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DA CARACTERIZAÇÃO DA RESPONSABILIDADE DO ESTADO COMO INDIRETA E SUBSIDIÁRIA, PELOS ATOS PRATICADOS NO EXERCÍCIO PRIVADO

2. RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL EXTRACONTRATUAL DO ESTADO POR ATOS NOTARIAIS E DE REGISTRO:

2.3 RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL EXTRACONTRATUAL DO ESTADO ESTUDO DO ARTIGO 37, §6º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E HIPÓTESES DE

2.3.2 DAS HIPÓTESES DE RESPONSABILIDADE DIRETA DO ESTADO, RELACIONADAS À ATIVIDADE NOTARIAL E REGISTRAL:

2.3.3.3 DA CARACTERIZAÇÃO DA RESPONSABILIDADE DO ESTADO COMO INDIRETA E SUBSIDIÁRIA, PELOS ATOS PRATICADOS NO EXERCÍCIO PRIVADO

DAS DELEGAÇÕES DE NOTAS E DE REGISTROS:

Examinada a questão do dano indenizável, passa-se ao estudo da responsabilidade objetiva e indireta do Estado, por atos praticados por notários e registradores na condição de agentes públicos e se esta se dá de forma solidária ou subsidiariamente.

Ao partir dos pressupostos que notários e registradores são agentes públicos; que o próprio texto constitucional estabeleceu uma responsabilidade direta do notário e do registrador, por ato próprio, nos termos do artigo 236, da Constituição Federal, e considerando que o artigo 37, §6º, da Carta Magna dispõe que a Pessoa Jurídica de Direito Público responderá pelos prejuízos que seus agentes, nesta condição causarem a terceiros, pode-se concluir que a responsabilidade do Estado, pelos prejuízos acarretados por atos notariais e registrais, será indireta, e não direta, diferentemente do que ocorre com os demais agentes públicos, notadamente com os servidores públicos.

Por conviverem na Carta Magna, duas responsabilidades, uma direta de notários e registradores e outra indireta do Estado, com relação aos atos relativos ao exercício privado da atividade notarial e registral, entende-se que a responsabilidade do Estado, nestes casos, deva ser subsidiária à dos notários e registradores.

Nesse sentido Hely Lopes MEIRELLES, ao tratar dos agentes delegados, condição na qual classifica notários e registradores, aponta que: “sobre a conduta desses agentes, entendemos que o estado tem responsabilidade subsidiária pelos seus atos funcionais lesivos aos usuários ou terceiros” 180

E prossegue MEIRELES, afirmando que: “a responsabilidade do delegante não é conjunta nem solidária com o delegado; é subsidiária, ou seja, supletiva da do causador do

dano na execução da delegação, se este se revelar incapaz de satisfazer a indenização devida”181.

Da mesma opinião compartilha Sérgio CAVALIERI FILHO, o qual, ao tratar especificamente de notários e registradores, afirma que :

Se este (notário e registrador) aufere todas as vantagens econômicas da atividade delegada; se a exerce através dos prepostos que escolheu, sob o regime de Direito Privado; se tem a delegação de forma vitalícia (até a morte), nada mais justo e jurídico que a ele se atribua o ônus. Quem tem os bônus há de ter os ônus. O Estado só pode ser responsabilizado subsidiariamente, na hipótese de insolvência do delegado; nunca direta nem solidariamente, tal como no caso dos prestadores de serviços públicos.182

O Ministro do Superior Tribunal de Justiça, Mauro Campbell Marques, fez constar de seu voto no julgamento do Recurso Especial 1.087.862-AM183, proferido em julgamento da Segunda Turma, em 02.02.2010, o seguinte raciocínio:

[...] 3. A Lei n. 8935/94, editada para atender ao comando constitucional do§ 1º, do art. 236, reforça essa orientação. A redação do art. 22 desse diploma normativo é clara ao atribuir a responsabilidade civil a título principal para os notários e oficiais de registro.

4. Por isso, eventual responsabilidade civil do Estado-membro seria objetiva sim, mas meramente subsidiária, ou seja, em casos tais que aqueles agentes não tenham força econômica para suportar os valores arbitrados a título de indenização por ato cometido em razão da delegação.

Referido julgado veio a servir de paradigma para outras decisões posteriores da Segunda Turma do STJ sobre a mesma matéria184, admitindo a responsabilidade subsidiária do Estado, por atos das serventias notariais e de registro não oficializadas.

181 MEIRELLES, Hely Lopes. Op. cit. p. 83. 182 CAVALIERI FILHO, Sergio. Op. cit. p. 278.

183 STJ. REsp 1087862/AM, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 02.02.2010, DJe 19.05.2010.

184 STJ. REsp 1163652/PE, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 01.06.2010, DJe 01.07.2010; AgRg no AgRg no AREsp 273.876/SP, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em 14.05.2013, DJe 24.05.2013.

Todavia, a par da responsabilidade subsidiária fixada, é de se examinar a questão da legitimidade do Estado, para figurar diretamente no polo passivo de eventual ação de indenização, sem a presença do titular da delegação, ou se seria o caso de litisconsórcio passivo necessário, ou mesmo facultativo.

A Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça assentou seu entendimento no sentido de não ser possível ao prejudicado promover ação direta e unicamente contra o Estado, com fundamento na responsabilidade indireta e subsidiária por atos notariais praticados pelos notários e registradores sujeitos ao regime de outorga de delegações previsto no artigo 236 da Constituição Federal.

Do voto do Ministro Herman Benjamin, no julgamento do Recurso Especial 1.087.862-AM, já mencionado anteriormente, extraem-se os seguintes trechos:

Ou seja, tanto por se tratar de serviço delegado, como pela norma legal em comento, não há como imputar eventual responsabilidade pelos serviços notariais e registrais diretamente ao Estado. Ainda que objetiva, ele somente responde de forma subsidiária ao delegatário.

[...]

Na hipótese, embora o dano tenha decorrido de atividade notarial delegada, a Ação Ordinária foi ajuizada diretamente contra o Estado do Amazonas, estando patente, portanto, a sua ilegitimidade passiva ad causam. Diante do exposto, dou provimento ao Recurso Especial.185

Ressalte-se, que, no referido julgamento, inicialmente a opinião do Ministro Herman Benjamin era distinta, no sentido do desprovimento do Recurso Especial, afirmando que o Estado responderia objetivamente pelos danos causados pelo titular da serventia extrajudicial.

Mas, após a apresentação do voto-vista divergente, da lavra do Ministro Mauro Campbell, o Ministro relator mudou seu voto.

Do aludido voto do Ministro Mauro Campbell, pode-se copiar o seguinte trecho: A meu entender, a Lei n. 8935/94 é clara ao atribuir a responsabilidade civil a título principal para os notários e oficiais de registro. Por isso, eventual responsabilidade civil do Estado-

185 STJ. REsp 1087862/AM, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 02.02.2010, DJe 19.05.2010, v.u.

membro seria objetiva sim, mas meramente subsidiária, ou seja, em casos tais que aqueles agentes não tenham força econômica para suportar os valores arbitrados a título de indenização por ato cometido em razão da delegação.

Esta posição vem a conciliar o que dispõe o artigo 236 § 1º da Constituição Federal, de que a lei disciplinará a responsabilidade civil dos notários e registradores (o que pressupõe a responsabilidade direta e principal do próprio agente delegado); e o que dispõe o artigo 37, § 6º, da Carta Magna, no sentido de que a Pessoa Jurídica de Direito Público responderá pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros.

Referido entendimento se apresenta, também, como elemento de economia processual, eis que poderão ser discutidas, na ação proposta em face do delegatário, as questões principais da demanda, a saber: (i) se o notário ou registrador é ou não parte legítima para figurar na ação; (ii) se a responsabilidade é direta, ou indireta subsidiária, do Estado; (iii) se há responsabilidade objetiva ou subjetiva do delegatário na espécie; (iv) se há o nexo causal entre a conduta do notário ou registrador e o resultado verificado; (v) se estava presente alguma circunstância atenuante, como risco ou culpa concorrente da vítima etc.

Em sendo o caso realmente de responsabilidade indireta subsidiária do Estado, restaria somente a questão patrimonial do delegatário a ser resolvida. Restaria saber somente se as forças econômicas deste agente seriam ou não suficientes para arcar com os prejuízos, quanto seria o remanescente que o Estado deveria efetivamente pagar e, em sede de execução, a sub-rogação do Estado no valor do crédito remanescente, para voltar-se contra o delegatário, a fim de obter seu ressarcimento.

Esta responsabilidade do Estado, objetiva, indireta, e subsidiária, dentro da classificação proposta por Álvaro Villaça AZEVEDO pode ser classificada como responsabilidade civil extracontratual objetiva impura, em virtude do direito de regresso que terá o Estado, para se voltar contra o notário ou registrador insolvente.

Pois, como afirma Álvaro Villaça AZEVEDO: “há duas categorias de responsabilidade com fundamento na teoria do risco: pura e impura.”186

E, com relação à impura, define AZEVEDO que: “a impura tem, sempre, como substrato, a culpa de terceiro, que está vinculado à atividade do indenizador.”187

186 AZEVEDO, Álvaro Villaça. Teoria geral das obrigações e responsabilidade civil. Curso de Direito Civil. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2011. p. 250.

Diante do exposto e com apoio no atual entendimento do Superior Tribunal de Justiça, pode-se afirmar que o notário ou registrador titular da delegação deverá necessariamente figurar do polo passivo da demanda proposta.

E que ficará como opção do autor propor, ou não, a ação também contra o Estado delegante, em litisconsórcio facultativo, em virtude da responsabilidade objetiva subsidiária do ente público.

2.3.3.4 DA CARACTERIZAÇÃO DA RESPONSABILIDADE DO ESTADO COMO

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