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DO PRINCÍPIO DA UNIDADE DA CONSTITUIÇÃO:

3. DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO NOTÁRIO E DO REGISTRADOR:

3.1 DA INTERPRETAÇÃO DOS DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS A RESPEITO DA RESPONSABILIDADE DO NOTÁRIO E DO REGISTRADOR:

3.1.4. CRITÉRIOS PARA INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DOS DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS SOBRE A ATIVIDADE NOTARIAL E REGISTRAL:

3.1.4.2. DO PRINCÍPIO DA UNIDADE DA CONSTITUIÇÃO:

O princípio da unidade da constituição se demonstra notadamente relevante para o presente estudo, e, pela sua amplitude e consequências lógicas, é o que se deve dar maior importância.

Sobre esse princípio J. J. CANOTILHO ensina que:

A consideração da constituição como sistema aberto de regras e princípios deixa ainda um sentido útil ao princípio da unidade da constituição: o de unidade hierárquico-normativa. O princípio da unidade hierárquico-normativa significa que todas as normas contidas numa constituição formal têm igual dignidade (não há normas só formais, nem hierarquia de supra-infra-ordenação dentro da lei constitucional). 227

E prossegue J. J. CANOTILHO afirmando que:

o princípio da unidade normativa conduz à rejeição de duas teses, ainda hoje muito correntes na doutrina do direito constitucional: (1) a tese das antinomias normativas; (2) a tese das normas constitucionais inconstitucionais. 228

225 COELHO, Inocêncio Mártires. Hermenêutica constitucional. In: MARTINS, Ives Gandra da Silva; MENDES, Gilmar Ferreira; NASCIMENTO, Carlos Valder do (coord.). Tratado de direito constitucional. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. v. 1. p. 266.

226 CANOTILHO, J. J. Gomes. Op. cit. p. 1183. 227 Idem, ibidem. p. 1183.

Assim sendo, para J. J. CANOTILHO, o princípio da unidade da constituição: “expressão da própria positividade normativo-constitucional e um importante elemento de interpretação.” 229

Ao prosseguir em seu estudo sobre o principio da unidade da constituição, J. J. CANOTILHO aduz que:

Compreendido desta forma, o princípio da unidade da constituição é uma exigência da ‘coerência narrativa’ do sistema jurídico. O princípio da unidade, como princípio de decisão, dirige-se aos juízes e a todas as autoridades encarregadas de aplicar as regras e princípios jurídicos, no sentido de as ‘lerem’ e ‘compreenderem’, na medida do possível, como se fossem obras de um só autor, exprimindo uma concepção correcta do direito e da justiça (Dworkin). Neste sentido, embora a Constituição possa ser uma ‘unidade dividida’ (P. Badura) dada a diferente configuração e significado material das suas normas, isso em nada altera a igualdade hierárquica de todas as suas regras e princípios quando à sua validade, prevalência normativa e rigidez.230

E finaliza, J. J. CANOTILHO, afirmando que:

O princípio da unidade da constituição ganha relevo autônomo como princípio interpretativo quando com ele se quer significar que a constituição deve ser interpretada de forma a evitar contradições (antinomias, antagonismos) entre as suas normas. Como ‘ponto de orientação’, ‘guia de discussão’ e ‘factor hermenêutico de decisão’, o princípio da unidade obriga o intérprete a considerar a constituição na sua globalidade e a procurar harmonizar os espaços de tensão existentes entre as normas constitucionais a concretizar.231

Luís Roberto BARROSO, por seu turno, defende a preservação do princípio da unidade da Constituição ao afirmar que: “na harmonização de sentido entre normas

229 CANOTILHO, J. J. Gomes. Op. cit. p. 1183. 230 Idem, ibidem. p. 1184.

contrapostas, o intérprete deverá promover a concordância prática entre os bens jurídicos tutelados, preservando o máximo possível de cada um.”232

Em obra diversa, Luís Roberto BARROSO aduz, acerca do princípio da unidade da Constituição que:

a ordem jurídica de cada Estado constitui um sistema lógico, que não admite a possibilidade de uma mesma situação jurídica estar sujeita à incidência de normas contrastantes entre si. O direito não tolera antinomias. Para impedir que tal ocorra, a ciência jurídica socorre-se de variados critérios, como o hierárquico e o da especialização, além de regras específicas que solucionem os conflitos de leis no tempo e no espaço. Contudo, à exceção eventual do critério da especialização, esse instrumental não é capaz de solucionar conflitos que venham a existir no âmbito de um documento único e superior, como é a Constituição.233

E assevera Luís Roberto BARROSO que:

O fundamento subjacente a toda a ideia de unidade hierárquico- normativa da Constituição é o de que as antinomias eventualmente detectadas serão sempre aparentes e, ipso facto, solucionáveis pela busca de um equilíbrio entre as normas, ou pela legítima exclusão da incidência de alguma delas sobre dada hipótese, por haver o constituinte disposto nesse sentido. Não se reconhece, assim, a existência de antinomias jurídicas reais.234

Sobre a aplicação prática do princípio da unidade da Constituição, Inocêncio Mártires COELHO afirma que:

o jurista pode bloquear o próprio surgimento de eventuais conflitos entre preceitos da Constituição, ao mesmo tempo que se habilita a desqualificar, como contradições meramente aparentes, aquelas situações em que duas ou mais normas constitucionais – com hipóteses de incidência à primeira vista idênticas e que só a

232 BARROSO, Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo: os conceitos fundamentais e

a construção do novo modelo. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 327.

233 BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição: fundamentos de uma dogmática

constitucional transformadora. 7. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 203. 234 Idem, ibidem. p. 218.

interpretação racional evidenciará serem distintas – ‘pretendam’ regular a mesma situação de fato.

Registre-se, ainda, que a rigor esse princípio compreende e dá suporte, se não a todos, pelo menos à grande maioria dos cânones da interpretação constitucional, porque ao fim das contas ele otimiza as virtualidades do texto da Constituição, de si naturalmente expansivo, permitindo aos seus aplicadores construir as soluções exigidas em cada situação hermenêutica. 235

Por aplicação do princípio da unidade da constituição ao caso concreto ora em exame, da responsabilidade por atos notariais e registrais, caberá ao intérprete buscar a aplicação tanto do disposto no artigo 37, §6º, quanto do artigo 236, §1º, da Constituição Federal, em seus respectivos âmbitos de atuação mais adequados, de modo a não ignorar, ou desconstitucionalizar, qualquer desses dispositivos.

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