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Se Austin mantém a vítima em seu poder por uma semana e, durante esse período de tempo, entra em vigor uma lei penal que altera o preceito secundário do crime (de 8 a 15 anos) para 20 a 30 anos, não temos dúvidas de que se trata de uma novatio legis in pejus, correto? Correto! Então, em que pese tratar-se de uma lei penal gravosa, ELA VAI SE APLICAR AO CRIME QUE ACABEI DE MOSTRAR A VOCÊS, pelo simples fato de enquanto o sequestrado estiver em poder do sequestrador, a consumação do crime está se prolongando no tempo, pelo seu caráter permanente.

Diferentemente do crime permanente é o crime continuado, previsto no artigo 71 do CP.

Crime continuado

Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subseqüentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois ter- ços. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código.

A partir da leitura do artigo 71 do CP, podemos concluir que a continuidade delitiva (crime continuado) ocorre quando o sujeito, mediante pluralidade de condutas, realiza uma série de crime da mesma espécie, guar- dando entre si um elo de continuidade (em especial, as mesmas condições de tempo, lugar e maneira de exe- cução).

O Brasil adotou a teoria da ficção jurídica para o crime continuado.

Para tanto, alguns requisitos são necessários para a ocorrência do crime continuado, quais sejam: Requisitos Objetivos:

1º) Os crimes praticados devem ser de mesma espécie (aquelas previstos no mesmo tipo penal);

2º) Condições semelhantes: tempo (aproximadamente 30 dias), lugar (no mesmo foro ou foros próximos) e modo de execução (verificar o “modus operandi”).

Requisito subjetivo: Unidade de desígnios: uma programação inicial de realização sucessiva. Espécies:

a) comum/simples – Art. 71, caput, basta o preenchimento dos requisitos acima, e uma vez verificados, o aumento de pena é de 1/6 a 2/3.

b) Específico/qualificado (p.ú. do art.71): São requisitos adicionais aos do caput, com caráter cumulativo, sendo todos os crimes doloso, praticados contra vítimas diferentes, cometido com violência ou grave ameaça contra a pessoa. A pena nesse caso pode ser aumenta até o triplo

Isso também é o que preconiza a súmula 711 do STF.

Súmula 711 do STF – A lei gravosa se aplica ao crime permanente ou continuado quando entrar em vigor durante a permanecia ou continuidade delitiva.

Agora, meu amigo(a), preste atenção como esse conteúdo vem caindo em provas: Ano: 2016 Banca: CESPE Órgão: PC-PE Prova: CESPE - 2016 - PC-PE - Escrivão de Polícia Civil

Um crime de extorsão mediante sequestro perdura há meses e, nesse período, nova lei penal entrou em vigor, prevendo causa de aumento de pena que se enquadra perfeitamente no caso em apreço.

Nessa situação hipotética,

A) a lei penal mais grave não poderá ser aplicada: o ordenamento jurídico não admite a novatio legis in pejus.

B) a lei penal menos grave deverá ser aplicada, já que o crime teve início durante a sua vigência e a legislação, em relação ao tempo do crime, aplica a teoria da atividade.

C) a lei penal mais grave deverá ser aplicada, pois a atividade delitiva prolongou-se até a entrada em vigor da nova legislação, antes da cessação da permanência do crime.

D) a aplicação da pena deverá ocorrer na forma prevista pela nova lei, dada a incidência do princípio da ultrati- vidade da lei penal.

E) a aplicação da pena ocorrerá na forma prevista pela lei anterior, mais branda, em virtude da incidência do princípio da irretroatividade da lei penal.

Gabarito – C – Pois, conforme acabamos de estudar, a lei penal mais gravosa se aplica ao crime continuado ou permanente enquanto não cessada a atividade delituosa e a entrada em vigor da lei mais gravosa. Essa também é a redação da súmula 711 do Supremo Tribunal Federal.

Ano: 2015 Banca: CESPE Órgão: TJ-DFT Prova: CESPE - 2015 - TJ-DFT - Analista Judiciário - Judiciária Em relação à aplicação da lei penal e aos institutos do arrependimento eficaz e do erro de execução, julgue o item seguinte.

duas leis distintas, aplicar-se-á, em processo contra ele, a lei vigente ao tempo em que cessaram os delitos, ainda que seja mais gravosa.

( ) Certo ( ) Errado

Gabarito – Certo – Conforme se verifica do enunciado da questão, ela retrata o teor do entendimento sumulado pelo STF no verbete 711, o qual diz ser possível a aplicação da lei penal mais gravosa que entra em vigor durante a permanência ou continuidade delitiva.

Ano: 2013 Banca: CESPE Órgão: STF Prova: CESPE - 2013 - STF - Analista Judiciário - Área Judiciária Acerca dos princípios gerais que norteiam o direito penal, das teorias do crime e dos institutos da Parte Geral do Código Penal brasileiro, julgue os itens a seguir.

Considere que Manoel, penalmente imputável, tenha sequestrado uma criança com o intuito de receber certa quantia como resgate. Um mês depois, estando a vítima ainda em cativeiro, nova lei entrou em vigor, pre- vendo pena mais severa para o delito. Nessa situação, a lei mais gravosa não incidirá sobre a conduta de Ma- noel.

( ) Certo ( ) Errado

Gabarito – ERRADO – A lei mais gravosa incidirá sobre Manoel, pois entrou em vigor durante a permanência (prolongamento da consumação do crime) enquanto a vítima se encontrava sob seus domínios.

Sendo assim, meu querido(a) estudante, através das análise das questões que acabamos de resolver, é de suma importância você estar atento a súmula 711 do Supremo e sua incidência em provas de concurso.

Diante desse panorama que apresentei a vocês, quero-lhes fazer uma pergunta. Você acha que é possível haver a combinação de leis penais? Em outras palavras, você acha possível que o juiz, no caso concreto, possa mesclar dispositivos benéficos da nova lei com benefícios da lei revogada?

A resposta por um “sim” pode até parecer tentadora diante de tantas nuances presentes em vários dos institutos que já estudamos, entretanto, nesse caso é vedado ao juiz a combinação de leis penais, pois, nesse contexto, ele estaria criando uma terceira lei (chamada de lex terxio), e o STJ, por meio da súmula 501 tratou de pôr um ponto final na controvérsia.

"É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado da incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.368/1976, sendo vedada a combinação de leis."

Na época, a controvérsia pairava sob a forma de como seria aplicada a pena em crimes envolvendo o tráfico de drogas.

Naquela ocasião, o juiz, ao condenar o indivíduo pela prática do crime de tráfico, ao realizar a dosimetria da pena (matéria que será objeto de estudo mais adiante no nosso curso) deveria fazer duas dosimetrias, sendo uma com a lei antiga e outra com a lei nova, aplicando-se a sentença em que chegara em uma condenação mais branda (pena menor), sendo vedada a combinação dos dispositivos da Lei 11.343/06 (nova lei de drogas) com os dispositivos da Lei 6.368/76 (antiga lei de drogas) para formular a sentença.

Então, para encerrarmos o estudo dos diversos desdobramentos da lei penal no tempo, ainda tenho a incumbência de ensina-los acerca do instituto da lei penal excepcional ou temporária. Não percamos tempo! Vamos adiante!