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DOS NOTÁRIOS E REGISTRADORES NA CONDIÇÃO DE AGENTES PÚBLICOS:

2. RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL EXTRACONTRATUAL DO ESTADO POR ATOS NOTARIAIS E DE REGISTRO:

2.3 RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL EXTRACONTRATUAL DO ESTADO ESTUDO DO ARTIGO 37, §6º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E HIPÓTESES DE

2.3.1 DOS NOTÁRIOS E REGISTRADORES NA CONDIÇÃO DE AGENTES PÚBLICOS:

Na definição de Hely Lopes MEIRELLES, agentes públicos: “são todas as pessoas físicas incumbidas, definitiva ou transitoriamente, do exercício de alguma função estatal.”128

MEIRELLES via notários e registradores, os quais eram denominados, antes da Constituição de 1988, como “serventuários de ofícios ou cartórios não estatizados”, na condição de agentes delegados, os quais segundo sua definição são particulares: “que recebem a incumbência de determinada atividade” pública e que “constituem uma categoria à parte dos colaboradores do Poder Público”129.

Celso Antônio Bandeira de MELLO, por sua vez, afirma que: “esta expressão – agentes públicos – é a mais ampla que se pode conceber para designar genérica e indistintamente os sujeitos que servem ao Poder Público como instrumentos expressivos de sua vontade ou ação, ainda quando o façam apenas ocasional ou episodicamente.”130

Dentro das diversas categorias de agentes públicos, Bandeira de MELLO enquadra notários e registradores dentre os particulares em colaboração com a Administração, e

128 MEIRELLES, Hely Lopes. Op. cit. p.77. 129 Idem, ibidem. p.83.

dentre estes, define notários e registradores como delegados de função ou ofício público, ensinando que os delegados de função ou ofício público:

se distinguem de concessionários e permissionários em que a atividade que desempenham não é material, como a daqueles, mas é jurídica. É, pois, o caso dos titulares de serventias da Justiça não oficializadas, como notários e registradores, ex vi do art. 236 da Constituição, e, bem assim, outros sujeitos que praticam, com o reconhecimento do Poder Público, certos atos dotados de força jurídica oficial, como ocorre com os diretores de Faculdades particulares reconhecidas. 131

Com relação aos agentes, Odete MEDAUAR ensina que:

O vocábulo agentes reveste-se de grande amplitude, para abarcar, quanto às entidades integrantes da Administração, todas as pessoas que, mesmo de modo efêmero, realizem funções públicas. Qualquer tipo de vínculo funcional, o exercício de funções de fato, de funções em substituição, o exercício de funções por delegação, o exercício de atividades por particulares sem vínculo de trabalho (mesários e apuradores em eleições gerais) ensejam responsabilização.132

Maria Sylvia Zanella DI PIETRO, por seu turno, define agente público como: “toda pessoa física que presta serviços ao Estado e às pessoas jurídicas da Administração Indireta.” 133

E classifica notários e registradores como particulares em colaboração com o Poder Público, os quais são “pessoas físicas que prestam serviços ao Estado sem vínculo empregatício, com ou sem remuneração”.134

Dentro dessa classificação dos particulares em colaboração com o Poder Público, DI PIETRO considera que notários e registradores exercem a referida colaboração com o Poder Público, mediante delegação do Poder Público, ao afirmar que:

[...] os que exercem serviços notariais e de registro (art. 236 da Constituição), os leiloeiros, tradutores e intérpretes públicos; eles exercem função pública, em seu próprio nome, sem vínculo

131 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Op. cit. p. 256. 132 MEDAUAR, Odete. Op. cit. p. 448.

133 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Op. cit. p. 511. 134 Idem, ibidem. p. 518.

empregatício, porém sob fiscalização do Poder Público. A remuneração que recebem não é paga pelos cofres públicos mas pelos terceiros usuários do serviço.135

Cabe ressaltar que a noção de agente público é gênero da qual a categoria dos servidores públicos são espécie. Servidores Públicos são os ocupantes de cargos, empregos ou funções públicas136.

Até a edição da Emenda Constitucional nº 20/98, notários e registradores eram considerados servidores públicos lato sensu, na condição de ocupantes de função pública. Essa situação tinha, como um de seus efeitos o de sujeitar notários e registradores à aposentadoria compulsória, por implemento da idade de 70 (setenta) anos, nos termos da redação original do artigo 40, inciso II, da Constituição Federal137.

Em reconhecimento à situação dos notários e registradores como servidores públicos em sentido lato, 07.03.1996 o Pleno do Supremo Tribunal Federal julgou, por maioria, o Recurso Extraordinário 178.236-RJ138, o qual versava sobre a aposentadoria compulsória dos notários e registradores aos 70 (setenta) anos de idade, tendo como relator o Ministro Octavio Gallotti, julgamento este que foi fruto de intensos e riquíssimos debates.

Em 16 de dezembro de 1998 entrou em vigor a Emenda Constitucional nº 20, de 15 de dezembro de 1998, a qual alterou o caput do artigo 40, da Constituição Federal, substituindo a expressão “o servidor será aposentado”, do texto original, por “aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações”139.

Após a entrada em vigor da aludida Emenda Constitucional nº 20/98, restou saber se notários e registradores, até então definidos como servidores públicos lato sensu, por ocasião do julgamento do RE 178.236-RJ, ainda estariam sujeitos à aposentadoria compulsória, eis que o texto constitucional agora se referia a titulares de cargos efetivos e não mais somente a servidores.

135 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Op. cit. p. 518. 136 Cf. DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Op. cit. p. 518. 137 Art. 40. O servidor será aposentado:

II - compulsoriamente, aos setenta anos de idade, com proventos proporcionais ao tempo de serviço; 138 RE 178236-RJ, rel. Min. Octavio Gallotti, tribunal pleno, j. em 07.03.1996, DJ 11.04.1997.

139 Constituição Federal com a redação dada pela Emenda Constitucional nº 20/98: Art. 40 - Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime de previdência de caráter contributivo, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo.

Então, em 24.11.2005, foi julgada, pelo pleno do Supremo Tribunal Federal a ADI 2602-0-MG140, tendo como relator o Ministro Joaquim Barbosa, a qual, por maioria de votos e, em apertada síntese, reviu o enquadramento dos notários e registradores, antes classificados como servidores públicos em sentido lato, conforme julgamento do RE 178236-RJ, aqui já comentado, como não ocupantes de cargo público efetivo, não estando sujeitos, assim, à questionada aposentadoria compulsória.

Do aludido julgamento, extrai-se o voto do Ministro Carlos Ayres Britto, do qual se transcreve o seguinte excerto, que resume a situação jurídica constitucional de notários e registradores:

Numa frase, então, serviços notariais e de registro são típicas atividades estatais, mas não são serviços públicos, propriamente. Categorizam-se como atividade jurídica stricto sensu, assemelhadamente às atividades jurisdicionais. E como função pública lato sensu, a exemplo das funções de legislação, diplomacia, defesa nacional, segurança pública, trânsito, controle externo e tantos outros cometimentos que, nem por ser de exclusivo domínio estatal, passam a se confundir com serviço público.

Dessa forma, sendo atividade jurídica estatal, exercida por particular em colaboração com o Poder Público, pode-se concluir que os notários e registradores são considerados agentes públicos, para os fins de se reconhecer a responsabilidade extracontratual patrimonial do Estado, estatuída no artigo 37, § 6º da Constituição Federal.

Resta saber, somente, “se o estado-membro aos quais estes agentes se acham vinculados deve responder em caráter primário, solidário ou subsidiário em relação aos delegatários”141. Esse questionamento é exatamente o objeto do Recurso Extraordinário 842.846-SC, a respeito do qual o Ministro Luiz Fux, na qualidade de relator, reconheceu a repercussão geral do referido recurso, no que foi acompanhado pela unanimidade dos ministros, por meio do Plenário Virtual da Corte, em julgamento de 07.11.2014.

2.3.2 DAS HIPÓTESES DE RESPONSABILIDADE DIRETA DO ESTADO,

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