Chegou o momento de tratarmos de um tema de suma importância para o Direito Penal.
Assim, como já é conhecido por você aqui no nosso curso, iniciaremos esse tópico a partir da leitura do art. 14 do Código Penal.
Art. 14 - Diz-se o crime: Crime consumado
I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal;
Tentativa
II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente.
Pena de tentativa
Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.
Realizada nossa leitura atenta, gostaria que você se lembre do exemplo do furto de Austin.
No momento em que Austin consegue subtrair a Ferrari e empreender fuga do estacionamento do super- mercado, o crime de furto (art. 155, caput, do CP), está consumado.
“Professor, como assim? Ainda não entendi...”
Veja, caríssimo, o inciso I do art. 14 do Código Penal está assim redigido: “consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição”.
Agora, preste atenção da redação do artigo 155, caput, do CP: “subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel”.
Desse modo, quando Austin, subtrai, para si, a Ferrari (coisa alheia móvel) que estava no estacionamento, o agente criminoso reuniu todos os elementos da definição legal do crime de furto, razão pela qual, o crime está automaticamente consumado!
Fácil, não é mesmo?! Vejamos, então, a figura da tentativa!
Perceba que anteriormente, narrei a você a hipótese em que Austin, ao iniciar o arrombamento da porta da Ferrari, foi surpreendido pelo segurança do supermercado, que fez com que o agente criminoso empreen- desse fuga do local.
Então, no momento em que Austin empreende fuga do local, ele não consegue consumar o furto por circunstâncias alheias à sua vontade, razão pela qual, o furto ficará na esfera da tentativa.
Ficando o crime de furto na esfera da tentativa, Austin terá direito a um redutor de pena que, conforme o parágrafo único do artigo 14, do CP, varia de um a dois terços.
“Mas professor, como faço para saber a fração que deverá ser utilizada como redutor?” É ótimo ver que você está completamente concentrado em nossa aula!
Para sabermos qual a fração utilizar como critério do redutor, precisamos analisar, no caso concreto, o quão perto o agente criminoso chegou da consumação do crime. Em outra palavras, meu amigo(a), quanto mais distante o criminoso ficar da consumação, o redutor será maior, quanto mais perto o criminoso ficar da consumação do crime, menor será o redutor.
Preste atenção nessa questão:
Ano: 2014 Banca: VUNESP Órgão: PC-SP Prova: VUNESP - 2014 - PC-SP - Atendente de Necrotério Policial Dispõe o parágrafo único do art. 14 do CP que o crime tentado é punido, salvo exceção, com a pena
A) correspondente à prevista para o crime consumado, diminuída de um a dois terços. B) igual à do crime consumado.
C) correspondente à metade da prevista para o crime consumado.
D) livremente estabelecida pelo Juiz, mas em patamar obrigatoriamente inferior à correspondente à prevista para o crime consumado.
E) correspondente à prevista para o crime consumado, diminuída de um ano.
Resolução: conforme visualizamos anteriormente, a pena do crime tentado equivale a do crime consumado, aplicando-se o redutor do parágrafo único do art. 14, do CP, que fará com que ela seja diminuída de 1 a 2/3.
Gabarito: Letra A.
Uma informação que é de extrema relevância para toda a sua trajetória no ramo dos concursos, é ter o conhecimento acercadas infrações penais que não admite a tentativa.
Preste atenção:
CRIMES QUE NÃO ADMITEM TENTATIVA
Crime culposo – Salvo na culpa imprópria (art. 20, §1º e 23, do CP)
Crimes unissubssistente – são aqueles em que a conduta praticada pelo agente não admite fraciona- mento. Ou o agente realiza o verbo nuclear e o crime está automaticamente consumado, ou não realiza o
verbo e não há crime. P.ex. o crime de injúria do art. 140 do CP. Ou o agente emprega a injúria e o crime está consumado, ou não há injúria, e consequentemente, não há crime.
Crimes omissivos puros – aqueles em que a lei penal descreve um não fazer, como, p.ex. a omissão de so-
corro do art. 135, do CP. A impossibilidade de tentativa decorre do fato de que tais crimes são considerados unissubssistente e de mera conduta.
Contravenções penais – o famoso “crime anão”, conforme o art. 4º da LCP não é punível. Entretanto, é
possível, em tese, no mundo fenomênico a tentativa de contravenção penal, p.ex. uma tentativa de vias de fato (art. 21, da LCP). Porém, a própria LCP resolver não ser objeto de punição as tentativas de contraven-
ção.
Crimes habituais – são as infrações penais em que, para se chegar a consumação, é necessário que o
agente criminoso pratique a conduta de forma reiterada/habitual. Ou o agente comete uma série de condu- tas e o crime está consumado, ou ele não pratica e não há crime, como, p.ex. o crime do art. 284, do CP (cu-
randeirismo).
Crimes preterdolosos – art. 19, CP – é quando o agente atua com dolo na sua conduta e o resultado agra-
vador advém de culpa.
Crimes de atentado/empreendimento – exemplo dessa modalidade de crime, é o artigo 352, do CP, não
importando se o agente consiga evadir-se ou somente tenha tentado evadir-se, pois a lei penal, para as duas situações, equipara a tentativa com a consumação.
Então, vejamos a seguinte questão:
Ano: 2018 Banca: VUNESP Órgão: PC-BA Prova: VUNESP - 2018 - PC-BA - Escrivão de Polícia Dentro do tema do crime consumado e tentado, é correto afirmar que
A) os crimes unissubsistentes admitem tentativa.
B) os crimes omissivos impróprios consumam-se com a ação ou omissão prevista e punida na norma penal in- criminadora.
C) só haverá consumação do crime quando ocorre resultado naturalístico ou material.
D) há tentativa cruenta quando o objeto material não é atingido, ou seja, o bem jurídico não é lesionado. E) não admitem tentativa os crimes de atentado ou de empreendimento.
Resolução:
a) os crimes unissubsistentes são aqueles em que a conduta do agente não comporta fracionamento, razão pela qual, crimes dessa natureza não comportam a tentativa.
b) os crimes omissivos impróprios só se consumam quando, quem devia e podia agir, deixa de fazer alguma coisa para evitar o resultado (conduta comissiva por omissão).
c) não necessariamente, tendo em vista as classificações de crime que visualizamos anteriormente, o crime formal (consumação antecipada) não necessita da produção do resultado naturalístico, basta apenas que haja a conduta do agente no mundo fenomênico.
d) a tentativa cruenta/vermelha é quando o objeto material é atingido. Quando o objeto material não for atin- gido, a tentativa será chamada de branca/incruenta.
e) perceba como é importante a memorização da tabela que analisamos anteriormente. Desse modo, podemos verificar que os crimes de empreendimento ou de atentado, a exemplo do art. 352, do CP, não admitem a ten- tativa.
Gabarito: Letra E.
Dessa forma, fechamos mais um tópico do nosso estudo.
Avançando no conteúdo, passaremos a estudar as espécies de tentativa mais cobradas em concursos. Vamos adiante!