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TEORIAS E MODELOS DE ORGANIZAÇÃO MILITAR

CAPÍTULO 4 – O ESTUDO DA ORGANIZAÇÃO MILITAR

1. Enquadramento conceptual

A Sociologia das Organizações, enquanto pólo actrator dos níveis micro (comportamento organizacional) e macro (teoria das organizações), bem como da respectiva articulação e integração a um nível meso, constitui uma área de interesse, quer teórico quer aplicado.

“Enquanto campo teórico, a ciência organizacional abarca uma variedade de

temas que vão do micro (comportamentos e cognições individuais e dinâmicas de grupo em contexto organizacional) ao macro (dinâmicas competitivas e colaborativas interorganizativas, aprendizagem ao nível populacional) passando pelo meso (estratégia, estrutura, processos organizacionais). A diversidade dos níveis de análise, que são objecto de interesse da ciência organizacional, atrai para a disciplina, investigadores oriundos de áreas multidisciplinares” (Cunha, 1999:48).

Como micro ciência, a Sociologia das Organizações veio ocupar parte do espaço que vinha a ser ocupado pela Sociologia do trabalho, uma vez que as temáticas se podem sobrepor. A divergência acentua-se na orientação teórica de ambas.

Assim a Sociologia das Organizações passou a estudar os fenómenos sociais e culturais inerentes às organizações públicas e privadas.

A referida sobreposição é parcial e temática, dado que os objectos de estudo da Sociologia do Trabalho são de carácter macro (regulação das relações laborais/desemprego/sindicatos).

Segundo Macdonald a “Sociologia das Organizações é claramente uma micro

Sociologia, enquanto que a Sociologia do Trabalho é predominantemente macro”

(Macdonald, 1995:85).

Neste sentido a organização militar poderá consistir num objecto de estudo privilegiado da Sociologia das Organizações, pois todos os fenómenos sociais internos à referida organização contêm um enorme potencial cultural, devido à especificidade valorativa da Instituição Forças Armadas.

Por sua vez, a teoria institucionalista liga-se ao pressuposto que as organizações são moldadas pela sua envolvente institucional. Assim, a realidade militar é constituída socialmente e mantida institucionalmente através das organizações.

A questão mais pertinente, colocada pela corrente teórica denominada por institucionalismo, centra-se no papel estratégico das normas e valores institucionais sobre a estrutura organizacional.

Neste ponto poderemos referenciar o modelo Vocacional/Ocupacional de Charles Moskos, como um pólo de contacto entre valores e realidade organizacional.

Poderemos perspectivar a paisagem institucional militar, como constituinte de várias redes de poder, onde a acção tem de ser compreendida, como a interacção entre as determinantes sociais, o poder político e as estruturas hierárquicas das Forças Armadas.

Paralelamente à Sociologia das Organizações, temos uma perspectiva funcionalista baseada na Escola de Chicago, que se centra na Sociologia da Ocupação e que, por sua vez potencia uma melhor interpretação do modelo ocupacional de Moskos.

Com Talcott Parsons (1902-1979), o funcionalismo ousará transformar-se numa teoria geral capaz de analisar qualquer sistema social, incluindo o sistema político, considerado como um dos subsistemas sociais.

Em primeiro lugar, reelabora a herança comportamentalista, considerando que toda a acção humana é interacção, relação entre um determinado agente e o ambiente que o cerca, constituindo uma resposta a um determinado estímulo exterior.

Contudo, não considera que a acção humana seja apenas uma resposta ad

hoc a estímulos particulares, dado salientar que o actor desenvolve um sistema

de expectativas. Assim, vê a acção social como significativa, dado ser motivada, ou orientada, por significados, que o agente descobre no ambiente, entre os quais coloca os signos e os símbolos.

Procurando assumir uma espécie de terceira via entre o individualismo e o estruturalismo, aquilo, que François-Michel Bourricaud qualificará como o

individualismo institucional, considera a sociedade como um sistema social, que é

caracterizado pelo mais elevado nível de auto-suficiência, em relação ao seu ambiente, e que consistiria numa pluralidade de actores individuais, em interacção uns com os outros.

Nesta linha Hulhs “tenta interpretar o significado subjectivo dos papéis

ocupacionais, em contraste com outros autores que se preocupam mais com os aspectos estruturais do comportamento. Assim, este modelo centra-se em questões relacionadas com o significado do trabalho para os indivíduos e consequentemente com as relações entre esse significado e o conjunto das atitudes no ambiente de trabalho, estabelecendo correlações entre o comportamento individual, a satisfação no trabalho, e a verificação de factores objectivos do meio onde se desenvolve” (Cit. in Merton, 1968:56).

Neste sentido assiste-se, no caso específico das Forças Armadas, a um distanciamento do paradigma vocacional e a uma aproximação dos valores intrínsecos do mercado de trabalho civil (publico e privado) e consequentemente, da economia de mercado.

A teoria organizacional está relacionada com a “construção e testagem de

teorias sobre as organizações, os seus membros e a sua gestão, relações organização- envolvente e processos organizativos. Os avanços, em teoria das organizações incluem a escolha estratégica, a dependência de recursos, a ecologia organizacional e a teoria institucional. Os seus desenvolvimentos mais recentes incluem as perspectivas críticas feminista, a cognitiva e a pós-moderna.

Os novos desafios abarcam a melhoria da qualidade, as alianças estratégicas, a implementação de novas tecnologias, os processos de governação e controlo, as reestruturações organizacionais e a diversidade estratégica global” (Cunha, 2000:48).

Assim “a ciência organizacional pode ser definida como a disciplina que estuda

o comportamento das e nas organizações. Esta caracterização breve abarca na sua simplicidade a diversidade da disciplina de uma forma parcimoniosa embora algo ilusória. Ilusória porque imprime uma ideia de unidade a um território disciplinar que tem sido marcado mais pela diversidade e pela heterogeneidade do que pela integração e

Podemos então dizer que “enquanto campo teórico, a ciência organizacional

abarca uma variedade de temas, que vão do micro (comportamentos e cognições individuais e dinâmicas de grupo, em contexto organizacional) ao macro (dinâmicas competitivas e corroborativas inter-organizacionais, aprendizagem ao nível populacional), passando pelo mesmo (estratégia, estrutura, processos organizacionais). A diversidade dos níveis de análise, que são objecto de interesse da ciência organi- zacional, atrai para a disciplina investigadores oriundos da psicologia, antropologia, Sociologia, ciência política, gestão, ciência da informação” (idem, ibidem:48).

Como qualquer organização, que percebe a necessidade de se adaptar ao contexto em que está inserida, (sociedade civil), através de sucessivos processos de modernização, também as Forças Armadas se têm modificado ao longo dos tempos.

Como nos diz João Bilhim, na sua obra «Teoria Organizacional, Estruturas e Pessoas» “ a mudança profunda e a mudança estratégica são idênticas e

implicam a transformação do próprio sistema e a ruptura com os padrões de actuação do passado” (2001:417).

Por muito antiga que seja uma organização, ela tem de estar aberta à mudança, para não perder a capacidade de se adaptar às constantes alterações verificadas na sociedade onde se insere.

A perspectiva aqui assumida, para entender a organização, é a sistémica. Ou seja, a organização é vista como um sistema social integrado num contexto maior ou ambiental.

“A teoria geral dos sistemas, começou a ter um grande impacto nas ciências sociais com os trabalhos de investigação realizados pelo biólogo alemão Ludwig von Bertalanffy nas décadas de 40 e 50.

A abrangência científica do conceito de teoria geral dos sistemas não se resume ao mundo convencional das ciências físicas e biológicas. Os princípios e as leis dos sistemas quer decorram da termodinâmica, das similitudes estruturais, do isomorfismo ou da noção de totalidade, sem excepção, servem igualmente como hipóteses teóricas para a física, a biologia e as ciências sociais” (Bertalanffy, 1973:27-51).

subsistemas estruturais e funcionais, nomeadamente na execução de tarefas, no processo de tomada de decisão e na organização do trabalho.

Na perspectiva de Bertalanffy, “A teoria geral dos sistemas constituí-se e

desenvolve-se como uma resposta à visão atomística de um paradigma científico que pretende explicar e compreender fenómenos naturais e sociais, a partir das propriedades e leis específicas das diferentes partes que os constituem. No quadro epistemológico e metodológico da teoria geral dos sistemas, cada ciência explica e compreende as diferentes realidades que se observam de uma forma integrada e universal” (idem:62).

Enquanto sistemas abertos, as organizações interagem de forma sistemática com o ambiente circundante, importando e exportando energia, informação e matéria, na forma de outputs e imputs.

“Para a teoria geral dos sistemas é necessário partir de uma premissa básica: a

natureza diferenciada dos sistemas fechados e dos sistemas abertos. Os sistemas fechados estão isolados do seu meio ambiente. Como exemplo clássico, os sistemas físicos con- vencionais partem do princípio de que as reacções e adaptações dos seus componentes estruturais tendem a evoluir no sentido do equilíbrio e são independentes da acção de forças externas.

Para analisarmos as organizações, enquanto sistemas abertos, torna-se imprescindível referenciar a contribuição científica da Sociologia” (Ferreira, 2002:50).