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O FUNDAMENTO DOS QUE VEEM A RESPONSABILIDADE DO ARTIGO 22, DA LEI FEDERAL Nº 8.935/94, COMO DIRETA E OBJETIVA, FUNDADA NO

3. DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO NOTÁRIO E DO REGISTRADOR:

3.1 DA INTERPRETAÇÃO DOS DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS A RESPEITO DA RESPONSABILIDADE DO NOTÁRIO E DO REGISTRADOR:

3.2.3. DA EDIÇÃO DA LEI DOS NOTÁRIOS E REGISTRADORES (LEI DOS CARTÓRIOS) – LEI FEDERAL Nº 8.935/94 E DAS CARACTERÍSTICAS DA

3.2.3.2. O FUNDAMENTO DOS QUE VEEM A RESPONSABILIDADE DO ARTIGO 22, DA LEI FEDERAL Nº 8.935/94, COMO DIRETA E OBJETIVA, FUNDADA NO

RISCO, E EM PARALELISMO COM O DISPOSTO NO ARTIGO 37, §6º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL:

Essa corrente de entendimento deve muito ao pensamento de José Renato NALINI, o qual se desenvolveu, ainda com base na vigência do Código Civil de 1916 e da Lei de Registros Públicos e antes da edição da Lei 8.935/94.

José Renato NALINI afirma que:

Se vier a ser negada toda relação contratual entre notário e cliente, aquele será responsável (responsabilidade extracontratual) do dano que cause, intervindo qualquer gênero de culpa – imprudência,

260 PIRES, Luis Manuel Fonseca. Responsabilidades civil e funcional dos notários e registradores. In: YOSHIDA, Consuelo Yatsuda Moromizato; FIGUEIREDO, Marcelo; AMADEI, Vicente de Abreu (coord.).

Direito Notarial e Registral Avançado. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014. p. 71.

261 CAHALI, Yussef Said. Responsabilidade civil do Estado. 4. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012. p. 263.

262 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2012. p. 276. 263 SARTORI, Ivan Ricardo Garisio. Responsabilidade civil e penal dos notários e registradores. Revista de Direito Imobiliário n. 53/102. São Paulo: RT, 2002.

264 CHIMENTI, Ricardo Cunha. Responsabilidade civil do Estado e o Conselho Nacional de Justiça. In: GUERRA, Alexandre Dartanhan de Mello; PIRES, Luis Manuel Fonseca; BENACCHIO, Marcelo (coord.).

Responsabilidade Civil do Estado. Desafios contemporâneos. São Paulo: Quartier Latin, 2010. p. 1376. 265 PIRES, Luis Manuel Fonseca. Responsabilidades civil e funcional dos notários e registradores. In: YOSHIDA, Consuelo Yatsuda Moromizato; FIGUEIREDO, Marcelo; AMADEI, Vicente de Abreu (coord.).

Direito Notarial e Registral Avançado. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014. p. 63- 75

266 CARMO, Jairo Vasconcelos Rodrigues. Responsabilidade civil do delegatário notarial e de registros

públicos. Revista da EMERJ v. 9, n. 36/169. Rio de Janeiro: EMERJ, 2006.

negligência ou imperícia – e ainda sem culpa alguma, se com as modernas doutrinas da responsabilidade objetiva entendemos que o notário, com o exercício de sua profissão, cria um risco cujas consequências danosas incumbe sofrer.268

E exemplifica José Renato NALINI, as seguintes hipóteses de responsabilização do notário:

A responsabilidade civil existirá quando o notário causa um dano as seus clientes:

1. Pelos defeitos formais do instrumento que determinam a frustração do fim perseguido com a intervenção notarial.

2. Por vícios de fundo que determinem a nulidade absoluta (pois se os há, o notário deve abster-se de intervir) ou a relativa (a menos que esta se produza por vício previsto pelo notário e advertido aos outorgantes);

3. Pela desacertada eleição do meio jurídico para a consecução do fim proposto;

4. Pelo deficiente assessoramento quanto às consequências do ato notarial (parte tributária, etc.);

5. Pela incorreta conduta do notário como depositário ou mandatário de seus clientes (para de impostos, apresentação de documentos, etc.).269

José Renato NALINI fundamenta seu raciocínio, em síntese, na ideia do risco inerente à delegação da atividade notarial e registral, ao afirmar que: “há uma responsabilidade advinda do risco de quem exerce uma função pública delegada, independentemente de obrar com culpa.”270

Luís Paulo Aliende RIBEIRO, ao privilegiar a aplicação específica do artigo 236, §1º, aos notários e registradores, afasta, em princípio a responsabilidade desses particulares em colaboração com o Poder Público, da responsabilidade objetiva genérica dos prestadores de serviço público, prevista no artigo 37, §6º, da Constituição Federal, mas entende que:

268 NALINI, José Renato. A responsabilidade civil do notário. RJTJESP n. 130/19. São Paulo: Lex, 1991. p. 21.

269 Idem, ibidem. p. 22. 270 Idem, ibidem. p. 25.

A previsão constitucional especial permitia, em tese, que o legislador, ao editar a norma regulamentar, o fizesse de modo diverso, o que não ocorreu, pois a Lei n. 8.935/94, editada em cumprimento à determinação constitucional, estabeleceu, no seu artigo 22, à semelhança do §6º do artigo 37 da Constituição Federal, que os notários e registradores respondem pelos danos que eles e seus prepostos causem a terceiros, assegurado aos delegados direito de regresso no caso de dolo ou culpa dos prepostos.271

Aliende RIBEIRO vê, portanto, uma semelhança, um paralelismo e uma certa sintonia entre as normas do artigo 37, §6º, da Constituição Federal, que é baseada em risco, com o texto expresso do artigo 22 da Lei 8.935/94, devendo, dessa forma, ser tratado como instituidor de responsabilidade objetiva, tal como ocorre com o §6º, do artigo 37, da Constituição Federal.

Essa também é a opinião de Claudio Antônio Soares LEVADA, o qual afirma que: é preciso atentar para o uso da expressão ‘responderão pelos danos’, constante do art. 22, da Lei 8.935/94. Fosse essa expressão, no caso, modalidade de responsabilidade subjetiva, não haveria motivo para a diferenciação a seguir efetuada, no sentido de que, para o exercício do direito de regresso, impõe-se a comprovação de dolo ou culpa dos prepostos da serventia.272

Claudio Antônio Soares LEVADA demonstra também existir paralelismo entre o artigo 37, §6º da Constituição Federal e o disposto no artigo 22, da Lei 8.935/94, ao asseverar que:

Ou seja, em um caso, dos notários, a lei julgou suficiente, por se tratar de responsabilidade objetiva, simplesmente afirmar essa responsabilidade; na outra hipótese, dos prepostos, julgou necessário esclarecer que o direito de regresso só será assegurado em havendo dolo ou culpa por parte dos agentes.

271 RIBEIRO, Luís Paulo Aliende. Regulação da função pública notarial e de registro. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 122.

272 LEVADA, Cláudio Antônio Soares. Responsabilidade civil do notário público. Revista de Direito Privado n. 8/40. São Paulo: RT, 2001.

Essa é, e usando termos similares, a mesma técnica legislativa que se observa no art. 37, §6º, da CF/1988, que – pacificamente - consagra hipótese de responsabilidade objetiva do Estado.273

Paulo Valério Dal Pai MORAES entende que o artigo 37, §6º da Constituição Federal não se aplica diretamente aos notários e registradores, mas defende a ideia de paralelismo entre seu comando e aquele decorrente da aplicação do artigo 22, da Lei 8.935/94, ao expressar que:

No que diz respeito à questão da responsabilidade civil, o disposto no §6º, do art. 37 da CF/88 não se aplica aos profissionais notários e registradores, pois tal dispositivo constitucional é específico para pessoas jurídicas de direito público e para pessoas jurídicas de direito privado, enquanto que aqueles são pessoas físicas que colaboram com o poder público.

A Lei 8.935/94, no seu art. 22, define a responsabilidade civil dos notários e registradores como sendo objetiva, praticamente copiando a técnica e a teleologia constitucionais verificada no §6º do art. 37 da CF/88, impondo-se, assim, uma mesma interpretação para ambos dispositivos.274

Ao complementar essa visão de que o artigo 22, da Lei 8.935/94, traz, consigo, uma ideia de risco, Renato Luís BENUCCI aponta que o fundamento jurídico para a doutrina que defende a responsabilidade objetiva de notários e registradores, com base no artigo 22, da Lei 8.935/94, é, basicamente a aplicação da teoria do risco, nas modalidades do risco- criado e do risco-proveito, afirmando que:

Assim, o elemento financeiro, a apropriação direta e integral dos emolumentos cartorários seria a maior justificativa da responsabilização objetiva dos notários e registradores, e seria um modo meio de compensar o usuário do serviço da exploração da atividade econômica pelos notários e registradores.275

Bianca Sant´anna DELLA GIUSTINA entende que o artigo 22, da Lei 8.935/94, estabelece a responsabilização objetiva de notários e registradores, ao conter texto

273 Idem, ibidem.

274 MORAES, Paulo Valério Dal Pai. Os tabeliães, os oficiais registradores e o Código de Defesa do

Consumidor. Revista de Direito do Consumidor n. 61/142. São Paulo: RT, 2007.

275 BENUCCI, Renato Luís. A responsabilidade civil pelos atos notariais e de registro. Revista de Direito Imobiliário n. 74/239. São Paulo: RT. Jan, 2013. p. 248.

semelhante ao do artigo 37, §6º, da Constituição Federal, com a exceção dos tabeliães de protesto, para os quais terá efeito a responsabilidade subjetiva, instituída pela Lei 9.492/97, por aplicação dos princípios da cronologia e especialidade.

DELLA GIUSTINA afirma que:

O artigo 22 da Lei nº 8.935/94, ao regulamentar a responsabilidade civil, conforme determina o artigo 236, §1º, da Carta de 1988, o faz em conformidade com a regra inserta no artigo 37, §6º, da Carta Magna, visto que estabelece a responsabilidade objetiva para os notários e registradores. O artigo 38, da Lei nº 9.492/97, dada sua especialidade, vige apenas para os tabeliães de protestos, restando afastada sua aplicação para os demais serventuários do foro extrajudicial.276

3.2.3.3. O FUNDAMENTO DE QUEM ENTENDE A RESPONSABILIDADE DO

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