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Inicialmente, é necessário que façamos a leitura atenta do artigo 13, caput, do Código Penal.

Relação de causalidade

Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.

A partir da leitura concentrada que acabamos de realizar, quero que você saiba que o direito penal brasi- leiro adotou a teoria da conditio sine qua non (condição sem a qual) para explicar a relação de causalidade entre conduta e resultado.

Em outra palavras, meu amigo(a), haverá relação de causalidade em qualquer fator que possa anteceder o resultado e nele tiver alguma relação. É o elo de ligação que une a conduta praticada pelo agente ao resul- tado produzido.

Desse modo, se não houver o vínculo que liga o resultado à conduta perpetrada pelo agente, não podere- mos falar de relação de causalidade e, assim, o referido resultado não poderá ser atribuído ao agente, tendo em vista não ter sido ele o seu causador.

Entretanto, faz-se uma crítica no tocante a teoria da equivalência dos antecedentes, no sentido de que, havendo a necessidade de regressar ao passado em busca de todas as causas que contribuíram para o resul- tado, chegaríamos a uma regressão ao infinito.

Preste atenção nesse exemplo do professor Damásio de Jesus:

“Suponhamos que A tenha causado a morte de B. A conduta típica do homicídio possui uma série de fatos, alguns antecedentes, dentre os quais poderíamos sugerir os seguintes: 1º) produção do

agente; 4º) refeição tomada pelo homicida; 5º) emboscada; 6º) disparo dos projéteis na vítima; 7º resultado morte. Dentro dessa cadeia, excluindo-se os atos sob os números 1 a 3, 5 e 6, o resultado não teria ocorrido. Logo, dele são considerados causa. Excluindo-se o fato sob o nº 4 (refeição), ainda assim o evento teria acontecido. Portanto, sob a refeição tomada pelo sujeito não é consi- derada como sendo causa do resultado. (JESUS, Damásio, vol I., p.218).

Perceba que, partindo dessa premissa, no homicídio ora descrito poderíamos imputar o crime até mesmo para o proprietário da empresa encarregada da produção das armas e das munições e, também aos seus pais por terem o colocado no mundo e, assim sucessivamente.

Então, para frear o regresso ao infinito surge o juízo de eliminação hipotética. “Certo, professor! Mas como funciona o juízo de eliminação hipotética?”

Presta atenção na lição do colega André Estefam:

“Sob o enfoque da conditio sine qua non, haverá relação de causalidade entre todo e qualquer fator que anteceder o resultado e nele tiver alguma interferência. O método utilizado para se aferir o nexo de causalidade é o da eliminação hipotética, vale dizer, quando se pretender examinar a relação causal entre uma conduta e um resultado, basta eliminá-la hipoteticamente e verificar, após, se o resultado teria ou não ocorrido exatamente como se dera. Assim, se depois de retirado mentalmente determinado fator, notar que o resultado não se teria produzido (ou não teria ocor- rido exatamente do mesmo modo), poder-se-á dizer que ente a conduta (mentalmente eliminada) e o resultado houve nexo causal. Por outro lado, se a conclusão for a de que, com ou sem a conduta (hipoteticamente retirada) o resultado teria se produzido do mesmo modo como se deu, então ficará afastada a relação de causalidade” (ESTEFAM, André, p. 219/220).

Tudo entendido, meu amigo(a)? Certo! Então, antes de avançarmos, vejamos, pelo menos, uma questão sobre a matéria.

Ano: 2015 Banca: VUNESP Órgão: PC-CE Prova: VUNESP - 2015 - PC-CE - Inspetor de Polícia Civil de 1a Classe Nos termos do Código Penal considera-se causa do crime

A) a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.

B) a ação ou omissão praticada pelo autor, independentemente da sua relação com o resultado. C) exclusivamente a ação ou omissão que mais se relaciona com a intenção do autor.

D) a ação ou omissão praticada pelo autor, independentemente de qualquer causa superveniente. E) exclusivamente a ação ou omissão que mais contribui para o resultado.

Resolução: a questão nos indaga acerca do texto legal expresso no artigo 13 do Código Penal, que retrata a figura da teoria da conditio sine qua non (condição sem a qual), que considera como causa, toda ação ou omis- são sem a qual o resultado não teria ocorrido.

Gabarito: Letra A.

Vamos avançando, caríssimo!

Tipicidade.

Seja muito bem-vindo, meu amigo(a), a mais um tópico da nossa aula 03.

Nesse momento, trataremos da tipicidade, o último elemento que compõe o fato típico.

Dessa forma, a tipicidade é conceituada com o a relação de encaixe/enquadramento entre um fato con- creto (ocorrido no mundo fenomênico) e um tipo penal previsto de forma abstrata (aspecto formal), em con- junto com a lesão ou perigo de lesão ao bem penalmente tutelado (aspecto material).

“Professor, um exemplo, por favor!” Mas é claro, meu(a) jovem!

Suponha que Austin dirija-se até o estacionamento de um supermercado e lá subtraia, para si, uma Ferrari que se encontrava no pátio de estacionamento. Veja que, desse modo, a conduta perpetrada por Austin no mundo exterior se encaixa (formalmente) ao tipo penal do art. 155 do Código Penal, que trata do crime de furto. Perceba também que, materialmente há o encaixe da conduta ao tipo penal do furto, tendo em vista que para a configuração do crime de furto somente poderá ocorrer de forma dolosa, pois não existe furto culposo.

Fácil, não é mesmo?!

Essa é a definição de tipicidade.

Um sinônimo que você poderá encontrar durante sua caminhada de estudos é a expressão “adequação típica”.

Para tanto, a adequação típica se divide em direta e indireta.

DIRETA INDIRETA

Nesse caso, a conduta praticada pelo agente crimi- noso se amolda perfeitamente ao tipo penal descrito abstratamente pela lei, sem depender de uma norma de extensão. Lembre-se do furto de Austin, pois se trata de uma adequação típica direta.

Já na adequação típica indireta, a conduta do agente criminoso precisa de uma norma de extensão para se amoldar a lei penal. Retornemos ao exemplo do furto. Suponha que Austin, ao tentar arrombar a porta da Ferrari, é surpreendido pelo segurança do supermercado e empreende fuga do local sem con- seguir subtrair o automóvel. Veja, meu caro, nesse caso, estamos diante de um furto tentado, pois não se consumou por circunstâncias alheias à vontade de

Austin. Assim, para que possamos amoldar a conduta

de Austin a norma penal incriminadora, é necessário conjugarmos o artigo 155, do Código Penal com o ar- tigo 14, inciso II, que trata da figura da tentativa.

Assim, caríssimo, com a informação que acabamos de verificar acerca das circunstâncias alheias à von- tade do agente, é possível resolvermos à seguinte questão:

Ano: 2019 Banca: INSTITUTO AOCP Órgão: PC-ES Prova: INSTITUTO AOCP - 2019 - PC-ES - Escrivão de Po- lícia

Classifica-se como crime tentado quando, iniciada a execução, não se consuma A) por circunstâncias alheias à vontade do agente.

B) por inabilidade do agente. C) por desistência do agente. D) pela deterioração do objeto.

E) em razão da atipicidade da conduta.

Resolução: veja, caríssimo(a), várias são as modalidades de crime tentado, a qual analisaremos pormenoriza- damente ao longo do nosso estudo. Entretanto, perceba que, conforme mencionei a você anteriormente, ocor- rerá a tentativa, segundo o art. 14, inciso II, do CP, quando o agente não conseguir consuma-lo por circunstân- cias alheias à sua vontade.

Gabarito: Letra A.

Dessa forma, fechamos mais um tópico do nosso estudo! Vamos adiante!