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SOCIOLOGIA MILITAR

CAPÍTULO 3 – A SOCIOLOGIA MILITAR COMO SOCIOLOGIA ESPECIAL

1. O papel da Sociologia no estudo da organização militar

Ao estudar a organização militar, deparamo-nos com um dos principais problemas enfrentados pela Sociologia e pelas Ciências Sociais em geral, ou seja, a capacidade de enfrentar teórica e metodologicamente os desafios empíricos e teóricos que a situação da sociedade actual coloca.

Segundo Josué de Castro “a antiga Sociologia era mais utópica do que

científica e a sua utopia consistia exactamente no seu inconsciente desejo de que o processo social se imobilizasse, para ser melhor fotografado. Desta forma, a antiga Sociologia era bem mais comprometida do que a Sociologia nova, cuja validade científica defendemos.

Mas era comprometida com uma ideologia do imobilismo, de uma imagem estática da sociedade, considerada como uma coisa já feita, definitiva e perfeita, enquanto a nova Sociologia considera a estrutura social como um processo em constante e rápida transformação” (cit. in Carmo, 1999:139).

Indo à génese da Sociologia, Wallenstein diz-nos que, para Comte, a “Sociologia haveria de ser a rainha das ciências, uma ciência social integrada e unificada

e caracterizada pelo «positivismo». Na prática, porém, a Sociologia, enquanto disciplina, desenvolvera-se no decurso da segunda metade do século XIX, principalmente a partir da institucionalização e da transformação, dentro das universidades, do trabalho realizado pelas associações para a reforma da sociedade, cujo programa de acção se tinha ocupado primordialmente do mal-estar e dos desequilíbrios vividos pelo número imparável da população operária urbana. (Wallenstein, 1996:37).

Por sua vez, Durkheim, no início do século XX, diz-nos que “a Sociologia é

uma ciência que estuda, com uma visão de conjunto, de maneira tipológica e explicativa, os diferentes graus de cristalização da vida social, cuja base se encontra nos estados, de consciência colectiva, irredutíveis e opacos às consciências individuais (cit. in

Gurvitch, 1966:26).

Para Weber a Sociologia “ é uma ciência da cultura que investiga os tipos

social....procedendo pela compreensão interpretativa e atingindo, deste modo, a explicação causal das suas realizações nas condutas” (cit. in Gurvitch, 1966:32).

Também na primeira metade do século XX, Marcel Mauss definiu a Sociologia como “ciência que aplica o método da visão do conjunto ao estudo dos

fenómenos sociais totais” (cit. in Gurvitch, 1966:37).

No entanto não é fácil definir a Sociologia, Phillipe Riutort, professor da Universidade de Paris, ao sublinhar a fragmentação que uma definição, necessariamente vaga, é susceptível de transmitir, cita Raymond Aron, quando este afirmava que o único acordo que subsistia entre os sociólogos respeitava à dificuldade em definir a Sociologia.

Na sua definição da Sociologia, P. A Sorokin dá primazia ao “estudo da

especificidade da realidade sociocultural, enquanto sistema ao mesmo tempo significativo, causal e funcional, onde os elementos culturais predominam sobre a interacção humana” (cit. in Gurvitch, 1966:35).

Contudo, na sua obra «As etapas do pensamento sociológico», de 1965, Aron avança uma definição: "é o estudo que se quer científico do social enquanto tal,

quer ao nível fundamental das relações interpessoais, quer ao nível macroscópico de vastos conjuntos, classes, nações, civilizações ou, para retomarmos a expressão corrente, sociedades globais" (1965:54).

Talcott Parsons, influenciado por todas estas definições, assim como por Spencer, que suprimiu as diferenças entre as ciências da natureza e as ciências do homem, tentou integrá-las todas, ao dizer que a Sociologia estuda os sistemas sociais que consistem na interacção das condutas orientadas, para uma escala comum de valores, estabilizada nas estruturas, que são fundadas na institucionalização dos modelos culturais, regras e estatutos.

Ao fugir da concepção de fenómenos sociais totais, Robert Merton diz- nos que a focagem sociológica da instituição militar utiliza, da Sociologia Geral, os enquadramentos teóricos, os métodos e técnicas e as teorias de alcance médio que, para o autor, são “os conceitos de grupos informais, de status, de papel e de

função, que provoca um conjunto de trocas de duplo sentido, entre a sociedade militar e a sua englobante, a sociedade civil, traduzindo uma maior proximidade entre estes dois

“mundos”, na medida em que tal estudo aprofunda a elaboração da teoria e do método sociológico e a compreensão dos mecanismos sociais em geral” (Merton, 1970:108).

Desta forma a teoria de médio alcance “é usada principalmente em sociologia

para servir de guia às pesquisas empíricas. Ocupa uma situação intermediária entre as teorias gerais de sistemas sociais, as quais estão muito afastadas das espécies particulares de comportamento, organização e mudança sociais, para explicar o que é observado e as minuciosas ordenadas descrições de pormenores, que não estão de modo algum generalizados” (Merton, 1970:51).

Em 1974, Alain Touraine, director do Centro de Análise e Intervenção Sociológicas da Escola Prática de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris, dedicava o seu ensaio «Pour Ia Sociologie» a todos aqueles que foram perseguidos porque eram sociólogos e explicava porquê.

“As nossas sociedades resignam-se mal à inevitável existência da Sociologia.

Raramente o conhecimento foi tão mal aceite. Alguns repelem-na como um sacrilégio; outros exorcizam-na e procuram utilizá-la ao serviço da ordem estabelecida, mas sem nela muito acreditar; os mais favoráveis servem-se dela para combater as tradições que os contrariam, mantendo-a depois à margem da Universidade” (1974:34).

Segundo o Relatório de Avaliação Externa ao curso de Sociologia do ISCSP, elaborado por Óscar Soares Barata “Ao fim de cerca de um quarto de século

de existência em Portugal, pode dizer--se que a comunidade científica dos sociólogos — dos que ensinam, aprendem e fazem Sociologia, investigando ou aplicando profissionalmente os seus conhecimentos — é uma realidade bem viva entre nós. Não só atingiu um patamar dimensional de visibilidade e institucionalização mínimos como se revela como um grupo activo, produtivo, suficientemente unido, para comportar internamente diversidade e emulação e, além de tudo, bem consciente da sua identidade específica” (Barata, 2000:936).

Actualmente, está sedimentado o reconhecimento da função chave da So- ciologia na cultura intelectual moderna e do lugar central que ela assume no quadro das ciências sociais.

Anthony Giddens, admitindo a possibilidade de nos encontrarmos num limiar de transição tão fundamental como aquele que ocorreu entre os séculos

XVIII e XIX, atribui à Sociologia “a responsabilidade primeira, no registo das

transformações passadas e na compreensão das linhas principais do desenvolvimento, que hoje se verifica” (1997:92). É este o desafio que os sociólogos têm de estar

preparados para enfrentar.

Mas, segundo Firmino da Costa, “mesmo em 1992, a Sociologia permanecia

como uma área científica e profissional ainda desconhecida” (cit. in Vieira, 1992:23).

Ainda em 1996, Boaventura Sousa Santos afirmava que a Sociologia, em Portugal, não contava mais do que 20 anos, quando noutros países comemorava centenários (Congresso Português de Sociologia).

Realizando um balanço sobre os estudos em Sociologia, Crawford explicita as mudanças, tanto internas à comunidade científica, como nas relações com outras instituições e com o ambiente social, que estimularam o rápido desenvolvimento da produção intelectual desta disciplina especializada. “Mudanças relacionadas a «profissionalização», isto é, a criação de papéis

ocupacionais, estruturas organizacionais e imagem colectiva específicas, a produção e uso do conhecimento das ciências sociais; a influência dos cientistas sociais e do conhecimento das ciências sociais no pensamento social, assim como em problemas específicos de políticas e práticas em diferentes áreas da vida social; e a noção de crise que afectou as ciências sociais em geral e a Sociologia em particular” (Crawford,

1971:9-10).

Numa situação assim caracterizada podemos dizer que no âmbito específico da Sociologia Militar e em Portugal, existe ainda pouca investigação, para além da edição de algumas teses e estudos de âmbito necessariamente restrito.

Foi o caso dos estudos de Maria Carrilho (1979), sobre o papel das Forças Armadas na mudança política em Portugal, ao longo do século XX; de Helena Carreiras (1998), que conduziu uma investigação sobre a integração das mulheres nas Forças Armadas; assim como o estudo sobre o comportamento político dos militares, de José Medeiros Ferreira elaborado em 1996; ou ainda a análise sobre a relação entre o Exército e a Sociedade em Portugal, realizada por Fernando Pereira Marques.

Destacamos, também, alguns trabalhos realizados por militares, que, ao frequentarem o Mestrado em Estratégia do ISCSP, realizaram investigações sobre a área social e militar.

De acordo com Braga da Cruz “ a marcha histórica do conhecimento em

desenvolvimento, em particular quando se trata de uma ciência nos começos, como é o caso da Sociologia, corresponderia a pôr a tónica na investigação singular, para começar por lhe dar um conteúdo e um significado seguros, deixando de parte as questões do método e das finalidades últimas, até se conseguir material real suficiente para dar resposta àquelas questões, até porque, de outro modo, se correria o risco de se criar uma forma sem a certeza dum conteúdo possível, de se criar um corpo de leis, sem sujeitos que lhe obedeçam, uma regra, sem casos dos quais ela seja deduzida e lhe garantam a justeza. (Cruz, 2001:534-535).

Tal como sucede para a Sociologia Geral e para os outros ramos de Sociologia, existe um sem número de definições de Sociologia Militar, todas elas incompletas e questionáveis, baseadas em critérios ou associações de critérios de grande diversidade.

Acresce que, como se refere anteriormente, a Sociologia Militar é uma ciência de recente notoriedade, em pleno desenvolvimento, com uma excepcional permeabilidade de fronteiras, o que tem levado os seus investigadores a recorrer frequentemente a estudos das ciências políticas e da história.

Segundo Philipe Manigrat esta perspectiva multidisciplinar “tem vindo a

contribuir para o enriquecimento das teorias em Sociologia Militar” (Manigrat,

1984:19).

Esta perspectiva, acrescenta o mesmo autor, mais se ampliou devido às ligações que se têm desenvolvido, entre o estudo das Forças Armadas, a Sociedade e outras áreas afins, tais como a investigação sobre a paz e os estudos de estratégia e de segurança nacional. Manigrat conclui que "existem poucos

domínios da Sociologia, que tenham uma audiência tão difusa como a Sociologia Militar” (idem:23).

Alves Fraga, professor da cadeira de Sociologia Militar da Academia da Força Aérea, numa de suas aulas, expôs o conceito de Sociologia Militar, como tema de Sociologia especial, que procura analisar e explicar o grupo social militar segundo dois vectores: um, em função dos fenómenos de relação desse grupo com os restantes; outro, em função dos fenómenos de relação dentro do próprio grupo militar.

Com base no conceito das Sociologias Especializadas definido por Júlio Gonçalves, para Boavida Pinheiro a Sociologia Militar é “o estudo dos fenómenos

sociais, decorrentes da e na instituição militar, nas suas diversas manifestações, procurando constatar regularidades e uniformidades de comportamento nas relações humanas e, na medida do possível, formular leis, ou verificar as tendências inerentes àquelas, que possam permitir a definição de procedimentos a adoptar, na melhoria de condições de relacionamento do factor humano, com vista a uma maior eficácia, no cumprimento dos objectivos contidos na missão a desempenhar pela estrutura militar, seja em campanha, seja em tempo de paz” (cit. in Fraga, 1992:34).

Enquanto o conceito de Alves Fraga privilegia o estabelecimento dos traços vinculativos do grupo militar ao grupo nacional, e o descortinar dos valores e normas, que regem o comportamento individual e colectivo dos componentes do grupo social militar, a definição ensaiada por Boavida Pinheiro refere explicitamente a função de formulação normativa da investigação sociológica e aponta o objectivo funcional da Sociologia Militar.

Duas outras definições, bem mais gerais e sucintas, provêm de sociólogos norte-americanos: Para Huntington a Sociologia Militar é a “aplicação da ciência

do comportamento aos problemas directamente relacionados com a gestão militar”

(1957:83).

Para Moskos (1988:15) a Sociologia Militar é “o estudo específico das

estruturas e situações marcadas pelo emprego (ou ameaça de emprego) de uma violência organizada entendida como legítima”.

Assim, e como podemos perceber pelas citações, estes dois autores, apesar de distantes cronologicamente, não focam o grupo social militar na sua interacção com os outros grupos sociais, pertencentes à sociedade civil.

Para nos dedicarmos ao estudo de uma área científica específica, teremos de ter um quadro de referência teórico. Segundo Popper, teorias são "redes

estendidas para capturar o que chamamos mundo, para racionalizá-lo, explicá-lo e dominá-lo" (Popper, 1972:59).

Nesta linha de raciocínio, consideraremos então que a necessidade teórica do nosso trabalho passará obrigatoriamente por uma articulação entre o desenvolvimento e transformação dos papéis socioprofissionais nas Forças Armadas, com a «atenção» dada pela Sociologia Militar a este tema tão recente.

Em rigor pode dizer-se que a generalidade da bibliografia ligada à Sociologia Militar se confina, como afirma Maria Carrilho, a três áreas de intervenção:" profissão militar; organização; relações civis/militares" (Carrilho, 1998:160).

Huntington debruçou-se sobre o fenómeno militar contemporâneo, comparando o longo período que o antecede, em que a instituição militar assumira uma forma híbrida e apagada, constituída por aristocratas e mercenários; com base nessa comparação, considera que “a instituição militar

moderna, só passa a ser uma realidade a partir do momento em que o corpo de oficiais se profissionaliza” (Huntington, 1957:13).

A área de conhecimento, compreendida pela expressão «Sociologia Militar», é afectada pelo menos por dois tipos de problemas: um, que decorre do seu próprio objecto específico — a instituição militar— outro, resultante da matriz sociológica.

“Se o desenlace da II Guerra Mundial foi determinante para o estudo de uma

disciplina definida pelo "fenómeno da guerra" e pelo grupo que assume a gestão da situação – "os militares" –, o estudo específico das estruturas e das situações, marcadas pelo emprego (ou ameaça de emprego) de uma violência organizada entendida como legítima não é uma novidade do nosso século” (Baquer, 1988:25).

É significativo que se encontre pouco desenvolvido o estudo de uma instituição, presente em todas as sociedades com Estado, que tem sido instru- mento determinante no moldar político da História e que hoje detém, de facto,

os meios para a destruição da humanidade. Paradoxalmente a situação é de atribuir enorme importância ao objecto Forças Armadas.

Temos, por um lado, não só as razões do próprio segredo militar, como também o isolamento funcional, relativamente «ao Poder» em que tem sido mantida a instituição militar, no seio da sociedade; por outro lado o temor, consciente ou inconsciente, de enfrentar a questão da violência e da sua «administração».

Esta espécie de «remoção cultural», ou de «ideologia civil», segundo a expressão de Janowitz, tem muitas vezes conduzido a uma apreciação superficial, emotiva, ou de qualquer modo distorcida da instituição militar e à acentuação de características que, afinal, são comuns a outras instituições e organizações.

Tem a instituição militar encontrado na Sociologia a disciplina mais atenta, talvez por parecer a mais adequada a uma análise que, no entanto, é necessariamente interdisciplinar.

Com a Sociologia, contudo, ocorre por vezes a tentação que existia em tempos com a Filosofia: o que não se enquadre claramente numa área da competência de um dos outros ramos das ciências sociais acabe por lhe ser remetido.

É constante, portanto, a necessidade de averiguar que não se esteja a descarregar para o campo da sociologia um conjunto de problemas, só porque a sua análise política, por exemplo, resultaria incómoda.

Não deve, assim, a Sociologia limitar a sua análise aos aspectos «técnicos», em vista de uma utilização apenas «administrativa» dos resultados.

Parece-nos residir aqui a distinção fundamental entre a perspectivação de uma grande parte dos sociólogos da instituição militar, norte-americanos, e a de certos sociólogos europeus, principalmente franceses e italianos, que ultimamente se tem dedicado ao estudo dessa problemática, que preferem alargá-la criticamente, denominando-a «Sociologia da Defesa» e que merecia uma selecção bibliográfica própria.

As tendências, que sublinhamos, referem-se, na quase totalidade, à produção norte-americana. Isso deve-se ao facto de a «Sociologia Militar» ter-se desenvolvido principalmente nos Estados Unidos, onde, historicamente, o sistema exigia o seu papel racionalizador, de que conseguiram desde logo aperceber-se as autoridades.

No entanto, o que uns têm denominado «Sociologia Militar», outros «Sociologia da Defesa», outros, ainda, «Sociologia da Guerra» tem a ver, real- mente, com a fundamental questão do uso da violência e destina-se a adquirir um conhecimento, o mais aprofundado e eficiente possível, de mecanismos que, como acontece na ciência em geral, poderão, em última análise, ser usados por uns e outros para diferentes fins.

Segundo Hermano Carmo, o próprio conceito de Sociologia Militar é discutível, pois, se encararmos a Sociologia Militar como uma Sociologia Especial, dever-se-ia atribuir a designação «de», para explicar que se trata de aplicar a teoria e a metodologia sociológica (o olhar do sociólogo), a um dado objecto de estudo. Assim, no seu entender, esta área de estudo poder-se-ia chamar Sociologia das Instituições Militares.

A Sociologia Militar tem vindo a assumir nas suas investigações uma perspectiva multidisciplinar, progressivamente mais exigente, que, segundo Phillipe Manigrat, muito tem contribuído para «o enriquecimento da sua teoria», manifesta na obra de Jenkins e Moskos «Armed Forces and Society».

Um enriquecimento, acrescenta o mesmo autor, que mais se ampliou devido à crescente ligação entre as Forças Armadas e a Sociedade enquadrante e, ainda, às ligações que se têm desenvolvido entre este estudo alargado e outras áreas, tais como a temática da paz e os estudos de estratégia e segurança. Manigrat conclui, como já foi referido, que existem poucos domínios da Sociologia, que tenham uma audiência tão difusa, como a Sociologia Militar.

É evidente que a Instituição Militar constitui um fenómeno social suficientemente amplo e diversificado, para constituir um problema sociológico cujo estudo comporta diferentes níveis: político, económico, estatutário e operacional.

Num período de reformas profundas das Forças Armadas e, simultaneamente, de frequentes e instantes apelos à participação de contingentes militares em operações de apoio à paz à escala planetária, como definir a Sociologia Militar?

Em termos de objecto específico, será lícito dizer, como Alonso Baquer, Major General, director do Instituto de Estudos Estratégicos e de Defesa Nacional de Espanha, que se trata do estudo das estruturas e das situações marcadas pelo emprego ou ameaça de emprego, de uma violência organizada, entendida como legítima.

Ou, como Huitchison (um dos primeiros sociólogos a focar as Forças Armadas como organização burocrática), da “aplicação da ciência do

comportamento aos problemas directamente relacionados com a gestão militar”

(1957:34).

Em termos de finalidade última, a Sociologia Militar visará tornar mais eficiente e eficaz o desempenho das missões que competem às Forças Armadas, tanto operacionais, como de interesse colectivo.

O que não invalída, como sublinha Alonso Baquer, que o fenómeno da guerra e os militares sejam sociologicamente analisados com vista a concluir sobre a possibilidade do desaparecimento ou atenuação da luta armada.

Face à permeabilidade das fronteiras, que hoje caracteriza a Sociologia Militar, e tendo em vista, tanto o desenvolvimento integrado desta Sociologia, como o seu relacionamento com outras disciplinas das ciências sociais, tem-se verificado uma tendência para compartimentar o estudo e investigação das Forças Armadas, em três áreas gerais: O militar profissional e a organização militar; as relações civis-militares; a guerra e os conflitos entre grupo armados.

Na prática, como se torna evidente, não podem deixar de existir entre estas áreas numerosas inter-penetrações.

Mas a tríplice compartimentação proposta, segundo refere Manigrat, “tem o mérito de reflectir antigos conceitos, pois que cada uma das áreas corresponde

directamente a uma importante contribuição da teoria sociológica”. Este vínculo, conclui o mesmo autor, “garante a continuidade dos interesses e preocupações que

existem na sociologia militar, reconhecendo ao mesmo tempo a necessidade de uma utilização constante de novos progressos na investigação” (1981:45).