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DA EFICÁCIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS – DO ARTIGO 37, § 6º, COMO NORMA CONSTITUCIONAL DE EFICÁCIA PLENA E IMEDIATA E DO

3. DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO NOTÁRIO E DO REGISTRADOR:

3.1 DA INTERPRETAÇÃO DOS DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS A RESPEITO DA RESPONSABILIDADE DO NOTÁRIO E DO REGISTRADOR:

3.1.5. DA INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO HARMÔNICA DO DISPOSTO NO ARTIGO 37, §6º, EM CONJUNTO COM O DISPOSTO NO ARTIGO 236, §1º, AMBOS

3.1.5.2. DA EFICÁCIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS – DO ARTIGO 37, § 6º, COMO NORMA CONSTITUCIONAL DE EFICÁCIA PLENA E IMEDIATA E DO

ARTIGO 236, §1º, COMO NORMA CONSTITUCIONAL DE EFICÁCIA CONTIDA OU CONTÍVEL E IMEDIATA:

José Afonso da SILVA classifica as normas constitucionais, quanto à sua eficácia e aplicabilidade, em:

1) normas de eficácia plena e aplicabilidade direta, imediata e integral;

2) normas de eficácia contida e aplicabilidade direta e imediata, mas possivelmente não integral; e

3) normas de eficácia limitada: a) declaratórias de princípios instrutivos ou organizativos; e b) declaratórias de princípio programático.255

255 SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. In: MARTINS, Ives Gandra da Silva; MENDES, Gilmar Ferreira; NASCIMENTO, Carlos Valder do (coord.). Tratado de direito constitucional. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. v. 1. p. 171.

No que pertine às normas constitucionais de eficácia plena, José Afonso da SILVA consigna que:

Em síntese, as normas de eficácia plena são aquelas que estabelecem conduta jurídica positiva ou negativa com comando certo e definido, incrustando-se, predominantemente, entre as regras organizativas e limitativas dos poderes estatais, e podem conceituar-se como sendo aquelas que, desde a entrada em vigor da Constituição, produzem, ou têm possibilidade de produzir, todos os efeitos essenciais relativamente aos interesses, comportamentos e situações, que o legislador constituinte, direta e normativamente quis regular. Incidem diretamente sobre os interesses a que o constituinte quis dar expressão normativa. São de aplicabilidade imediata, porque dotadas de todos os meios e elementos necessários à sua executoriedade. No dizer clássico, são autoaplicáveis. As condições gerais, para esta aplicabilidade, são a existência apenas do aparato jurisdicional, o que significa: aplicam- se só pelo fato de serem normas jurídicas, que pressupõem, no caso, a existência do Estado e de seus órgãos.256

Por outro lado, no que tange às normas constitucionais de eficácia contida, ou de eficácia contível, José Afonso da SILVA consigna que:

I – são normas que, em regra, solicitam a intervenção do legislador ordinário, fazendo expressa remissão a uma legislação futura, mas o apelo ao legislador ordinário visa a restringir-lhes a plenitude da eficácia, regulamentando os direitos subjetivos que delas decorrem para os cidadãos, indivíduos ou grupos;

II – enquanto o legislador ordinário não expedir a normação restritiva, sua eficácia será plena, nisso também diferem das normas de eficácia limitada, de vez que a interferência do legislador ordinário, em relação a estas, tem o escopo de lhes conferir plena eficácia e aplicabilidade concreta e positiva;

256 SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. In: MARTINS, Ives Gandra da Silva; MENDES, Gilmar Ferreira; NASCIMENTO, Carlos Valder do (coord.). Tratado de direito constitucional. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. v. 1. p. 174.

III – são de aplicabilidade direta e imediata, visto que o legislador constituinte deu normatividade suficiente aos interesses vinculados à matéria de que cogitam;

IV – algumas dessas normas já contêm um conceito ético juridicizado (bons costumes, ordem pública etc.), como valor societário ou político a preservar, que implica a limitação de sua eficácia;

V – sua eficácia pode ainda ser afastada pela incidência de outras normas constitucionais, se ocorrerem certos pressupostos de fato (estado de sítio, por exemplo).257

O artigo 37, §6º, da Constituição Federal, na medida em que não contém qualquer menção a regulamentação por lei infraconstitucional, bem como por trazer, em si mesmo, a regra de responsabilidade do Estado e das prestadoras de serviço público, pelos prejuízos que causarem a terceiros no exercício de suas atividades, revela-se como autoaplicável e também como norma constitucional de eficácia plena, visto que não pode a lei ordinária restringir a eficácia que foi dada ao aludido comando normativo, pela própria Constituição Federal.

Por aplicação, também, do princípio da força normativa da Constituição, aqui já estudado, deve-se, sempre que possível privilegiar a eficácia dos comandos constitucionais, razão pela qual se entende que o referido §6º, do artigo 37, da Constituição é autoaplicável e sua eficácia não pode ser restringida por norma infraconstitucional.

Com relação ao artigo 236, §1º da Constituição, a situação é oposta. O artigo 236, §1º, da Constituição Federal, ao tratar da responsabilidade civil de notários e registradores, é expresso em afirmar que: “Lei [...] disciplinará a responsabilidade civil” dos notários e registradores.

Uma vez que o comando constitucional delega a disciplina da responsabilidade civil de notários e registradores ao legislador infraconstitucional, referido dispositivo constitucional não tem a mesma eficácia plena que possui o art. 37, §6º, restando se definir se se trata de norma constitucional de eficácia contida, ou se se apresenta uma norma constitucional de eficácia limitada.

257 SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. In: MARTINS, Ives Gandra da Silva; MENDES, Gilmar Ferreira; NASCIMENTO, Carlos Valder do (coord.). Tratado de direito constitucional. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. v. 1. p. 175.

Mais uma vez, por aplicação do princípio da força normativa da Constituição, prefere-se dar privilégio à autoaplicabilidade dos dispositivos constitucionais.

Por essa razão, prefere-se considerar que o texto do artigo 236, §1º, da Constituição, já institui, ele mesmo, a responsabilidade direta dos notários e registradores, sendo, assim, autoaplicável, até mesmo para que essa responsabilidade direta não recaia sobre o Estado, na condição de ente delegante da atividade notarial e registral, por aplicação do artigo 37, §6º, da Constituição Federal.

Ao se admitir a responsabilidade de notários e registradores estatuída constitucionalmente de forma especial e específica, como autoaplicável, e por haver uma delegação de atribuições, por parte do Constituinte, ao legislador infraconstitucional, no sentido de regulamentar a responsabilidade civil de notários e registradores, pode-se concluir que se está diante de uma norma constitucional de eficácia contida ou contível e não de uma norma constitucional de eficácia limitada, cuja eficácia ficaria suspensa até que fosse editada a lei regulamentadora.

Ao admitir a norma do artigo 37, §6º, como de eficácia plena e imediata, e o disposto no artigo 236, § 1º, como de eficácia contida ou contível, mas também imediata, pode-se concluir que, desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, coexistem no ordenamento jurídico, duas normas constitucionais, ambas de eficácia imediata, e que, portanto, não se poderia aplicar supletivamente a norma genérica do artigo 37, §6º, enquanto não fosse regulamentado o disposto no artigo 236, § 1º, ao contrário do que se poderia cogitar, caso fosse o artigo 236, § 1º, da Constituição, considerado norma constitucional de eficácia limitada, e, portanto, não-autoaplicável.

Por força do critério aplicativo da especialidade, o fato de existir o comando constitucional especial, específico e autoaplicável, dirigido a notários e registradores, contido no artigo 236, § 1º, da Constituição Federal, afasta notários e registradores do âmbito de atuação da regra genérica do artigo 37, §6º, que vale para todos os prestadores de serviço público, isso mesmo para quem entenda notários e registradores como prestadores de serviço público.

3.2 DA REGULAMENTAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL DA

RESPONSABILIDADE CIVIL DE NOTÁRIOS E REGISTRADORES, INSTITUÍDA PELO ARTIGO 236, §1º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL:

Definido que não se aplica a notários e registradores a responsabilidade estatuída no artigo 37, §6º, da Constituição Federal, mesmo para os intérpretes que os consideram como prestadores de serviço público, mas apenas e tão somente a responsabilidade instituída pelo artigo 236, § 1º, da Constituição Federal, por aplicação do critério da especialidade, e, por se tratar de uma norma constitucional de eficácia contida ou contível, conforme estudado anteriormente, cabe analisar a legislação infraconstitucional que rege essa responsabilidade, desde a promulgação da Constituição Federal, em 05 de outubro de 1988.

3.2.1. DA LEGISLAÇÃO FEDERAL VIGENTE EM 05.10.1988 E RECEPCIONADA

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