assim a empresa militar caracteriza-se por: Objectivos gerais de ordem política; preparação para a guerra, para a defesa dos interesses da nação, tal como interpretados pelo Governo e pelo Poder, o que implica objectivos

mais específicos (instrução dos recrutas, fabricação de armamento, formação dos quadros, legislação e regulamentação complexas e específicas).

Missões concebidas sob a forma de operações limitadas ou gerais, quer em tempo de guerra, quer em tempo de paz (ocupação, participação em actividades civis de interesse nacional, comboios navais patrulhas, pontes aéreas).Por este facto, a organização das forças armadas assenta nas seguintes considerações:

O clima de trabalho, em tempo de guerra, é de insegurança, o que torna a execução muito difícil e aleatória, exigindo, por vezes, do pessoal sangue-frio, ardor e resistência física e moral sem par; a ordem de batalha, o reagrupamento da unidade e do material, as alterações no comando, as missões nas regiões desconhecidas, põem constantemente tudo em questão mais uma vez, o que pressupõe, entre as forças armadas, uma hierarquia reconhecida e de aplicação universal, incluindo os exércitos estrangeiros em caso de cooperação internacional.

Desta forma “a teoria da empresa responde a uma questão essencial: Por que

existem empresas? A teoria da empresa trata ainda da determinação da dimensão da empresa e do âmbito da actividade de negócios no seio da empresa” (Cunha, 1999:15).

Nas empresas civis pode-se tolerar, sem prejuízo para a eficiência, uma certa imprecisão nas funções e na hierarquia, salvo quando as condições de execução e as relações com os executantes o exigem, especialmente na construção civil e nas obras públicas.

Pelo contrário, nas empresas industriais de larga envergadura, por exemplo, o papel de cada um está determinado em função do processo de fabricação e do lugar que cada qual nele ocupa.

Não é menor a necessidade de, quando um indivíduo possuir uma profissão e tenha dentro dela lugar bem determinado, que se mantenha uma disciplina rigorosa.

No Exército, pelo contrário, devido às relações pessoais permanentes e aos poderes consideráveis, necessariamente dados à hierarquia, à disciplina, aos regulamentos, o regime abusivo das sanções e das recompensas, as provas

externas de respeito e o formalismo desempenham um papel fundamental, independentemente do regime político de uma nação.

Conforme Neto “Muita da acção a desenvolver em empresas daquele tipo não o

pode ser isoladamente. Ela tem que ser feita em colaboração com as organizações representativas de empresários e trabalhadores, organizações estas que, em nosso entender, terão que ser também os garantes não só do esclarecimento e motivação mas, também, da planificação e execução da mudança. Só elas poderão assegurar não só às pequenas e médias empresas mas, também às grandes empresas em perigo um conhecimento, a nível nacional e internacional, susceptível de as levar a bom porto”

(1989:61).

Na maior parte dos países, as forças armadas são constituídas por elementos vindos de todas as camadas sociais, económicas e culturais, empregando uma formação rigorosa e simplificada, que esmaga as individualidades demasiado vincadas e, em certos casos, reduz os indivíduos a números de matrícula; a eficiência das forças armadas tem este preço, a despeito dos consideráveis problemas humanos que nascem fatalmente e que os serviços especializados de psicotécnia e a formação humana e moral dos quadros se esforça por resolver.