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DA RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL EXTRACONTRATUAL DO ESTADO FUNDAMENTADA NA TEORIA DO RISCO ADMINISTRATIVO:

2. RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL EXTRACONTRATUAL DO ESTADO POR ATOS NOTARIAIS E DE REGISTRO:

2.2 DA RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL EXTRACONTRATUAL DO ESTADO FUNDAMENTADA NA TEORIA DO RISCO ADMINISTRATIVO:

Ao delinear o funcionamento do sistema jurídico brasileiro de responsabilização do Estado, Yussef Said CAHALI afirma que:

A responsabilidade civil do Estado, com base no risco administrativo, que admite pesquisa em torno da culpa do

116 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Op. cit. p. 1009.

117 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Volume 7: Responsabilidade Civil. 25. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 661.

particular, para o fim de abrandar ou mesmo excluir a responsabilidade estatal, ocorre, em síntese, diante dos seguintes requisitos: a) do dano; b) da ação administrativa; e c) desde que haja nexo causal entre o dano e a ação administrativa. A consideração no sentido da licitude da ação administrativa é irrelevante, pois o que interessa é isto: sofrendo o particular um prejuízo, em razão da atuação estatal, regular ou irregular, no interesse da coletividade, é devida a indenização, que se assenta no princípio da igualdade dos ônus e encargos sociais.119

A teoria da responsabilização com base no risco administrativo não se demonstra adequada a notários e registradores, tendo em vista que, com relação a esses profissionais do direito, é imperioso perquirir acerca da licitude e da regularidade de sua atuação.

Argumento relevante é o trazido por CAHALI, ao afirmar que: “a responsabilidade objetiva do Estado se caracteriza pela só demonstração do nexo causal entre o fato lesivo e o dano.”120

Ao analisar essa assertiva, parece estranho e contrário ao Direito que um profissional venha a responder, somente com base em nexo entre o fato lesivo e o dano, de forma direta e ilimitada, por prejuízo decorrente de determinado ato jurídico praticado, nas hipóteses em o profissional tenha observado estritamente os parâmetros legais, normativos, a boa fé objetiva e o dever de cuidado que se espera da atuação em uma atividade jurídica, como é a notarial e registral.

É de se ressaltar, neste ponto, que a responsabilidade pessoal, direta e ilimitada, de notários e registradores, no caso em que não se verifique o descumprimento de qualquer dever de conduta a eles imposto, não afastará a responsabilização do Estado, para responder pelo prejuízo, seja com base na teoria do risco administrativo e de socialização do dano injusto sofrido, seja com fundamento em eventual falha decorrente da normatização técnica da atividade notarial e registral, a qual incumbe ao Estado, na figura do Poder Judiciário, consoante disposição do inciso XIV, do artigo 30, da Lei 8.935/94.

Esse é o caráter de socialização dos prejuízos causados por um dano injusto a um particular, entre todos os membros de uma sociedade.

Celso Antônio Bandeira de MELLO lembra que: “os danos causados pelo Estado resultam de comportamentos produzidos a título de desempenhar missões no interesse de

119

CAHALI, Yussef Said. Op. cit. p. 42. 120 Idem, ibidem. p. 42.

toda a Sociedade, não sendo equânime, portanto, que apenas algum arque com os prejuízos suscitados por ocasião de atividades exercidas em proveito de todos.”121

Consigna, ainda, que: “no que atina às condições para engajar responsabilidade do Estado, seu posto mais evoluído é a responsabilidade objetiva, a dizer, independentemente de culpa ou procedimento contrário ao Direito. Essa fronteira também já é território incorporado, em largo trecho ao Direito contemporâneo.”122

E prossegue afirmando que: “o ponto extremo da responsabilidade do Estado e para o qual vai a caminho é a teoria do risco social, sendo cujos termos esta se promove mesmo com relação a danos não imputáveis à ação do Poder Público.”123

Ao ressaltar a justiça corretiva e distributiva, como fundamentos da responsabilização do Estado, com relação à prática de atos ilícitos, NOHARA aduz que: “Quando há comportamentos ilícitos do Estado, entende-se que o fundamento da responsabilização é o princípio da legalidade, pois se o comportamento estatal extrapola os limites da lei, e ocasiona dano, deve haver a consequente reparação, como tentativa de restabelecer o prejudicado ao status quo ante.”124

Por outro lado, nas hipóteses em que é lícita a conduta estatal, mas haja danos a particulares, NOHARA afirma que: “então, o fundamento do dano relaciona-se também com a repartição igualitária dos ônus das atividades estatais, pois como estas objetivam beneficiar a todos, sendo desempenhadas no interesse comum, não é justo que alguém sofra isoladamente consequências de uma ação que, em tese, a todos beneficia.”125

Esse é o cerne da teoria do risco administrativo, o qual envolve, por um lado, a atividade estatal, a qual, ainda que praticada de acordo com os ditames legais, pode vir a causar um dano injusto a um particular, possuindo determinado grau de risco que lhe é intrínseco; e, por outro lado, a compreensão da vítima do dano injusto, a qual não deverá arcar sozinha com o prejuízo sofrido, e para o qual a solução mais adequada seria a socialização do dano, consistente na distribuição do prejuízo para toda a sociedade, na figura do Estado.

121 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Op. cit. p. 1014. 122 Idem, ibidem. p. 1014.

123 Idem, ibidem. p. 1015.

124 NOHARA, Irene Patrícia. Op. cit. p. 737. 125 Idem, ibidem. p. 738.

Neste ponto, NOHARA afirma que: “a responsabilidade objetiva (do Estado) tem por fundamento não apenas a ponderação do risco, mas também a noção de solidariedade social.”126

Com relação ao agente estatal que efetivamente causou o dano, este somente responderá perante o Estado por ato ilícito, nunca por ato lícito, eis que não há como se impor a um particular, ainda que este seja um agente público, a assunção de um prejuízo que foi distribuído para a sociedade.

Aponta, ainda, NOHARA que: “do ponto de vista teórico-filosófico, contudo, pode- se dizer que, enquanto a recomposição de uma situação derivada de ação ilícita do Estado geralmente se fundamenta mais na ideia aristotélica de justo corretivo, a decorrente de atuação lícita objetiva a recomposição da situação e volta ao status quo ante, acrescida da noção de justo distributivo.”127

Outro fundamento relevante para a responsabilização do Estado diferenciar-se da responsabilidade do agente - o qual, mesmo desenvolvendo uma atividade pública, é um particular - é o poder que o ente estatal concentra, cuja intensidade sobeja à da iniciativa privada, até mesmo se levados em consideração os grandes grupos capitalistas.

Por esses motivos, em se tratando da responsabilidade por atos notariais e de registro, entende-se mais adequado que o Estado responda com base no risco administrativo e que este não se estenda aos agentes públicos, no caso os notários e registradores, os quais responderão pelos danos causados no exercício dos seus atos, com base nos parâmetros próprios ditados pelo artigo 236 da Constituição Federal.

2.3 RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL EXTRACONTRATUAL DO ESTADO -

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